O Outro Lado Da Lua escrita por Marie Caroline


Capítulo 9
Trilha




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Naquela manhã, eu me sentia completamente indisposta para fazer qualquer coisa.

De cara fechada, ouvia meu pai falar sobre onde iríamos fazer trilha. Eu mal prestei atenção ao que ele falava com Felipe.

Tentei dispensar o café da manhã, mas papai insistira que eu deveria comer senão desmaiaria no meio da floresta. Assim que eles saíram da mesa, despejei meu café na pia.

Eu realmente estava indisposta.

Fazia frio, então coloquei um moletom e peguei meu tênis confortável.

–Agatha desmancha essa cara! – exclamou Felipe.

Já estávamos no carro à caminho do tal sítio que não eu lembrava o nome.

–Que cara? – perguntei, minha voz monótona.

–Essa de quem comeu e não gostou! – ele riu. – Vai maninha, dá um sorriso! – ele começou a me fazer cócegas.

–Para Felipe! – gritei rindo, comprimindo o abdômen. – Sai fora! Pai, mande ele parar!

–Só se você der um sorriso! – ele sentenciou rindo.

–Não vale! – eu ri tirando as mãos de Felipe de mim. – É um complô!

Depois disso a viagem foi melhor. Eu ainda estava um caco por dentro, mas decidi fingir que estava bem por causa de papai e Felipe.

Chegamos e papai estacionou o carro.

–Felipe pegue essa mochila aí. Iremos levá-la conosco. – disse meu pai.

–Ok. – ele pegou a mochila no porta-malas.

–O que tem aí? – perguntei a Felipe enquanto papai falava com um empregado que trabalhava ali.

–A comida. Vamos caminhar por umas três horas mais ou menos, então é bom levar.

–Hum. – respondi, agradecendo aos céus por termos trazido comida, afinal ainda estava de estômago vazio.

–E aí? Estão prontos? – perguntou meu pai.

–É estamos! Uhuuu! Que legal! – entoou Felipe, sarcástico.

–Deixa de ser preguiçoso! Vamos Agatha? Você gosta de trilha não é?

Pensei nisso por um instante. Eu adorava trilha, natureza... Mas meu pai não sabia os meus motivos para ter medo de entrar numa floresta agora então resolvi dizer que estava muito animada para começar.

Começamos a caminhar, até que estava divertido. Conversamos sobre várias coisas e percebi que papai estava interessado demais ao perguntar se minha mãe estava saindo com alguém ultimamente.

Respondi a verdade: que ela estava tão ocupada que nem sequer pensava nisso.

Depois de uma hora caminhando, Felipe reclamou de cansaço e fome, então achamos uma árvore com uma grama fofinha em baixo e sentamos ali.

Faminta, devorei os sanduíches que meu pai fizera.

Felipe e papai começaram a falar sobre futebol e logo me vi entediada.

Peguei meus fones e escolhi uma música que não fosse tão melancólica para não estragar a fachada de “está tudo bem” que eu construí essa manhã.

Estava escutando That’s what you get do Paramore quando cansei de ficar sentada.

–Pai – interrompi uma infinita falação de jogadores e técnicos ruins – incomoda-se se eu for dar uma volta?

–Ah pode ir querida. – ele respondeu. – Mas não demore, logo iremos até um lago que tem por aqui.

–Eu não demoro. E Felipe – eu ri. – se continuar comendo assim não vai chegar a levantar!

–Rá! Rá! – ele exclamou e jogou um pedaço de sanduíche em mim.

–Que maturidade! – comentei sarcasticamente.

Comecei a caminhar na direção que havíamos tomado mais cedo. Andei por cinco minutos quando vi um conjunto de árvores à esquerda que pareciam formar uma passagem.

Sem pensar duas vezes encaminhei-me até esta e adentrei pelos galhos. Era mais escuro ali, as árvores eram mais juntas por isso a luz do sol não penetrava por elas.

Continuei caminhando e com um sobressalto lembrei-me que papai alertara para não sairmos da trilha. Cogitei dar meia volta, mas, antes que pudesse decidir, um brilho estranho chamou minha atenção.

Vinha de um ponto à frente, no meio de um arbusto.

Cheguei mais perto e estendi a mão, hesitante. Quando toquei o arbusto, o brilho sumira.

–O que... – sussurrei.

Abri o arbusto, revelando um buraco fundo o suficiente para eu não enxergar aonde era seu fim.

E o brilho estranho estava lá no fundo, instintivamente inclinei-me para o buraco e senti minhas mãos escorregando na terra solta.

–Não...! – gritei enquanto caía cada vez mais fundo, cada vez mais rápido.

Antes de tomar consciência de que provavelmente iria morrer, eu caí com um baque surdo.

–Ah! – ofeguei.

Eu estava deitada no que parecia ser um chão duro e cheio de galhos. Cada parte de meu corpo doía. Fiz força para sentar e olhei a volta.

–Oh não... – gemi.

Onde eu estava? Eu havia caído num buraco, não havia?

Então por que eu estava rodeada de árvores num espaço amplo e completamente diferente da floresta que eu estava com meu pai?

Levantei com dificuldade, meus joelhos fracos. Um farfalhar à direita me fez virar.

E não acreditei no que vi.

–Ai meu... – não terminei.

Eu podia estar louca, mas estava encarando um lobo cinza-claro gigante, que rosnava para mim de forma ameaçadora.

Era só o que me faltava! Sam vai me matar quando descobrir que eu expus o segredo!

–O que... - Eu olhei em volta procurando quem havia dito isso. A voz era de uma mulher.

O lobo me olhou com curiosidade.

Será que ela é louca? Não parece muito bem...

Ah! O cheiro dela! Não pode ser...

–Quem está aí? – gritei desesperada. De onde vinha a voz?

O lobo começou a se afastar.

Vou deixá-la aqui mesmo. Quem iria acreditar nela afinal?

Aí eu entendi. A voz vinha do lobo.

–Espere! – gritei. Estando louca ou não, o lobo não havia me atacado então não poderia ter perigo algum.

Agora eu tenho certeza. Ela é mesmo louca.

–Eu não sou louca! – respondi e de alguma forma pude ouvir a confusão em seus pensamentos.

Você está me ouvindo? Como...? – Sua voz era de descrença e ao mesmo tempo raiva.

–Eu não sei. – respondi. – Mas eu preciso de ajuda, eu não sei onde estou e... – olhei em seus olhos tentando não sentir medo. – Por favor. – pedi suplicante.

A confusão ainda predominava seus pensamentos quando ela desapareceu por entre as árvores.

Caí de joelhos no chão. Meu Deus! O que eu havia acabado de presenciar? Onde eu estava? E por que eu ouvia tudo o que aquela coisa pensava?

Levantei e comecei a caminhar imaginando onde seria a saída quando ouvi passos atrás de mim.

Virei para trás e encarei a garota que estava diante de mim.

Tinha a pele acobreada e era muito bonita, porém suas feições eram de amargura.

Eu podia estar delirando, mas ao ver o rosto dela podia jurar que era um personagem de meu livro, Leah Clearwater.

–Eu acho bom você se explicar menina.


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Notas finais do capítulo

aaah eu sinto tanto, mas vou deixar vcs curiosos hahahaha
posto o próximo capítulo amanhã
boa noitee