Projeto Nêmesis escrita por Lori Holanda


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

O capítulo ficou um pouco grande. Tentei dividir, mas realmente não consegui. Espero que gostem.



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– Alguém pode me explicar o que esta acontecendo aqui? – Disse uma menina assustada.

E não era por menos. O cenário em que se encontravam era de assustar qualquer pessoa; Um tipo de laboratório completamente abandonado. Estantes caídas e computadores de alta tecnologia destruídos. Sangue. Havia sangue espalhado pelo chãpiores vírus que já exitiram.o. No centro, quinze “cápsulas” recentemente esvaziadas estavam posicionadas em forma circular. No meio deste circulo, uma espécie de painel de controle emitia uma imagem holográfica; Quinze pessoas representadas como personagens de um vídeo game. Em um dos cantos da sala, quase que imperceptível, duas “cápsulas” estavam separadas. No total, deveria haver quinze pessoas ali, mas somente catorze estavam presentes.

– Espere ai, então aqueles bonequinhos ali somos nós? – Perguntou um menino, apontando para a imagem.

Tinha os cabelos pretos como a escuridão da noite. Eram lisos e repicados. Caiam em seu rosto à altura dos olhos, verdes como o mar cristalino. O nariz reto, a boca fina. Não era alto nem baixo e, como todos ali, usava roupas brancas simples e muito limpas.

– Sim. – Respondeu a menina mais calma de todos.

Deveria ter uns 17 anos, mas com certeza não queria demonstrá-lo. Parecia uma Barbie em tamanho real. Tinha os cabelos loiros e longos, mas prendia-os em marias-chiquinhas baixas, uma de cada lado. Os olhos eram azuis como o céu, mas se escondiam atrás de um par de óculos rosa. Tinha o nariz fino e a boca rosa era pequena e grossa. Tinha um ar confiável e reconfortante, como se fosse mãe daquelas crianças.

– Então meu nome é Billie? – Continuou o menino, checando seu reflexo nas paredes de metal reluzente – E você se chama Nancy?

– Parece que sim. Eu não sei muito mais que vocês. Fui liberada há três meses e também não me lembro de nada antes disso.

– Espere ai, Nós somos catorze. Porque tem quinze dessas coisas que a gente saiu? – Perguntou uma menina chamada Ariana.

Seus belos olhos eram o que mais chamava atenção nela. Eram escuros e brilhavam como os de um gato. Os cabelos eram pretos e volumosos como uma juba. Seu nariz era longo e a boca grande e grossa. Seria difícil falar sobre sua personalidade, seu rosto era imparcial. Poderia estar pensando em qualquer coisa, sua expressão simplesmente não mudava.

– Porque uma de nós fugiu. Era uma menina chamada Gloria. Foi liberada junto comigo. Acho que fomos acordadas antes para fazerem testes ou alguma coisa assim. Quando saímos não sabíamos o que estava acontecendo, eles não falavam quem éramos ou o que estavam fazendo com a gente, só diziam que iam cuidar de nós. Só tínhamos uma à outra e acabamos ficando apegadas.

“Gloria era legal, mas não aceitava ficar aqui. Dizia que estavam nos transformando em monstros. No final descobri que estavam mesmo. Ao menos uma vez ao dia nós tínhamos que fazer uma bateria de exames. Sangue, urina, fezes, tudo. Enfiavam agulhas em nossos pulsos, pescoço, braços, pernas, barriga em qualquer lugar que você possa imaginar. Às vezes nos dopavam. Quando isso acontecia eu acordava horas depois com a cabeça enfaixada e doendo muito, como se ela tivesse sido aberta. Tínhamos cortes e pontos por todos os lados, e eles sempre precisavam cortar um pouco mais.”

“Ela tentava fugir todo dia. Há mais ou menos dois meses ela conseguiu. Chamou-me para ir junto, mas tive medo. Ela saiu no meio da noite, quando a segurança estava mais fraca. Pela manha, quando descobriram que tinha saído foram atrás dela, porem não a encontraram. Quando perguntei onde ela estava me disseram que estava morta. Acho que eles a mataram. Gostaria que não, eu realmente gostava dela...”

Ainda era possível ver a foto de Gloria no painel, marcada com um grande e vermelho “X”. Tinha o cabelo curto, liso e bagunçado. Os olhos grandes e pretos pareciam tristes, como se estivessem prestes a chorar. Na imagem deveria ter 13 ou 14 anos e parecia mesmo ter o jeito rebelde que Nancy descrevia.

Era difícil imaginá-la amiga de Nancy, pareciam duas pessoas completamente diferentes, mesmo assim, os olhos de Nancy se encheram d’água ao lembrar-se da amiga falecida. Esfregou-os com os nós dos dedos, como faz uma criança. Não queria demonstrar nenhuma fraqueza.

– Sinto muito... – Disse Ariana – Mas se não se importa tenho outra pergunta; Quem exatamente são “Eles”?

– Os cientistas e funcionários que trabalhavam aqui. Mais conhecidos como The Collectors. Os coletores. – Respondeu Nancy, recompondo-se – Sabem, este lugar é um laboratório de alta tecnologia. Costumava haver gente correndo de um lado para o outro aqui, só que não há mais.

– Como assim não há mais? O que aconteceu com eles? Alias o que aconteceu aqui?! Este lugar esta caindo aos pedaços. – Disse uma menina chamada Pandora.

O nome não era a única coisa inusitada naquela menina. Era morena, tinha o cabelo repicado, liso e na altura do ombro. Os olhos eram grandes como os de uma coruja. A íris era cinza, quase branca, e parecia não existir. O nariz era fino e pontudo. A boca grande era perfeita para um sorriso sarcástico. As roupas brancas simplesmente não combinavam com ela. Tinha um jeito engraçado, meio irresponsável e desleixado, como se não se importasse com nada daquilo, mas naquela hora, seus olhos arregalados encaravam Nancy com desespero, com medo.

– Ah, é uma longa historia. Deixe-me começar: Há cerca de um mês atrás um novo vírus foi descoberto. No inicio não houve muita preocupação já que os primeiros sintomas da doença são comuns, como febre alta, dores de cabeça, diarreia, etc. O problema surgiu quando descobriram que este vírus, em pessoas menos resistentes, é muito parecido com o vírus Ebola, tanto na facilidade de transmissão quanto nos sintomas. Os órgãos internos começam a apodrecer, o sangue não coagula mais, o cérebro começa a ser destruído e você tem alucinações, ocorrem hemorragias internas e externas, pelos poros da pele...

– Resumindo, você morre de uma forma bem feia não é? – Interrompeu Pandora, sem conseguir disfarçar o terror estampado em seu rosto.

– Desculpe-me, mas essa nem é a pior parte. Para os seres humanos mais resistentes o vírus age de uma forma diferente. Alguns, com mais sorte, simplesmente não contraem a doença por vias respiratórias, como a maioria. Mas outros... É difícil de explicar, ele viram... Sanguessugas.

– O quê?! – Disseram todos em uníssono.

– São como vampiros, mas de um jeito um pior, se é que isso é possível... Deixem-me explicar: Nestas pessoas o vírus ataca primeiro o DNA das células, provocando mutações. Nascem garras nos dedos e presas na boca. Ele modifica as funções de alguns órgãos internos, como o estômago. Agora essa pessoa só consegue ingerir e digerir uma coisa. Sentidos como a visão, audição e o olfato ficam mais aguçados, porem sofrem drásticas modificações antes disso, a pessoa pode até ficar cega antes de ter supervisão. Enfim, ela fica mais forte e resistente a pequenos machucados. O sistema imunológico fica mais rápido e eficiente, mas apesar de tudo isso ela ainda é mortal como todos os outros.

“Depois, o vírus ataca o sistema nervoso. A pessoa continua racional e com suas antigas memórias, mas ela perde completamente a capacidade de ter sentimentos. Ela não sente dó ou piedade. A parte empática do cérebro é completamente destruída. O vírus também modifica o desejo vital desta pessoa. Agora ela só se alimenta de sangue, é a única coisa que ela consegue digerir. Qualquer outra coisa a mataria. Agora tudo o que ela precisa é de sangue. Não importa de quem, ela não tem sentimentos. Tudo o que ela sente é fome, o tempo todo.”

Estavam todos tão concentrados e assustados com o que haviam acabado de ouvir que demorou um tempo para perceberem que a historia havia acabado. Era possível ver o terror estampado em seus rostos. Haviam acabado de sair de uma espécie de coma induzido, não sabiam quem eram, onde estavam ou quantos anos tinham e a primeira noticia que recebem é que o mundo se transformou em um tipo de lugar pós-apocalíptico, devastado por um dos piores vírus que já existiram.

– Então eles podem se expor ao sol e este tipo de coisa? – Perguntou uma menina chamada Lucy, ainda assustada.

Lucy era linda. Tinha a pele escura e reluzente. Os cabelos morenos eram cacheados e volumosos, os olhos arregalados eram verdes como uma folha na primavera. O nariz era pequeno e redondo, a boca longa e fina. Todo seu corpo tremia. Poderia ser de medo ou de frio, provavelmente dos dois. O cabelo volumoso a fazia parecer com um leão. Um grande leão assustado.

– Sim, eles não são vampiros. Eles só se alimentam de sangue. Podem fazer qualquer coisa que nós podemos, exceto comer comida normal.

– E como você sabe de tudo isso? – Perguntou outro menino, chamado Joshua.

Não parecia tão assustado quanto Lucy, mesmo assim era possível ver a angustia em seus olhos azuis e fundos. Seus cabelos eram loiros, lisos e curtos. Tinha a expressão séria e pensativa, como se questionasse tudo que estava acontecendo ou procurasse uma explicação lógica para tudo que Nancy dizia. Era magro e franzino, mas não parecia ser do tipo fraco. Ele parecia ter inteligência. O tipo de inteligência que pode ser tão fatal quanto músculos.

– Como disse, fui liberada há três meses. No inicio não sabia muito bem o que estava acontecendo. Às vezes dava para ouvir uma conversa escondida, mas nada fazia sentido para mim.

“No mês passado, quando o vírus foi descoberto esta empresa foi encarregada de descobrir a cura, mas não conseguiu. Pelo menos eu acho que não. Não tenho certeza. Enfim, aos poucos, as pessoas começaram a morrer. Duas semanas atrás não tinha mais ninguém aqui. Acho que este lugar foi evacuado, trancaram todas as portas e eu fiquei presa aqui. Todos os laboratórios, todas as salas, estava tudo trancado. Inclusive este lugar. Tentei de tudo, mas só hoje consegui desativar o sistema de segurança. Entrei em todos os lugares, vários laboratórios, estavam todos vazios, exceto este, é claro.”

“Graças a Deus vocês estavam sendo alimentados por sondas ou alguma coisa assim. Foi difícil, mas às vezes eu achava uma barra de cereais ou uma maquina de salgadinhos e chocolates. Eu me virei. Sabia que tinha mais iguais a mim, iguais a Gloria. Nós não éramos as únicas, ela dizia. Eu não podia desistir, um dia ou outro os soros dessas maquinas acabariam e vocês morreriam sem mesmo terem vivido. Procurei por vocês em todas as salas desse lugar, estava quase desistindo, esta era a ultima pra olhar. Graças a Deus vocês estavam aqui, não conseguiria sair desse lugar pra ficar sozinha. Morrer sozinha.”

– Há exatamente quanto tempo a gente esta aqui? – Perguntou outro menino, chamado Drake.

Parecia perguntar para não ter de demonstrar compaixão pela menina. Sua expressão mostrava o nojo pela melosidade naquela história. Queria mudar de assunto e aproveitar para chamar a atenção de todos para si. Os cabelos, castanhos como os olhos, eram curtos e arrepiados. Seu nariz era muito fino e arrebitado. Não parava de admirar seu reflexo nas paredes do laboratório, como se o mais estranho de tudo aquilo fosse que ele não se lembrava de como era bonito.

– Eu não sei exatamente. De acordo com aquelas fotos, eu diria dois ou três anos, mas não da para ter certeza. Quando entrei aqui comecei a ler estes arquivos digitais – Disse Nancy apontando para uma imagem 3D ao seu lado – Principalmente para descobrir como tirar vocês dessas coisas, como nos tirar daqui, ou qualquer coisa sobre nosso passado, mas eles não falam nada da gente. Não fala de onde viemos, quem somos, quantos anos temos e nem nossos sobrenomes. Talvez nós não viemos para cá voluntariamente, por isso esconderam tudo sobre nós. A única coisa que consegui descobrir foi o que fizeram conosco e quando vi, bem, eu tenho certeza absoluta que não nos voluntariamos para isso.

– E o que foi? O que fizeram a nós? – Perguntou Lucy, histérica.

Nancy abria a boca para responder quando ouviram um barulho. Todos silenciaram. Mais um barulho. Vinha de um dos cantos da sala. Mais um barulho e uma porta quase escondida começou a ceder.

– Ah meu Deus, eles nos encontraram! – Exclamou Nancy.

Todos se exaltaram. Lucy gritava. Ninguém sabia o que fazer. Os sanguessugas provavelmente conseguiram entrar no prédio quando Nancy desligou o sistema de segurança, apesar de esse não ter sido seu objetivo, é óbvio. Estavam todos parados nos mesmos lugares, gritando uns para as caras dos outros, assustando-se com os próprios gritos. Seria uma cena engraçada, se não antecipasse a provável morte deles. Pandora assoviou para chamar a atenção de todos e Nancy, tentando ficar calma, começou a falar:

– Tudo bem, eu já sei o que fazer, venham por aqui.

Ela se dirigiu a um dos cantos da sala. Felizmente, Nancy havia estudado varias plantas daquele lugar e agora, apesar de não saber exatamente onde eles estavam, ela sabia como sair dali. Todos a seguiram, assustados. Os barulhos começaram a aumentar e a porta começou a tremer. Deveriam ser vários, aquela porta era de aço. Nancy arrastou uma estante, se abaixou e abriu uma pequena portinha, um tubo de ventilação.

– Por aqui, rápido. Eu já sei onde isso vai dar, tentem fazer silencio. Vão, vão!

Todos se abaixaram e, um por um, se arrastaram para dentro do tubo. A última foi Nancy, que entrou e fechou a pequena porta. Três segundos depois ouviram o maior barulho de todos, como uma explosão. Os sanguessugas tinham conseguido entrar no laboratório e agora estavam atrás de sua refeição, que havia acabado de fugir por um tubo de ventilação.



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Notas finais do capítulo

O terceiro capítulo irá demorar um pouco mais pra sair. Espero que tenham gostado!



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