Uma semana se passou. Nora voltou a sua rotina normal, mas não porque deixara de ver uma garota que morrera há décadas, e sim porque se acostumara com isso. Patch, cada vez mais atencioso e preocupado, ainda tinha dificuldade em acreditar que tudo aquilo fosse real. Ele acreditava em Nora, mas não tinha fé o bastante para crer que Katarina realmente estivesse a assombrando. Para ele aquilo tudo tinha o dedo podre de Dabria no meio. E se ele descobrisse que isso era verdade, ela estaria condenada a passar o resto de seus dias no inferno.

Nora estava saindo do colégio sozinha quando avistou Patch encostado em sua moto, próximo a entrada. Ela apressou os passos e quando estava perto o bastante se jogou nos braços dele, beijando-o em seguida. Era assim que ela se sentia segura, quando ele estava por perto. 

- Como você está? - Ele perguntou tocando seu rosto com afeto.

Nora sabia o que ele realmente queria dizer. "Continua vendo minha ex namorada morta?" Mas ele não tinha culpa de nada, e Nora ficava feliz por saber que ele se importava com ela.

- Tudo bem. Mas as aulas de biologia não são as mesmas sem você. - Ela sorriu, pegando o capacete da mão de Patch e colocando-o na cabeça.

- Vou te compensar por isso. Te deixo em casa agora e te pego ás oito. Podemos jogar sinuca para relembrar os bons e velhos tempos, ou andar na montanha russa do Delphic. Lembrando que minha casa está embaixo do parque. Sem pressão. - Ele tinha nos lábios aquele sorriso fofo e safado ao mesmo tempo, que fazia com que Nora e qualquer outra pessoa que o visse, esquecesse como se respirava.

- Podemos pular a parte do encontro e ir direto para sua casa. - Ela ofereceu, e embora seu tom sugerisse brincadeira Patch ficou bem satisfeito com a proposta.

- Não poderia ser melhor. 

(...)

Eram cerca de seis da tarde quando tudo começou a dar errado. Nora estava de pijama, escolhendo uma roupa para o encontro com o namorado. O medo de perdê-lo ao mesmo tempo que a angustiava mais fazia com que ela tivesse certeza de que amava Patch e nada no mundo poderia acabar com esse amor. Ao longo dos dias ela começou a ter certeza de que estava pronta para se entregar a ele. E havia planejado tudo para aquela noite.

Várias roupas estavam jogadas sobre a cama e ela se observava no espelho procurando uma forma de fazer com que seu cabelo parecesse bonito e menos rebelde, quando ouviu uma batidinha na janela.Olhando pelo reflexo no espelho tudo que via era uma sombra negra pela cortina. Prendeu os cachos em um rabo de cavalo frouxo e amontou as roupas jogando-as dentro do armário outra vez. Abriu a cortina confiante, acreditando que fosse Patch. Um grito soou de sua garganta sem que ela pudesse controlar. O homem alto e forte pulou para dentro do quarto e tapou sua boca com a mão para impedi-la de continuar gritando. 

- Está tudo bem, Nora Grey. Não vou machucar você. - A voz fria e metálica parecia um sussurro. 

O homem esperou dois segundos e como Nora manteve-se quieta e não reagiu, ele retirou a mão de sua boca lentamente. Nora respirou aliviada, mas seu rosto ainda deixava transparecer medo. Patch. Por favor. Eu preciso de você, agora. Patch. Patch. Aquilo não funcionaria, é claro que não. Patch não estava perto o bastante para ouvi-la. 

- Quem é você? - Ela perguntou na tentativa de parecer mais forte e confiante. 

- Sou um velho amigo do seu namorado. - Ele sorriu diabolicamente.

Amigo? Nora não conseguia acreditar nisso.

- Me chamo Natanael. - Ele fez uma breve mesura.

- Um anjo caído. - Nora deduziu. Podia sentir a maldade emanando dele, junto com poder.

- Exatamente. Então, eu preciso de você para um plano maléfico e diabólico que tenho em mente. - Ele não tirava aquele sorriso sarcástico e maldoso do rosto. - Pode me acompanhar ou pra isso eu vou precisar ameaçar quebrar o pescoço da sua mamãe que está no quarto ao lado? 

- Saia do meu quarto. Eu não tenho medo de você. Se veio para tentar deixar algum recado para o Patch, tudo bem, ele saberá que esteve aqui. Mas vá embora, e nunca mais apareça.

- Quer fazer isso do jeito mais difícil? Tenho amigos rondando a casa e inclusive um está pairando na janela da sua mãe. Concentre-se, você vai conseguir sentir a presença deles. Garanto que você sairá viva, mas me acompanhe com boa vontade... Não quero machucar alguém que não tem nenhuma relação com esse nosso mundo... Você me entende não é? - Nora relaxou.

Agora ela só conseguia pensar no quanto aquele anjo era bonito. Aquela aura negra estava a atraindo, os cabelos loiros e bagunçados, os olhos cinzas e brilhantes. Nora nunca tinha visto ninguém mais bonito. Ela sentia que poderia segui-lo pelo mundo todo sem reclamar. Aura negra. Anjo caído. Ele estava em sua mente. Não posso deixá-lo entrar em minha cabeça. Concentre-se em Patch. Patch. Patch. Patch.

Katarina apareceu e parou ao lado de Natanael. Pôs a mão no ombro do anjo e ele virou-se para ela como se pudesse senti-la. Isso era impossível, Patch nunca sentira a presença da garota. Katarina sorriu para ele e ele fez o mesmo. Nora sentiu que a temperatura do quarto abaixou, todo o seu corpo se arrepiou.

- Você... - Ela olhava para os dois com espanto. 

- Já conhece Katarina, não é? Tudo teria sido muito mais fácil se você tivesse pedido aos arcanjos que a trouxessem de volta a vida. Mas, tenho que te contar um segredo... Há muito tempo atrás seu namorado me acorrentou no inferno. Enquanto estive lá aprendi coisas que nenhum outro anjo pode sequer imaginar, inclusive a trazer pessoas de volta ao mundo. Mas eu preciso de uma pequena contribuição sua. Garanto que não vai se machucar, mas precisa se apressar Nora. Não sou tão paciente assim, e se ficar enrolando demais, sua mãe morre. E então? Vai me ajudar? - Os olhos de Natanael ficaram mais escuros, perigosamente brilhosos.

- Está tudo bem, Nora. - Katarina disse com uma voz doce e envolvente. - Natanael está me ajudando a voltar. Por favor, venha conosco e me tire desse inferno em que estou vivendo, presa entre a morte e a vida... Me deixe voltar.