Coração De Marfim. escrita por Amizitah


Capítulo 10
Capítulo 10 - Mais uma tentativa por agua a baixo


Notas iniciais do capítulo

Oi!!
Apesar de ter leitores sumidinhos, eu postei esse capítulo assim mesmo! A musica deste capítulo é a mesma de antes meus lindos!
Beijos!
Ami ~



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Aquela foi uma péssima noite. O sono não veio durante boa parte dela e só quando faltavam quatro horas para acordar que ela finalmente conseguiu pregar os olhos, um pouco desconfortável, mas dormiu. Mas para sua maior indisposição, ela acordou vinte minutos mais cedo, sem sono nenhum, e então tomou um banho e se vestiu no novo uniforme, levando o uniforme de educação física e alguns outros para guardar nos armários respectivos dentro do colégio assim que terminasse de fazer uma coisa importante...

Depois de comer um café feito apenas de cereais matinais e um copo se suco de maça, ela seguiu sua rotina de pegar o ônibus e ir para o colégio ao norte da cidade. Eles realmente levaram a sério em deixar as Alas Leste e Oeste nas direções respectivas do planeta.

O ônibus parou na parada da escola e ela desceu já esperando encontrá-lo. Estava certa. Ryo estava encontrado no muro da escola enquanto mexia no celular, esperando por ela como em todos os dias. Ela passou a mão pelos cabelos e melhorou a expressão para diminuir um pouco a atenção das redondas olheiras ao redor dos olhos.

- Oi Ryo! – A atenção do garoto saiu do celular para ela e então fechou o celular e se aproximou dela.

- Mitsue... Oi – Ele passou os olhos pelo rosto dela, percebendo e imediato a sua expressão cansada apesar dos esforços dela de esconder deixando os cabelos soltos – Dormiu bem...?

- Eu acabei ficando com um pouco de insônia hoje, nada de mais... – Ela sorriu, mas ele não retribuiu, ao contrário, os olhos dele cresceram bastante e suas sobrancelhas se juntaram de confusão.

- Esse uniforme é o da Ala Leste... – Ele deixou de olhar para a roupa e então a encarou, estranhamente chateado – Porque está vestindo isso?! É algum tipo de brincadeira?

- Não...! – Ela balançou as mãos e então Ryo se afastou um passo dela.

- Se não está brincando, oque significa isso?

- Eu... Er... – A garota ficou meio confusa e chocada pela reação chateada dele, e então não conseguiu falar direito.

- Fala logo Mitsue – Pediu, juntando mais as sobrancelhas.

- O diretor me transferiu para a Ala Leste...

- OQUE? – A voz dele soou mais fina que o normal e o rosto se tornou incrédulo – Quando?!

- Ontem, antes de as aulas acabarem...

- Não, espera um pouco – Ele colocou uma das mãos na ponte do nariz e voltou a se aproximar dela – Se eu não me engano você saiu da sala de aula ontem no final das aulas de modo bem esquisito, o que me deixou realmente preocupado... Agora, você vem me dizer que foi transferida nesse tempo em que saiu?

- Me deixe falar! – Falou com um pouco mais de energia. Realmente queria ser ouvida.

- Fale então, estou todos ouvidos – Tirou a mão da ponte do nariz e cruzou os braços, olhando-a com chateação.

- Para começo de explicação... Tem uma coisa que eu não te contei desde que entrei no colégio – Pressionou os lábios e então acumulou coragem para continuar – Eu sei tocar piano desde meus cinco anos de idade e há alguns dias, um dos professores da Ala Leste me escutou tocando por acidente num piano da escola... E a partir daí ele tentou me convencer de entrar na Ala Leste, mas eu não queria por causa de uns problemas pessoais... Mas acabou que ontem eu recebi um sms e... – A garota contou todo o acontecido do dia anterior em poucos detalhes e o Ryo permaneceu calado, escutando-a, e quando finalmente terminar, a garota respirou fundo e esperou pela reação dele.

Ryo olhou para alguma coisa interessante no chão enquanto pensava no que dizer sobre tudo aquilo e Mitsue se sentiu um pouco nervosa com a demora dele, mas então ele finalmente mostrou algum sinal que ainda estava presente com um pesado suspiro.

- Então é isso? – Olhou para ela e então ela concordou, mais aliviada por ele parecer aceitar melhor aquilo – Caramba... – Ryo balançou a cabeça como se concordasse com algo e fez um rosto indignado -... quer dizer que você, uma garota que aos meus olhos era tão legal e inteligente... Na verdade a primeira garota que eu me dou bem de verdade desde que entrei nesse colégio, não passava de uma egoísta.

- C-Como assim egoísta...? Está falando sério? – O rosto dela se desmanchou e pareceu mais cansado que antes.

- Ah, nem vem Mitsue, eu entendi sua jogada – Ele a olhou com um rosto profundamente chateado.

- Que jogada?! Não existe jogada!

- Claro que sim! Você é igual aqueles alunos da Ala Leste, na verdade até pior.

- O que você pensa que está falando?!

- Ah, vejamos então se estou errado Mitsue! Você me vem com a história que “por acaso” veio parar na Ala Oeste por que foi obrigada pela sua mãe, quando “por acaso” sabia tocar piano bem o suficiente para ter entrado direto na Ala Leste com uma bolsa de estudos, e então fingiu esse tempo todo que não passava de uma aluna típica, aproveitando para fazer amizade com o idiota aqui, e então, novamente, “por acaso” você decide tocar num piano no meio da Ala Leste onde diz que nunca pensou que a ouviriam apesar de lá ter uma porrada de músicos, e então para sua “infelicidade” você foi descoberta e foi cruelmente seduzida a estudar lá porque, nossa, no seu planinho deveria ser muito mais legal ser transferida da Ala de perdedores para a Ala de ouro e ser admirada por ser a primeira aluna a descobrir seu talento em vez de simplesmente ter entrado logo na droga da Ala Leste para se tornar apenas mais um talento “comum” lá.

- Oque...? – A garota ficou completamente desconcertada com a forma que ele distorceu completamente sua versão.

- Ah, me desculpe! Provavelmente você estava esperando que eu te parabenizasse agora dizendo o quanto é especial por ser transferida, não é?

- Não...!

Ele a cortou, pegando a mão dela e a apertando com um sorriso falso no rosto.

- Parabéns, agora você provavelmente é a aluna mais popular da escola graças a sua grande descoberta. Agora aproveite seu resto do ano de popularidade, deixando esse idiota aqui, por que por acaso eu sou muito burro para não entender suas intenções e então apenas o sucesso do seu plano me deixa muito feliz!

- Para com isso Ryo! Eu não armei tudo isso!

- Tchau aluna prodígio, é melhor se apressar para não se atrasar para suas aulas na Ala Leste, se não pode correr o risco de manchar sua imagem brilhante – Ele soltou a mão dela e se afastou – Espero que aproveite tão bem suas novas amizades quanto aproveitou comigo, não é mesmo?! – Ele encerrou o sorriso falso, voltando a ter o rosto fechado e então começou sua caminhada para dentro da escola sem olhar uma vez para a garota completamente humilhada atrás dele.

Ela observou se afastar cada vez mais dela com a cabeça completamente bagunçada com oque havia acabado de dizer na cara dela, e então quando ele sumiu pelo portão, foi que ela voltou a realidade e então começou a correr na direção do portão.

- Ryo!! – O chamou em voz alta assim que passou pelo portão ainda correndo, e logo o achou prestes a subir as escadas que davam para a entrada da escola, e então ela apressou mais o passo – Ryo espere!! – Mesmo que todos ali tivessem escutado o chamado da garota, Ryo apenas ignorou a garota e continuou andando para as escadas. A garota juntou as sobrancelhas e correu como nunca correu antes para alcançá-lo antes que entrasse no colégio e então alcançou o braço dele – Ryo! Eu estou pedindo para me esperar!

Ryo afasta grosseiramente o braço dela e então a encara.

- Eu ouvi, ok? Agora será que pode parar com a ceninha? Já deu por hoje Mitsue! – Ele voltou a se virar para a entrada, mas ela voltou a puxá-lo pelo braço até ficar de frente para ela.

- Não! Não deu por hoje porque nem se quer começou! – Ela fez um rosto completamente irritado para ele e então os alunos em volta se afastaram – Eu não vou me conformar com a grosseria que você acabou de me dizer lá trás! Porque eu não mereço ouvir aquilo!

- Ah, não é? Foi mal, mas eu não sou burro Mitsue, então você mais que mereceu todas as sílabas que soltei lá e até mais se estiver a fim de me ouvir – Falou com a voz tão rude e alta que alguns alunos mais distantes do lugar ouviram e se aproximaram curiosos para saber oque acontecia ali.

- Mas aquilo não era verdade! Você distorceu completamente a verdade! Eu não entrei na Ala Oeste para fazer ninguém de idiota ou ganhar atenção na Ala Leste! Para ser sincera eu nem queria entrar nessa escola! Se não fosse a minha mãe querendo que eu voltasse a tocar piano eu nem teria pisado os pés aqui!

- Então porque não aproveita agora que parece estar tão amiga do diretor e pede uma transferência para sair logo desse colégio?!

Aquilo foi como um tapa na cara da Mitsue, e teve que afastar por causa do choque.

- Então é isso? Você não quer mais me ver, certo?

- Ah! Parece que consegui passar a mensagem para você desta vez.

- Então está certo – Mitsue apertou a bolsa contra si e andou até ficar do lado do Ryo e disse, magoada – Não se incomode mais com minha presença, estarei bem longe de você de agora em diante – E então apertou os olhos e entrou na escola sendo que alguns curiosos tiveram que abrir espaço para ela passar.

Ryo falou nada, apenas se virou para a entrada e observou a garota sumir pelo corredor além das portas abertas da escola, e então passou a mão pelo rosto.

- E pensar que eu gostava de você... – Murmurou para si mesmo, completamente aborrecido.

Mitsue apertou os passos no longo corredor, querendo logo sair da visão de seu ex-melhor amigo e entrar logo no grande e bem decorado salão da sua nova Ala, mas a pobre garota estava tão aborrecida com a briga que mal percebeu que a Kurenai passava na sua frente e então seu ombro se esbarrou no dela com força.

- Ah! Cuidado mocinha... – Kurenai parou de falar quando percebeu de quem se tratava e então afastou o livro que lia enquanto estava andando – Ora, Mitsue-san! Que coincidência te encontrar agora.

A garota passou a mão pelos olhos e então fez um sinal para a porta branca de detalhes dourados da sua Ala.

- Me desculpe Kurenai-sensei... Eu realmente estou com pressa, então... – Ela deu um sorriso educado e começou a se afastar, mas a mulher se inclina para ela e pega seu braço.

- Espere, não tenha tanta pressa! Eu estava mesmo querendo falar com você quando tivesse oportunidade.

A garota desviou sua atenção da porta e a olhou um pouco surpresa.

- Falar comigo agora?

- Sim! Mas não se preocupe, será algo rápido. Sei que deve estar ocupada agora que é uma aluna da Ala Leste – Ela aperta seu braço mostrando as unhas perfeitamente pintadas de vermelho e abre um sorriso – Pode me fazer esse favor?

- Claro... Já que precisa falar comigo – Concordou mesmo que confusa.

- Ótimo! Acompanhe-me querida – Ela soltou o braço da aluna e fez um sinal para que a seguisse.

As duas passaram pelas portas da Ala Oeste e Mitsue virou alvo de olhares curiosos durante todo o trajeto, mas mesmo assim se manteve firme e séria. Não queria passar uma má impressão para os alunos comuns só por ser uma dos “talentos” da Ala contrária. Depois da caminhada com a Kurenai, elas chegaram à sala dos professores. Mitsue manteve seu olhar na Kurenai enquanto ela cumprimentava os professores. Tinha medo de encontrar seu antigo professor de Química e receber um mal olhado dele. Depois de mais uma caminhada, Mitsue e Kurenai entraram num espaço separado das mesas de trabalho que era parecido como uma copa. Na verdade, aquilo realmente era uma copa. Havia mesinhas com cadeiras confortáveis em lugares estratégicos e logo a frente, uma bancada com quatro bancos altos e um espaço além da bancada com uma cafeteira nova em folha, geladeira, um pequeno fogão, microondas e prateleiras com um estoque de lanchinhos para os professores.

- Caramba... – Mitsue deixou escapar ao ver o quanto o lugar era bem elaborado e então Kurenai sorriu para ela.

- É um lugar confortável, não é?

- Sim – Mitsue sorriu, educada – Mas, oque gostaria de falar comigo Kurenai-sensei?

- Ora, agora entendo porque o Kakashi parece se interessar por você, parece ser uma garota bastante séria – Kurenai sorriu mais quanto viu que o rosto da garota havia corado e então apontou para uma das mesinhas com os bancos estofados – Sente-se, por favor Mitsue-san.

A garota se sentou no banco de frente para a Kurenai e engoliu em seco. Oque aquilo significava?

- Bem, serei direta já que o nosso tempo é curto – Ela colocou as mãos em cima do colo e olhou firmemente para a garota com suas íris exóticas – Sendo sincera Mitsue-san, oque você acha do Kakashi?

Hã?

- Como assim “oque eu acho?”

- Bem, como eu posso dizer... – Ela colocou a mão no queixo, fazendo as grandes pulseiras no pulso tilintarem e o esmalte vermelho rubro contrastar com os olhos – Se você gosta ou não dele, se tem algo que te incomoda em relação a ele, se sente-se forçada a fazer algo por causa dele... Coisas assim.

A garota se sentiu desconfortável com a primeira pergunta sugerida, mas mesmo assim, procurou responder adequadamente. Aliás, aquela era a namorada dele.

- Hm... Eu gosto do Kakashi-sensei, ele é bastante gentil apesar de ser um pouco diferente dos professores que eu já conheci. Eu não me incomodo com ele, ao contrário, eu admiro a personalidade dele já que ele parece levar muito sério a relação com os alunos... – Realmente, nunca em sua vida vira um professor que se importasse tanto com ela – E nada do que eu decidi fazer até agora fui forçada a fazer. Mas... Kurenai-sensei, tem algo que te incomoda em nossa relação para me perguntar isso...? – Claro que ela sabia que era uma pergunta arriscada, mas ela realmente estava estranhando as perguntas dela.

- Não, de maneira alguma. Só estou preocupada como você está reagindo diante dele já que sei o quanto ele é mais... Dedicado do que os professores comuns. Kakashi costuma exagerar as vezes... Então resolvi procurá-la quando soube que vocês saíram juntos da escola em horário de aula.

A garota se exaltou no momento que ela disse aquilo. Não era possível que ela pensava que...

- Me desculpe por isso Kurenai-sensei!  Eu juro que não queria obrigar o Kakashi a fazer aquilo por mim... Eu só... – Ela virou o rosto, envergonhada.

- Só...? – Incentivou a continuar, e isso só a deixou mais nervosa.

-Eu só queria ver minha mãe – Concluiu a frase, sentindo seus olhos arderem novamente, mas os apertou, chateada por ser tão fraca – E não é só por isso que eu queria me desculpar...

- Hm, oque foi? – Kurenai se inclinou para ela, desta vez mais interessada no que iria dizer

- Eu sei que vocês dois são íntimos, e provavelmente andei atrapalhando muito o relacionamento de vocês, então... – A garota rolou os olhos para a professora com o rosto firme – Prometo que a partir de hoje não serei tão dependente do Kakashi-sensei, andarei com meus próprios pés não importa o quão difícil seja e deixarei de ser um fardo.

Kurenai arregalou os olhos vermelhos, completamente pega de surpresa pelo oque ela decidiu. A garota era mais madura que ela mesma pensara.

- O-o que é isso Mitsue-san... Não precisa fazer... – Kurenai tentou esclarecer as coisas, mas Mitsue se levantou da cadeira com o olhar sério e irredutível.

- Preciso Kurenai-sensei. E não precisa mais repreender o Kakashi, eu não permitirei que algo como o que aconteceu da ultima vez se repita. Agora, com sua licença, eu preciso ir agora – A garota deu um sorriso e se dirigiu para a saída, deixando a linda mulher desconcertada em seu banco.

- Droga... – A mulher se levantou e olhou a garota sumir pela porta – Eu acabei exagerando desta vez. A garota é séria... – Ela colocou a mão no rosto, arrependida e então começou a caminhar para a fora.

O que foi feito está feito. Agora tentar mudar a ideia da garota sobre se afastar do Kakashi apenas atrapalharia mais. Pelo jeito, Kakashi vai ficar muito chateado quando souber que foi ela quem dificultou a aproximação dele com a garota.

Droga...

            ---

As aulas da manhã não eram tão diferentes quanto às aulas que tinha na outra Ala, então Mitsue conseguiu se acostumar a elas melhor que nas aulas de música da tarde. E durante toda aquela manhã, ela não viu Kakashi-sensei nenhuma vez se quer. Isso era bom, assim ela manteria sua promessa. Mas apesar de não tê-lo visto, ela conseguiu ficar ao lado da Tomo no segundo e ultimo horário daquele dia.

- Mitsue-san... Tem certesa que está bem? Se quiser eu te levo para a enfermaria – Tomo insistiu assim que deixaram a sala de aula, encerrando as aulas da manhã.

- Não precisa ficar tão preocupada Tomo. Eu só não dormi direito, só isso.

- Então porque não descansa num dos leitos da enfermaria? Acredite, é melhor descansar o quanto pode para encarar as aulas da tarde.

Mitsue levou a mão aos cabelos, começando a considerar a ideia. Se continuasse assim, tinha a impressão que dormiria na terceira aula da tarde, e então, deu um longo suspiro, concordando.

- Tudo bem... Eu vou para a enfermaria. Mas temos quanto tempo até o sinal bater?

- Acho que uma meia hora... – Ela empurrou os óculos para cima.

- É mais que o suficiente, mas acho melhor eu dar uma passada no meu armário antes de... – De supetão, Mitsue parou de andar no corredor.

Tomo olhou para a nova amiga, estranhando-a.

- Mitsue-san...? Oque foi?

- Ahh... – Mitsue tirou os olhos do grisalho que se aproximava pelo corredor lendo um livro pequeno e então pegou a mão da amiga, virando no primeiro corredor que encontrou – Esquece a ideia de eu ir para o armário... Acho que preciso mesmo dormir.

Tomo semicerrou os olhos, suspeitando o comportamento estranho dela, mas preferiu ignorar.

- Tudo bem então.

Depois de chegar à enfermaria, Mitsue finalmente conseguiu tirar um tempo para descansar melhor e então Tomo foi se encontrar com seu professor particular enquanto sua amiga descansava, apenas com a presença da médica da escola que organizava alguns papeis.

Mitsue encarava a janela, deitada na cama que estava com um olhar viajante. Até agora a conversa com a Kurenai não deixava de surpreendê-la.

- Será que ela pensou que eu estava tempo de mais com o Kakashi-sensei...? – Murmurou, fechando mais as pálpebras quando o rosto sorridente de seu professor surgiu na memória, e então ela repassou todos os momentos que passou com ele.

O primeiro e mais assustador, foi naquela sala de música quando foi pega no flagra e fugiu. O segundo foi quando ele a buscou na sala e apareceu com a proposta, mas ela recusou. O terceiro... Bem, foi na saída quando ele gentilmente a ajudou sem pensar nas conseqüências do que fazia, e sim, apenas na Mitsue. E o quarto e o quinto momento, em que teve a aula com ele e quando ele apareceu correndo para falar com ela...

- É mesmo! – A garota abriu mais os olhos quando estava prestes a dormir – Ele queria me dizer algo... Mas... Oque seria? Ah... Não importa, nem devia ser comigo. E de qualquer maneira, eu tenho que deixar de depender tanto dele para não atrapalhar mais. Isso... Vou parar de... Vê-lo tanto... – A voz da garota se perdeu em meio as palavras e então suas pálpebras pesadas caíram e ela adormeceu, bastante cansada.

Enquanto ela dormia...

- Estranho... Não entendo porque ela está tão esquisita hoje – Tomo falava consigo mesma ignorando os olhares que iam para ela, provavelmente se perguntando se a garota tinha algum problema mental ou um amigo imaginário. Ou ambos – Ahh, logo agora que eu queria perguntar se o Kakashi-sensei falou com ela depois daquilo... – Suspirou, viajando em suas fantasias amorosas, fruto de tanta novela que assistia – Ahh, coitada da Mitsue-san, ela tem que aproveitar mais sua adolescência...

- Yo Tomo, o que é que tem a Mitsue?

- AH! – A garota se surpreendeu quando ouviu aquela voz repentina e então olhou para o grisalho que parou de ler o livro ao vê-la falando sozinha – Kakashi-sensei... Não é nada de mais... – Ela levantou os óculos que escorregaram com o susto e limpou a garganta – Eu só estou achando a Mitsue-san estranha...

- Estranha? – Ele enrugou a testa e colocou o livro no bolso da calça – Aconteceu alguma coisa?

Tomo fez um biquinho e cruzou os braços.

- Eu fiz essa mesma pergunta para ela, mas ela só falava que não dormiu direito e tal... Mas eu não me convenci disso.

- Hmm... Falando nisso eu nem a vi hoje. – Refletiu o grisalho e então voltou a aluna – Sabe onde ela está?

- Ela está dormindo na enfermaria. Eu disse a ela que seria melhor ela descansar para encarar as aulas.

- Ah... Então é melhor eu deixar para vê-la na aula. – Kakashi enfiou a mão no bolso atrás do seu livro e então sorriu para Tomo – Te vejo na aula de teoria musical Tomo.

- Tudo bem... – Concordou, e então o grisalho começou a se afastar com o livrinho de volta as suas mãos. Tomo pressionou os lábios. Sua garganta coçava tamanha era a vontade de fazer aquela pergunta e acabar com sua curiosidade, então ela não se segurou mais. Era agora ou nunca – Kakahi-sensei, espere um momento!

O grisalho parou de andar e virou o rosto para a garota que correu na direção dele.

- O que foi?

- É que... – Ela corou um pouco e coçou a cabeça – O senhor queria falar com a Mitsue ontem, não queria?

Kakashi sorriu, compreendendo.

- Para começo de conversa, eu sou muito novo para ser chamado de “senhor”, e sim, eu queria falar com ela e ainda vou falar quando tiver oportunidade. Porque a pergunta? – Ergueu uma sobrancelha e ela abriu um sorriso de pura inocência.

- Nada... Só pensei que se for algo urgente, eu mesmo posso falar para ela... Se quiser, claro.

Kakashi riu dela. Estava mais que óbvio que ela estava cheia de curiosidade, mas aquele assunto só ele poderia resolver.

- Obrigada Tomo, mas deixe que eu cuide disso.

- Mas é muito importante...? – Insistiu.

- Hm... Para mim é bastante importante, mas eu terei que ter certeza se ela estará disposta a... – Ele parou de falar quando percebeu que os olhos dela brilhavam de mais. Quase que fala algo desnecessário – De qualquer forma, mais cedo ou mais tarde você ficará sabendo. Agora eu tenho que ir – Acenou para ela e saiu pelo corredor.

Tomo esperou ate que ele desaparecesse e então abriu um sorriso enorme de satisfação.

- Eu sabia! Sabia que era isso! – Ela deu uma risada que amedrontou todos que passavam, mas como antes, ela ignorou – Ah! Estou louca para a Mitsue falar com ele... Só espero que ela não bobeie.

---

Como havia pedido, a médica da escola a acordou vinte minutos depois e fez uma rápida checagem para ver se não era necessário mandá-la para casa.

- Terasu Mitsue-san... Certo? – A médica confirmou.

- Sim.

- Bem querida, parece que você ainda está um pouco cansada... Eu recomendaria que você tirasse a tarde de folga para descansar um pouco mais, e então eu mandaria um aviso aos seus professores para não ter prejuízos.

- Mas eu posso ir as aulas, certo?

- Sim, mas...

- Não se preocupe com isso, se a senhora diz que posso, eu irei as aulas e quando chegar em casa, prometo que dormirei cedo – A garota abriu um sorriso e então a médica lançou um olhar preocupado para a garota, mas depois de uns momentos refletindo, soltou um suspiro de rendição e afastou a mão da pilha de papeis de autorização em cima da mesa.

- Tudo bem, tudo bem. Mas espero que você durma cedo mesmo, caso contrário, se me aparecer cansada amanha eu mesmo cuido de assinar sua autorização de saída e se preciso, eu mesma te levo para casa. Ouviu bem?

- Sim senhora.

- Certo – Ela abriu um sorriso aliviado e então apontou para a porta – Pode ir, caso sinta mais algo, venha imediatamente.

- Obrigada – Agradeceu e saiu dali com um sorriso discreto no rosto.

Parece que todos ali eram bem gentis mesmo... Não é de surpreender que o Kakashi seja tão legal assim com ela.

Vish, lá vem ela pensar de novo no professor. Parece que quanto mais queria se afastar, mas difícil ficava.

- Parece que já me apeguei a ele – Ela balançou a cabeça, achando graça de si mesma.

Depois de pegar os livros de História da Música para a primeira aula, Mitsue andou pelos corredores com cuidado para não esbarrar com o Kakashi e então iniciou sua aula sem muitos problemas. A sua maior preocupação era a terceira aula: a aula de Piano, aonde inevitavelmente viria o Kakashi e depois... Argh... Aula de Canto.

Melhor nem imaginar o mico que provavelmente pagaria.

Depois de dois horários tranquilos, o sinal do terceiro horário bateu e ela soltou um longo suspiro.

- Espero que o Kakashi não me venha com surpresas... Preciso tomar jeito – Falou para si mesma enquanto saia da sala de aula e se dirigia para a sala de aula onde toda aquela confusão havia iniciado. Tudo culpa da sua paixão pelo belo Steinway. O piano de seus sonhos, mas que sabia que nem todos os anos de trabalho de seus pais poderiam ser capazes de pagar-lhe um.

É nessas horas que se lembrar que tem pouco dinheiro entristece.

Em meio aos seus pensamentos sobre o seu piano dos sonhos, a garota já se via a frente da porta da sala de aula e então ela voltou a realidade. A uma pequena distancia da porta, ela mordeu o lábio inferior e então andou com cuidado até a porta aberta e colocando as mãos na moldura desta, ela aproximou a cabeça para dar uma espiada antes de entrar. Mas ao ver que a sala estava cheia de alunos e nenhum professor grisalho, ela deu um suspiro aliviado.

- Ótimo, ele não chegou.

- Tem certeza? Pode ser perigoso.

- AHH! – Mitsue solta um grito de susto ao ouvir aquela voz tão perto da orelha dela e então virou o rosto para o grisalho que tampava a própria boca para não cair numa bela gargalhada – K-Ka-Kakashi-sensei! – Kakashi botou os olhos no rosto branco de susto da garota e ao vê-la assim, ele não se segurou e deu uma alta e humorada gargalhada.

A garota fez uma cara feia ao vê-lo rir as suas custas e então se recompôs.

- É feio que um professor ria de sua própria aluna Kakashi! – Reclamou com as pernas juntas.

Ele deu suas ultimas risadas e então voltou a olhar a garota.

- Kakashi? Somos tão íntimos assim? – Ele brincou ao ver o deslize da garota e então ela corou.

- N-Não! Eu só... Só... AAHH, você me deixou toda a trapalhada! É culpa sua! – Ela fez um rosto irritado que só o fez rir novamente e então ela entrou na sala bufando de raiva – Vê se pode... Eu devia denunciá-lo!

Kakashi entrou na sala com a mão na barriga que já doía um pouco de tanto rir e então os alunos olharam confusos da Mitsue para o Kakashi.

- Are, are... Deixemos isso de lado Mitsue-san – Falou enquanto colocava sua pasta na mesa com rastros da risada no sorriso em seu rosto.

- Sim Kakashi-sensei – Ela acentuou o “sensei” para não haver mais confusão e Kakashi olhou para ela com um sorriso.

Mitsue já se preparava para sentar na ultima carteira da fila do meio, mas então é surpreendida de novo.

- Mitsue, espere, não se sente ainda – Kakashi pegou um papel da pasta e então foi para o centro da sala.

Mitsue se virou para ele, confusa.

- Por quê?

Ele abriu um meio sorriso e então balançou a folha em suas mãos.

- Turma... Sei que o sinal de início da aula não soou ainda, mas peço que já se organizem nos lugares que eu ditar agora.

- Lugares marcados? – Uma das alunas perguntou com um ar chateado.

- Exatamente e serão estes seus lugares até o fim do semestre – Abriu um sorriso maior assim que o coro de “Ah não” e “droga” ecoou pelas paredes da grande sala.

Mitsue soltou apenas um suspiro cansado e então arrumou a bolsa no ombro enquanto ele começava a ditar por ordem alfabética o lugar de todos. Quando ele chegou no “T”, Mitsue esperou pacientemente por sua vez e então, depois de dois alunos, ele lançou um olhar para ela e caminhou até a segunda mesa da segunda fileira próxima a sua mesa e tocou a carteira com o indicador.

- Terasu Mitsue, por favor – E abriu um sorriso torto que só aumentou ao ver a menina revirar os olhos para ele.

Com certesa, ele a colocou ali de propósito para ficar de olho nela.

Ahh... Isso só tornaria as coisas mais difíceis para ela.

Ele se afastou com um sorriso indisfarçável no rosto e a garota sentou-se ali, ao lado da mesma garota que tocou o piano corajosamente na aula passada. Ainda admirada pela dedicação e habilidade da garota, ela se inclinou para ela e abriu um sorriso.

- Oi – Falou em meia-voz, pois Kakashi ainda chamava os alunos.

A garota virou o rosto para ela, balançando os lindos cachos e então ela ganhou um ar delicado e um pouco infantil.

- Olá – E abriu um sorriso suave, sem mostrar os dentes.

- Hm, eu me chamo Terasu Mitsue, e você...?

- Eu sou Omoi Nana. Você é a novata transferida não é? – Perguntou com uma voz tão doce quanto os olhos cor mel dela.

- Sim.

- Nossa, tenho que admitir que fiquei surpresa quando soube que tocava piano. Esperava que você fosse tocar naquele dia.

Mitsue corou de leve.

- É que eu prefiro observar antes de tentar tocar, aliás, eu estou rodeada de alunos talentosos, então seria vergonhoso cometer algum erro.

Ela riu baixinho, concordando.

- É verdade, mas mesmo que sejamos considerados talentosos, erros e gafes é oque há de mais comum nas aulas. Então não se acanhe em tocar, estou ansiosa para te ouvir – Ela abriu um sorriso gentil, dessa vez mostrando os dentes brancos e então se virou para frente.

Mitsue se apaixonou pelo jeitinho meigo dela e já se viu mais admirada pela garota.

- Ok – Kakashi afastou o papel do rosto e olhou para os alunos – Acho que já terminamos por aqui, então vamos iniciar a aula.

Dito e feito. O sinal bateu exatamente no momento em que ele falou isso e então ele guardou o papel de volta a pasta.

- Alunos, sei que já devem estar de saco cheio desta música, mas hoje a tocaremos novamente usando alguns alunos e então trabalharemos em cima das partes que possuem mais dificuldade.

- Ah professor... Por que não tenta outra música só para variar? – Um garoto de cabelos ruivos tingidos e pulseiras de couro com correntes de metal contornando reclamou com o rosto apoiado numa das mãos.

- Porque esta musica é que vai prepará-los para a Banca que teremos daqui a algum tempo. Se conseguirem um bom desempenho nesta música, terão também um ótimo desempenho na música que escolherão nela.

O ruivo bufou, mas falou nada. Kakashi também preferiu não comentar e então continuou.

- Terei que escolher um aluno outra vez? – Perguntou, dirigindo-se para toda a turma, mas ninguém ousou responder e então ele deu um suspiro – Are, are... Tudo bem, eu escolho já que insistem – Ele começou a andar na direção da lousa onde o chão da sala era mais elevado para manter o Piano visível a todos e ainda de costas para nós, levantou o indicador para o alto e disse – Deixo bem claro que não me responsabilizarei pela minha escolha, aliás, foram vocês que insistiram.

De repente, o coração da Mitsue se acelerou. Estava nervosa.

Ah, mas o Kakashi não a escolheria... É pouco provável que ele a forçaria a tocar logo no segundo dia de aula.

- Terasu Mitsue, por favor – Falou com a voz calma, mas com um quê de divertimento.

- E-Eu?! – A garota sentiu as bochechas esquentarem no momento que o olhar de todos foram nela.

- Claro – Kakashi se virou para ela e então sorriu, divertido – Preciso confirmar as habilidades da inesperada novata para tomar uma decisão importante. Algum problema?

Mitsue se calou, e então a memória de sua tentativa de tocar no Brasted London surgiu na memória e a assombrou.

Mas ela não tinha escolha. Foi chamada e teria de ir mesmo que fosse um erro.

“... Erros e gafes é oque há de mais comum nas aulas. Então não se acanhe em tocar...”

A frase da sua colega de classe lhe veio a mente e então ela teve mais coragem para se levantar da carteira.

Kakashi percebeu assim que olhou os olhos da garota que algo a perturbava e então ele desceu do chão elevado e caminhou até ela. Quando percebeu a presença dele, Kakashi lhe estendeu a mão e sorriu docilmente.

- Vem.

Mitsue tirou os olhos do rosto dele para a mão que lhe estendia e então, com o coração na mão, segurou a mão dele e deixou que ele a acompanhasse até o piano. Kakashi tomou cuidado, consciente que estavam sobre os olhares dos alunos e passar uma má ideia era perigoso. A garota observou o belo piano e então engoliu em seco antes de sentar, mas então Kakashi se aproximou educadamente e lhe sorriu.

- Não precisa temer nada Mitsue-san, lembre que estou do seu lado para te ajudar há qualquer momento – Mitsue olhou-o e ao ver que falava a verdade, sorriu, realmente agradecida. Depois do apoio do Kakashi, Mitsue sentou na banqueta com o coração mais calmo e então respirou fundo e flexionou os dedos rapidamente.

É agora... Lembre que você já fez isso antes e deixe todo o resto com as suas mãos.

- Pronta Mitsue-san? – Perguntou Kakashi, com os braços cruzados, logo atrás dela.

- Sim – Respondeu, mais calma.

- Ótimo, inicie quando for melhor – Se afastou mais alguns passos e esperou pela execução da jovem, mas ele também temia que o trauma de infância dela atrapalhasse. Era arriscado, mas por alguma razão, tinha total confiança sobre ela.

Mitsue fechou os olhos, oque provocou reações curiosas dos que a assistiam. Mas por incrível que pareça, era só desta maneira que ela conseguia iniciar as musicas. Provavelmente um velho hábito que adquiriu graças ao seu pai.

E então, depois de pousar os finos dedos nas teclas de marfim, ela iniciou a musica quase que automaticamente.

Toda a turma ficou silenciosa quando a mesma musica do dia anterior tocou e Mitsue deixou os lábios se separarem suavemente enquanto seus dedos exploravam o piano. A música de Chopin seguia com uma suavidade chocante e os alunos prenderam-se completamente no piano. A mão do Kakashi foi para a boca, olhando a garota que tocava com um ar atento.

É igual a primeira vez que a ouvi... Simples, calmo e elegante, sem um traço de exagero. Um sorriso escapou pelos lábios dele A forma que ela toca é encantadora, não perfeita, mas suficiente para eu me apaixonar por ela.

Mitsue abriu os olhos assim que chegou na parte onde as partes fortes iniciavam e então ela enxergou os próprios dedos nas teclas, dedos longos, finos e a mão grande o bastante para ter um certo alcance que a favorecia. Como sua mãe dizia, as suas mãos eram iguais as do seu pai.

O seu pai...

Os olhos dela se estreitaram e então seus dedos ficaram um pouco mais rígidos e parte da leveza se perdeu. Kakashi afastou a mão da boca, logo percebendo a mudança.

Droga... É melhor eu interrompe-la antes que algo aconteça...

A garota endureceu a expressão, com as lembranças começando a rodeá-la outra vez, e então como um sussurro entre suas lembranças, a voz do Kakashi surge. “Não precisa temer nada Mitsue-san, lembre que estou do seu lado para te ajudar há qualquer momento”.

Mesmo assim... Mesmo sabendo que ele está do seu lado, o Kakashi não era o seu pai. Nunca seria, e aquilo lhe doía profundamente no coração. Pensando que iria cair em prantos de repente, uma mão quente toca seu ombro e então ela para de tocar.

- Acho que isso é o suficiente Mitsue-san – Falou com uma voz suave e então a garota afastou a mão das teclas impecavelmente brancas e levantou-se. Kakashi apertou seu ombro e abriu um sorriso – Uma salva de palmas para nossa colega, por favor!

Os olhos tristes da Mitsue se levantaram assim que ouviu as palmas de seus colegas em sua direção, cheias de energia, e involuntariamente ela sorriu e se reverenciou.

- Obrigada – Agradeceu, se sentindo melhor agora que se afastou do piano.

Kakashi viu a garota se afastar dele até sua carteira e então coçou a cabeça.

Tomo tinha razão... Tem alguma coisa estranha com ela. Ele se endireitou e virou para a turma. Bem, seja lá oque for, mais tarde eu resolvo.

E então a aula se seguiu, com vários alunos tocando no piano, e no final, Kakashi repassou algumas partes ele mesmo e explicou a execução, desenhando as notas na pauta do quadro negro enquanto Mitsue anotava e escutava ainda chateada por não ter conseguido outra vez.

Tinha que ser mais forte, mas...

Como?

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A aula encerrou e logo Mitsue saiu da sala, apressada para não ter que falar mais nada sobre aquilo e Kakashi não pode fazer nada, então deixou isso de lado.

A aula de Canto não foi tão assustadora quanto ela pensava. Pelo jeito eles ainda não cantavam para valer, só faziam exercícios de aquecimento e liam algumas notas enquanto cantavam para medir a capacidade de cada um. E olhe que a Mitsue não foi tão mal para uma primeira vez. Depois de mais algumas aulas, o sinal que a Mitsue esperou por tanto tempo finalmente tocou. O sinal da saída.

Ela saiu apressada da sua aula de Interpretação de Partituras nível Médio, desta vez sem ver Tomo. Provavelmente a garota estava com seu professor particular. Mitsue apressou os passos pelo corredor e desceu as escadas de dois em dois degraus, apressada.

- Tenho que me apressar... Apressar... – Repetia desde que começou a descer as escadas, e continuou murmurando isso até alcançar o corredor que levaria ao salão – Acho que se eu me for rápida dá para visitar a minha mãe... Talvez – Continuava a falar consigo mesma, e então seus passos se apressaram mais e ela começou a correr.

Em meio a corrida, numa curva do corredor, quase que Mitsue atropela uma pessoa que apareceu, mas ela desvia e continua correndo.

- Desculpa! – Falou para ela sem ao menos ver de quem se tratava.

- Mitsue? – Kakashi fez um rosto surpreso ao ser quase atropelado por sua aluna e ao ver que ela já sumia de sua visão, começou a correr na direção dela também – Mitsue! Espera!

A garota virou um pouco o rosto enquanto corria e mesmo sem olhar diretamente, reconheceu o Kakashi pelos cabelos grisalhos.

Ah não... Já acabaram as aulas! Porque ele está correndo atrás de mim?! – Pensou.

Decidida em não atrapalhá-lo mais, Mitsue acelerou a corrida e passou pelas portas da Ala Leste num segundo, correndo na direção da porta de saída da escola.

- Mitsue! – Kakashi juntos as sobrancelhas, e aumentou os passos na direção dela também – Eu não vou perdê-la desta vez! Ah, não vou mesmo! – Falou com convicção, e então passou pelas portas da Ala Leste, esvoaçando sua camisa azul sem botões.

Mitsue já começava a arfar de tanto que corria, e então começou a ficar preocupada por ele estar alcançando-a tão rápido. Meu Deus, aquilo parecia uma perseguição!

A garota foi para o lado de fora, e desceu com pressa os poucos degraus que davam acesso a calçada, mas ao sentir uma mão segurar seu braço, ela soltou uma exclamação e parou de correr.

- Mitsue espere... – Kakashi soltou o ar pela boca, um pouco cansado por correr tanto – Por favor, espere um pouco...

Ela virou o rosto para ele, também cansada por correr.

- Porque está me perseguindo...? – Perguntou, confusa.

- E porque está fugindo de mim? – Revidou, e então as bochechas da garota esquentaram.

- E-eu não estava fugindo... – Virou o rosto.

- Estava sim, e tem feito isso o dia inteiro pelo o que percebi. E então? O que foi que eu fiz para você querer fugir?

- Nada! – Ele corou mais ainda e não ousou olhar para ele – Você fez nada mesmo...

- Então eu estou confuso! – Ele riu, mas a Mitsue continuava envergonhada.

Ele soltou o braço dela a passou a mão distraidamente pelos cabelos.

- Falando sério agora Mitsue. Podemos conversar por alguns minutos?

- Sobre...?

- Vem cá.

Mitsue o seguiu sem escolha pela calçada, e os dois andaram pela parte da frente da escola até seguir para a lateral dela, onde havia alguns bancos e árvores. Kakashi se sentou num banco de madeira ao lado de uma árvore e Mitsue se sentou um pouco distante dele no mesmo banco.

Ele riu e se virou mais para ela.

- Eu não mordo Mitsue, então relaxe.

- Eu estou relaxada! – Ela juntou as sobrancelhas e ignorou o sorriso bobo no rosto dele – E oque você queria falar comigo?

- É simples – Se aproximou dela no banco e suavizou o sorriso – Eu gostaria de lhe propor uma oportunidade única, para que eu possa te acompanhar e te ajudar melhor fora das aulas...

- Então...? – Insistiu. Ele estava enrolando muito.

- Tudo bem, eu serei direto – Limpou a garganta. Parecia um pouco nervoso também – Quero me tornar seu professor particular, Mitsue-san.

Será que seria muito exagerado da parte dela ter um piripaque? Ou um ataque do coração?

Kakashi realmente a escolheu como sua pupila?


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