A aula pareceu se arrastar por horas. Eu lançava olhares nervosos à Gina a cada minuto. Céus, aquilo era uma tortura!

Depois do que me pareceram horas, a professora finalmente nos dispensou. Corri até a carteira de Harry.

–Harry, vamos? Dumbledore quer falar conosco... – Expliquei.

Ele me fitou por um segundo, então sua expressão ficou vazia. Eu sabia o que ele estava pensando. Ele teria, finalmente, que abandonar seus pais.

–Agora? – perguntou.

Sacudi a cabeça afirmativa. Gina logo apareceu ao meu lado, e segurou a mão de Harry. Eu nem imaginava como ele estava se sentindo agora.

Nos levantamos e saímos da sala.

Ao chegar à porta, vimos que Prof. McGonnagall nos esperava no corredor.

–Harry, vai ficar tudo bem, você vai ver. – Ouvi Gina sussurrar ao meu lado.

McGonnagall assentiu com a cabeça, e começou a andar rapidamente pelos corredores. Nós a seguimos.

Chegamos às estátuas que defendiam a sala do diretor. A professora murmurou algo como “sapos de chocolate” e logo a escada começou a subir, em direção à entrada.

–Bem, estão esperando o quê? – Perguntou. Eu achei que por algum motivo ela subiria conosco.

Coloquei meus pés nos degraus de pedra, Gina e Harry logo atrás de mim. A escada subiu rapidamente, e logo estávamos na porta.

O que nos esperava ali eu não sabia.

***

Nós três ficamos parados enfrente à porta de madeira esculpida.

–Então... Bata na porta, Hermione. – Gina me empurrou pra frente, medrosa. Merlin, era só Dumbledore!

Apesar de pensar assim, encostei minha mão timidamente na porta, batendo três vezes. Comecei a morder o lábio, coisa que eu fazia quando começava a ficar nervosa.

–Entre. – Uma voz calma ecoou dentro da sala. Bem, pelo menos a voz não parecia irritada. Mas eu sabia que Dumbledore podia expressar calma até em momentos de desespero.

Empurrei lentamente a porta, olhando em volta enquanto entrava. Dumbledore estava sentado atrás da sua escrivaninha, sua atenção presa em muitos pergaminhos em sua mesa. Estava usando seus óclinhos meia-lua, e como sempre, seu longo cabelo não estava branco, como era em nossa época.

– Hum... Prof. Dumbledore? – Chamei.

–Ah sim. – Ele olhou pra mim, novamente calmo. Mas o que me alertou, foi que não havia o clássico sorriso simpático em seu rosto. Estávamos ferrados. – Sentem-se, por favor.

Gina novamente me empurrou brutamente, me fazendo entrar na sala, e veio logo atrás de mim. Harry parecia o único que não estava perturbado, com a sua expressão vazia.

Caminhamos lentamente até as cadeiras, e nos sentamos. Dumbledore colocou suas mãos em cima da mesa, e nos olhou por um bom tempo, me deixando envergonhada. Teria sido melhor se ele berrasse conosco.

–Hã... Senhor? – Gina falou pela primeira vez. – A professora McGonnagall disse que queria nos ver.

Dumbledore olhou pra ela, fazendo-a se encolher.

–Sim. Creio que temos muito o que conversar.

***

–Desobedeceram completamente as minhas ordens! – Dumbledore andava de um lado para outro na sala, atrás de nós, ainda sentados nas cadeiras. Gina estava branca que nem papel, e eu imaginei que eu não estava muito diferente. –Srta. Granger, sabe a desgraça que você causou?

Ele falava calmamente, mas claramente estava furioso. Pensei numa resposta que não me comprometesse, pois ele esperava uma.

–Senhor, eu sinto muito...

–E Srta. Weasley, sabe que você poderia ter alterado completamente o rumo de toda a história? – Perguntou, ignorando minha resposta.

– Sim senhor. – Ela respondeu, apenas, poupando as palavras, pois parecia que ia vomitar.

O único que estava tranquilo agora, era Harry. Ele não havia se comprometido especialmente com nada, então não precisava se preocupar. Eu e a Gina éramos as vilãs da história.

Dumbledore continuou falando e falando. Pelo visto aquela bronca iria durar horas. E eu sabia que merecíamos.

Dumbledore parou de andar atrás de nós. Respirou fundo, e depois falou, novamente em seu tom calmo.

–Eu sinceramente espero que vocês tenham terminado sua “investigação” é hora de vocês irem embora.

Pronto. As palavras estavam ditas.

Ele falara “investigação” sarcasticamente, como se tivesse sido enganado. O que não era mentira. Se investigação significava se apaixonar pelo padrinho do meu melhor amigo... 

Me senti a pior pessoa do mundo com aquilo. Seria possível eu decepcionar ainda mais pessoas? Com a sorte que eu tinha...

– Terminamos sim, senhor. – Gina falou, timidamente.

Dumbledore voltou a se sentar na escrivaninha. Colocou os dedos nas têmporas e fechou os olhos por um segundo.

–Certamente vocês vão ter que concertar o que fizeram. – Falou.

–Senhor? – Harry perguntou, sua voz rouca por ser a primeira vez que estava falando algo.

–Não podem ir embora e deixar as coisas assim. Isso seria desastroso, vocês sabem. – Dumbledore explicou, gentilmente para Harry. Perguntei-me se ele sabia que Harry estava lá para conhecer melhor os pais, e Dumbledore sentia pena, já que Harry era a única pessoa que estava recebendo gentileza.

–Certamente que não. – Harry respondeu, a expressão vazia novamente.

– Muito bem. Vocês terão uma semana. – Dumbledore respondeu, e indicou a porta, o que indicava que teríamos que sair, sem nenhuma resposta para as milhares de perguntas que se formaram em minha cabeça. 

Me segurei para não correr dali.