Desceram as escadas do esgoto com caretas retorcidas no rosto.

            - Sério que a gente vai dormir aqui? – Reclamou Draco

            - Tem alguma ideia melhor? – Soltou Loretta

            - Que tal algum hotel cinco estrelas? Fala sério, a cidade está vazia!

            - Vazia de humanos, você quer dizer né? Só fique calado Draco.

            Ele pareceu querer começar um argumento, mas todos estavam muito cansados pra isso. Todo o lugar fedia, mas não à merda ou coisas podres, fedia a poeira, cheiro de mofo. Ninguém queria abrir a boca pra ter que engolir a nuvem de fuligem que desceu quando Daniel fechou o bueiro pelo qual desceram.

            Todos tossiam tentando enxergar alguma coisa no breu do lugar. Jason sacou uma lanterna e iluminou o chão a frente de todos. Parecia uma espécie de córrego com as margens de concreto, mas nada passava por ele há muito, muito tempo. Já estava seco e limpo, de modo que foi possível fazer uma pequena fogueira com folhas e gravetos que encontraram espalhados pelo chão.

            Ajeitaram os sacos de dormir nas margens do córrego iluminado pelo fogo. Sentaram-se em silêncio, apenas encarando as paredes podres daquele lugar. Nancy havia pegado alguns alimentos que foram divididos igualmente, mas ninguém estava com humor pra comer, eles mal entendiam o que tinha acontecido o dia todo. Metade achava que tudo não se passara de um pesadelo dos piores, e a outra parte apenas aguardava a morte em um mundo já acabado.

            - E agora? –perguntou Bandit, todos se olharam pela primeira vez naquele lugar.

            - Eu suponho que nós temos que... Sobreviver? Lutar? – Max respondeu angustiado.

            - Mas que merda. Eu mal conseguia sobreviver antes desse mundo todo fodido. – Disse Pandora, todos a encararam.

            - Pandora... Como você sabe disso? – Lucy perguntou, atônita.

            - Eu suponho? Toda a vontade que eu tive de me matar hoje já devia existir antes dessa merda toda, certo?

            Todos se calaram. Um silêncio constrangedor dominou o lugar por no mínimo cinco minutos.

            - A gente devia tentar dormir... Certo? – Perguntou Andrômeda, temerosa.

            - Certo, certo... – Disseram todos quase ao mesmo tempo.

            - E quem vai ficar vigiando? Alguém tem que ficar vigiando. Pelo menos duas pessoas. – Disse Frank.

            - Eu posso ficar. – Disse Billie.

            - Eu também. – Completou Ariana.

            - Tudo bem. – Disse Nancy – Qualquer coisa me acorde. É melhor vocês revezarem para dormir.

            Todos começaram a entrar em seus sacos de dormir. As cabeças a mil, pensando em todas as possibilidades de poderes, ninguém queria dormir, mas logo bateu o cansaço. O dia havia sido longo e cansativo. Tinham muita coisa para processar e aos poucos um por um foi caindo no sono.

            - Você pode dormir se quiser. – Disse Billie.

            - Não, tudo bem. Eu ainda não estou com sono.

- Você que sabe.

- Tanta coisa aconteceu hoje. Nem parece verdade. Tudo o que eu queria era acordar e ver que tudo não passou de um sonho maluco.

- Eu também, mas eu queria saber onde estaria se não estivesse aqui. É estranho sabe? Não lembrar nada. Nós não sabemos se temos família. Podem estar mortos e nem tem como sentirmos isso.

            Aos poucos Ariana inconscientemente foi deitando a cabeça no ombro de Billie.

- Durma um pouco.

- Eu tenho medo de acordar e continuar aqui. De acordar e o mundo continuar destruído do jeito que está.

- É claro que vai estar, mas nós daremos um jeito.

Ariana fechou os olhos e caiu a cabeça no colo dele.

- Boa noite. – Disse ele, mas não obteve resposta. Ariana já estava dormindo.

            Horas se passaram e Billie apenas observava a todos, tentando fugir do sono, mas todo o cansaço de um dia tão confuso estava dominando-o. Billie deitou a cabeça junto da de Ariana e fechou os olhos inocentemente, apenas para descansar a vista.

            Tarde demais, ele havia dormido, todos estavam dormindo, e não acordariam tão cedo.