Quando acordo, continuo na cama apenas pensando nas possibilidades de voltar para casa, mas sei que as chances são quase nulas. Zyra quebra meus pensamentos batendo na porta mandando-me levantar e por um instante lembro-me de minha mãe me acordando ontem.

Boto uma roupa e vou ao encontro dos outros no vagão restaurante, vejo todos sentados comendo, menos Michaella.

– Onde Michaella está? – Pergunto curioso.

– Ah. Ela não está nada bem, está tendo crises e mais crises de choro – Zyra responde.

Sento-me ao lado dela de frente para Merle que ainda não diz uma palavra, fico encarando-o esperando alguma coisa, mas ele me olha com desprezo.

– Bom. Sirva-se à vontade Kramer – Diz Zyra alcançando-me um prato.

Enquanto me sirvo, vejo Michaella entrando no vagão com os olhos inchados. Deve ser tão difícil para ela quanto para mim, mas admito que esteja segurando as lágrimas apenas pela vergonha.

Ela se senta ao meu lado e serve um pouco de chocolate quente sem dizer uma palavra se quer. Posso notar seu sofrimento e sei que ela não tem esperança alguma de voltar para casa.

- Deveríamos assistir a reprise das colheitas, para sabermos um pouco mais de cada tributo - Diz Zyra batendo as palmas.

O distrito 1 não me pareceu tão ameaçador, mas quando os tributos do 2 foram celecionados, cada pelo de meu corpo arrepiou. Uma garota grande aparentando ter mais ou menos 18 anos e um garoto enorme da minha idade. Os outros distritos passaram sem deixar nenhuma preocupação, apenas me interessei pela beleza de uma garota do distrito 7, cabelos longos e loiros, olhos verdes que hipnotizam, mas sei não é a hora certa para isso. 

Depois da refeição Merle se senta em outra mesa e fica lá apenas olhando pela janela do trem.

– Você não quer saber nada? – Pergunto à Michaella ainda olhando para Merle – Sei lá, talvez alguma dica de como sobreviver.

– E o que ele saberia? Passou o jogo inteiro sendo protegido pela irmã mais velha – Diz Michaella em protesto.

Ela tem razão mas isso não nos tira o direito de ir falar com ele, ou pelo menos tentar.

– Vem comigo – Digo pegando Michaella pelo braço e levando-a na direção de Merle.

Sentamos bem à sua frente e ele só nos encara.

– E então , você não deveria nos dizer nada? – pergunto.

E ele continua ali, apenas olhando para fora.

– Sabemos que é sua primeira vez, mas, por favor, precisamos de sua ajuda. Nosso nervosismo é ainda maior que o seu – Diz Michaella com os olhos cheios d’água.

– O que vocês esperam que eu diga? – Ele diz olhando-nos fixamente nos olhos – Passei os jogos inteiros na garupa de minha irmã apenas com o sangue espirrando em minha face.

– Sentimos muito pela sua irmã – Digo com a cabeça baixa – Sei que ela foi muito corajosa em se voluntariar apenas para te proteger. Então... Honre o nome dela, e nos ajude.

Ele fica em silêncio por um momento apenas me encarando.

– Eu também tenho um irmão mais novo, você pode imaginar a dor dele. Não... Na verdade você sabe a dor que ele vai sentir ao ver sua irmã morrendo.

Ele baixa a cabeça, por um instante, estou confiante que tocamos o coração dele dessa vez . Até que Zyra diz.

– Olhem! Chegamos. Sejam bem vindos à capital.