Cinzas do Crepúsculo escrita por Lady Slytherin


Capítulo 33
Um Pomo de Ouro


Notas iniciais do capítulo

Ok. Eu devia ter postado ontem, mas passei das 7 às 9 na academia. Então, cá está o capítulo, grande e cheio de conteúdo. Saboreiem.



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CAPÍTULO 33

A GOLDEN SNITCH

Na manhã dos testes para determinar o time de Quadribol daquele ano escolar, Draco não falou com Revan. Não que eles conversassem muito, mas depois do retorno do Lorde das Trevas, eles conseguiam manter uma relação amigável.

Naquele dia era diferente. Não havia muitas pessoas querendo a posição de apanhador; na verdade, era apenas Revan contra Draco. Bom, havia Haper, mas ninguém se preocupava com ele. Novato sem habilidade alguma. A maioria dos estudantes estava ali para pegar a posição de artilheiro de Flint, que ainda não havia sido preenchida. O campeonato havia sido cancelado por causa dos ataques – bom para os Slytherins, que teriam perdido ao não conseguirem achar um artilheiro substituto.

Montague e Warrington vigiavam os candidatos com olhos cerrados. O primeiro carregava orgulhosamente o símbolo do capitão do time, estufando o peito para frente e gritando com os estudantes de outras casas que tentavam obter uma espiada do futuro time.

“Atenção!” berrou Montague, indo para o centro do campo carregando uma Nimbus 2001, dada no ano passado por Lucius Malfoy. “Sem nhem nhem nhem. Estamos em dez. Cinco para cá, cinco para lá. Dois artilheiros, um batedor, um apanhador e um goleiro para cada lado. Harper, o que está fazendo aqui? Você é um reserva. Vá para o banco.”

Eles montaram nas vassouras. Com o apito de Montague, o jogo começou.

Revan não prestou muita atenção nos outros jogadores. Ele notou vagamente Urquhart voando atrás da goles, seguido na cola por Bole, do outro time. Derrick quase acertou Malfoy duas vezes, que por sua vez, parecia mais preocupado com Revan do que com o pomo. Atrás do herdeiro Black, alguém gritou. Não era importante, ele decidiu, seus olhos treinados procurando a bolinha dourada.

Um dos times marcou, ele não conseguiu dizer qual. Com um baque, alguém caiu no chão. Quando Warrington passou por Revan, seu nariz sangrava.

“Você parece uma menina em uma vassoura, Black!”

“Pelo menos não sou uma, Malfoy!” ele gritou alegremente, tirando as mãos do cabo da vassoura e fingindo ajeitar os cabelos do jeito que Draco fazia. Ele não era bobo e não queria se mostrar, então voltou a segurar o cabo com firmeza, mas mantendo seus braços relaxados. Melhor não se esforçar demais.

Derrick esqueceu seus deveres de batedor para se aproximar de Revan. “O pomo” ele sussurrou para o moreno. “Nas balizas.” Ele desapareceu tão rápido quanto tinha aparecido, fazendo um loop com a vassoura para rebater um balaço prestes a atingi-lo.

Revan disparou para as balizas, notando como Draco o seguia, suas vassouras quase se tocando. O vento batendo contra o rosto do herdeiro Black, se a velocidade fosse menor, seria mais prazeroso, mas naquela velocidade os lábios de Revan ficavam secos e ele podia sentir os fios do cabelo se enroscando em sua cabeça.

O pomo, ele pensou, indo direto para um jogador do outro time como se fosse partir para um confronto direto, desviando no último minuto e poupando alguns segundos nos quais Draco teria que procurar uma rota alternativa. Se Revan não estava enganado, ele até podia ver o pomo dourado algumas centenas de metros à frente. Inclinando a vassoura, ele acelerou.

Um balaço passou à alguns centímetros da cabeça dele. Revan voltou seu olhar para Bole, mas outra coisa atraiu sua atenção. O pomo, vindo em sua direção.

“Eu vi primeiro!” berrou Draco, inclinando a vassoura perigosamente para frente e indo para um mergulho de modo a ganhar velocidade. “Sai pra lá, Black!”

Não, pensou Revan. Draco era treinado desde quando era um bebê como montar em uma vassoura, mas ele parecia ter herdado alguma habilidade do pai biológico, habilidades muito mais desenvolvidas por Regulus, quem Revan considerava seu pai adotivo, que foi o melhor apanhador que Slytherin teve na década, ganhando inclusive algumas vezes de James Potter, campeão invicto.

E lá estava ela, a bolinha dourada que já havia causado tantos problemas entre os irmãos Potter. Agora parecia que Revan teria um loiro em particular para batalhar pelo pomo. Ele estendeu sua mão direita; seus dedos quase podiam sentir o frio do metal. De repente, algo o empurrou para trás. Ele olhou irritado para o agressor.

Montague sorria arrogantemente para ele.

Não que isso fosse atrapalhar. Virando bruscamente, Revan voltou a estender o braço, sua mão pegando o pomo de ouro com facilidade.

Os reflexos que ele tanto tinha treinado com o decorrer dos anos parecia ter servido para algo que não duelos, no final das contas.

_

“Malfoy vai te matar” gemeu Theo, quando ficou sabendo da novidade. “Pelo menos vocês têm Montague como capitão. Ele é grande, mau e feio, mas sabe coordenar uma equipe.”

“Pelo menos você vai conquistar as garotas de Slytherin” riu Blaise. “As mais novas já estão babando em você. Viu Astoria hoje?”

“Não” respondeu Revan, distraído. Eles tinham que treinar para a partida contra Gryffindor. Um mês, ele repetiu para si mesmo. Ele tinha um mês para ganhar a confiança da equipe.

Tracey riu alto. “Ela está louca por você, Rev. Daphne me disse que ela fala sobre Revan Black todos os dias. Você causou uma impressão na garota antes mesmo dela chegar aqui.”

“Está insinuando que Daphne falava sobre mim para a irmã?” O sorriso do herdeiro Black era relaxado, mas um pouco incrédulo. Greengrass só falava quando precisava.

A menina lançou um braço ao redor dos seus ombros, trazendo-o mais para perto de si. Seus pequenos seios se pressionaram contra a lateral dele, mas Revan ignorou o contato. Ele não queria um relacionamento naquele momento, no máximo um contrato de casamento.

Theo pareceu ler seus pensamentos: “Ah, Revan, você não parece nem um pouco com o seu tio! Nem uma mulher de vez em quando para se divertir?”

“Sirius era mulherengo?” perguntou o herdeiro Black, apesar de saber a resposta. “Então todas essas crianças com olhos cinzentos...”

Pansy deu uma piscadela para ele: “Melhor clamar o que é seu por direito antes que Sirius Black reconheça um dos bastardos.”

Com aquilo, Revan empalideceu. Era uma brincadeira, mas sim, ele deveria pegar a herança antes que fosse tarde demais, porém ele sabia que a hora não era agora. Esperar, sim, esperar até um momento crítico para a luz. Depois que o retorno do Lorde das Trevas se tornasse público, talvez.

O frio da sala comunal começava a ficar desconfortável, mesmo ainda estando no começo de outubro. Os Slytherins que estudavam nas poltronas se recolhiam próximos às lareiras, e alguns tinham cobertores de sabe se lá quantos fios ao redor do corpo. Draco tinha acabado de descer as escadas dos dormitórios, seu cabelo loiro ainda um pouco molhado, porém penteado para trás como sempre.

“Draco!” chamou o herdeiro Black, indo até ele, e recebendo um olhar frio em resposta. Sem problemas. Ele conseguia parecer intimidante também facilmente. “Olha, me desculpa. Eu sei que você gostava da sua posição de apanhador...”

“Que ainda seria minha se você não tivesse a roubado” acusou Draco.

“Quero garantir que nossa amizade permaneça intacta. Prometo que ano que vem você terá sua posição de volta, não vou nem tentar entrar para o time” Revan assegurou ao menino.

O loiro sorriu. “Claro, sem problemas.”

Um desconfortável silêncio caiu entre eles. Revan examinou o loiro: Lábios comprimidos, olhos cerrados, e punhos fechados. Seus músculos estavam rígidos, sua respiração, curta. Cauteloso, ele deu um passo para trás. Fazia tempo que o herdeiro Black não fazia leitura corporal em alguém, mas ele reconhecia os clássicos sinais de raiva.

Mais rápido do que ele esperava, um punho voou em sua direção, mirando sua face. Revan se abaixou no exato momento, porém não rápido o suficiente para evitar o corpo de Draco caindo em sua direção. Eles rolaram pelos tapetes grossos, socos e chutes sendo aplicados no corpo um do outro.

“Revan!”

Alguém se meteu entre eles. Astoria tentava tirar Draco de cima dele, sem perceber que o herdeiro Black já conseguira se livrar do loiro.

“Não ouse tocar em mim, Malfoy!” a morena ameaçou, seus olhos azuis brilhando ameaçadoramente. Naquele momento ela não parecia ter apenas onze anos, ela ignorava o fato que seu pequeno corpo não poderia fazer nada para impedir um ataque de Draco. Ela tinha algo melhor do que força bruta: “Ou eu acabo com o nosso contrato de casamento com algumas palavras mágicas.”

Outros Slytherins se aproximaram.

“Por que você não nos contou que arranjou um contrato, Draco?” perguntou Pansy, fungando. Draco deveria ser dela, não de uma menininha do primeiro ano. “Quando isso aconteceu?”

O loiro se levantou. Seu lábio sangrava, assim como sua testa, e seu nariz estava em uma posição que lhe causava extrema dor. Quebrado, sem dúvida. Ele cuspiu sangue e respondeu: “Quando Astoria fez onze anos. Tive que me contentar com a mais nova.”

Um tapa foi ouvido. A pequena morena tinha lágrimas furiosas nos olhos. “Fique feliz que você não casou com Daph. Da última vez que alguém tentou, a pessoa foi internada no St. Mungus, e ficou lá por meses. Pensando nisso, você deveria ter tentado.”

Ela cobriu a face com as mãos pálidas e correu escadas acima.

Revan não se preocupou com a garota – por que deveria? Ele tinha coisas mais importantes em mente. De fato, um casamento arranjado, para forjar uma aliança entre as casas... Black e, o que? Delacour, a família do ministro francês, Bones, para impedir a tia dela de trabalhar, ou talvez Greengrass, cujo pai podia usar a fortuna da casa e o cargo para manipular o próprio Ministro Fudge.

Ele fez uma nota mental: Conseguir um contrato de casamento com alguém que importasse para o lado das trevas.

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O menino conseguia ouvir os gritos enlouquecidos das arquibancadas de onde estava, se preparando para o jogo. Eufóricos, a maioria gritando contra eles, mas ainda havia aqueles que gritavam “SLYTHERIN!” com toda a força que os pulmões e cordas vocais os permitiam.

Seu uniforme verde parecia outra camada de pele contra seu corpo. O melhor para as cobras, garantira Lucius Malfoy antes de saber que seu filho perdera a posição de apanhador, seda de acromântula revestida com feitiços protetores dentro das regras do Quadribol. Sua capa esvoaçante não pesava, e Revan poderia esquecer que a usava até que começasse a chover.

Montague andava nervoso entre os jogadores que se preparavam. Sua varinha estava com ele, Revan notou, e sua mão automaticamente foi para onde sua própria varinha estava escondida. Com dementadores por aí, era melhor estar preparado. De volta para Montague: Ele latia ordens para os artilheiros, mostrando em uma prancheta como queria que o jogo fosse e fazendo questão de apontar o que iria acontecer com a posição de cada um caso o jogo fosse um fracasso.

Derrick e Bole se alongavam de modo que pudessem rebater bem os balaços que ameaçassem os outros jogadores. Depois de um momento de indecisão, Bletchley se uniu a eles. Os três sussurraram algo entre eles e deram olhares mortais para Revan, olhares que diziam “É melhor você pegar o maldito pomo”.

“Urquhart, aproveite essa cabeça dura sua para acertar qualquer jogador que estiver na sua frente” ordenou Montague, estalando os dedos. “E tente pensar antes de fazer qualquer coisa idiota que possa nos custar o jogo.”

O artilheiro se levantou do banco: “Só porque você é o capitão não significa que você é o melhor. Eu, você, todos nós sabemos que você ganhou o título de capitão porque está no time faz mais tempo, mas eu sou mais rápido.”

“E mais estúpido” cuspiu Montague.

Derrick se aproximou do grupo. Ele segurava o bastão de um modo que indicava que não estava com medo de atingir alguém com ele. “Hugo, pare. E você, Oscar. Vamos brigar depois do jogo, pode ser? Podemos até arranjar duas garotas para fazer uma briga de gato.”

Revan encarou seus pés, tremendo. Estava mais frio do que o usual naquele ano, e ele não suspeitava que dentro de algumas semanas fosse começar a nevar. Ele deveria ter pego um casaco, mas sabia que não era recomendado. Casaco era peso, e peso era indesejado em apanhadores. Ele lançou um feitiço para aumentar o calor do corpo.

“Ótimo. Parkinson pode ser uma. POSIÇÃO!” Todos fizeram fila na frente da porta, primeiro Montague, depois Urquhart e Warrington, Derrick e Bole, Bletchley e finalmente, Revan, fechando o time.

As portas se abriram.

O que o herdeiro Black já considerava um grande barulho se tornou quase insuportável. Estímulos e xingamentos o atingiam como flechas, juntamente com o frio e chuva. Muita chuva, de modo que ele mal conseguia ouvir a arquibancada. Ele agradeceu ao guardião por ter uma visão impecável, sabendo que Nicholas Potter estaria em desvantagem. Seu coração batia forte no peito.

“E o time de Slytherin...” ia narrando Lee Jorgan. “Montague, Urquhart, Warrington, Derrick, Bole, Bletchley e Black!”

Um a um, eles voaram para fora, acenando para os torcedores. A chuva os afogou, encharcando as capas verdes até um ponto em que elas pareciam ser pretas. Vendo aquilo Montague lançou um feitiço em si mesmo que repelia água. Revan e os outros se apressaram a fazer o mesmo, suspirando aliviados quando o frio melhorou consideravelmente. Eles ainda tinham o vento, porém.

Madame Hooch esperava no centro do campo, junto com os jogadores de Gryffindor. Os gêmeos Weasley acenaram alegremente para Revan, enquanto Nicholas o encarava incrédulo. Ele removeu as lentes de contato e as enxugou para ter certeza que estava vendo a pessoa certa. As cobras haviam mantido o nome do apanhador em segredo para terem um elemento surpresa. Sentindo-se um pouco como Malfoy, o herdeiro Black colocou os cachos negros que lhe escapavam de volta no lugar para que não o atrapalhassem.

A bruxa apitou, lançando a goles para o alto.

Em um borrão, seis jogadores avançaram, enquanto os goleiros corriam para suas devidas posições, batedores procuravam balaços e os dois apanhadores procuravam pelo pomo.

Aquele não era um dia bom para entrar em um time, decidiu Revan enquanto voava para cima sendo puxado para baixo pelo vento. O feitiço que havia lançado em si mesmo para combater o frio não parecia estar funcionando; seus dentes batiam dentro de sua boca, e todos os pelos de seu corpo estavam arrepiados.

Muito frio para novembro, ele pensou para si mesmo, tentando achar o pomo. Não havia pomo, não que ele pudesse ver. É claro, assim, Nicholas Potter não veria o pomo também.

Ele se desviou de um balaço e tentou focar sua atenção na cabeça ruiva que passava debaixo ele – ele só não podia dizer se era seu irmão ou um dos gêmeos Weasley. A multidão gritou; o som era vago nos ouvidos de Revan. Alguém com a capa encharcada quase trombou com ele, berrou uma ofensa e voltou no seu caminho.

O coração de Revan parecia prestes a explodir. Ele respirou fundo, contando seus batimentos. Cento e trinta por minuto, e então cento e vinte, descendo... O sangue correndo em suas orelhas diminuiu a intensidade, seus músculos relaxaram. A chuva escorrendo pelo seu rosto deixou de queimar.

Melhor ir atrás do pomo enquanto eu ainda posso.

Revan inclinou a vassoura para baixo e se agarrou a ela, quase deitando em seu cabo para ganhar velocidade, e desceu sessenta metros diretos antes de voltar à posição horizontal, onde a maioria dos jogadores estava, a cerca de quarenta metros do chão. Estava mais quente lá, e mais emocionante.

“Pare a meditação e vá trabalhar!” berrou Montague, precisando ficar próximo a ele para ser ouvido. O próximo que se aproximou foi Nicholas Potter, seco também, afastando o cabelo dos olhos do mesmo modo que Revan e James faziam.

“Por que não me contou?” Quando o herdeiro Black fingiu não ouvir a pergunta, o ruivo a repetiu o mais alto que conseguia.

Revan fingiu não se importar. “Por que deveria?”

“Sou seu amigo!” exclamou Nicholas corando de raiva.

Agora chegamos na parte boa da coisa.

Ele forçou sua Nimbus 2000 contra a recém lançada Firebolt de Nicholas, quase o derrubando. Madame Hooch deveria estar vendo aquilo, mas a chuva prejudicava sua visão. A mão direita de Revan se trancou na Firebolt: Qualquer movimento brusco da parte de um dos dois, e o outro iria cair. “Potter!” a voz dele era firme. “Acorde. Não trocamos palavras esse ano, nem vamos trocar. Nossa amizade acabou.”

“Mas... Mas eu sou o menino que sobreviveu! Todos querem ser meus amigos! Eu sou tipo, o cara mais legal que se tem!”

“Não, Potter. Você está errado nisso.” Revan focou toda a força em seu braço e chacoalhou a Firebolt, dando uma demonstração do que poderia acontecer. “Adeus.”

Suspirando, ele soltou a vassoura do rival e voou para longe, a procura do pomo.

Milagrosamente, onde não estava tão escuro, algo brilhou. Revan voou animado até lá, torcendo que a chuva impedisse o irmão de o seguir. Ele deu um olhar no placar: Setenta a sessenta para Gryffindor. Aquela não era uma oportunidade para se perder. Forçando a vassoura ao seu limite, o herdeiro Black subiu, sua mão já estendida.

Mesmo com os trovões cada vez mais frequentes, ele ouviu: “Black avista o pomo! E Potter, Potter está atrás dele, vai Potter!”

E ainda mais alto: “JORDAN!”

Uma nuvem estava em seu caminho, tamanha era a altura que o pomo subia, e as extremidades de suas vestes começaram a congelar. Revan mal sentia o frio, a energia para pegar o pomo o consumia. Se ele pegasse a bolinha dourada, pensou um pequeno Harry dentro dele, talvez papai e mamãe dissessem parabéns.

“Parabéns” repetiu o herdeiro Black para si mesmo. “Estamos orgulhosos de você.” As palavras deixavam um gosto amargo em sua boca.

Passada a nuvem, as coisas mudaram. Havia outras nuvens, talvez não nuvens, apenas neblina, ele não podia dizer a diferença. Seu mundo estava cinza. Em algum lugar, havia uma pincelada de dourado, rodeada por grandes pinceladas de preto que se moviam na direção dele.

Os dementadores estenderam suas mãos, voando. Atrás de Revan, Nicholas gritou. Como se pudesse ouvi-lo, o pomo desceu, para a alegria de todos. A neblina cinza ficou para trás; os dementadores não.

Deveriam te queimar.

Sua mão se esticou para pegar o objeto voador quando algo se chocou contra sua vassoura. Outra vassoura, percebeu ele.

“O pomo é meu” sibilou Nicholas para ele.

A resposta de Revan foi instantânea: “Não dessa vez.”

As duas vassouras dançaram no ar, se entrelaçando quando cada um fazia movimentos para evitar um choque e para perseguir o pomo de ouro. A multidão esqueceu o jogo principal, até mesmo os jogadores pararam em seus postos, considerando o tempo frio demais para se jogar. Os lábios de Derrick estavam azuis. Os gêmeos Weasley, sempre cheios de cor, tremiam, trazendo as capas para mais perto de si. O pomo. Um pomo e aquela tortura acabava, eles teriam chuveiros quentes, um isolamento perfeito contra água e poderiam dormir debaixo de grossos cobertores de lã.

Como se aquilo não fosse ruim o suficiente, dementadores desceram para o campo, perseguindo especificamente os apanhadores.

“TODOS PARA O CHÃO!” gritou Hooch. “DESCAM DAS VASSOURAS.”

Mas não havia como. Dementadores estavam debaixo, ao redor e acima de Revan e Nicholas. Se eles se aproximassem demais, o destino de ambos seria claro, e ninguém em sã consciência quer um beijo de um dementador. O pomo pairava longe deles, esperando para ser pego. O herdeiro Black engoliu em seco e procurou sua varinha, tentando criar um patrono. Fumaça saiu de sua varinha. Um progresso, pelo menos, mas não o suficiente.

Gêmeos, por que eu fui ter gêmeos, um filho seria suficiente, meu bebê Nick, queridinho da mamãe...

Do seu lado, Nicholas berrava o encantamento, apontando a varinha para cada um dos dementadores que apareciar. Uma fênix, um gato, lobo e águia se aproximaram, abrindo espaço entre eles, apenas o suficiente para que Revan virasse sua vassoura e saísse do círculo negro, não sem antes ser tocado por um dos dementadores. Seu toque era a tristeza incorporada. Ele ouviu outra vassoura atrás dele, indicando que seu querido irmão o seguia.

O espião desceu mais rápido do que já tinha descido antes. Seus cabelos se embaraçaram, sua capa fazia um barulho infernal. O lugar onde o dementador havia tocado parecia queimar, trazendo lágrimas aos olhos do garoto. E...

Não podia ser. Ele nunca fora sortudo, por que agora? Pensando que se tratava de uma ilusão, Revan acelerou, indo na direção do pomo. Mesmo que fosse uma ilusão, ele não tinha nada a perder. Aquilo iria acabar com o jogo. Apenas mais alguns centímetros...

Seus dedos se fecharam ao redor da pequena bola dourada.

Harry, dê o pomo para Nick. O pomo é dele.

“Não” ele respondeu ao pai imaginário, dando um sorriso vitorioso. “O pomo é meu.”

“DESCAM!” voltou a berrar Madame Hooch. “DEMENTADORES DEMAIS, DESCAM AGORA!”

Dessa vez, Revan obedeceu. Seu estômago estava revirando. Harry, Harry, Harry... Aquelas memórias tinham que deixar de perturbá-lo. Pontos pretos estavam aparecendo em sua visão. Desmaiar? Não. Ele não permitiria seu corpo. Com um grito, a vassoura de Nicholas deu um loop inesperado e o derrubou, poupando o herdeiro Black do trabalho.

A Nimbus 2000 dele parou suavemente. Cambaleando, Revan desceu e caiu de joelhos. Sem sujeira, ele pensou para seu estômago, mamãe odeia sujeira na casa. Ele engoliu a bile que se formava no fundo de sua garganta.

“Ajuda...” ele pediu no que pensava ser um tom forte, na verdade não passando de um sussurro.

Não adiantou.

Todos os professores estavam ao redor de Nicholas, cuja queda havia sido amortecida por um feitiço de Dumbledore. Os Potter estavam entre eles, gritando ordens para Madame Pomfrey. Os jogadores se uniram à eles, verificando se tudo estava bem e ficando por lá por garantia.

“Ajuda...” Revan voltou a repetir, mais alto.

Alguém gritou em resposta: “Vem pra fora.”

Voltando a engolir a bile em sua garganta, ele se levantou apoiado na vassoura e foi até fora do estádio, onde seus amigos o esperavam debaixo de um guarda chuva gigante que pairava sob eles.

“Revan, graças a Merlin” murmurou Daphne, o dando um rápido abraço. Ela o ajudou a caminhar até um banco, onde o herdeiro Black se jogou, querendo nada mais do que dormir. “Tory, vá pegar a vassoura dele no campo e peça para que algum professor venha ajudar, rápido. Tracey, esfrie água até virar gelo e coloque no braço esquerdo. Foi aí que o dementador o tocou. O que está sentindo?”

“Nada” respondeu ele, olhando para o vazio. “Eu não sinto nada.”

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O herdeiro Black sentia cheiro de desinfetante.

“Revan? Gente! Revan acordou!”

Ele ouviu passos apressados vindo em sua direção. Lentamente, ele abriu os olhos, os fechando novamente quando suas pupilas se contraíram ao receber uma imensa quantidade de luz. Enfermaria, sem dúvida.

“Revan, Revan...” cutucou Astoria, seus olhos azuis profundos cheios de preocupação. “Você está bem? Fizemos alguma coisa errada?”

O garoto murmurou alguma coisa, e repetiu mais alto: “Frio.”

Imediatamente alguém o cobriu. Ele se agarrou ao cobertor, tremendo. “Tenho que sair daqui.”

Ele precisava falar com o Lorde das Trevas, ou Regulus, sim, Regulus seria uma boa. Ele diria que tudo ficaria bem e que ter medo é normal. Não Voldemort. Ele diria que lágrimas não mudariam nada. A dor não melhorava, nem o medo, e o pior, sua visão seria prejudicada. Não chore, é inútil. Melhor fazer algo como conseguir uma vingança.

“Não antes de comer um chocolate” disse Lupin, se aproximando e estendendo um sapo de chocolate para Revan. “Melhor coisa para aumentar a pressão.”

“Obrigado, professor. Vai querer o cartão? É valioso.”

Lupin levantou uma sobrancelha.

“Agrippa.”

O lobisomem empalideceu consideravelmente, e o herdeiro Black teve que esconder um sorriso. Ele se lembrava... Bom. “Não, não, dê para um dos seus amigos. Escute, eu estava pensando em nos encontrarmos amanhã, para treinarmos de verdade. Dumbledore ficou furioso com os dementadores, mas nada garante que eles não vão voltar. Vamos tentar uma técnica diferente dessa vez.”

Draco se inclinou para sussurrar no ouvido do menino: “Primeiro Quirrell, depois Lupin, me pergunto qual será o próximo homem vítima dos seus encantos.”

Revan lhe deu um olhar mortal que fez com que o loiro desse um passo para trás. Voltando sua atenção para Lupin, falou: “Eu adoraria, professor. Como é essa técnica?”

“A técnica é usada para fazer aurores melhorarem seus patronos. Funciona na maioria das pessoas. Nick vai testar daqui a pouco, eu te chamaria, mas...” ele indicou seus arredores. “Achei que esse não seria um bom momento.”

“É claro” o sorriso dele era amargo, suas palavras frias. “Até, professor.”

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A sala de aula estaria vazia se não fosse por três bancos que se encaravam no centro da sala. As portas haviam sido seladas, de modo a garantir que ninguém ouvisse a conversa. Uma varinha estava dentro de uma caixa, por segurança. Um ruivo sentava em um dos banquinhos, seus braços cruzados e franzir de testa uma clara demonstração do seu descontentamento. Seus olhos se estreitaram quando ele viu quem entrava.

Revan também franziu a testa, mas por outras razões. Seus olhos vasculharam a sala. Não havia nada na lousa, o armário que continha o bicho papão não estava lá. Como deveriam praticar? Quando encontrou Lupin, o herdeiro Black lhe fez essa pergunta.

“Teoria, Revan. Acho que é isso que você e Nick precisam.”

“Memória feliz, expecto patronum, pimba!” exclamou Nicholas, se levantando. “Eu achei que estava aqui para ser melhor do que os outros. Eu já sei a maldita teoria e não vou estudar com ele! Traga um dementador de uma vez, eu não sou uma criança!”

Me pergunto se ele se dá conta a quantidade de vezes que se refere a si mesmo. Eu, eu, eu...

Os anos de lobisomem de Lupin pesaram naquele momento. Ele parecia uma década mais velho do que os outros Marotos. Sem linhas de sorriso, também, notou Revan. “Tudo bem. Quer que eu te trate como um adulto? Comece a agir como um, porque quando fala, parece uma criança mimada falando, e é isso que eu vejo.”

“Ótimo. Traga o dementador.”

“Ótimo” repetiu Lupin. “Traga as boas maneiras.”

Nicholas cerrou os dentes, mas ficou em silêncio.

“Como eu estava dizendo, vocês parecem estar tendo problemas com a parte teórica, ou seja, a memória, o que me faz pensar se vocês estão tendo algum problema, ou tiveram um na infância. Só consegui criar um patrono depois que aceitei minha condição de lobisomem e vi as boas coisas das transformações.”

“Achei que fossem extremamente dolorosas.”

“E são, Nick, mas parecem doer menos conforme o tempo passa. Quando uso wolfsbane, uma maravilhosa criação, a propósito, mal sinto a transformação. Sim, Revan?”

O menino limpou a garganta. “Não que eu não aprecie sua história, professor, mas por que está nos contando isso? Não somos lobisomens, e sem querer ofender, mas não sei como você pode me ajudar com os meus problemas.”

“Não ofendeu, Revan. Pode compartilhar seus problemas? Memórias traumáticas, por exemplo?”

Quase todos os dias da minha vida. Revan ganhou mais tempo para pensar ao pedir que Nicholas fizesse isso primeiro, dando um sorriso clássico Slytherin. O ruivo corou, mas obedeceu, se pondo a lembrar quando Voldemort tentara matá-lo, depois seu irmão psicopata (o moreno estremeceu), Quirrell, Nemesis...

“Eu o quero morto” completou o menino que sobreviveu. “O que ele me fez foi ruim demais até mesmo para o beijo. Quero Nemesis morto com sua cabeça cortada e enviada para o lado das trevas. Quero que Vol-Voldemort seja aquele que abrir a caixa. Quando ele ver as trevas em pessoa morto, suas forças vão diminuir.”

“Oh” Revan levantou uma sobrancelha. Lá estava uma fonte de diversão para os dias entediantes de Hogwarts. “E como pretende matá-lo?”

“Eu sou melhor do que ele” afirmou Nicholas. “Treino desde pequenininho. Se estivéssemos em uma batalha, apenas nós dois, apenas feitiços da luz, eu ganharia.” Ele parecia confiante disso.

Ele se esforçou para não revirar os olhos. “E como planeja matar e decapitar alguém usando feitiços da luz?”

Não houve resposta para aquilo. Revan lançou mais um sorriso presunçoso na direção do irmão antes que Lupin pedisse para ele compartilhar suas próprias memórias.

“Minha infância foi um tanto parada, para dizer a verdade” mentiu ele tranquilamente. “Ada, minha mãe, me criou de acordo com os costumes de famílias da luz. Eu era muito jovem quando ela morreu, porém. Eu ensinei a mim mesmo como ser um lorde, depois que descobri que eu era o único filho de Regulus Black, e que Sirius Black se provava incapaz de produzir um herdeiro...”

“Cale a boca!” interrompeu Nicholas, pronto para defender a honra do maroto. “Padfoot não é... Ele só não quer, só isso.”

“Padfoot?” riu o herdeiro Black. “Que adorável. Por favor me lembre quantos anos você tem, Nicky.” Antes de deixar o ruivo responder, ele completou: “Quatro, cinco? Como você chama professor Lupin fora da escola? Remy?”

“Moony é um apelido que não tem nada de infantil!” pulou ele.

“Ah!” o sorriso de Revan era amplo. Seu rosto mostrava falsa surpresa enquanto seus pensamentos se enchiam de memórias. Moony, seu querido tio. Não tão querido mais. “Então é Moony. Fofo. Você costumava fazê-lo de cavalinho durante as noites de lua cheia?”

Lupin finalmente se levantou. “Isso é o suficiente por hoje.”

“Já, professor? Nós mal começamos...”

“Sim, já passou da hora. Voltem para os dormitórios, vocês dois, e tentem não se matar até se separarem.”

_

Na próxima aula de Feitiços, quando Susan e Tracey se uniram a ele para discutirem o feitiço que seria modificado, Revan tinha outras ideias.

“Água? As equações estão prontas, e ainda temos até o Natal para terminarmos esse trabalho. Não vamos gastar nosso tempo complementando um feitiço de hidratação e desidratação que já está excelente. Estou pensando em alguma coisa mais difícil.”

“Você mesmo disse que deveríamos nos focar no que é fácil” reclamou Tracey. “Para garantirmos uma nota boa.”

“Boa? Vocês fizeram um trabalho perfeito, meninas. Esse pode ser o trabalho que vamos entregar, mas eu quero a ajuda de vocês para desenvolver um outro tipo de feitiço, nível II, porém difícil e complexo, bem mais do que outros.”

Susan se inclinou para ele, colocando uma mecha de cabelo ruivo atrás da orelha: “Por que você quer fazer isso? Se é avançado, não podemos fazer. Professor Flitwick...”

“Isso não tem nada a ver com as aulas dele, Susan. É pessoal, e pode ajudar em outra aula. Não faça essa cara, não vai ser perigoso.”

Tracey lhe deu um olhar de quem sabia do que ele estava falando. “Quem você quer impressionar, Revan? Ou melhor, humilhar?”

“Ninguém” ele mentiu.

“Ok, se não vai ser perigoso ou contra as regras” suspirou Susan. “Mas você tem que me contar, nos contar, agora. Pare de ser tão misterioso, você parece minha tia depois de um dia de trabalho.”

O herdeiro Black deu sua suave risada, a mesma que ele usava para encantar pessoas durante uma conversa. As meninas visivelmente relaxaram.

“Todos aqui estamos cansados de saber sobre o patrono. Lupin fica falando sobre ele em todas as aulas, quando não é auror Potter quem nos ensina. Eu só quero brincar com ele.”

“Modificá-lo?”

Concordando, ele deixou sua fachada cair por um instante, mostrando o menino frio e calculista que todos sabiam que existia ali, soterrado no meio de tanta educação e cordialidade. Com aquele olhar, apesar das duas meninas não fazerem a relação, ele parecia um lorde das trevas.


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Notas finais do capítulo

As aspas apareceram? Podem me dizer se o espaço entre os parágrafos está bom?

E outra coisa, importante: São mais 4 capítulos para o final do terceiro ano. Eu vou estar pulando entre uma viagem e outra até a última quinzena de janeiro.
Então proponho para vocês uma "maratona" do terceiro ano, da seguinte maneira: 30 reviews, e um capítulo novo na próxima terça ou quinta. 40 reviews, e um capítulo novo no mesmo dia ;) Ok, não precisa de 40 reviews, mas eu gosto de ter três páginas de reviews para responder, então 30. Digam-me o que acham, ok?

E comentem, aqui e fora daqui. Precisamos de caras novas!

Até logo!