O Outro Lado Da Lua escrita por Marie Caroline


Capítulo 8
Surpresas




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A primeira semana de aulas passara. E, milagrosamente, eu sobrevivera. No decorrer da semana, acabei descobrindo o quanto Giovana era irritante. Ela me provocara de todas as maneiras possíveis. Duas vezes perdi as estribeiras e disse para ela ir a um lugar que minha mãe me mataria se soubesse que eu havia dito.

Mas finalmente minha mãe viera me buscar. A surpresa é que ela disse que eu e Felipe passaríamos o fim de semana com Fábio, meu pai. Coisa que não fazíamos há tempos.

Nem sequer passei em casa, mamãe me levara direto para a casa de meu pai. Felipe já estava lá.

–Tchau mãe. – disse enquanto abria a porta do carro.

–Filha, espere. – ela pediu.

–Sim? – ergui as sobrancelhas.

–É que... – ela hesitou. – Eu estou com uma sensação estranha.

Ela olhou-me angustiada. O que havia de errado com ela?

–Como assim mãe? O que houve?

Ela inspirou profunda e disse rapidamente.

–Eu estou com a sensação estranha que eu vou te perder.

–Mãe que história é essa agora? É claro que não irá me perder. – eu a assegurei.

–Ah, sei lá. Desde que você foi para escola, eu estou tendo pesadelos. – ela remexia as mãos nervosamente.

Pesadelos? Ela também? Não, certamente não eram os mesmos que os meus.

–Que tipo de pesadelo? – disse lentamente.

–Bem, são apenas vozes indistintas – ela explicou. – Mas aí eu te vejo, e você começa a me dizer que deve ir embora, encontrar seu caminho...

Ofeguei. Aquilo já estava me assustando. O que tudo aquilo queria dizer? Que eu iria embora e deixar minha mãe, minha família para trás?

Tentei colocar alguma segurança em minhas palavras.

–Mãe, vai ficar tudo bem tá? Eu só fui para o colégio interno, nada demais. – fiz um tom de brincadeira. – Aliás, foi a senhora que quis que eu fosse para lá não é?

–É foi sim. – ela riu.

–Bem, agora eu tenho que ir tá? – beijei seu rosto. – Tchau mãe.

–Tchau filha. Eu te amo. – ela disse mais uma vez angustiada.

–Eu também te amo.

Saí do carro levando minha bolsa. O sol cegou meus olhos por um momento antes de olhar para a pequena casa de meu pai. Atravessei o pátio e vi, decepcionada, a grama antes verde toda seca e amarelada.

Abri a porta e encontrei Felipe esparramado no sofá.

–E aí maninho? – eu disse largando a bolsa e lhe dando um beijo na bochecha.

–E aí pirralha. – ele sorriu.

–Onde está o pai? – eu disse olhando para a TV e vendo um bando de gente ensanguentada – Eca! Que filme é esse?

–Jogos Mortais. – ele comeu uma pipoca. – E o pai está tomando banho.

–Hum. – sentei-me no sofá pegando um punhado de pipoca.

–Rá! – ele exclamou. – Advinha o que vamos fazer amanhã cedo?

–O quê?

–Papai vai no levar para fazer trilha. – ele revirou os olhos mostrando sua opinião sobre o passeio.

–Por quê? Papai odeia natureza! – ele sempre trabalhara em seu escritório e odiava sair dele.

–Por que ele tá a fim de se conectar com os filhos num ambiente calmo. – ele ironizou.

–Ah fala sério! Eu estou cansada de bosques! – reclamei lembrando de meus insistentes pesadelos em florestas.

–E quando você esteve em um bosque? – ele perguntou com os olhos grudados na TV que ainda exibia a carnificina.

–Hã... – não precisei continuar porque meu pai apareceu.

–Oi filhota. – ele me abraçou. – Como foram as aulas?

Pigarreei.

–Foram... boas.

–Agatha eu te conheço. – ele levantou os olhos por trás dos óculos. – Aconteceu alguma coisa?

–Claro que não pai. Agora, mudando de assunto, que história é essa de trilha?

–Ah! – ele sorriu. – Sua mãe me disse que você adora trilhas e me deu essa ideia.

–É, só que eu não gosto. – disse Felipe mal-humorado.

–Filho, vai ser bom para você. – meu pai sentou no sofá. – Então gostou da notícia?

A verdade é que eu odiaria passar o dia num cenário parecido com o do meu pesadelo, mas não queria magoar meu pai, principalmente sendo no primeiro fim de semana com ele em meses.

–Hã, claro pai. Vai ser ótimo.

–Que bom meu anjo. – ele sorriu.

–Pai – eu me lembrei do estado deplorável da grama. – O que aconteceu com a linda grama que eu costumava cuidar?

–Ah... Aquilo. Bem, eu estive ocupado, sabe.

–Huum, sei... - dei uma olhada na sala. A poeira era facilmente visível. – Ok, eu vou limpar a casa!

–Filha, não precisa fazer isso. – ele protestou. – Você veio para ficar comigo e não para limpar.

Era verdade. Só que se eu ficasse mais dez minutos olhando para a bagunça daquela casa, certamente teria uma síncope. Então meu pai perdeu a discussão e eu limpei tudo e no final da tarde fui para o meu minúsculo quarto e deitei-me na cama, cansada.

As coisas estavam ficando cada vez mais estranhas. Sonhos, lendas, mamãe achando que eu iria sumir...

Eu achara que isso era loucura da minha cabeça, mas minha mãe angustiada não é fruto da minha imaginação, então deve haver algo errado mesmo.

Minha vida estava tão confusa e sem sentido que eu duvidava que pudesse piorar.

Alguns minutos se passaram e logo fiquei entediada. Minha primeira ideia foi ler Lua Nova, mas essa obsessão tinha que parar antes que eu ficasse mentalmente instável.

Lembrei-me que tinha dever de Matemática para fazer e peguei meu caderno. Eu odiava matemática. Era um fato. Mas fiz um esforço e no final fiquei feliz por ter terminado.

Infelizmente ainda havia muito tempo livre, então peguei os outros deveres e enfiei a cara nos livros.

•••

Acordei num pulo.

Eu dormira em cima de meus livros e descobri que eu arruinara meu trabalho de geografia ao deitar-me por cima do mesmo.

Estava escuro em meu quarto e senti um vento frio entrando pela janela aberta. Levantei em direção a janela e pela visão periférica vi um vulto perto da escrivaninha.

–Ah!

Mas no segundo seguinte não havia nada.

Tudo bem, estava comprovado. Eu estava louca.

Vi a porta se abrir, meu pai apareceu e disse:

–Oi dorminhoca. Nós vamos jantar fora, vamos sair daqui à meia hora. Consegue se arrumar a tempo? – ele riu como se duvidasse que isso fosse possível.

–Sim pai. Só vou tomar um banho ok? – eu tentei normalizar minha voz para não parecer estar assustada.

–Tá bem. – ele saiu e fechou a porta.

Fechei a janela e entrei no banheiro, olhei-me no espelho e disse:

–Agatha Medeiros pare imediatamente de bancar a louca, entendeu?

A voz perversa em meu cérebro rebateu.

Isso não vai ser possível se continuar falando sozinha.

Argh! Talvez eu esteja mesmo louca.

Tomei meu banho e arrumei-me. Coloquei uma calça jeans, uma bata branca e meu all star. Olhei o tempo pela janela e decidi pegar um casaquinho também.

Desci as escadas de dois em dois degraus. Encontrei meu pai e meu irmão esperando-me na sala.

–Viu? Eu nem demorei pai! – eu disse sorrindo.

–Milagres acontecem. Vamos? – ele abriu a porta e nós saímos.

No carro, Felipe me contara mais sobre seu motivo de voltar tão cedo.

–Bem, é difícil. – ele disse e eu previ uma grande história.

–Então resuma. – eu disse simplesmente.

–Eu conheci uma garota, e ela era incrível. – seus olhos brilharam ao dizer isso. – A gente começou a namorar e... Ela me traiu.

–Oh. Felipe, eu sinto muito... Como você descobriu?

–Eu os peguei agarrados num barzinho. – seus ombros caíram.

–Quer saber? Ela é uma idiota de fazer isso com o meu irmãozinho! – eu disse brava.

Ele riu.

–É, foi isso que eu pensei também. Então resolvi voltar. Não dava para aguentar vê-la todos os dias na escola. E eu estava com saudade da minha pirralha favorita! – ela bagunçou meu cabelo.

–Ei! Você sabe que eu não gosto que mexam em meu cabelo! – eu ri e foi minha vez de mexer no cabelo dele.

Continuamos rindo e brincando até chegarmos ao restaurante. Escolhemos uma mesa e o garçom veio nos trazer o cardápio. A comida veio e papai começou a contar os planos que ele tinha para reformar a casa. A conversa fluía naturalmente como sempre era com meu pai, e eu estava finalmente relaxando depois de uma semana de angústia.

Eu estava completamente distraída quando prestei atenção ao trio de pessoas que sentavam perto de nossa mesa.

De início não reconheci a mulher de cabelo castanho, nem o homem bonito de olhos azuis tão profundos quanto os do filho.

Ofeguei ao reconhecer o mais jovem daquela mesa.

Vestindo um blazer preto que realçava seus olhos, Bernardo estava – se possível – mais bonito do que já fora.

Segundos se passaram enquanto eu observava tudo isso. Meu pai e Felipe não poderiam ter percebido meu coração acelerar-se nem as gotículas de suor nas palmas de minhas mãos.

De repente eu quis muito sair dali.

Como se um imã me puxasse para ele, não conseguia tirar meus olhos de Bernardo e meu coração perdeu uma batida quando ele olhou-me de volta.

Só o que pude fazer foi olhar fundo em seus olhos incrivelmente azuis.

Ele sorriu e eu perdi a respiração.

–O que foi filha? – meu pai provavelmente estranhara meu silêncio.

–Oi Agatha? – Felipe riu. – Ainda está aí?

Não respondi. Estava ocupada demais tentando lembrar de como respirar. Aterrorizada, vi Bernardo levantar-se da mesa, dizer algo à mãe – que me olhara com um olhar superior – e encaminhar-se em minha direção.

Antes de meu pai poder dizer alguma coisa, Bernardo cumprimentou-me.

–Agatha! – ele sorriu como um anjo. – Há quanto tempo! Como você está?

–Eu estou b-bem. – gaguejei. – E você?

–Estou ótimo! Hã... Olá senhor Fábio, como vai? – ele estendeu a mão para meu pai.

–Vou bem Bernardo. – respondeu sério.

–E você Felipe? Não estava nos EUA?

–Pois é, estou de volta. – Felipe respondeu grosseiro.

Um momento de constrangimento se apoderou da cena até Bernardo pigarrear e dizer:

–Agatha, posso conversar com você um instante? – seus olhos azuis lampejaram nos meus.

–Claro... Pai, eu já volto está bem?

–Não demore. – ele respondeu secamente.

Levantei-me e segui Bernardo para fora do restaurante. Ele virou-se para mim hesitando em falar. O ar frio da noite me ajudou a acalmar-me.

–Agatha – ele soltou o ar pesadamente. – Acho que temos algumas coisas para resolvermos.

Desviei o olhar.

–Resolver? – minha voz saiu ácida.

–É. – ele mudou o peso de um pé para o outro. – Eu sei que você deve me odiar agora. Mas eu juro que tem uma explicação por eu ter te deixado. Deixe-me...

–Não. – cortei-o. – O problema não foi você ter ido embora. – minha voz estava mais firme.

–Eu sei, eu sei... – ele parecia desesperado agora. – Eu devia ter te dado uma explicação Agatha. Mas tinham muitas coisas em jogo, você precisa entender...

Ah! Eu deveria entender?!

–Não! – gritei e Bernardo arregalou os olhos ao ver as estúpidas lágrimas em meus olhos.

–Agatha... – ele pegou minha mão. – Não chore, por favor. Você tem que saber que eu não queria terminar... Eu nem sequer queria ter ido embora! – ele falava rápido atropelando as palavras como fazia quando estava nervoso.

Mas eu havia atingido meu limite e estava de saco cheio daquela conversa. Desvencilhei-me de sua mão, ele baixou os olhos parecendo triste. Passou-se um momento de silêncio, depois ele olhou em meus olhos.

–Sinto sua falta. Muito.

Esquadrinhei seu rosto procurando algum sinal de contradição em suas palavras. Não havia. Só o que encontrei foi tristeza e mágoa.

Sua expressão dissipou um pouco da raiva que sentia e me vi desarmada.

–Bernardo, eu... – inspirei. – Eu aprendi a viver sem você. E foi difícil. – minha voz ficou dura. – Então, por favor, não me procure mais. É melhor para todo mundo, acredite.

Bernardo abriu a boca para falar algo, mas ignorei isso e dei as costas para ele, secando as lágrimas com as costas da mão.

Sentei-me na mesa, os olhos de meu pai e Felipe estavam grudados em mim.

–O que aquele idiota queria? – perguntou Felipe.

–Só queria conversar. – minha voz estava fraca. – Pai, podemos ir embora agora?

Ele olhou-me com desconfiança.

–Claro. Só vou pedir a conta. – ele chamou o garçom e logo estávamos indo embora.

No carro fiquei em silêncio. Papai sabia que havia acontecido mais do que uma simples conversa entre mim e Bernardo. Mas, ele respeitou minha decisão em não falar nada.

Quando chegamos à nossa casa fui direto para o quarto, deitei-me na cama e a cascata de lágrimas começara a cair.

Eu sei que não posso mais dar nenhum passo em direção a você
Porque tudo o que me espera é arrependimento
Você sabia que eu não sou mais seu fantasma?
Você perdeu o amor que eu mais amava
Eu aprendi a viver, meio viva
E agora você me quer mais uma vez!
Quem você pensa que é?
Correndo por aí deixando cicatrizes
Coletando o seu jarro de corações
E rasgando o amor
Você vai ficar resfriado
Do gelo dentro de sua alma
Portanto, não volte para mim
Quem você pensa que é?
Eu escuto você perguntando por toda parte
Se eu estou em algum lugar para ser achada
Mas eu cresci muito forte
Para nunca cair nos seus braços.
Eu aprendi a viver, metade viva
E agora você me quer mais uma vez
Querido, levou tanto tempo apenas para se sentir bem
Lembre-se de como colocar de volta a luz nos meus olhos
Eu desejo que eu tivesse perdido a primeira vez que nos beijamos
Porque você quebrou todas suas promessas
E agora você está de volta
E não vai me ter de volta
Quem você acha que é?

Christina Perry – Jar of Hearts

Uma enxurrada de lembranças felizes envolvendo Bernardo surgiu em minha mente me fazendo soluçar.

Droga, droga, droga.

Eu odeio me sentir tão frágil! A última vez que ficara tão triste foi há um ano, quando ele foi embora da minha vida.

Depois que uma hora se passara eu ainda chorava lamentavelmente.

Isso é tão injusto!

Eu aprendera a viver sem ele, juntei todos os pedaços de meu coração e tentei seguir em frente. Agora ele volta e desfaz tudo o que eu tentei reconstruir em apenas uma noite...

Quão digno de pena é isso?

Antes de adormecer, um pensamento bobo, infantil, surgira em minha mente. Algo que teria me feito rir se não estivesse tão entorpecida.

Queria alguém como Jacob Black para vir consolar-me.


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Notas finais do capítulo

Bernardo cretinooo u.u
Ahh tá parei, até por que eu adoro o cretino
do Bernardo kkkkkk



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