Ilha Astrid escrita por RoxyFlyer21


Capítulo 6
Capítulo 6 - Descobertas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/294914/chapter/6

Graças a Astrid, Will estava psicologicamente incapacitado de pensar com clareza para onde deveria ir, e apenas movia pé ante pé. A noite escura e fria, na qual os únicos sons eram as cigarras cantando e o urro fantasmagórico do vento nas palmeiras. Os tênis baixos do garoto estavam encharcados e faziam um som delicioso quando pressionados contra a terra.

De repente, Astrid sentiu a parte de cima do seu biquíni afrouxar e ela ficou sem reação por um instante. A mão de Will deve ter esbarrado no laço e desfeito-o. Agradecida por estar usando algo por cima, ela disse:

- Will espera... – ele parou de caminhar e avistou uma grande pedra, em uma das raras clareiras dali – Meu biquíni soltou.

- Como? – respondeu, um tanto incrédulo.

Ele não pode evitar o surgimento de alguns pensamentos que o deixaram atormentado. Apressou-se em sentá-la cuidadosamente na pedra, para depois afastar-se.

Uma brisa mais forte soprou e fez com que o cabelo de ambos balançasse. Astrid, que tentava concertar o laço sem tirar a camiseta na frente de Will, espirrou e sua feição passou de bronzeada para levemente febril.

- Você pode me ajudar? – ela fungou e puxou todo o cabelo das costas para seu ombro, dando a deixa para ele se aproximar.

Will agachou atrás dela, sem responder. Uma certa coragem encheu-o, e ele ergueu a camiseta pelas costas nuas e curvadas até o ponto de enxergar as finas amarras do biquíni frouxas e caídas.

Tentou ser rápido em atá-las novamente, porem parecia que a corrida no seu coração influenciava os movimentos dos dedos. Astrid fechou os olhos, sentindo os dedos quentes de Will roçando na sua espinha arrepiada.

- Pronto. – ela ouviu o ruído do garoto se levantando.

- Valeu.

Astrid ficou parada, esperando não esbarrar seu olhar com Will. Soltou seus cabelos lisos e loiros, de um tom ouro escuro nas costas. Não era pintado como os de algumas amigas; as mexas dela eram naturais, herdadas da mãe.

Uma leve dor começava a bater em sua cabeça, então ela se virou na pedra, ainda incapacitada de andar pela dor agonizante no seu tornozelo.

- Ei, Will, voc....

Parou de falar quando o garoto virou-se para ela, revelando sob a luz fraca uma mancha vermelha, destacada pela pele branca e os lábios finos do garoto.

- O que é isso na sua boca!?! Sangue!?!

Em uma tentativa de se aproximar, involuntariamente ela apoia o peso do seu corpo no tornozelo inchado, e numa dor excruciante ela desaba no chão. Will larga o que tinha na mão e avança velozmente para ajudá-la.

- Astrid! – ele a levanta e a retorna para a pedra. Agachado próximo ao seu rosto, ele prende algumas mechas do cabelo dela atrás da orelha.

Ela geme de dor e, pressionando firmemente o pé, luta para dizer, com a preocupação e a dor na voz:

- O que era aquilo vermelho na sua boca?!

- O que? – ele automaticamente passa as costas da mão pelos lábios e depois, observa a marca vermelha – Isso? São só amoras que eu achei naquele arbusto ali.

Will aponta com o polegar, para algo atrás dele. Astrid distingue alguns pontinhos escuros em uma moita, e logo varias amoras jogadas no chão.

- Quer um pouco? – ele se levanta e começa a colher as frutinhas maduras.

Como que aproveitando a deixa, o estomago de Astrid ronca alto. Will ri e ela fica envergonhada.

- Acho que seria uma boa.

Will estava encostado na larga rocha que servia de assento para Astrid, os cabelos escuros e lisos, um pouco maiores do que os de Tom, roçavam nos joelhos da garota. Ambos tinham pequeninhas amoras nas mãos, e olhavam fascinados para o céu estrelado acima.

Astrid, cujo tornozelo estava apoiado em cima da coxa direita e a dor passara de insuportável para um controlado latejamento, já tinha comido o suficiente das frutinhas; distraia-se mordendo levemente as amoras e espalhando o liquido vermelho-vinho nos seus lábios.

- Sabe que eu nunca vi a ilha desse jeito.

- Desse jeito como? – ele respondeu, distraída pelas estrelas.

- Tão sombria e..... lúgubre.

Will mencionou com pouco caso e calmo, porem o efeito foi o mais contrario possível na garota: a adrenalina e o instinto de fuga foram acionados no seu corpo, e ela começou a reviver o momento assustador em que viu Tom desmaiado na floresta escura.

Ele sentiu o movimento inquieto das pernas dela, e ergue-se ao seu lado, tocando seus braços.

- Astrid, algo errado?

- Você tinha que me assustar!

- O que foi que eu fiz?

- É verdade que a ilha nunca esteve desse jeito, tão esquisita?

Então ele se tocou do que disse, e tentou reconfortá-la e arrumar a situação o melhor que pode.

 - Não, é só disse aquilo porque.... faz tempo que eu não venho aqui de noite, só isso!

- Mas você não deveria ter usado aquelas palavras tão...fúnebres!

Will se levantou e suspirou alto, impaciente e um tanto consternado. Apalpava ávido por algo em algum dos seus bolsos. Ela passava os olhos por ele, tentando controlar sua apreensão.

- Onde foi que eu.... ah, achei.

Do bolso de trás da bermuda cargo preta, algo prata reluziu a luz da lua cheia. Ele estendeu um cantil estreito prateado em direção a ela, e a franja cobria parcialmente seus olhos escuros e distantes.

- Beba. Isso vai te fazer bem.

- O que é? – ela espirrou novamente, porem não havia nenhum vento forte e frio.

Ele agachou bruscamente e abriu a tampa. Não conseguiu ver o conteúdo, porem sentiu um forte odor de álcool.

- Vodka. E das boas. Em doses pequenas, o álcool ajuda em certas inflamações. E vai te ajudar a manter a calma.

Ele olhou demoradamente para ela, estendendo o cantil. Astrid nunca teve problemas com bebidas, e só estava hesitando em pegar porque sua mente pensava se Will Marx, o cara que sempre estava envolvido em alguma arruaça no colégio, que mal tinha amigos, que nunca paquerava nenhuma garota e apenas as comia pelo olhar, se ainda por cima ele fosse um bêbado.

Assim que os dedos da garota pegaram o cantil, Will levantou-se e passou as mãos energicamente pelo cabelo, bagunçando-os ainda mais. Ele respirava irregularmente dentre resmungos.

- Sei o que você deve estar pensando: o que eu faço com um cantil de vodka no bolso? Bom, eu não estava vindo a uma ilha na qual só eu conheço, no meio da noite apenas para beber.

Ele parou de falar para reparar na reação da garota. Para sua surpresa, ela estava remexendo o cantil, olhando fixamente para o objeto. Assim como no iate com Rebecca, horas trás, ela virou o recipiente na boca, dando um longo gole. A vodka passou azeda e forte pela garganta, então ela levantou novamente seu pescoço e estendeu o cantil para ele, ainda engolindo o liquido.

- Então porque você veio? – sua voz saiu seria e decidida, apesar da tontura momentânea do álcool.

Passada a surpresa, Will suspirou fundo e aproximando-se, dizendo um tanto quanto rouco:

- Vim porque queria fugir um pouco da minha vida, para poder pensar em um lugar calmo, para ficar sozinho um pouco. Realmente sozinho. – Will sabia que havia um buraco em si, algo que o deixava vazio e oco, algo que doía; porem o mais perturbador é que não conseguia descobrir o quê. Tinha a intenção de dormir na lancha ancorada na ilha para finalmente achar a razão.

- Mas a vodka.... sei lá porque eu o trouxe! Não sou viciado em nada, e não preciso de bebida antes que você julgue errado.

Astrid se manteve em silencio o tempo todo, pois o que Will havia dito surtira efeito nela. Uma parte sua tinha sumido, nada estava efetivamente completa. Talvez se sentia desse jeito a tanto tempo, que já tinha aderido esse sentimento a sua forma de ser, sem contestá-lo. Ou talvez imaginara que apenas ela se sentia tão parcial.

- Eu também. – ela respondeu tardiamente, olhando absorta para o chão.

- O que? Você também não é viciada em álcool? – ele perguntou, suavizando sua expressão sôfrega.

Ela deu um meio sorriso e continuou, calma:

- Não é isso. Estou falando que é bom ficar sozinho as vezes. Para por a cabeça no lugar.

- Isso é uma surpresa e tanto vindo da garota mais popular da escola – ele deu de ombros, soando um pouco triste. Acercando-se devagar de onde ela estava, a luz noturna iluminou seu tórax pálido e forte.

- Eu nunca quis entrar nesse grupo, eles me introduziram. Estou com esse pessoal desde o jardim de infância, e crescemos juntos. – ela contava, mais calma, porem a dor de cabeça ficava maior. Talvez o álcool tinha começado a surtir efeito – Claro que alguns perderam o caminho, mas eu nunca tinha parado para pensar....

Will ouviu atento, entretanto não olhara uma só vez a bela loira. Desde que sentara ao seu lado na pedra, um pensamento crescia preocupante em sua cabeça.

- Seu tornozelo está muito inchado. Inchado demais na minha opinião. Melhor enfaixarmos isso.

Ele se virou para ela, pedindo. Foi tão rápido que no instante seguinte Will já segurava delicadamente sua cintura e, com a outra mão, rasgou o pano. A fenda recém-aberta deixava a barriga bronzeada da garota a mostra.

Com a garrafa de vodka, ele derramou o liquido no tornozelo, limpando-o, e o enfaixou cuidadosamente.

- Não precisa agradecer. Anda, temos que sair desse vento, ou você vai piorar.

Dito isso, ele a pegou nos braços e recomeçou a andar; desta vez, ele sabia para onde iria. Astrid pensou em como nunca ficaria acostumada a ser carregada por Will, ou então em como nunca conseguiria controlar seus batimentos cardíacos da mesma forma. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ilha Astrid" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.