O clima tenso predomina até que entra dois pacificadores e tiram a garota do centro de treinamento, mas ela se debate e grita coisas terríveis para a garota do distrito 5 que apenas a encara assustada.

O treinamento chega ao fim e somos dirigidos até o refeitório. Lá serviram um banquete e a maioria dos tributos comem em silêncio, a não ser pelos carreiristas dos 4 primeiros distritos que fazem uma aliança na arena e a amizade é fundamental. Mas para nós, dos outros distritos, a amizade é uma coisa ridícula, pois ninguém teria coragem de matar um amigo, coisa que seremos obrigados a fazer se quisermos ficar  vivos.

Quando acabamos de comer somos levados novamente ao centro de treinamento e lá passamos o resto do dia.

Chegando em nossos andares exaustos e somos recebidos por Zyra.

- Então como foram? – Pergunta ela batendo as palmas das mãos como sempre.

- Cansativo – Responde Michaella.

Ao entrar em meu quarto vou direto tomar uma ducha, o cheiro de meu próprio suor na roupa de algodão me deixa tonto.

Saio do banho e vou para a sala de jantar.  Sento ao lado de Merle que ainda não nos deu um conselho se quer.

- O que você sabe sobre os 4 primeiros distritos? – Pergunto – Fiquei sabendo que fazem alianças na arena.

- Eles são carreiristas, treinados desde pequenos e quando atingem certa idade podem se voluntariar para os jogos.

- Eles são todos voluntários? – Pergunta Michaella assustada.

Merle faz que sim com a cabeça e posso ver a preocupação de Michaella. Isso tirou ainda mais a esperança dela de poder voltar para casa, se é que ela tinha alguma.

- Fiquei sabendo que houve uma confusão no centro de treinamento hoje – Pergunta Merle.

Fiquei surpreso, pois é a primeira vez que ele dirige a palavra a nós sem agente intervir primeiro.

- Foi a garota do 2, ela se estranhou com a garota do 5 – Respondo.

Ele dá uma risadinha e abaixa a cabeça.

- AH. Típico da galera do distrito 2.

- Tá brincando? Ela quase matou a metade dos tributos com uma faca! – Digo apavorado.

Merle deixa escapar uma risada. É a primeira vez que o vejo sorrir.

- E isso fora da arena, imagina o que ela vai fazer dentro – Completa Michaella.

Merle parece estar e divertindo muito com a situação e sinto que estamos conquistando ele aos poucos. Durante o jantar rimos e tudo mais, e quando acabei de comer vou direto para meu quarto e deito na cama com aqueles famosos “pensamentos ruins” que tenho diariamente. Minha auto-tortura é interrompida por batidas na porta, levanto-me para abrir e descobrir que é Merle. Fico surpreso.

- Oi – Ele diz envergonhado.

- Oi – retribuo.

- Posso entrar?

- Claro – Digo abrindo espaço.

Ele senta na cama e pede para que eu sente do seu lado.

- Eu andei pensando bastante no que você me disse no trem – Ele começa.

Fico meio envergonhado e com uma sensação de que o magoei.

- Olha Merle,  eu não quis dizer que você está desapon... – Não tenho tempo de terminar  e ele me interrompe.

- Não. Não foi isso. Eu andei pensando mesmo, e acho que você tem toda razão. – Ele continua.

- Entendo – digo baixando a cabeça.

- Se minha irmã estiver me olhando de algum lugar agora, sei que o que ela quer que eu faça, é ajudar vocês – Ele diz com os olhos cheio d’água.

Olho para ele e dou uma pequena risada e ele vem para me dar um abraço.

- Sabe. Você não é a vergonha que u achava que  era – Digo ainda o abraçando.

Ele deixa escapar uma risada.

- Sua irmã deve estar com muito orgulho de você agora, pois apenas homens corajosos deixam o passado para trás e se conscientizam no que é melhor fazer.

Ele me olha com um largo sorriso estampado no rosto.

- Sim, eu sei que ela está.

Ele levanta e diz boa noite e a porta se fecha. Agora eu estou ali novamente no escuro com meus pensamentos torturantes e a solidão.