Enquanto isso na casa de Marcela, Lia ainda estava trancada no quarto. Raquel chegava com Tatá.

Raquel: Bom filha vai direto para o quarto, esta caindo muito raio espera um pouco antes de ir tomar banho.

Tatá: Você vai embora?

Raquel: Sim, tenho que ir para o hospital é meu dia de plantão, mas antes vou ver como a Lia está.

Tatá: Boa noite, mãe.

Raquel: Boa noite.

Raquel com uma lanterna ajuda a filha a chegar ao quarto, depois vai para o quarto de Lia. A médica entra e ouve soluços, mas não consegue encontrar, até que joga a luz em um canto do quarto e lá está Lia, ainda chora. Raquel caminha até a garota e senta-se no chão em frente a menina.

Lia: Sai daqui Raquel.

Raquel: O que aconteceu?

Lia: Isso não é da sua conta, nunca foi e nunca vai ser.

Raquel: Eu só quero te ajudar.

Lia: Vai embora Raquel.

Raquel: Lia você vai ter que me ouvir e vai ser agora.

Lia: E se eu não quiser.

Raquel: Você não tem escolha.

A médica acende uma vela e fecha a porta.

Raquel: Ai filha eu sei que eu errei, que eu te abandonei e que talvez você nunca mais me perdoe por isso, mas eu te amo muito e eu juro que nunca mais vou te abandonar. Por favor acredita em mim, por favor. – Lia não responde - Desculpa, não precisa falar nada você está chateada por algum motivo que nem sei qual, mas se eu não falasse agora talvez não tivesse outra oportunidade. Eu vou ...

Lia: Ei espera – a interrompendo - Sabe quanto tempo eu tenho esperado por isso? Acho que desde que eu tinha 10 anos. Eu imaginava exatamente essa cena você voltando e me pedindo desculpas, dizendo que me amava eu nunca mais ia embora. Esse filme tem se repetido toda noite, só que ai os anos iam se passando e você não voltava, no máximo mandava um carta, mas era só. Depois de um tempo eu comecei a preferir, a pedir de todas as formas possíveis que você não voltasse mais, entende?

Raquel: Sim filha, infelizmente não da pra voltar ao passado e dizer que me arrependo não vai mudar em nada, não vai apagar alguma coisa. Vai?

Lia: Olha Raquel eu não estou passando por momentos bons...

Raquel: Deixa eu te ajudar – a interrompendo.

Lia: PARA RAQUEL, não força a barra. Eu ainda sinto muita raiva, olha não apreça as coisas, por favor. Eu não sei se eu vou conseguir mais eu vou tentar perdoar você, eu prometo.

Raquel: Isso pra mim já é suficiente é tudo que eu precisava ouvir. Agora tenta parar de chorar e se precisar de alguma coisa ... – Lia a encara e Raquel entende – Eu ... tudo bem eu ... eu vou indo embora, a Tatá já esta no quarto. Só mais uma coisa a Marcela volta?

Lia: Sim ela e o meu pai vem pra casa hoje.

Raquel fica sem jeito.

Raquel: Então, fica com a lanterna. É ... Tchau!

Assim que Raquel sai, Gil entra para ver como a menina está.

Gil: Você está precisando de alguma coisa?

Lia: Não eu ... to bem.

Gil: Certeza?

Lia: Sim!

Gil: Hm ... Vem comigo, vou fazer Gil Burguer pra nós.

Lia ri do nome dado ao sanduiche, desde então era o primeiro sorriso da garota naquele dia tão turbulento. Os dois com ajuda de lanternas e velas iluminam a mesa e lancham, assim que terminam deitam-se no chão frio da sala e ficam por ali conversando até que adormecem. Minutos depois, a chuva já diminuíra, as luzes (ainda fraca) volta e Marcela chegava com Lorenzo.

Os dois em pé na porta conversam sem perceber que Lia e Gil dormiam abraçados no chão da sala.

Lorenzo: Sabe Marcela, eu estou me sentindo estranho. Não acho que devia ter deixado a Renata sozinha.

Marcela: Amor, ela não esta sozinha. Ela está com o Rômulo e a Paulina ... e bom o plantão da Raquel é hoje.

Lorenzo: Esse era mais um motivo pra não arredar os pés de lá. Não quero essa mulher rodeando a minha filha.

Marcela: Por mais que tente, sabe que é impossível ela também é mãe da Renata. Agora vamos você precisa descansar ... – vê os dois deitados – Olha só dormiram no chão frio.

Lorenzo: Eita, parece que a noite foi intensa por aqui. Não acha melhor acorda-los?

Marcela: Não, deixa eles. Parece que estão cansados.

Lorenzo: Mas o chão ta frio ...

Marcela pega um lençol na lavanderia, cobre eles e fica os observando.

Marcela: É tão lindo os dois juntos ... digo se entendendo ...

Lorenzo: Você tem razão, eles estão passando por uma barra... Quem nem eu, que nem você.

Marcela: Porém pra eles tudo é mais intenso. – enxuga uma lagrima que escorre do olho, desliga a lanterna que está nas mãos de Gil e a coloca em cima da mesa – Agora vamos, nós também precisamos descansar.