–Você não comeu nada, Agatha. – observou Sue.

Era a hora do jantar e o clima estava meio tenso. Eu não contei à Seth, nem a Sue as coisas que Leah me dissera, mas era óbvio que havia alguma coisa errada.

–Eu não estou com muita fome. – murmurei.

Sue dirigiu um olhar desconfiado à Leah, mas não falou nada. O restante do jantar fora igualmente silencioso. Hoje não tínhamos a visita de Billy, então Sue fora dormir cedo, Leah fora correr e eu estava na sala com Seth.

–O que aconteceu com você, Agatha? – ele perguntou de repente.

–Nada.

–Nada? – ele repetiu descrente. – Você não falou nada durante todo o jantar.

–Estou cansada, só isso.

–Leah lhe fez alguma coisa?

–Claro que não. – a rapidez de minha resposta deixou a mentira clara.

–Você sabe que eu vou descobrir assim que me transformar e vasculhar a mente de Leah, não é?

–Eu sei, Seth. – suspirei. – Mas isso não quer dizer que eu queira falar disso agora.

–Me conte, vai. – ele pediu.

–Eu vou dormir agora, tá. Boa noite.

Não esperei uma resposta e fui direto para o quarto. Eu sei que não era justo com Seth, mas eu não podia falar com ele sobre isso. Parte de mim sabia que eu estava exagerando, que não devia ligar para o que Leah dissera. Mas era difícil não me importar quando ela dissera exatamente aquilo que eu mais temia. Que Jacob não se importava comigo.

Deite-me em minha cama, exausta. Eu precisava descansar, tinha que trabalhar amanhã cedo. Só que as lágrimas insistiam em cair, e continuaram a cair até eu pegar no sono.

Acordei num pulo. O que eu estava fazendo aqui? Eu estava em minha casa, no meu quarto em São Paulo.

Ah não! Eu voltei? Eu não podia voltar, ainda não... Eu não estava pronta...

De repente batidas fortes vieram da porta. Infantilmente, tapei os ouvidos com as mãos. Eu não queria ver ninguém!

Mas as batidas continuaram cada vez mais fortes. Saltei da cama e abri a porta com violência. E naquele instante meu coração parou de bater. Era Bernardo quem estava na porta parecendo desesperado.

–Agatha! Você voltou para mim! Eu sabia que voltaria, é a mim que você ama. – ele tentou me abraçar e eu me desvencilhei.

–Não, vai embora...

–Calma, Agatha. Sou eu.

–Sai daqui!

–Agatha, acorda!

Ofeguei de susto ao abrir os olhos. Jacob estava ali em meu quarto. Não o quarto de São Paulo, ainda era a casa de Sue. Suspirei aliviada, mas só por um instante. O que Jacob fazia aqui?

–Jacob, o que faz aqui? – minha voz estava rouca por causa do sono.

–Precisava falar com você. – sua expressão era séria.

–Como entrou? – me ajeitei nos travesseiros para poder vê-lo melhor.

–Pela janela. – ele sentou-se na cama aos meus pés. – Você estava tendo um pesadelo.

Olhei de esguelha para ele.

–Como sabe?

–Você ficou falando coisas...

Abaixei o rosto, envergonhada e depois olhei para o relógio ao lado da cama, mostrava ser 03:10 da manhã.

–Eu sei que é tarde. – ele seguiu meu olhar até o relógio. – Mas precisava falar com você agora. A Leah me tirou do sério.

Epa. Agora eu tô perdida. Ele provavelmente vira toda nossa conversa.

–Você não acreditou naquelas besteiras que ela te disse não é?

Desviei o olhar dele e não respondi.

–Você acreditou! – ele concluiu num misto de incredulidade e revolta. – Como pôde pensar que eu sou seu amigo por pena?

–Eu não sei! – respondi ainda sem olhar para ele. – É só que... – eu não podia explicar o porquê de eu ter ficado magoada com o que ela dissera. Eu não podia dizer que estava gostando demais de Jacob...

–Ei, eu sou seu amigo. Pode contar. – ele se aproximou de mim e pegou minha mão. Ah, claro! Agora ficou muito mais fácil!

–Jake, eu não posso... – sussurrei.

–Por quê? – ele insistiu.

Tentei me recuperar.

–Você ouviu toda a conversa?

–Claro.

–E a parte em que ela diz que eu queria mais do que amizade? – perguntei lentamente. Eu precisava contar a verdade, mas sabia que me daria um tiro amanhã por causa disso.

–Ah, isso. – ele soltou minha mão. – É verdade? – havia certa ansiedade em sua pergunta.

Eu hesitei. Fiz força para respirar.

–Eu não queria. Juro. – sussurrei.

–Espere aí. – ele balançava a cabeça. – Você está me dizendo que sente algo por mim?

Mortificada, balancei a cabeça em afirmativa. Jacob ficou em silêncio e eu também não sabia o que dizer.

–Uau... – ele disse baixinho. – Olha, Agatha... Eu gosto de você e somos amigos, mas... Só isso.

Era como se mil estacas de gelo estivessem atingindo meu corpo. Não reuni forças suficientes para olhar para Jacob e foi com enorme dificuldade que consegui dizer:

–Eu sei. Somos apenas amigos. Não se preocupe, eu não vou encorajar esse sentimento, eu... Desculpe-me.

–Não. Não se desculpe. – ele pareceu ofendido. – Você é incrível, e eu queria poder ser um cara normal, que pudesse te levar para sair ou sei lá. Mas...

–O que tem de anormal em você? – perguntei com a voz embargada. Ainda não conseguia olhar para ele.

–Bom, para começo de conversa, eu amo uma mulher casada e que está prestes a virar uma sanguessuga nojenta. – uma expressão amargurada e torturada perpassou seu rosto.

–Você... Você não tem culpa de amá-la. Eu é que sou intrometida, Jake. Eu nem devia estar aqui. – Era verdade. Eu estava alterando a história. Não havia nenhuma Agatha Medeiros em Amanhecer. O que eu estava pensando? Que Jacob iria se apaixonar por mim, esquecer Bella e dar as costas ao imprinting?

–Ei, não diz isso. – ele pegou minha mão novamente. – É claro que você deve estar aqui. Você pertence a este lugar.

–Não, Jacob. Eu devia ir para casa... Antes de causar mais estragos...

–Do que você está falando? Que estragos?

–Por exemplo: você não devia estar aqui. Eu estou alterando tudo, e se eu não for embora isso vai ficar fora de controle! – eu estava falando besteiras, eu sabia. Mas tinha de pôr um ponto final nisso.

–Agatha, não me leve a mal. Mas você tá falando um bando de bobagens. Deve estar com sono.

–Eu não estou com sono! – protestei.

Ele me pegou com um braço e me ajeitou nos travesseiros.

–Tente dormir ok.

Suspirei. Não ia ser fácil esquecer meus sentimentos se Jacob continuasse sendo tão carinhoso comigo. Acomodei-me na cama e fitei seu rosto.

–O que foi? – ele perguntou baixinho.

–Nada. Obrigada por entender, por não me dar um fora daqueles, sabe.

–Agatha, eu não vou mentir. Eu gosto de você, mas o problema é comigo.

–Eu sei. – bocejei.

–Agora eu vou deixar você dormir. – ele levantou da cama. – E não acredite nas coisas que Leah diz. Ela odeia ver qualquer um feliz.

–Tudo bem. – Jacob se encaminhou a janela. – E Jake?

–Sim?

–Boa noite. – sorri.

–Boa noite, Agatha. – depois ele saiu pela janela. Consegui ouvir o barulho dos seus pés enquanto corria. Surpreendi-me por poder ouvir isso, talvez fosse aquela coisa de lobo novamente.

Eu ainda estava um pouco surpresa pela reação de Jacob. Achara que ele iria se ofender quando dissesse o que eu estava sentindo, mas não. Ele fora carinhoso e compreensivo.

O que não ajudara em nada.