O tempo começou a passar mais rápido agora que eu havia construído uma rotina a seguir. Era uma sensação incrível e ao mesmo tempo estranha me sentir tão confortável com a vida que eu levava em La Push. Eu ia para a loja, passava o dia com Jacob e Seth, e à noite ficava com Sue e de vez em quando com Billy.

E por mais que eu me sentisse tranquila com a rotina que seguia, eu me pegava ofegando antes de dormir quando pensava que iria embora daqui a pouco tempo. A ansiedade tomava conta de mim de tal maneira que não conseguia dormir antes do amanhecer. O que ocasionavam olheiras fundas e rochas debaixo de meus olhos. Jacob observara isso certo dia em que caminhávamos sozinhos pela praia.

–Você não dorme à noite não?

–Por que acha isso?

–Você está parecendo um panda. – ele riu.

–Um o quê?

–Um panda, sabe. Com aquelas manchas debaixo dos olhos. – ele riu.

–Jacob, eu já lhe disse que você diz exatamente o que uma mulher gosta de ouvir? – reprimi um bocejo.

– É, eu sei, mas não fuja do assunto. Por que não está dormindo?

Suspirei. Não adiantava mentir, era péssima nisso.

–Preocupação. – eu disse.

–Preocupada com a transformação?

–Isso e outras coisas. – murmurei.

–Tipo...

–Tipo família, casa, amigos. Essas coisas que eu deixei para trás.

–Acha que pode voltar? – ele pareceu preocupado.

–Eu não sei, Jake. – eu disse cansada. Eu mesma me fizera essa pergunta mil vezes sem arranjar resposta. – Eu tenho certeza de que não vim para cá de um jeito muito convencional.

–Bem, eu acho que você deve ser um alienígena de outro planeta ou coisa parecida.

Ri. Apenas Jacob conseguia me fazer rir mesmo estando em frente a tantos problemas.

–De novo, Jake. Você diz exatamente as coisas certas.

Quando cheguei Sue ainda não havia voltado e Seth estava na casa de Embry. Eram apenas Leah e eu.

–Oi Leah. – ela estava no sofá vendo um filme.

–E aí garota. – ela não tirou os olhos da TV.

Apesar de minha relação com Leah ter melhorado, não éramos exatamente melhores amigas e nem tínhamos muito assunto.

–Eu estava na praia com Jacob. – eu comentei.

–É mesmo? – ela disse num tom falsamente interessado.

–O que você está vendo? – sentei-me no sofá.

–Um filme. – Uau, que resposta. Desisti de puxar papo e ia à cozinha quando ela me chamou de volta.

–Ei, você tem andado muito com Jacob não é?

–É, somos amigos. Por quê? – a pergunta dela era estranha.

Eu não gostei de sua expressão quando ela respondeu.

–Bom, eu espero que você não esteja querendo mais do que amizade com ele. Porque Jacob ama aquela tal de Bella. E não se engane se pensa que ele gosta de você. Eu ouço os pensamentos dele o tempo todo e é sempre a amante de sanguessuga que está neles...

Fiquei um pouco chocada com suas palavras. Depois me lembrei de que eu não deveria saber que ela era “amante de sanguessuga.”.

–Como assim amante de sanguessuga?

–Ele não lhe contou? – ela debochou. – A amada de Jacob casou-se com um vampiro. O filho do doutor que te fez o curativo. – ela apontou para a cicatriz em minha testa.

Era óbvio que eu já sabia de tudo isso, mas precisava interpretar bem o meu papel. Eu estava mesmo era preocupada com a parte de ela ter percebido algo que eu sentia por Jacob.

–Leah, eu não sei ao que você está se referindo. Eu sou amiga de Jacob. Nada mais. – fiz uma voz firme para minhas palavras saírem convincentes.

–Ah claro que sim! – ela disse com escárnio. - Você acha que ele é seu amigo? Ele tem pena de você. Você é só uma pobre garota que não tem para onde ir. – O sarcasmo de Leah me tirou do sério.

–Leah qual é o seu problema?

–Meu problema? Garota você está muito longe de casa para querer bancar a durona! – seu corpo tremia agora.

–Eu não entendo! – explodi. – O que eu fiz para você? Eu lhe dei algum motivo para me odiar? Achei que estivéssemos sendo amigáveis!

Leah riu, mas não era um riso normal. Era frio.

–Eu não te odeio. Você é insignificante demais para eu te odiar. E quanto à parte de sermos amigas, eu disse que não prometeria nada.

Essa foi a gota d’água. Saí porta a fora sem me importar com os gritos de protesto de Leah. Quem ela pensava que era? Andava por aí se achando a dona da verdade, criticando tudo e todos, como se tivéssemos que fazer suas vontades...

Eu não prestava atenção para onde ia, continuava com a cabeça fervendo. Depois de alguns minutos amaldiçoando Leah mentalmente, eu percebi que estava no meio da floresta e não tinha ideia de como voltar.

–Ah não... – olhei a volta. – Mas que m...

Comecei a voltar, mas não lembrava de ter passado por ali... Como eu iria voltar?

–Talvez não devesse voltar.

Como assim não voltar? A voz estúpida em minha cabeça deveria ter enlouquecido.

–Pense bem: Você está causando problemas com Leah, está se apaixonando por um garoto que ama outra e que em breve terá um imprinting... Você não tem razão alguma para ficar.

Está certa. Não tenho razão alguma. A não ser pelo fato de eu estar cada dia mais perto de minha transformação. Como acha que eu vou lidar com isso em casa, e se eu machucar alguém?

–Você não vai machucar ninguém. – a voz riu. – Acha mesmo que isso é real? Seus sintomas de transformação vão desaparecer assim que você voltar para seu mundo. Nada disso é real.

Você está enganada. – tropecei numa pedra enquanto caminhava. – Isso é real.

–Esqueceu-se de que isso é uma história? Um livro?

Não, eu não esqueci. Agora pare de me importunar.

Continuei andando e aliviada encontrei a estradinha de terra novamente. Eu não pretendia voltar para a casa e encontrar Leah. Mas eu também não tinha aonde ir, e era minha folga do trabalho.

Decidi ir para a praia novamente. Sentei-me num tronco e fiquei observando as ondas. Sem nem mesmo ter consciência disso, as lágrimas começaram a cair.

Era incrível como uma única palavra pudesse me fazer em pedaços. Bastou Leah tocar no meu ponto fraco e eu já estava aqui chorando. O pior de tudo é que ela estava certa. Eu estava dando bandeira, ficava todo o meu tempo livre com Jacob e achava que ele também gostava de mim pelo menos como amiga. E se ela estivesse certa? E se ele só me fizesse companhia por pena?