Esperar. As pessoas costumam dizer que o tempo é uma dádiva. Mas quando se está a espera da resposta da sua vida, a espera pode se tornar um tanto quanto dolorosa.

Gabriel estava sentado no mesmo banco de hospital em que esteve alguns dias atrás. Dois dias desde o acidente já haviam se passado e no quarto de paredes brancas Juliana continuava de olhos fechados. Dormindo feito o anjo que Gabriel a considerava. Os médicos diziam que era um quadro normal. Quando se lida com lesões no crânio, o tempo de recuperação nunca pode ser considerado preciso.

Ele havia saído do hospital por pouquíssimo tempo no decorrer dos dias. Ia em casa apenas para tomar banho e comia muito pouco. Sua mãe às vezes ia até lá, mas na maioria do tempo, era seu irmão, Miguel, que ficava por lá com ele. João Pedro e Lucas também apareciam a cada par de horas para saber de noticias. A família de Juliana também não deixava o hospital, por um segundo que fosse. Todos na expectativa de uma melhora da filha, e também na sempre constate luta contra o medo de uma noticia ruim.

O som de passo, pelo piso frio do hospital fez todos desviarem a atenção de seus pensamentos confusos por um pequeno espaço de tempo.

– Senhora Bonfim? – O enfermeiro de pouco mais de trinta anos, coberto pelas costumeiras roupas brancas chamou pelo nome da mãe de Juliana. O coração de todos naquela sala de recepção deu um salto.

– Sim. – A mulher respondeu com um sussurro esperançoso que fez a chama de esperança tremeluzir no coração de todos eles uma outra vez.

– Eu queria informa a senhora que a cerca de quarenta minutos atrás a sua filha, a senhorita Juliana Bonfim, despertou. Ela já foi examinada e está dormindo novamente, mas agora já podemos afirma de forma clara que ela está fora de perigo.

O sorriso de contentamento, somado a um quase desespero nasceu nos lábios de Gabriel. A senhora Bonfim chorava as lagrimas que já não tinha mais. Mas dessa vez, elas eram de felicidade. Impossíveis de serem contidas, vieram também as lagrimas de Gabriel, amparado rapidamente por um abraço caloroso vindo de Miguel.

– Podemos vê-la? Ah meu Deus, obrigada por cuidar da minha filha. – A senhora Bonfim suplicava aos céus enquanto Gabriel silenciosamente fazia o mesmo.

– Ele está dormindo senhora, mas já foi transferida para o quarto de recuperação. Se a senhora quiser, pode vê-la sim, só não por muito tempo. Ela precisa de recuperação. – O enfermeiro disse impassível outra vez. Em seguida, ele encarou Gabriel, e com um mínimo sorriso de quase compreensão, voltou a se pronunciar. – Você também poderá entrar para vê-la em seguida rapaz.

Gabriel sorriu como não fazia há muito tempo depois de ouvir essa frase. Ele sorriu um sorriso meio triste, meio feliz. Um sorriso de alguém que se sentia prestes a viver outra vez. O sorriso de um coração partido que estava se reconstruindo. Aos poucos, mas estava.

Ele queria vê-la. Ele queria olhar mais uma vez nos olhos de sua garota. Ele queria fazer isso, mesmo que ele soubesse que no fundo no fundo isso não seria nada fácil. Gabriel sabia que dali para frente nada mais seria o mesmo. Seria ainda mais difícil. Mas ele estava pronto. Pela primeira vez na vida ele estava pronto. Estava pronto para encarar os olhares na escola, estava pronto para falar sobre o assunto com a sua família, estava pronto para conversar com os pais de Juliana. Ele se sentia pronto. Pronto para lutar por aquilo que ele mais amava. Ele estava pronto para, enfim, receber a sua tão sonhada felicidade. E de que importariam os olhares dos outros, quando se tinha o seu mundo completamente completo ao seu lado?