Dreamland: Onde Os Segredos Se Escondem escrita por alexiawhittier


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/293002/chapter/3

Sete horas e trinta minutos. Terça feira, três de maio de 2032. O tempo hoje está nublado, com 40% de possibilidade de chuva.

Enquanto as cortinas se abriam automaticamente, revelando o dia acinzentado, virei-me na cama e apertei o botão para desligar o despertador. Devia estar animada com aquele dia, mas os compromissos não eram nada promissores, por dizer. Nesses momentos eu era como uma adolescente que se entedia com qualquer coisa. Mas tinha um pouco de razão – afinal, qual é a graça de discutir o histórico médico de um paciente quando todos sabemos que o que importa mesmo é sedá-lo e mapear a sua mente?

Enquanto lavava o rosto no banheiro, aquietava os pensamentos do meu cérebro. Temos que passar por todas as etapas. Relembrava a mim mesma que a empresa já existia havia quarenta anos. Agora não era o momento de ter pressa. Além disso, era na verdade muito importante que eu soubesse o histórico de trauma de Adam Humpfrey, para melhor assistir no seu tratamento. Afinal, mesmo não sendo uma médica "convencional", eu passaria a ser uma das especialistas a tratá-lo.

O sol continuava escondido quando adentrei o prédio da Dreamland. Pressionei a digital na tela, e a minha entrada foi permitida. Andei até o elevador, e logo antes dele fechar, vi uma das mãos de George (um dos membros da diretoria) prontamente impedindo que o elevador me deixasse. Durante o curto percurso até o sexto andar, George comentava animado sobre a viagem de sua filha mais velha para a França, já que nenhum de nós dois tínhamos o que dizer sobre a reunião do dia.

– Bom dia – sorri prontamente para os que já estavam na sala. George se sentou do outro lado da mesa, ao lado de Harry, que já aguardava com outros dois. O restante dos funcionários de nossa empresa não demorou a chegar, assim como o diretor do hospital East Meadow, que se juntou aos dois médicos responsáveis pelo caso. Aguardei até que todos se acomodassem e estivem prontos. – Bom, primeiramente devemos saber o histórico completo do Sr. Humpfrey. Detalhes do acidente, da cirurgia, e da recuperação. Depois traçaremos um plano de tratamento.

O doutor residente, que acompanhava o caso e atendeu Adam quando ele chegou na Emergência, assentiu e ajeitou-se na cadeira, pigarreando antes de abrir a ficha com as informações.

– Adam Humpfrey tem vinte e nove anos. No dia 15 de fevereiro desse ano, às nove da noite de um sábado, estava dirigindo um carro no qual estavam sua mãe e irmã. De repente, sem mais nem menos, ele parece ter perdido o controle. A última coisa de que ele se lembra é o volante escapando de sua mão. Sua irmã morreu na hora e a mãe a caminho do hospital.

Após alguns segundos de silêncio, exceto pelo lápis ligeiro de Harry contra o papel, Lucas Vahler, o neurocirurgião de Adam, tomou a palavra.

– Ele chegou ao hospital já inconsciente. Fizemos uma cirurgia de emergência para estancar o sangramento no cérebro, que estava altamente danificado. Adam passou três semanas em coma, e ao acordar não se lembrava de nada. Durante as primeiras horas, sofreu de memória retrógrada. Nós contávamos a ele o que havia ocorrido, mas após alguns minutos, ele se esquecia de novo. Depois disso, assimilou a informação de que havia batido o carro contra uma árvore e de que sua família havia morrido. Mas, até hoje, ele não se lembra do que aconteceu

– As investigações dizem que não havia nenhum problema com os freios do carro. Também não havia nenhum outro veículo ou pessoa passando, de que se sabe. Não detectamos a ocorrência de convulsão no paciente, também. Adam é a única pessoa que pode nos dizer o que realmente aconteceu.

– Mas a verdade está trancada em seu subconsciente – intervi. Para mim, aquela história era tanto fascinante quanto trágica. Era um desafio, uma possibilidade, uma oportunidade de ajudar alguém. E honrar meus avós. E fazer o que amo.

– Exatamente – concordou Lucas, observando o meu olhar admirado, que se esvaía pela sala. – O trauma não permite que ele se lembre, mas as memórias estão lá, em algum lugar.

– E como está sendo o processo de recuperação? – Harry indagou.

– Ele ainda está no hospital, realizando periódicos exames para confirmar que o sangramento no cérebro parou. Além disso, está passando por um rígido tratamento físico, pois quebrou as duas pernas no acidente.

– E o tratamento psicológico? – perguntei.

– Bem... – Lucas pigarreou. – Esse vem sendo o nosso maior problema. Ele está recusando ajuda do psicólogo. Mas estamos quase convencendo-o de que o mapeamento é uma boa ideia.

– O que acha Samantha? – Harry virou-se para mim. Nunca me chamava de Sam durante reuniões ou situações mais formais. Era engraçado. Não me importaria se ele usasse o meu apelido sempre, mas apreciava o respeito que ele mostrava por mim. – Devemos estabelecer sessões periódicas ou decidir ao longo do tratamento?

– Acho que precisamos ver, após a primeira sessão, qual será o ritmo de tratamento. É uma coisa que depende muito de cada paciente. Vamos marcar uma sessão o quanto antes, e a partir dela decidir quando Adam deve voltar.

– Ótima ideia – concordou o diretor do hospital. – Que tal na sexta-feira? Até lá Adam provavelmente já estará usando muletas, o que ajudará na locomoção até aqui.

– Sexta-feira está ótimo – concordei junto dos outros diretores da empresa. – O horário que for melhor para o paciente. Só peço que avisem antes.

– Não queremos deixá-lo sem a fisioterapia na sexta, então devemos vir por volta das três da tarde – informou o residente.

Tinha até me esquecido que naquela noite iria me encontrar com umas amigas. Eliza Brightson, uma colega minha da universidade, estava comemorando seu recente noivado. Acomodei-me em meu escritório para me arrumar e ir direto de lá para o bar.

– Sam? – Harry bateu à porta e entrou. – Você deixou o celular na sala de reunião.

– Ah, obrigada – agradeci sem tirar os olhos do espelho, finalizando a maquiagem.

– Vai sair hoje?

– Sim – sorri e peguei minha bolsa, guardando o aparelho que Harry deixou sobre a mesa. – Comemorar o noivado de uma amiga da faculdade.

– O noivo também é cientista?

– Sim... Como sabe? – olhei desconfiada.

– Cientistas nunca casam com pessoas de outra área! Até porque como iriam conhecê-las?

– Você casou! – Ri.

– Querida, conheci Larissa no único dia de minha vida em que faltei à aula – Harry riu e o acompanhei.

– Está explicado então – sorri, acompanhando Harry para fora da sala.

– Se divirta! – Harry sorriu e passou a andar para o outro lado.

O bar era quase do outro lado da cidade, mas não me importei. Já fazia um bom tempo que eu não saía para algum lugar que não fosse a Dreamland, e estava ansiosa para reencontrar as amigas, muitas das quais não via havia um bom tempo.

O local era consideravelmente grande, mas logo que me identifiquei, o garçom me conduziu a uma sala reservada, onde estavam Liz e as convidadas.

– Me disseram que é aqui a festa que vai provar que cientistas e médicas também têm vida – brinquei, ainda passando pela porta.

– Sam, você veio! – Liz me abraçou.

– É claro que vim! Não perderia este momento por nada – sorri enquanto o garçom me alcançava uma taça de champanhe.

– Eu sei, eu sei, mas do jeito que você anda ocupada ultimamente... Bom, fico muito feliz que tenha vindo! Como anda a Dreamland?

– Tudo ótimo! Mas hoje é sobre você, então me conte tudo sobre vestidos, decorações, docinhos... – Fiz Liz rir.

Foi uma noite rápida, mas muito agradável. Bebi pouco, como sempre, e voltei à faculdade com as amigas, cada uma compartilhando suas melhores e mais engraçadas memórias. Era reconfortante passar um tempo de qualidade em que eu não tinha de me preocupar com estatísticas, reuniões, contratos, problemas técnicos e tudo mais. Não que eu não amasse a rotina na empresa, eu até me empolgava com os desafios de cada dia – dizia Harry que meus olhos até brilhavam de animação diante de um novo problema a ser solucionado –, mas mudá-la também era uma sensação interessante. Eu gostava tanto do conforto da rotina como dos escapes dela. Estava ansiosa pelas mudanças que estavam por vir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Povinho lindo do twitter: se vocês ainda estão lendo Dreamland, por favor me avisem, porque eu ainda tô com a lista antiga de leitores e não sei quem continua por aqui :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dreamland: Onde Os Segredos Se Escondem" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.