Como eu já havia reparado, Charlie parecia preocupado. Quando entrei na cozinha, ele estava conversando baixo com Sue. Eles calaram-se imediatamente quando entrei. Imaginei o que eles poderiam estar falando que fosse segredo.

Não sabia exatamente porque, mas algo me dizia que era sobre Bella.

A comida estava ótima, Sue era muito boa na cozinha. Logo deu hora de ir embora e eu me vi triste por deixar a casa. Eu ficara incrivelmente confortável ali.

Esperava ter deixado uma imagem melhor para Charlie. Ele devia ter achado que eu era louca quando saí correndo da casa de Billy.

Quase adormeci no ombro de Seth no carro. E foi cambaleando que dei boa noite para os dois e fui para o meu quarto. Estava escuro. Tirei os sapatos e cai na cama.

–Você tá dormindo? – uma voz veio do nada informe.

Levantei-me num pulo, assustada. Atrapalhei-me um pouco com o abajur ao ligar a luz.

–Jacob! – eu disse entre um suspiro.

–Oi. – ele disse simplesmente. Estava encostado na parede ao lado da janela.

–O que... – ele não me deixou terminar.

–Eu vim aqui te ver, mas você não estava. Decidi que não queria esperar até amanhã.

Jacob veio até a minha cama e sentou-se na beirada. Tentei organizar meus pensamentos. O sono não ajudou.

–E qual é a urgência? – perguntei analisando seu rosto.

–Nenhuma em especial. – ele deu de ombros.

Encostei-me no travesseiro ainda analisando seu rosto. Jacob parecia estar sofrendo com algum conflito interior.

–Jacob – sussurrei. – Você simplesmente invadiu meu quarto para ficar em silêncio?

Ele riu, rouco.

–Eu estou incomodando? – ele levantou uma sobrancelha grossa.

–Claro que não. – ficamos um tempo em silêncio. Jacob parecia estar perdido em pensamentos.

–Aconteceu alguma coisa? – perguntei de repente preocupada.

–Não. – murmurou ele. Então ele riu inesperadamente. – Não algo que eu realmente entenda.

–Quer falar sobre isso?

Ele fez uma careta.

–Não sei por onde começar.

Aproximei-me e peguei sua mão.

–Que tal pelo começo? – sugeri.

Ele olhou para as nossas mãos refletindo. Eu havia me esquecido de que isso era proibido.

–Me desculpe. – soltei sua mão rapidamente.

–Não, isso não me incomoda. – ele pegou minha mão novamente.

Fiz uma careta.

–Achei que tivéssemos alguns limites para estabelecer.

Ele não disse nada. Ficamos em silêncio de novo.

–Talvez eu tenha me precipitado um pouco nessa parte. – ele replicou.

Não via aonde Jacob queria nos levar com essa conversa.

–Sabe, eu tive alguns problemas de concentração a noite toda. Leah ficou furiosa. – ele comentou com um meio sorriso.

–Por que teve dificuldade de se concentrar?

–Porque eu estive pensando sobre algo importante. – sua expressão era ilegível.

–Tipo? – encorajei.

Ele não respondeu e eu não entendi seu próximo movimento.

Jacob chegou mais perto de mim com um olhar muito estranho. Seu rosto aproximou-se do meu e eu tardiamente percebi o que ele estava fazendo.

E aí eu me afastei.

–O que está fazendo? – eu estaria mais histérica se não tivesse que falar aos sussurros.

–Bem, tricotando que eu não estou não é? – ele estava na defensiva.

–Achei que... Achei que fôssemos apenas amigos! Você deixou isso bem claro. – O que eu estava fazendo? Beijá-lo era tudo o que eu queria e, no entanto, eu me afastava?

Ele colocou a cabeça nas mãos, sua voz saiu abafada.

–É. Eu também pensei.

Olhei-o exasperada. O que eu devia entender por isso? Que ele havia começado a corresponder meus sentimentos? Que ele havia esquecido Bella?

–O que exatamente isso quer dizer – eu disse as palavras pausadamente, tentando absorver o ele dissera há pouco.

De novo ele não respondera. De repente Jacob levantara e ficara de costas para mim, com uma mão apoiada na parede, a cabeça baixa. Eu esperei, sem ter certeza do que fazer.

–Quer dizer – ele disse sem virar-se. – que eu já não consigo ficar longe de você.

Todo o meu corpo ficou dormente. Não sei bem como, mas meus pés conseguiram se mover até Jacob. Parei bem à sua frente tentando compreender o que ele estava sentindo.

–Então – balbuciei. – Você mudou... De ideia? – eu sabia que parecia uma idiota.

–Não foi exatamente uma decisão bem pensada. Mas aconteceu. – ele concluiu com seus olhos queimando mos meus.

–E quanto tudo aquilo que você falou ontem? – suspirei ao dizer as palavras.

–Acho que aquilo desencadeou tudo. – ele falou baixo. – Eu fiquei com raiva naquela hora. Falar sobre a Bella sempre me deixa assim. – então ele falou mais alto. – Mas depois que você saiu de lá daquele jeito... Eu sei lá. Algo acordou dentro de mim. E eu te juro, fiquei a noite inteira pensando sobre isso e eu estou tão confuso quanto você.

Meu corpo que já estava dormente ficou completamente mole. Eu não tinha ideia da expressão que meu rosto mostrava agora, mas por dentro eu sabia que estava tudo um caos total. Eu conseguia enxergar em seus olhos a confusão que ele próprio enfrentava. Mas não entendia... Não entendia o que havia mudado para Jacob começar a sentir algo por mim. Mas apesar do que ele estava dizendo, eu sabia que nós jamais poderíamos ficar juntos. Seus sentimentos por mim – quaisquer que fossem – iriam virar pó assim que ele olhasse pela primeira vez nos olhos de Renesmee. Era um caso perdido.

Ele esperava que eu falasse alguma coisa. Então respirei fundo e lutei para clarear minha cabeça.

–Isso é impossível. – sussurrei.

–O que?

–Você gostar de mim. – não fitei seus olhos, com vergonha.

–Por que diz isso? – eu podia notar uma leve decepção em sua voz.

Encostei minha cabeça em seu ombro, incapaz de falar.

Ele precisava entender, precisava saber que nós dois estávamos fora de questão.

Ele pegou meu rosto forçando-me a encará-lo.

–Se fosse impossível, eu não estaria aqui.

Era torturante ficar com o rosto a centímetros do dele sem poder tocá-lo, sem poder sentir a textura de seus lábios, seus braços fortes me envolvendo como que para me assegurar que eu estaria protegida ali para sempre...

E de repente eu soube. Eu queria reivindicá-lo para mim. Pela primeira vez iria fazer aquilo que meu coração mandava ao invés de pensar se eu ficaria magoada ou não. Bem nesse caso eu tinha certeza que sairia magoada. Não importava.

Eu mal respirava. Eu sabia – lá no fundo – que havia motivos plausíveis para eu não fazer o que estava prestes a fazer. Só que nesse momento não consegui me lembrar de nenhum. Por que Jacob terminou a distância entre nós e me beijou.

Seus lábios macios se moviam urgentes nos meus. Uma mão sua segurava meu rosto com força, a outra apertava minha cintura. Coloquei minha mão em sua nuca trazendo-o para perto. Ele me encostou à parede, grudando cada linha do seu corpo no meu. Meu coração martelava enquanto minhas mãos exploravam seu corpo. Eu não reconhecia a mim mesma quando o puxei com uma força que não sabia que possuía e o arrastei para a cama.

Sua boca encontrou meu pescoço e eu arfei. Eu passava as mãos por seus ombros, seu peito musculoso e eu me vi irritada com a camisa dele. Puxei seu rosto para mim e beijei-o novamente. Dessa vez ele foi mais gentil. Sua boca explorava a minha com uma lentidão muito doce enquanto suas mãos passavam de cima para baixo em minha cintura. Ele terminou com um selinho, sua mão acariciando minha bochecha.

Ficamos em silêncio por alguns minutos apenas fitando um ao outro. Eu poderia estar desenvolvendo algum tipo de bipolaridade agora. Por um lado explodindo de felicidade por estar com a pessoa que tinha certeza que amava e por outro me odiando com todas as forças por estar mudando tudo tão drasticamente.

–Acho que ultrapassamos alguns limites por aqui, não é? – ele disse com um sorriso zombeteiro.

Não pude evitar sorrir. Jacob estava mais feliz do que nunca havia o visto em minhas duas semanas aqui. Não podia acreditar que eu estava aqui com Jacob, seus braços à minha volta. Sentindo sua respiração lenta e profunda soprando em meu rosto.

–O que foi? – ele perguntou analisando meu rosto.

Enterrei meu rosto em seu ombro para poder falar sem ficar envergonhada.

–É que eu não acredito que eu tô aqui com você, sabe. – eu ri baixinho. – Pelo o que eu sei, poderia estar sonhando.

Ele beijou o lóbulo da minha orelha.

–Agatha bobinha. – ele zombou. – Será que tudo isso é assim tão impossível?

Encarei seu rosto mordendo o lábio. Ele não fazia ideia...

–Mas, sério, o que causou tudo isso? – perguntei de repente.

–Como assim?

–Bem – comecei a mexer em sua camiseta. – Como exatamente você decidiu... Ficar comigo? – as palavras pareceram desajeitadas.

Ele respirou pesadamente.

–Eu já disse que na foi uma decisão bem pensada. – ele ajeitou uma mexa de meu cabelo. – Eu só sabia que não queria te ver partindo de novo.

–Eu não estava indo embora pra valer. – murmurei sentindo-me um pouco culpada. Afinal eu estaria indo embora daqui a alguns dias.

–Eu não sabia. – ele replicou. – Naquela tarde você falou em ir embora, e você é tão maluquinha que poderia ter ido mesmo.

–Eu não sou maluquinha! – dei um tapinha em seu peito. Ele riu.

–Eu fui atrás de você e – interrompi-o.

–Você veio atrás de mim? – uni minhas sobrancelhas, descrente.

–Fui. Assim que me transformei, vi que Leah estava mais perto de você e tive que implorar para ela ir te pegar.

–E ela simplesmente fez o que você pediu? Achei que ela me odiasse...

–Bem, ela não odeia. O caso é que Leah é antipática com todos, mas ela te deve uma.

–Como assim, me deve uma? – eu falei alto demais.

–Shh. – ele pediu. – Ela não gosta de ser a única lobisomem da história. – ele explicou. – E você tirou um peso dos ombros dela.

–Peraí, ela não é a única. E quanto à Soyala?

–Soyala não era uma lobisomem. – ele revirou os olhos. – Era um espírito guerreiro.

–Huum. – fiquei um tempo pensando. – Então se eu sou descendente dela, por que eu vou me transformar? Eu não deveria ser apenas um espírito que sai do corpo?

–Bem, pense assim, você já tem os genes. E o que determina a transformação é a presença dos vampiros.

Disso eu já sabia, mas eu não tivera nenhum contato com vampiros... a não ser Carlisle...

–Meus sintomas pioraram depois da consulta com o doutor. – meditei.

–É, sinto muito por isso. Eu meio que sabia que iria acelerar o processo. Só que ele era o único médico que não faria perguntas embaraçosas.

–É, eu sei. – bocejei.

–Você precisa dormir agora.

–Eu não quero dormir. – eu tinha medo de que ao amanhecer tudo se desfizesse e o sonho acabasse.

–Eu fico aqui até você pegar no sono. – ele prometeu encostando seus lábios em minha garganta.

–Não. – ele poderia estar me levando à loucura, mas eu não era tão fácil de desistir.

–O que você quer? Ficar acordada a noite toda?

–Não, eu quero que você fique.

Ele riu beijando meus lábios brevemente.

–Vai explicar isso a Sue de manhã?

–Eu posso improvisar algo na hora. – agarrei-me a sua camiseta.

Jacob beijou o topo de minha cabeça.

–Boa noite, anjo.

Lá no fundo de minha mente algo batucava freneticamente tentando chamar a minha atenção. Algo que dizia que isso tudo era um grande erro. Algo que eu sabia que teria que enfrentar mais tarde.

Mas, nesse momento eu me permiti deixar minhas preocupações de lado. A única coisa que importava era Jacob, que ainda me segurava em seus braços. Adormeci tranquilamente ignorando absolutamente todas as coisas que me perturbariam na manhã seguinte.