Coração De Marfim. escrita por Amizitah


Capítulo 8
Capítulo 8 - Nocturne desafiador e surpreendente


Notas iniciais do capítulo

Yo!
>.< Meus queridos e miiiinhas queridas, tudo ok com vocês?! Antes de tudo, gostaria de perguntar: Oque houve com meus queridos e queridas?! Não vejo nenhum Review a muito tempo D: Por favor, se o motivo for alguma coisa na história que não tenham gostado, me avisem imediatamente que tomarei providencias!
E detalhe importante, eu não me lembro se agradeci ou não a Uchiha Nyuh pela recomendação, então, para acabar de vez com as minhas dúvidas agradecerei aqui e agora. Obrigada MESMO Nyu-chan!! Não sabe o quanto fiquei feliz e emocionada por ser presenteada pela sua recomendação *-* Muito obrigada mais uma vez, e espero que a história esteja correspondendo às suas espectativas!
Agora, deixando o discurso ^^-, vou deixar o link da música de hoje para vocês, meus fofos! A música se chama Nocturne - Chopin op 27. Espero que gostem e deixem Reviews desta vez, rsrsrs. Link abaixo ;D
http://www.youtube.com/watch?v=nPErSyk5iHs
Beijõõões enormemente grandes à todos e até a próxima!
Ami ~



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A garota caminhava pelo mesmo corredor que havia passado quando ia entregar os papeis para o Kakashi-sensei com os olhos na tabela de horários em suas mãos.

- “Apreciação Musical - Sala 207 segundo andar”... – Murmurou para si mesma, tirando os olhos do papel para o caminho a sua frente, onde havia uma escada não tão distante dali.

Ela subiu a escada de dois em dois degraus, com certa pressa para encontrar a sala, já faltando cinco minutos para o inicio do primeiro horário. Ela saltou para o ultimo degrau de modo tranquilo e caminhou pelo corredor extenso, passando os olhos pelas portas. 203... 204... 205... 206... e então ela abriu um sorriso aliviado ao ver o número 207 na porta de madeira envernizada com uma janelinha, a sua frente.

Girou a maçaneta e abriu a porta com cuidado, passando os olhos pela sala assim que entra.

Para sua surpresa, oque parecia ser uma grande parte dos alunos já estava bem ali, conversando em pequenos grupos em suas carteiras, ou no canto da sala, perto das janelas e etc. Mitsue fechou a porta atrás de si tentando não fazer muito barulho e deu alguns passos em direção as cadeiras, observando os alunos que ainda não pareciam ter percebido a presença dela.

- Você é a Terasu Mitsue?

Mitsue dá um pulo para trás, embaraçada diante da garota que lhe surgiu como um fantasmas, olhando-a com grandes e redondos óculos e as mãos lotadas de livros.

- S-Sou sim. E você é...?

A garota com os grandes óculos abriu um grande sorriso, parecendo estranhamente feliz por vê-la.

- Sou Ishida Tomo! – Ela pegou a mão Mitsue e a apertou ainda sorrindo – Sou a representante da classe do terceiro ano.

- Ah... Prazer Ishida-san – Tomo soltou a mão dela, deixando a garota desconcertada por um tempo.

- Bem, ainda bem que veio cedo. O diretor pediu a mim que lhe entregasse os livros que precisaria para as aulas de música! – E então estendeu as mãos abarrotadas com livros de diversos tamanhos com tanta facilidade que Mitsue ficou assustada com tamanha força.

- Hm, deixe que eu cuide deles. Depois da aula eu os guardo no meu armário – Mitsue estendeu os braços e a garota os entregou. Assim que ela os solta, Mitsue solta uma exclamação quando seu corpo se inclina para frente com o peso, mas ela logo se reergue, corando quando vê que sua companheira ri divertida da sua falta de jeito.

Mitsue é acompanhada pela representante ao seu lugar, logo descobrindo que ela sentava ao seu lado. Ela coloca seus livros do lado da mesa e pega somente o de Apreciação Musical e o colocou em cima da mesa.

Tomo era uma garota muito extrovertida de vista, mas também era linda. Ela tinha cabelos loiros longos e ondulados, os grandes óculos de armação simples pareciam pesados de mais no rosto de boneca de porcelana, mas não diminuíam tamanha beleza. Os olhos eram azul turquesa muito hipnotizante se olhasse diretamente para eles, mas sua extroversão era tamanha que ela logo quebrava a hipnose por si só.

Tomo senta de lado na sua cadeira para observar a Mitsue, com os olhos turquesa atentos a cada detalhe da novata.

- Eu sei que você é uma novata, mas acho que já te vi antes...

Mitsue virou o rosto para ela, dando de cara com os grandes olhos observadores.

- Você já deve ter me visto na entrada quando eu era da Ala Oeste.

Como o esperado, os olhos dela cresceram de espanto.

- Ala Oeste?! Então você foi transferida de lá? – Perguntou, se inclinando mais para ela.

- Sim. Para ser sincera, eu ainda estava lá hoje de manhã. Fui transferida agora a pouco – Se explicou com certa naturalidade, mas esta não pareceu amenizar o gênio extrovertido da pequena loira.

- Nossa!! Eu nunca ouvi falar de uma coisa dessas! Você deve ser bem talentosa para o diretor ser capaz de te colocar aqui – Falou com um sorriso crescente no rosto, com uma expressão que mostrava indisfarçadamente quão fascinada estava.

Mitsue corou de leve com o elogio e passou a mão por uma das suas franjas.

- Na verdade eu não tenho certesa se sou tão boa assim... Faz anos que não tenho praticado nada...

- E oque você faz? Canta? – Cortou-a, ansiosa por mais.

- Não, não! – Balançou as mãos, achando que aquilo nem chegava a se tornar uma possibilidade – Eu apenas toco piano.

O sorriso dela se ampliou mais ainda.

- Piano? Você vai gostar da Ala Leste então! Eu não toco esse instrumento, mas acho os pianos daqui muito bonitos.

- Então oque você toca? – Perguntou, desta vez ela ficou curiosa.

- Eu toco oboé!

Mitsue se surpreendeu. Nunca viu alguém que tocava oboé antes, somente piano e violino.

- Nossa... Deve ser muito talentosa no oboé.

A loira ficou com o rosto levemente rosado pela primeira vez e então balançou a cabeça para os lados.

- Nem tanto! Mas eu me tornei melhor no Oboé graças ao meu sensei – Falou ainda corada – Ele tem me ajudado muito nas aulas particulares.

Mitsue abaixou o olhar por um momento.

- Então as aulas particulares são assim... – Refletiu.

Tomo observou a garota e logo percebeu a duvida dela, então começou a explicar:

- Apenas alguns alunos possuem as aulas particulares no ultimo horário – Começou, chamando a atenção do olhar curioso da Mitsue – A nossa ala possui muitos alunos, então seria impossível que todos tivessem aulas particulares nesse horário mesmo com todos os nossos professores reunidos. Então essas aulas são muito especiais e buscadas pelos alunos músicos.

- Mas... Oque tem de mais nas aulas particulares? Pensei que somente as aulas instrumentais fossem o bastante – Mitsue se endireitou na cadeira, sem tirar os olhos da garota enquanto falava.

Tomo deu de ombros.

- Nossas aulas instrumentais são muito boas e conseguiríamos tirar bons resultados se só dependêssemos delas, mas as aulas particulares são diferentes desta – Falou com um ar menos extrovertido, como se de repente tivesse virado uma professora séria – Nas aulas instrumentais todos os alunos que tocam o mesmo instrumento se reúnem e aprendem com o mesmo sensei, então nossos avanços no instrumento são compartilhados igualmente. Mas, as aulas particulares não. Nesse caso, quem a tiver, apenas o aluno e seu sensei estudarão musica sozinhos e este acompanhará seu desenvolvimento pelo resto do ano letivo e isso é bem mais efetivo que as aulas comuns já que o conhecimento adquirido só é seu e mais ninguém o possui, então você acaba tendo mais destaque em competições, bancas e etc.

Mitsue balançou a cabeça, num sinal que havia compreendido tudo, mas então outra duvida surgiu.

- Se as aulas particulares são tão especiais, o que o aluno precisa fazer para possuí-las?

A garota levantou os óculos com o indicador, e então voltou a olhá-la.

- Nada – Respondeu simplesmente, e então Mitsue ficou ainda mais chocada.

- Como assim nada?! – Exclamou.

- É isso mesmo, nada – A garota abriu um sorriso suave, como se estivesse esperando esta reação – Não são os alunos os responsáveis por escolher seus senseis particulares. Por isso que as aulas são tão especiais e desejadas, pois ao em vez de você, é o próprio sensei que irá te procurar e te nomear como seu pupilo dali em diante.

- O próprio sensei?! – Repetiu ainda surpresa.

- É – Ela balançou a cabeça positivamente – Ninguém sabe ao certo como essa escolha funciona, já que ela acontece repentinamente. Dizem que se o seu rendimento nas aulas for muito bom, você tem mais chances de ser chamado.

- E como foi que aconteceu com você?

A garota cruzou as pernas e corou outra vez, como se a lembrança provocasse um sentimento tímido nela.

- Como eu disse, foi repentino. Eu estava no meu intervalo e como havia terminado meu bento, fui até minha sala guardar a vasilha... E então o meu sensei apareceu na sala e depois de elogiar minha música, me chamou para ser sua pupila.

Mitsue deixou um sorriso surgir, imaginando a cena na sua cabeça.

- Caramba... E quem é o seu sensei?

- Ele é o Kotaro-sensei, o melhor dos professores de instrumentos de sopro do colégio – Ela coçou a nunca, levemente sem graça – Ele já participou de várias orquestras espalhadas pelo mundo, mas ele se interessou há alguns anos em lecionar.

 - Esses professores particulares costumam ser como o Kotaru-sensei?

- Na verdade, quase todos nossos professores tiveram uma carreira próspera na música e são profissionais de verdade no que fazem, então é natural que os professores particulares sejam talentosos. Por conta disso, há aqueles professores mais rigorosos ao escolherem um aluno e são esses os mais desejados pelos alunos do colégio. Alguns alunos chegam a ficar na escola um dia inteiro, apenas estudando música para ser escolhido por um desses professores – Tomo parou de falar e então olhou para os lados discretamente, fazendo um sinal para que a Mitsue se aproximasse, e assim o fez – Eu já ouvi falar de alunos que foram chamados por eles, mas foram rejeitados logo em seguida por não serem bons o bastante. Tem professores que já tem até fama por rejeitar alunos, por isso nunca tiveram um que fosse talentoso o bastante.

- Sério?! Mas eu pensei que essa Ala só tivesse grandes talentos! – Mitsue falou um pouco alto de mais, atraindo alguns, poucos, olhares na direção delas, mas antes que algo realmente constrangedor acontecesse, o sinal do primeiro horário soa e o professor entra quase que no mesmo instante que o sinal se encerra.

Mitsue e Tomo se afastam uma da outra e todos os alunos que antes estavam em pé conversando, se sentam em suas carteiras.

O professor colocou suas coisas em cima da mesa e então coloca as duas mãos em cima desta, dirigindo um olhar atento a todos.

- Bom dia alunos – Falou com uma voz grave que logo atraiu o olhar que antes estava em sua bolsa, para o professor, e então Mitsue simplesmente não teve reação.

Nunca viu um professor tão bonito como aquele antes...

Pele morena e impoluta, cabelos cor chocolate que pareciam derreter, olhos de aparência sedutora e séria com íris cor esmeralda mais hipnotizantes que os olhos claros da Tomo, além de parecer ter um belo porte físico por baixo do suéter vermelho escuro de gola “V” que caia perfeitamente bem no homem.  Devia ter no máximo trinta e dois anos.

Provavelmente afetados por tamanha beleza a sua frente, todos os alunos ficaram em silêncio absoluto.

- Bem, hoje iremos continuar a nossa aula sobre as sinfonias de Brahms, mas antes de iniciarmos, parece que temos uma aluna nova que veio de ultima hora... – Os olhos esmeraldas passaram pelas carteiras até pousarem na Mitsue. Ela corou imediatamente quando ele pôs os olhos nela, e então ele tirou as mãos da mesa e se encostou no quadro negro atrás dele com os braços cruzados – Queira vir se apresentar a turma senhorita Terasu.

A garota não falou nada.

Ela não conseguia falar alguma coisa. Então ela apenas se levantou de sua carteira, atraindo olhares curiosos para o rosto dela e se dirigiu até ficar de frente a turma. Ela passou os olhos claros por todos na turma e então respirou fundo.

- Eu me chamo Terasu Mitsue, e fui transferida da Ala Oeste para cá – Todos soltaram murmúrios de surpresa e então a garota se curvou discretamente para eles e disse – Vai ser um prazer estudar com vocês.

- Seja bem vinda Terasu-san – O professor deu um sorriso gentil para ela e apontou para a carteira dela – Agora pode se sentar para poder iniciar nossa aula.

- Sim... – Ela sorriu de volta, constrangida por ter um homem tão bonito falando com ela e então foi até sua carteira, sendo observada até se sentar.

A aula se iniciou logo após se sentar e então as coisas pareceram ter voltado a ficar um pouco tranquilas.

Por  enquanto.

                                                     ---

Passaram-se mais três aulas depois de apreciação musical, e felizmente, parecia que os alunos só teriam aula de canto no dia seguinte.

Isso já foi um grande alivio, mas ele terminou assim que ela viu qual era a aula seguinte.

- “Aula Instrumental”... – Leu de maneira que Tomo, que estava do seu lado, pudesse escutar e ela abriu um sorriso animado.

- Yeah! É a sua primeira aula de Piano! – E deu uma risadinha feliz, completamente diferente do rosto repleto de nervosismo da Mitsue.

- Droga... Porque você e eu não podemos ficar juntas nessa aula? Seria tão mais fácil se você tocasse piano... – Mitsue olhou para a Tomo com os olhos brilhantes, implorando para ela ir com ela.

- Mitsue-san, eu não posso – Riu – Eu tenho minhas lições de Oboé. Mas acho que posso te acompanhar. Aonde é sua sala?

Ela já sabia onde era a sala do seu professor de piano graças ao ultimo – grande – incidente... Mas preferiu não arriscar e olhou a tabela de horários.

- Hm... Fica no Terceiro andar, Sala 257.

- Ah, não fica tão longe da minha. Eu também estudo nas salas do Terceiro andar – Ela abriu um grande sorriso e pegou a Mitsue pela mão – Vamos juntas!

Mitsue corou com o sorriso iluminado dela e com as suas mãos.

Parecia que eram... Amigas.

- Tudo bem – Finalmente respondeu, apenas ampliando o sorriso da Tomo que a puxou com ela para fora da sala em direção ás escadas.

Alcançaram rapidamente o corredor do terceiro andar já que estavam no segundo antes e então Tomo continuou puxando Mitsue pela mão até a sala 251, mas elas são surpreendidas assim que estão próximas da porta por certo alguém...

Kakashi estava com o bendito caderno de avaliação na mão, mas parou de olha-lo quando percebeu as duas alunas apressadas no corredor e abriu um sorriso assim que as reconheceu.

- Olá Mitsue-san, Tomo-san – Se aproximou das garotas que haviam parado no meio do corredor de surpresa e colocou uma das mãos nos bolsos da calça. Um velho costume dele – Parece que conseguiu guiar minha aluna até a sala de aula. Tenho que admitir que fiquei preocupado se ela se perderia nos corredores...

Mitsue e Tomo coraram instintivamente com o comentário e tomo deu um leve apertão na mão da Mitsue, abrindo um sorriso ligeiro para ela.

- Na verdade eu não precisei fazer nada! Ela conseguiu se guiar muito bem sozinha – Falou Tomo, retribuindo o sorriso.

- Tomo está me acompanhando até a sala de aula – Mitsue completou a fala de sua nova colega, controlando a cor rosada nas bochechas que sempre a pega desprevenida.

- Ah, é bom saber que já está se enturmando com os alunos – Kakashi ampliou o sorriso – Espero que consiga o mesmo com a turma de piano. Eles são bons alunos.

- Hm... Também espero por isso... Tenho ficado um pouco insegura em relação a essa aula em particular – Admitiu, dando de ombros. Kakashi se aproximou dela e tocou seu ombro, com um ar seguro.

- Eu tenho certeza que você superará minhas expectativas hoje Mitsue-san, e se tudo der certo, terá uma surpresa no final da aula – Ele deu uma piscadela para ela e Tomo se inquietou no seu lugar, mordendo os lábios para não soltar um sorriso malicioso.

- Surpresa? Mais do que eu já tive hoje? – Ironizou, atraindo uma risada do sensei.

- Essa vai ser uma boa surpresa, confie em mim. – Kakashi passou o olhar pelas duas e ao notar o olhar suspeito da Tomo em cima dele, ele afastou sua mão do ombro da Mitsue e voltou a colocá-la no bolso – Bem... Acho melhor eu ir para a sala. Acho que nossa aula começa em poucos...

A voz dele é abafada pelo sinal da escola quando estava prestes a terminar sua fala e então Tomo soltou uma risadinha humorada, achando tudo aquilo bastante interessante.

- Beeem, eu tenho que ir para minha aula de Oboé! – Tomo sorriu para o professor e se virou para Mitsue com um sorriso maior – Tenha uma excelente aula com o Kakashi-sensei... Depois conversamos – E então deu uma risadinha muito suspeita aos sensíveis ouvidos da Mitsue e se retirou dali em direção ao final do corredor, cantarolando alguma coisa esquisita.

Kakashi e Mitsue desviaram o olhar dela e começaram a rir juntos, sem compreender o motivo daquelas reações. No final das risadas, Kakashi fez um sinal com sua mão livre para que Mitsue o acompanhasse.

- Vamos entrar. Parece que estamos alguns segundos atrasados – Brincou, fazendo Mitsue revirar os olhos quando ele virou para a sala.

Kakashi abriu a porta com seu sorriso tranquilo estampado no rosto e então entrou na sala sendo seguido pela Mitsue.

A sala era a mesma de uma semana atrás, e muito maior que qualquer outra que já tenha entrado em suas ultimas aulas. Ela era retangular e bem larga, com várias carteiras impecavelmente enfileiradas com cada aluno em seu respectivo lugar, cavaletes para partitura dobrados num canto da sala junto de um teclado eletrônico e uma banqueta vazia na frente deste. Posicionado perto da parede da sala, logo a frente de uma grande janela, estava a mesa do professor que ficava ali para dar uma perfeita visão aos alunos do Piano Steinway de meia cauda no outro canto da sala, um pouco afastado da porta e logo á frente, o quadro negro com as mesmas pautas musicais de uma semana atrás desenhada nela.

- Bom dia meus alunos! – Kakashi acenou para os alunos que estavam sentados em suas carteiras e todos responderam quase em uníssono o cumprimento com um “Bom dia”.

Mitsue apertou a bolsa contra o corpo e se apressou em se sentar na única carteira vaga da sala de aula, mas foi impedida pelo professor que se apressa em tocar o ombro da aluna assim que coloca as coisas na mesa grande do professor, ciente do hábito de sua aluna em fugir assim que surge uma oportunidade.

- Muito bem meus alunos... – Começou a se pronunciar enquanto guiava sua aluna até ficarem de frente a turma que parecia observá-la com bastante curiosidade, como se fosse uma nova atração do zoológico – Hoje tenho o prazer de apresentar a vocês a nova colega de classe que acaba de entrar na Ala Leste – E então virou o rosto para a Mitsue, soltando o ombro dela novamente – Se apresente.

Mitsue desviou o olhar dele para a turma que a observava diretamente como em todas as aulas anteriores, onde teve que se apresentar incontáveis vezes para as turmas, então isso se tornou um pouco mais fácil já que tinha uma fala preparada na cabeça.

- Sou Terasu Mitsue, prazer em conhecê-los – E se curvou ligeiramente, abrindo um sorriso para a turma.

- Espero que consigam se dar bem com a Mitsue-san pessoal. Não quero problemas em relação à turma nesse ano.

Todos os alunos soltaram um “Sim” robótico e antes que o Kakashi pedisse, pois já sabia que ia fazê-lo, ela se dirigiu a sua cadeira, colocando a bolsa no pequeno gancho ao lado da carteira.

Kakashi arregaçou as mangas da camisa novamente e então gesticulou para a turma com as duas mãos enquanto dizia com bastante tranquilidade:

- Agora que estamos apresentados, vamos começar a aula com o dever de casa que eu lhes dei na nossa ultima aula sobre a música do meu compositor favorito... Chopin! – E ele abriu um sorriso, mas toda a turma pareceu nervosa com a simples menção do dever de casa. Mitsue ficou imaginando o porque do nervosismo – E para aqueles desenformados que por algum acaso esqueceram o dever ou simplesmente não estavam presentes no dia – Os olhos dele pousaram nela por um milésimo de segundo, como se acusasse ela e começou a andar de um lado para o outro na sala enquanto dava continuidade – O dever foi tocar a música que ensaiamos nessa ultima semana para estudo: Nocturne de Chopin em D maior.

Alguns dos alunos soltaram murmúrios quando ele mencionou a tal música de Chopin, evidentemente temerosos por tocá-la.

- Bem, acredito que nenhum de vocês tenha uma desculpa para não poder tocar essa música já que além dos ensaios em sala, ela costuma ser bastante utilizada pelos professores de piano durante todos os anos, então com certeza vocês sabem – Falou tranquilo, mais seu olhar mostrou um quê de diversão ao ver os rostos nervosos espalhados pela sala – Então... Quem será o nosso primeiro voluntário a tocar um trecho? – Parou sua caminhada exatamente alinhado á fileira do centro e cruzou os braços, observando os alunos que trocavam olhares entre si, procurando o “senhor  coragem” que se apresentaria diante da turma inteira.

Mitsue ficou inquieta na carteira.

Ela conhecia aquela música e sabia reproduzi-la no piano já que foi uma das ultimas músicas que aprendeu e tocou nos últimos anos, além de estar bastante ansiosa para voltar a tocar no Steinway, mas ela se conteve e continuou em seu lugar. Não seria uma boa ideia chamar atenção no primeiro dia de aula, e alguma coisa no fundo dela dizia que o Kakashi estava esperando que ela se levantasse e candidatasse a tocar. Mas não faria isso. Não naquele dia.

Foi então que quando todos pensavam que ninguém seria corajoso o bastante para ir até o piano e tocar por vontade própria, em uma das ultimas carteiras da sala, uma garota de cabelos curtos se levantou.

- Eu posso tocar Kakashi-sensei.

Todos, inclusive Mitsue, olharam para a garota voluntária. Ela era bonita, bastante bonita, com cabelos castanho escuros que caiam em belos cachos até a metade do pescoço, olhos cor mel muito brilhantes, pele azeitonada e lisa com um nariz fino e discretamente arrebitado e com uma altura mediana. Parecia uma boneca perfeita.

Kakashi abriu um meio sorriso.

- Ótimo Nana-san, queira se apresentar – Abriu espaço a ela, indicando o magnífico Steinway no canto da sala.

Com bastante segurança, a garota andou até o piano negro e ajeitou a saia antes de sentar na banqueta da mesma cor. Interessado, Kakashi foi até sua cadeira atrás da mesa do professor e se sentou, colocando a perna em cima da outra numa posição ao mesmo tempo relaxada e observadora.

A garota flexionou ligeiramente os dedos e então os posicionou pouco acima das teclas para iniciar.

Mitsue fechou os olhos assim que a musica iniciou, suave e discreta, e então as notas agudas começaram a se revelar entre as mais baixas num time perfeito. Todos na sala se silenciaram quando a garota já havia começado a dança com as notas agudas e ficaram quietos diante do som encantador. Mitsue abriu os olhos novamente e se focou nos movimentos da garota e se impressionou. Ela parecia dançar com os dedos de uma forma romântica enquanto a musica era reproduzida. A maneira que tocava era muito bonita, mas mesmo de longe, Mitsue percebeu que a aluna encontrava dificuldades em reproduzir a peça com a mão esquerda, tendo movimentos forçados repetidas vezes que faziam as notas saírem sem a suavidade mágica que Chopin a reproduzia, mas não deixava de ter elegância.

Como bom profissional que era, Kakashi também percebeu a dificuldade da aluna e assim que ela alcançou as notas mais “fortes” da música, o esforço na mão esquerda ficou mais aparente, causando distorções na expressão da garota e a parte saiu mais dura que deveria, então Kakashi percebeu que era a hora de interrompê-la.

Ele se levantou e bateu as palmas uma vez, para que ela parasse e assim fez. Todos os alunos tiraram os olhares da jovem e foram para o professor, inclusive ela própria.

- Nana-san, sua reprodução foi bela, com certeza. Por agora isso é o bastante – Kakashi se virou para os alunos e apontou para ela – Uma salva de palmas a nossa aluna, por favor.

Imediatamente, todos os alunos começaram a bater palmas, e outros inclusive assoviaram, arrancando leves risadas da Mitsue e da garota que se reverenciou para a turma e voltou para a carteira com um sorriso.

Apesar de tudo, é bastante talentosa – Pensou Mitsue enquanto a observava se sentar.

- Muito bem, agora chegou a hora da minha avaliação – Disse com um rosto alegre enquanto se sentava na banqueta do Steinway, de frente para a turma – Nocturne é considerada uma das obras-primas de Chopin por ser tão elegante e veemente, principalmente onde as notas “fortes” têm seu início e essa é uma das várias razões pela qual nós professores a usamos como objeto de estudo. Além dela bonita é desafiadora como devem, ou pelo menos, deviam ter percebido. Mas o verdadeiro desafio está no uso das mãos – Ele levantou as mãos, separando bem os dedos e virando algumas vezes – Quem prestou atenção na reprodução de Nana-san, perceberam que é bastante complicado o alcance de todas as teclas, principalmente com a mão esquerda – Ele abaixou a direita e deixou somente a que ele se referia – Mas não se estressem, pois isso não está acontecendo porque vocês tem pouca habilidade. Não. Isso acontece com todos os pianistas que iniciam a musica.

Kakashi parou de falar quando um dos alunos levantou a mão.

- Pode falar – Apontou para ele.

- Então oque falta exatamente para um pianista conseguir acompanhar a música?

Kakashi sorriu com a pergunta.

- Essa é uma boa pergunta e a resposta é extensão – Ele se calou, e percebeu alguns poucos olhares confusos, então deu continuidade – Para conseguir tocar a musica como Chopin a compôs é necessário que você consiga estender seus dedos até as outras teclas e ter controle dos movimentos. Com controle e extensão vocês conseguem acertar a altura da nota e atingem com facilidade as notas mais difíceis com a extensão e quanto tiverem adquirido essa habilidade, a sua reprodução de Nocturne ficará parecida ou até melhor que esta... – Ele virou o corpo na banqueta até o piano e então flexionou os dedos antes de tocar, assim como Nana e então sua versão de Nocturne se iniciou.

A musica começou como a da Nana, suave, com as notas agudas se destacando entre as baixas, mas depois deste breve inicio, a musica ganhou um nível diferente da ultima.

Atraente... Elegante... Perfeitamente suave nos pontos exatos... e perfeita.

Mitsue fechou os olhos sem precisar dar comandos ao corpo, ele simplesmente foi sozinho e então ela pareceu se conectar ao som. Com um ar antigo e fino, como se viajasse no tempo, Mitsue se apaixonou pelas notas e algo nelas, lhe pareceu estranhamente familiar, como se em algum dia, já tivesse ouvido ele tocar alguma outra vez.

Impossivel, era a primeira vez que o escutava.

Então ela parou de pensar nisso e voltou a musica, e se para ela já estava perfeita no começo, quando chegou nas tais notas “fortes”, o som soou maravilhosamente em seus ouvidos. Veemente, ousado, e sem abandonar o ar fino. Kakashi realmente era um professor talentoso.

Ele completou as notas “fortes” e então encerrou a musica ali mesmo, tirando a garota do transe que estava e imediatamente abriu os olhos, piscando algumas vezes antes de olhar o professor que se levantou da banqueta negra e finalizou sua avaliação:

 - E assim é a verdadeira reprodução de Chopin, meus alunos – E reverenciou, iniciando uma chuva de aplausos vindos de todos os alunos da turma que ovacionavam com animação, talvez motivados pela grande perfomance do seu professor e Mitsue não pôde deixar de participar disso.

Kakashi voltou a se erguer, com um extenso sorriso no rosto, e levemente corado, como se estivesse acanhado com tudo aquilo.

- Pronto, pronto... Obrigada alunos – Ele saiu de perto do piano e ficou de frente a turma, com os aplausos finalmente encerrados e, colocando as mãos nos bolsos da calça negra, perguntou – E agora, quem mais quer se candidatar?

- Eu!! – Todos os alunos – Por exceção da Mitsue que permanecia quieta – se levantaram se uma vez, balançando as mãos para o alto, loucos para serem escolhidos primeiro que o outro colega.

E então, uma divertida e deliciosa aula se iniciou a partir dali, arrancando sorrisos da Mitsue que depois de uma manhã agitada como a que teve, pôde esquecer o cansaço e se descontrair de verdade pela primeira vez em muito tempo.


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