Dusk (Sombrio) escrita por MayaAbud


Capítulo 34
Sendo Jacob Black


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu amigo, nos encontramos novamente
Pouco tempo se passou, por onde devemos começar?
Parece que foi eterno
Dentro do meu coração a memória
Do amor perfeito que você me deu
(...)
Quando você está comigo
Me sinto livre
despreocupado
My Sacrifice, Creed



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Ponto de vista Renesmee

_Olá_ Hannah respondeu educadamente. _É sobre o processo do acidente?_ ela indagou confusa. _Porque eu devia lembrar dele?_ Cochichou a última parte sem saber que ele também podia ouvir.

_Não é nada disso, não se preocupe. É só que estive conversando com Jake e descobrimos que seu amigo, Embry, te conheceu uma vez._ falei sem ter certeza se era a coisa certa a dizer.

_Sim, mas foi muito breve, entendo que não se lembre, já faz muito tempo_ Embry pronunciou olhando-a por trás de Jacob, um sorriso doce nos lábios.

_Que tal um lanche meninos? Devem estar famintos da viajem! _ Esme interveio amenizando o clima.

Empurrei a cadeira de Hannah de volta para a sala de jantar com a mesa posta para seu lanche, que ela recusara. Embry e Jacob eram só sorrisos e não pude deixar de me sentir feliz. Posicionei a cadeira dela à mesa e Embry sentou-se ao seu lado enquanto eu sentava na cabeceira, Hannah em meu lado esquerdo e Jacob tomando o direito.

_Fiquem a vontade, meninos, fiz tudo isso para Hannah, mas acho que ela descobriu como viver de luz_ Disse Esme referindo-se aos bolos, tortas, cappuccinos, cafés e sucos. Nós rimos, exceto Hannah que olhou surpresa para minha avó.

_Parece tudo delicioso, Esme _Jacob sorriu agradecido. _Nunca vi vampiros cozinharem melhor que os Cullen _Esme sorriu.

_Então, porque estava jogando pragas em Rose?_ indaguei a Hannah enquanto me servia de torta de amendoim, os garotos se serviam de outras coisas.

_Ela liga de duas em duas horas, acha que deixou um bichinho de estimação aqui_ reclamou.

_Você não come mesmo?_ Jake interpelou referindo-se a Hannah. Ela o encarou surpresa.

_Não tenho fome_ respondeu timidamente.

_Precisa mesmo ter fome para comer essas coisas?_ Disse Embry levando um pedaço de bolo de chocolate à boca. _Hmmmm, isso está mesmo dos deuses, você precisa provar_ ele pegou outro pedaço com o garfo de sobremesa e direcionou a Hannah, que o encarou por um segundo. Rapidamente me servi de suco tentando não rir da situação, o que foi difícil quando olhei para Jacob. Mordi o lábio para não rir quando ela cedeu e abriu a boca.

_Não é uma delícia?_ perguntou Embry, a contragosto a vi assentir.

_Vocês precisam provar o de amendoim_ comentei.

_ A torta de morangos também está ótima_ Jake completou.

Eu servi uma fatia de cada doce e coloquei diante dela que começou a beliscar.

_Onde estão vovô, Emmett e Jazz?_ eu quis saber. Hannah ficou claramente desconfortável.

_Seus tios foram caçar mais longe, parece que só voltam à noite. E Carlisle foi para o hospital_ percebi que algo com meu avô a incomodava.

_Algum problema?_ perguntei, mesmo na frente dos quileutes, pra que ela se acostumasse a confiar neles. Ela os olhou de soslaio antes de responder.

_Ele saiu daqui irritado comigo_ murmurou, o rosto indo na direção contrária a onde Embry estava, para o lado, os olhos ficando vermelhos e úmidos.

_Carlisle irritado?_ surpreendi-me.

_Porque estou anêmica_ ela deu de ombros. _ Com licença!_ falou saindo de repente com um pouco de dificuldade ao guiar a cadeira.

Ouvimos da sala de jantar Hannah pedir a Esme para subir. A expressão de Embry era indecifrável.

_Pai_ chamei quando Hannah já estava em seu quarto, ele se materializou na cadeira oposta a minha, na outra cabeceira. _O que houve?

_Carlisle teve uma conversa séria com Hannah. Eu... Dei a entender que talvez um tratamento de choque surta mais efeito. Seus últimos exames alegarem uma forte anemia e ele fez uma pequena cena._ explicou ele com cautela. Franzi o cenho.

_Isso a magoou_ murmurou Embry.

_No momento, mantê-la viva é mais importante e como ela tem Carlisle e Esme em alta conta..._ afirmou Edward.

Esme chamou Jacob e Embry para acomodarem suas mochilas no quarto em que ficariam e eu fui para meu quarto tomar banho e trocar de roupa. Feito isso fui até o quarto de Hannah, ela estava deitada, de olhos fechados, os fones no ouvido, mas ela percebeu quando abri a porta. Seus olhos pareceram muito interessados quando me viu.

_Temos muito que conversar _anunciou. Revirei os olhos. Eu não havia vindo a Vancouver depois que desapareci levando toda minha família a me procurar.

_O que você sabe?_ demandei. Ela pensou por um segundo.

_Que Rose ficou furiosa porque vocês foram longe demais, perguntei a Alice e ela me explicou um pouco. Você e o tal Jacob fizeram sexo?_ seus olhos verdes eram enormes enquanto ela sussurrava. Fiz careta, sem querer ter essa conversa com meu pai e Jacob dentro de casa.

_Sei que ele é um antigo amigo de sua mãe e que você não quer mais casar com Nahuel. Você fez sexo, mesmo? São namorados, agora?_ insistiu. ‘Sim e não’, toquei seu rosto.

Todos podem ouvir você, incluindo Jacob e Embry”, expliquei silenciosamente. Hannah fez cara de confusão.

Não surte, ok?”, segurei sua mão para lhe mostrar. Projetei para ela a confusão em que me meti e minha perspectiva de ver Jacob se transformando no mesmo momento em que me tirava da frente de Edward. Tudo se apagou então, porque eu desmaiei. Hannah arquejou com o eco da dor em minha memória, sua mão, livre da minha, cobria sua boca. “Não surte” formei com meus lábios em silêncio, ela aquiesceu. Então projetei o lobo maior que um cavalo correndo comigo mais cedo e, editando a parte da caça, quando me pediu que eu montasse e então como ele voltou à forma humana, editei o máximo possível, Hannah não precisava ver o que vi depois disso.

_O que são?_ ela murmurou.

_Longa história, vou pedir para contarem mais tarde. Mas acho que podem ouvir tão bem quanto um vampiro na forma humana, então...

_Que droga!_ Hannah fez um muxoxo. Eu ri. _Mas e então? Como você fez com um desconhecido o que não pôde com seu namorado de anos?

Pus as mãos na cintura, incrédula.

_Desculpe-me_ pediu.

_Eu não sei, não sei!_ “Não posso falar com ele me ouvindo”, ela assentiu. _Então, o que houve com Carlisle?

_Me deu uma bronca, porque não o ajudo, nas palavras dele. Deu-me um sermão sobre quantas pessoas precisam e não tem acesso ao tratamento que eu posso ter e que vou morrer de inanição, antes de bater a porta a cantar pneu. Nunca o imaginei assim_ Seus olhos umedecendo. Suspirei.

_Ah, Hannah, você está sendo ranzinza e teimosa. Está magoando Carlisle e todos que se importam com você. Eu me importo com você. Porque não se dá uma oportunidade?_ implorei. Ela se deixou cair no colchão, fitou o teto. Fiz o mesmo, deitando ao seu lado.

_Eu sinto, muito. De verdade_ a tristeza em seus olhos ao dizer isso era tão profunda que cogitei seriamente pedir que Carlisle interviesse com medicação.

_Hannah, está na hora de sua aula_ Bella chamou após uma batida na porta. Tomei isso como um bom sinal, ao menos disso ela não havia desistido. Eu esperava que Embry pudesse ajuda-la, embora eu me perguntasse como poderia ser...

_Em cinco minutos_ respondeu minha amiga erguendo-se e se inclinando em direção a seu criado-mudo pegando o livro de literatura e um caderno. Ela rabiscou ali uns segundos e então me mostrou.

“Porque Jacob vai passar o fim de semana aqui? Vocês estão namorando? Porque, não quer casar com Nahuel? Já falou com ele?”, estava escrito.

Suspirei.

É complicado. Combinamos de sermos amigos, não é um namoro... Não falei com Nahuel. Podemos falar disso depois? Prometo que explico tudo.” Fiz minha melhor cara de cansaço e ela assentiu.

Como eu explicaria minha relação com Jacob sem explicar o imprinting? E ainda que ignorasse esta parte, como falar da súbita atração que me levou a envolver intimamente com Jacob sem detalhar as coisas impulsivas que ele me fazia sentir? Com ele ouvindo?!

Ajudei Hannah a descer, Bella já a esperava para a aula de literatura, sentada a mesa de jantar, agora limpa. A casa estava muito quieta, mas podia ouvir o burburinho animado de três vozes na garagem, Embry, Edward e Jacob estavam lá.

Resolvi sair para correr, pensar... Avisei para Bella à distância e comecei a subir a montanha, estava escorregadio, em alguns pontos a neve começava a derreter. Subi e conforme ia mais a cima, minha mente começava a se limpar, parecia ser mais fácil pensar. Acabei no lugar de sempre, na escarpa onde se via a baía e o centro comercial.

Peguei-me pensando em Nahuel. Quão estranho era sentir falta dele quando eu romperia nosso compromisso assim que ele chegasse? Fiquei ali, observando o pôr do sol por trás do centro, como a luz alaranjada fazia brilhar a neve e a água. A luz rubra fazia da vista ainda mais perfeita.

Não demorou até que eu não estava sozinha. Olhei para trás e em cinco segundos Jacob irrompeu entre as árvores, sorrindo, hesitante. Sorri também.

_Incomodo?_ indagou-me. Balancei a cabeça em negativa e voltei a olhar para frente, apenas metade do sol era visível. _Que vista!

Jacob parou a um metro de mim, fitando o horizonte.

_É lindo, não é?_ soei quase orgulhosa, embora algo no fundo de minha mente me aferroasse: parecia errado estar ali com Jacob, Nahuel e eu íamos lá, foi onde demos nosso primeiro beijo.

_Absolutamente!_ exclamou Jake admirado, um segundo antes que o som de obturador de seu celular soasse. Ele sorria, maroto, quando o olhei surpresa que ele tivesse me fotografado. _Uma foto recente, as que tenho é de você ainda criança ou de um tempo atrás.

O encarei sem saber o que dizer. Ele sorriu abertamente chegando perto.

_Seu cabelo fica vermelho sangue sob esta luz_ ele afagou uma mecha em minha orelha_ E sua pele reluz ao sol_ olhei para baixo, para meu braço, onde um cacho ruivo caía em contraste com a pele alva e perolada pelo sol.

_Quase uma vampira_ murmurei. Um suspiro e fasto para que Jacob sente na rocha ao meu lado, ele avança entendendo.

_Acha que Embry vai ter sucesso com Hannah?_ demandei. Ele hesita um momento, pensando.

_Espero que sim_ sua voz parece cansada quando ele fala. Eu fito seu rosto perfilado, Jacob fita o horizonte, agora o sol já mergulhado quase por completo. _De qualquer forma, não acho que ele possa voltar para onde esteve. Quero dizer, claro, que ela pode dizer que não quando ele esclarecer as coisas... Mas ele a encontrou a final.

_Ele pensa em dizer logo? Digo, este fim de semana?_ interpelo.

­_Imagino que sim, ele tem esperado muito.

Nós nos fitamos por dois segundos.

_Sinto muito_ ouso dizer. Jacob me encarou à espera e me permiti continuar: _Percebo como Embry sofre... como sofreu longe de Hannah. Eu não imaginei que fosse algo tão...

_Real?_ sua voz é quase risonha, agora.

_Visceral.

_Como tudo sobre ser quem eu sou. Não se preocupe com isso_ ele respondeu solenemente.

_Gostaria de saber mais sobre isso, Hannah também, aliás. Mostrei sua forma de lobo a ela, ficou muito curiosa _ falei realmente interessada. Jacob sorriu aquele sorriso que era mais que esteticamente bonito com seus dentes brancos e perfeitos, era um sorriso que vinha da alma, que trazia paz.

_Prometi a você que diria, mas não posso me meter com Hannah, nem mesmo o alfa tem algum poder quando se trata de imprinting.

Abri a boca para perguntar, mas observei à leste a lua cheia, eu tinha que fazer observações hoje, franzi o cenho, indecisa entre continuar a conversa e ir para o observatório organizado no sótão de meus avós para mim.

_Uma bela lua para um lindo pôr do sol_ disse Jacob seguindo meu olhar.

_Podemos continuar essa conversa em casa? Tenho trabalhos a fazer e preciso posicionar o telescópio antes que o tempo feche, nem ao menos verifiquei a meteorologia.

_Temos a noite toda_ respondeu-me com delicadeza.

*

Hannah e Embry estavam numa conversa, surpreendentemente, animada à mesa de jantar quando irrompi pelo batente com Jacob em meu encalço, Bella estava com eles, os três riam.

_Boa noite, família_ disse eu, me aproximando da mesa.

_Renesmee, Embry está me contando de quando se tornou um lobo_ Disse Hannah, sorridente_ E de como Bella pensou que Jacob estava em alguma gangue ou culto.

_Mesmo? Jacob vai ter que me contar isso_ falei sorrindo, olhei para Jacob ao meu lado e para Bella, que fazia cara de quem não lembrava muito.

Acenei e continuei meu caminho pela casa. Jacob ficando na cozinha e me alcançando na pequena escada do porão, momentos depois, enquanto eu subia.

_Quantas caixas!_ disse Jacob atrás de mim. Olhei em volta para o grande sótão repleto de caixas de plástico, enquanto ligava o telescópio eletrônico. Sorri.

_História! Coisas da vida humana de todos eles, mas a maioria é de coisas ao longo do tempo. Carlisle, Esme e Edward são quem mais guardam. Jasper não guarda quase nada.

Jacob, de repente, pareceu uma criança curiosa, os olhos adejando mais uma vez em volta.

Posicionei meu equipamento, e liguei a câmera, algo me dizia que eu não faria anotações em tempo real.

_Quer olhar?_ apontei para a luneta, Jake aquiesceu sorridente e avançou. Eu recuei indo procurar dentre as caixas no sótão cavernoso...

_Nossa!_ admirou-se e então riu. _Um homenzinho verde acaba de acenar para mim!

Eu ri alto. Encontrei o que eu queria. De volta à janela, sentei-me no tapete felpudo, escorando-me na vidraça que ia da parede ao teto, onde o telescópio se encaixava. Jacob sentou ao meu lado, interessado.

_Esses são Edward, meu avô biológico, minha avó Elizabeth e meu pai, aos 15 anos_ sorri mostrando-lhe o retrato em preto e branco, o casal sentado formalmente e Edward ao lado de sua mãe.

Jacob fitou, surpreso.

_É estranho vê-lo assim, imaginar todos eles assim... Como pessoas normais, frágeis e dignas de proteção_ admitiu seriamente.

_É muito difícil estar perto? Eu não sei como é... Humanamente falando, eu nasci nesta forma... Como é para você?

Ele pensou por alguns segundos, os olhos insondáveis fixos aos meus.

_Agora, mais maduro, é mais fácil. Eu tenho controle sobre o lobo em mim. Ainda posso sentir ele a espreita, esperando qualquer estímulo para tomar a frente, mas isso depende de mim.

_O cheiro não incomoda?_ perguntei. Ele sorriu antes de responder:

_Estou reacostumando. Pra mim parece muito doce e enjoativo, mas, além disso, é frio e queima.

Assenti entendendo.

_Cresci ouvindo que vocês podiam nos dilacerar ao sentir a menor partícula de odor_ revirei os olhos_ Que não podiam se controlar e que a transformação era perigosa para qualquer pessoa perto.

_Eles têm razão, em parte. É o cheiro de vampiro que desencadeia as mudanças. E é instintivo, nós sabemos que devemos matar, simplesmente. A sensação de raiva que vem com nossa condição dificulta que nós consigamos nos controlar, no início; e você sabe sobre Emily. Mas não é assim sempre, demora mais para uns menos para outros.

_Para você, como foi?

_Mais complicado, acho que fui mais importunado, talvez. Havia a teimosa da sua mãe e minha proximidade com vampiros por causa dela, mas também foi mais fácil, eu fui quem tive controle mais rapidamente, comparativamente.

_Comparativamente?

_Sam teve problemas com Emily no início, ele também tinha uma namorada_ e ele me explicou sobre a complicada história de Leah, senti empatia por ela e não pude evitar me colocar no lugar da ex-noiva de Jacob, Anne. _Embry tinha problemas com a mãe, eles brigavam muito, ela ainda não sabe sobre ele ser um lobo. Comigo havia a responsabilidade de ser quem todos esperavam e tomar meu lugar no comando, havia a preocupação por Bella, a raiva pelos Cullen, o contato com eles, o cheiro de vampiro em Bella o tempo todo, o fato dela querer se tornar um deles, mas ainda assim, eu pude me controlar mesmo no primeiro dia. Eu perdia o controle e por pior que parecesse conseguia voltar à forma. Depois, dominar a velocidade, a força, a transformação nas piores situações sempre se mostrou muito fácil.

_Como foi a primeira transformação?_ embora eu prestasse atenção em cada palavra, perguntei antes que ele terminasse de falar, ansiosa por saber tudo. Ele sorriu, terno, e ainda assim distante. Por um momento havia verdadeiro horror em seus olhos escuros.

_Havia ido ao cinema com sua mãe e um amigo de classe dela. Eu me sentia bem, confiante, disse com clareza tudo o que eu sentia por ela, mas de repente me sentia estranho, irritado, capaz de matar. Depois veio a febre, cheguei em casa me sentindo aborrecido, quente como o inferno!_ ele sorriu por um segundo, fiz o mesmo. _Era como se houvessem agulhas em minha pele, de repente eu mal conseguia ficar de pé.

Continuou:

_Billy disse que eu estava esquisito e fiquei furioso, senti-me girando, fora de controle, um ódio tão profundo que meu corpo tremia. Uma parte de mim sabia que era bobagem estar tão irritado pelo que Billy dissera, mas era uma parte muito pequena. Ficou ainda mais quente, como se meu quarto estivesse pegando fogo, mas o calor vinha de dentro de meus ossos. Então o tremor ficou ainda pior e fiquei horrorizado porque pensei que meu corpo fosse se despedaçar, que explodiria. Pensei que estava morrendo.

Seus olhos eram tão apavorados que nem ao menos me questionei quando cheguei mais perto, dobrando-me sobre minhas pernas, minhas mãos pousando em seus braços, em volta de seus joelhos. Sua voz continuou rouca e baixa:

_Foi só um segundo, mas eu pude vê-lo passar inteiro, cada milésimo. Meu corpo se recuperou, foi estranho não estar em pedaços, no entanto estava numa forma que não compreendia. Minha cabeça batendo no teto, eu olhava para meu pai de muito alto, a tremedeira havia cessado, mas o ódio ainda estava lá. Tudo quente e vermelho. Tentei gritar, pedir que Billy explicasse, mas o que saiu foi um uivo horripilante. Todas as explicações que eu pedia saiam como rosnados, eu queria sacudi-lo e fazê-lo me explicar. Eu avancei e a casa balançou, eu tentei tocá-lo e o que se estendeu foi uma pata enorme com garras. Fiquei em choque quando olhei para baixo e vi meu corpo.

_Parece horrível_ sussurrei. _Billy deve ter ficado muito assustado, preso em sua cadeira de rodas.

_Sim, ele estava pálido, um lobo em sua primeira transformação é realmente perigoso, mesmo que consciente, não se pode estar preparado para isso. Billy falava como com uma criança, pedindo calma, dizendo que tudo ficaria bem, mas eu fiquei com raiva de novo, pois ele não estava explicando nada e porque não parecia surpreso apesar de assustado. Ele ligou pra Sam, o que me irritou mais e em alguns segundos eu ouvia vozes, não só vozes, mas sentia como eles, e então eu sabia: tudo era real, incluindo vampiros e houve ainda mais fúria, porque era por eles que eu estava perdendo o controle de minha vida. Eu entendi naquele momento que nada do que eu planejei seria possível, incluindo continuar ajudando Bella, algo do que eu era realmente grato. Eu vomitei com a dor na mente de Sam quando vi porque não era seguro continuar vendo Bella e chorei como uma criança. Foi uma longa noite.

_Eu sinto muito._ foi só o que pude dizer, a cabeça cheia de informações e ansiosa por mais. _Ainda é assim? Todas as veze...

_Não! Quero dizer, ainda parece que vamos no dividir em pedaços e trememos como um diapasão, mas já sabemos o que esperar e, principalmente, aprendemos a puxar o calor do centro e fazê-lo vir, controlá-lo. Não há mais mal estar, a não ser quando somos muito provocados e tentamos segurar o lobo dentro, aí bem ruim... Mas nem se compara a primeira vez.

_E essa história de Embry, sobre o culto e Bella...

_Ah, Bom... Sam e os garotos andavam de um lado para o outro na reserva como se fossem os chefes, os mais velhos não faziam nada e os defendiam. Eles nos encaravam, como que à espera e pensávamos que era algum tipo de gangue, era muito estranho. Embry foi o primeiro. Falei com Bella sobre isso, de como eu tinha medo, não queria me juntar a eles, e depois fui eu. Um dia ela encontrou Quil e os dois falaram sobre isso, ele também estava apavorado. Bells foi me procurar porque eu havia sumido, mas eu não podia ficar por perto bom, eu achei que não poderia.

_Mas você continuou.

_Sim, você deve saber que ela é teimosa. Graças aos céus!_ e ele me olhou com devoção, a explicação implícita: Ou eu não teria nascido. Senti-me corar, ingenuamente. _Ela estava acabada, me doía deixá-la só e... Eu a amava. Não queria ficar longe.

Eu estava absolutamente consciente de seu passado e tampouco me sentia no direito de exigir qualquer tipo de garantia, embora sempre que tinha oportunidade Jacob me reafirmasse minhas vantagens em relação a ele, no entanto que ouvi-lo dizer com todas as palavras que amou Bella aferroar algo em meu íntimo. Tentei não vacilar, mas não foi o sentimento, foi o choque de sentí-lo: eu me inclinei de lado, sentando diretamente no chão e tirando minhas mãos dele, movendo-me desconfortavelmente.

Houve silêncio.

_Você ao menos entende?_ seu tom era indecifrável, procurei os olhos sombreados por uma espécie de dor e nada pude dizer. _Já imaginou um mundo onde não houvesse vampiros, lobisomens nem nada parecido com isso? Se fosse apenas a humanidade pura e simples? Para mim é fácil imaginar, eu nasci num mundo assim. Mais ou menos, na verdade sempre ouvi falar do sobrenatural, mas não acreditei em nada até estar no olho do furacão. Você pode imaginar?

Os olhos em mim eram mais profundos do que estiveram durante toda aquela conversa enquanto sustentavam os meus. Pensei por um segundo. Eu podia imaginar, de uma perspectiva estranha, me excluindo totalmente do mundo, eu podia. Porém, não acho que eu pudesse ter a mesma perspectiva que ele, cada célula minha fora gerada completamente submersa no tido como sobrenatural, quando para mim isso era absolutamente natural.

_É difícil pensar assim, mas posso imaginar.

_Então digamos que não houvesse nada disso: eu amava uma adolescente chamada Bella e ela jamais conheceria alguém que a interessaria muito ou o suficiente, exceto um amigo insistente com quem ela ficava muito a vontade. É simplesmente natural que eles ficassem juntos e crescessem juntos... No entanto o mundo é maior e mais complexo e talvez o amor puro e simples nunca fosse o suficiente pra nós. E nesse mundo estranho eu precisava protegê-la, fosse por amá-la ou para garantir que você viesse a existir com segurança. Nem todos prevemos o futuro, não? Nem mesmo Alice pode dizer tudo.

_Ok, eu entendi_ disse contrariada. Não acreditava que ele tinha visto através de mim.

_Eles sempre saem assim, furtivamente?_ murmurou Jacob olhando para baixo pela janela, a expressão divertida.

_Só quando acham que ninguém vai perceber e às vezes mesmo quando estamos atentos_ falei risonha, fitando o jovem casal atravessando o gramado nevado em direção as árvores. Edward olhou para nós, mas foi tão rápido que talvez tenha sido apenas imaginação.

_Então, sendo Jacob Black, você continuou mesmo sem saber no que ia dar, próximo de minha teimosa futura mãe_ prossegui deitando-me no tapete de forma que eu podia ver o céu, ao longo da vidraça retangular.

_Isso mesmo. Sofrendo cada vez mais enquanto ela ficava enorme, eu apenas não conseguia me afastar dela e ela parecia sempre ansiosa por me ver enquanto a barriga crescia mais até que as coisas ficaram muito tensas e optaram por partir. Ver vocês partirem foi a terceira maior dor que já senti na vida_ sua voz falhou e desejei coragem para abraça-lo. Respirei profunda e lentamente.

_Terceira?

_Só perde para ver você ferida e desacordada_ suas sobrancelhas escuras e grossas num ângulo tenso deixando seu rosto taciturno no escuro, a lua o iluminando por trás. _E para ouvir você me dizendo para partir.

Mordi o lábio sem saber o que dizer.

_Depois_ falou devagar deitando junto a mim, agora nós dois de frente para a vidraça _Eu fui covarde demais para assumir minha própria matilha e os outros se fosse necessário. Eu parti para viver meu luto, sem saber se Bella havia sobrevivido e o que era, afinal, o que ela gerava_ ele tocou a ponta de meu nariz. E pegou minha mão, segurando-a junto ao peito e desenhando devagar pequenos círculos com o polegar.

_Para onde foi?

_Por todo o sul da América, evitando as partes habitadas. Matando alguns vampiros... Vive apenas como lobo por quase seis anos, comendo e dormindo até desaprender a sentir dor. Sabe a dor é mais facilmente administrada na forma de lobo, vira fome, cansaço e sede.

_Nossa!_ demandei admirada. _Não acho que tenha sido covardia. Como decidiu voltar?

_Leah! Ela tem sido uma grande amiga desde então, apesar de termos nos odiado no passado. Fez-me perceber que o que quer que houvesse acontecido com Bella eu não podia mudar, mas podia mudar o que acontecera comigo. Que eu estava em dívida com minha família e com meu povo, que já era hora de encarar as consequências, porque embora eu tivesse todo o tempo do mundo, as pessoas que me amavam não tinham.

_Não consigo decidir_ ri._ Você e Leah, os dois tiveram razão.

Definitivamente Jacob aflorava os sentimentos, me deixava sensível. Como se repentinamente eu pudesse sentir tudo o que não experimentei durante minha curta vida.

_Então eu voltei, passei uns dias em reabilitação, é difícil voltar a ser bípede e ter ciclos longos de sono. Fui para Forks e encarei todos, assumi minhas responsabilidades, terminei os estudos, comecei meu negócio com ajuda principalmente de Leah que é minha sócia, e dos meus amigos. Minha irmã, Rachel acabara de descobrir a gravidez quando voltei. Sarah vai fazer dois anos em poucos meses.

_Quando é seu aniversário?_ perguntei de repente curiosa, olhando seu rosto fascinado pela memória da sobrinha.

_14 de janeiro.

Sentei-me encarando Jacob, ultrajada.

_Mas isso foi..._ o dia em que acordei em sua casa depois de uma noite tórrida._ Naquela terça-feira!

_É. Desculpe, eu não sabia que era importante para você, nem ao menos percebi isso até..._ ele parou, os olhos indo para o céu.

_Até...?

_Falar com Anne.

_Ah_ soei ainda sentada, agora sem jeito por ter tocado no assunto. Isso era algo que eu gostaria de conversar, mas ainda não sabia como me posicionar a respeito.

_Preciso tomar banho. É quase 23hs e estou com as mesmas roupas com que saí de casa ao meio dia. Geralmente eu sou mais higiênico.

Eu ri.

_Imagino que sim. Bom, eu ainda preciso ficar aqui pelas próximas duas horas, então fique a vontade se quiser voltar.

_Volto em 20 minutos, mais ou menos.


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Notas finais do capítulo

Olá, desculpem pela demora.
Não abandonei vcs!