No dia seguinte é a mesma coisa, Zyra me acorda batendo  na porta, fazemos um café rápido e vamos direto para o centro de treinamento. Posso dizer que estou me acostumando com essa rotina.

O dia de treinamento foi tranqüilo, nada de brigas e a garota do distrito 2 parecia estar mais calma. Aprendi a dar nós e comemoro ao ver uma armadilha que fiz dar certo, a primeira entre muitas tentativas.

Aprendo a fazer fogo apenas com um pedaço de madeira e um monte de folhas secas e durante o resto do dia, treino os meus saltos.

Pela falta de conhecimento, admito que tenho uma certa vergonha em ir para a estação de luta corpo a corpo. Vá que eu pague um mico daqueles! Não quero que os outros tributos pensem que sou um alvo fácil. Então chego á conclusão de que devo me focar mais nos meus saltos e dar uma boa impressão para os patrocinadores, pois amanhã será o dia para mostrar todas as minhas habilidades.

O treinamento chega ao fim e subo para nosso andar e lá como sempre me esperam com um delicioso banquete. Mas quando olho o que está sendo servido na mesa, deixo escapar uma lágrima. Um grande peru está sobre a mesa e me lembro de minha mãe. Um peru assado seria o banquete em minha casa no dia da colheita. Estaria junto com meus familiares e amigos apenas curtindo um sábado.

- Estou sem fome – Digo com o olhar fixo naquele banquete enquanto todos me encaram com uma cara confusa.

Saio da sala de jantar e escuto a voz de Michaella me chamando, mas faço que não à escutei e entro em meu quarto trancando a porta. Se é para chorar sem mostrar fraqueza, o momento é agora. Deslizo para debaixo das cobertas e lá encharco o travesseiro de lágrimas até que adormeço.

Ao acordar, minha testa lateja devido à crise de choro de ontem à noite. Levanto da cama e vou para o banheiro para jogar uma água no rosto até que escuto  voz de Zyra  me chamando.

Tento disfarçar os olhos inchados e abro a porta.

- Está tudo bem querido? – Pergunta Zyra demonstrando preocupação.

- Sim, tudo bem – Digo com um sorriso no rosto – Só tive um devaneio.

Ela retribui com um sorriso.

- Está pronto para hoje?

- Nunca estive mais preparado – Sim. Eu menti, não estou com cabeça nenhuma para pensar em treinamentos hoje, mas se eu quiser me manter vivo na arena, tenho que conseguir patrocinadores que em momentos difíceis podem salvar minha vida.

Boto o uniforme e vou ao encontro dos outros na sala. Estão todos em silêncio assistindo às novelas chatas da capital. Até que Merle se dirige à mim.

- Olha sei que não dei nenhum conselho para vocês. E este é o primeiro, hoje vocês terão a oportunidade de mostrar tudo o que sabem. E se quiserem impressionar os patrocinadores, façam algo diferente, algo que todos se lembrem de vocês na arena, deixem sua marca.

Nos dirigimos até a cozinha e preparamos um café delicioso. As apresentações individuais começaram mais tarde, dando mais tempo para prepararmos um café digno de um tributo.

O tempo passa lentamente e cada minuto parece ser uma hora, até que a pontual Zyra diz.

- Ok pessoal. Tudo pronto para as apresentações?

Faço que sim com a cabeça enquanto Michaella apenas o encara. Posso sentir o seu nervosismo.

Vamos para o elevador e lá somos levados para uma sala com bancos enormes em que se acomodam todos os outros tributos em ordem de distrito. Vamos para o nosso lugar e a espera continua. Enquanto os tributos vão saindo e a sala vai ficando mais silenciosa, meu nervosismo aumenta. Uma voz alta diz o meu nome e meu coração dispara. Olho para Michaella  que me dá um sorriso e vou em direção da grande porta.

Ao entrar na sala, percebo uma sacada não muito alta, contendo uns 3 metros de altura onde ficam todos os outros patrocinadores. Também noto todas as armas e as grandes telas de cordas para escalada.

Paro em frente à sacada e digo em alta voz.

- Kramer Trybiani, distrito 10.

Noto os patrocinadores dos jogos me olhando e sigo direto para as telas de escalada. Subo rapidamente e lá mostro tudo o que eu sei, dando saltos e mortais e quando desço de lá, vejo que não chamei a atenção deles.

Fico tentando imaginar um jeito de fazer prestarem a atenção mais a mim do que na comida que está sendo servida. Olho a para a sacada e um senhor careca está segurando uma ameixa na mão. Fiquei parado por um instante e decido agir antes que meu tempo acabe. Corro em direção à sacada e consigo dar mais ou menos uns dois passos na parede, conseguindo altura suficiente para alcançar a ameixa na mão daquele senhor.

Quando atinjo o chão, ainda digo.

- Obrigado – E saio da sala dando mordidas na ameixa.