O Que É Amar? escrita por Hikari


Capítulo 4
Um acordo honesto.


Notas iniciais do capítulo

Ooi gente! Eu voltei! Desculpem-me pela demora... eu havia prometido que postaria há, mais ou menos, um mês e vinte dias atrás, mas tinha perdido a inspiração. ):
Porém agora vou me empenhar aqui com vocês! Espero que me perdoem... eu tô me sentindo tão culpada. Obrigada a todos que estão acompanhando, vocês são os melhores. Espero que vocês gostem da continuação, esse está um pouco maior para vocês matarem a saudade (vocês sentiram falta de mim, não é? Hahahaha). (:
Aliás, Feliz Ano Novo atrasado!



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Annabeth é a primeira a acordar, como sempre.

Ela se espreguiça e se lembra do sonho estranho que havia tido, algo que tinha a ver com sete dias, e comida.

A loira boceja enquanto balança a cabeça pensando o quão bobo aquilo havia sido, e olha para sua cama imaginando se a pequena menininha loira de olhos verdes também seria fruto de sua imaginação.

Porém, não era. O que ela refletia se se sentia aliviada ou mais confusa do que atualmente, em seu estado, já estava.

A garotinha que havia conhecido no dia anterior, e na qual já estava apaixonada pelo seu jeito delicado de ser, estava dormindo, com a boca aberta e o corpinho esparramado pela cama. Sua mãozinha havia parado na barriga que subia e descia compassadamente, tinha levantado a camiseta larga que usava inconscientemente deixando a barriguinha a mostra. O travesseiro debaixo de sua frágil cabecinha com traços suaves estava molhado, sujeito a baba da criança que dormia sossegada.

Annie abre um minúsculo sorriso, daquele jeito parecia muito com certa pessoa cujo não parava de lhe vier à mente.

Finalmente, vira a cabeça e olha para o relógio: oito horas.

Oito horas... Ainda estava zonza pelo sono, mas alguma coisa batucava sua mente incessantemente, como se fosse para alerta-la de algo.

Ela esfrega os olhos, estrala suas costas tensas e boceja, ainda cansada. Era como se não tivesse dormido nada.

São apenas sonhos, Annie. –tenta se acalmar. Ela lembrava-se do aviso de que recebera da mãe, Atena, alguns dias atrás, e que não parava de rodar em seus pensamentos, atormentando seu modo de pensar e os seus sonos que todo dia almejava ganhar ou, pelo menos, uma noite calma. Porém de que adiantava? Aquilo era o mesmo que pedir que Ártemis se casasse. Além da provável flechada que receberia, nunca iria ser concedido seu desejo.

De repente arregala os olhos e pula sobressaltada da cama.

Enxotando os pensamentos da cabeça, lembra-se. Oito horas! Havia programado para o relógio tocar as seis em ponto. Por que raios ele não havia despertado aquele horário? Agora elas estavam atrasadas.

O que elas estavam esperando?! Por que continuavam deitadas? Como seu despertador não a acordara? Ela sempre conseguia se levantar assim que o ruído começava.

Annabeth começou a correr pelo quarto, desesperada, acabou tropeçando no cobertor que ficara enroscado no seu pé, as meias que usava não ajudara muito já como só serviram a ela deslizar pelo chão escorregadio e cair de traseiro no chão, causando um baque abafado.

–-----------“--------------------------“--------------------------“-----------------“

Silena fechou a boca aberta e abriu-a lentamente novamente, fez o movimento diversas vezes até achar-se satisfeita o bastante para acordar de vez. Ela piscou os olhos sonolentos e relembrou da noite passada, o que não foi a melhor das ideias que já tivera.

Apolo... Como pudera interromper uma conversa daquelas? Tão importante?

Ainda teria uma conversa com ele... Ah, se teria. Suas perguntas ainda não tinham acabado! Não haviam ao menos começado, para ser sincera consigo mesma. Sentia em seu coração o peso da confusão cada vez mais crescente.

O que tinha que fazer nesses sete dias? O que ele esperava dela?

Várias questões sem soluções vieram à tona em sua cabeça, o que só piorou sua situação. Acabou por respirar fundo e dispersa-las para longe. Não era hora para causar estardalhaço em sua cabeça. Ainda mais quando nesse momento poderia estar aproveitando uma manhã maravilhosa com sua mãe.

Estava totalmente desperta a esse tempo, massageou a barriga por um instante até se dar conta de que havia feito aquilo de novo: havia posto a mão na barriga daquele jeito que seu pai sempre a corrigira, arrumando-a enquanto dormia.

Rapidamente abaixou a camiseta, pensando no que o pai faria se estivesse ali.

Limpou a boca com o dorso da mão. “Babei de novo” pensou desanimada. Maldito legado do pai. Por que não conseguia fechar a boca nem quando dormia? Suspirou e sentou-se ereta.

–Di Immortales. –murmurou baixinho quando viu sua mãe caída no chão, praguejando de alto em bom som para que toda criatura viva (ou não) que estivesse ali se refugiasse da sua fúria matinal.

Annabeth tentava amenizar a dor no traseiro, o que a incomodava muito. Ela torceu a boca, tentando se levantar novamente depois da raiva ter passado. Foi quando viu a garota sentada na cama olhando-a de sobrancelhas erguidas.

–O que aconteceu? –perguntou com a voz melodiosa de criança, seus cabelos estavam de pé, desarrumados e parecendo que tinham esfregado um balão estático em sua cabeça.

Annie riu pela feição pasma da garota e esqueceu-se do tombo que havia levado tão rápido quanto pensaria que fosse possível.

–Por que você está rindo de mim? –pergunta novamente genuinamente, sem reparar em seu cabelo.

–Desculpa, anjo, eu só... –Annie que tentava se levantar, escorrega pelo pé que estava com a meia e cai no chão pela segunda vez, arrancando um gemido e uma reclamação de sua parte. Imaginava seriamente se aquilo era obra de Hera, o que a fazia pensar se não tinha nenhum inoportuno presente das sagradas vacas da deusa.

Dessa vez é Silena que está rindo. Annie fecha a cara, aborrecida, e se levanta violentamente retirando o pé de dentro do cobertor enrolado em sua volta, tira as meias e fica descalça no chão frio.

–Ei, isso não é motivo de risos! –a loira queixou-se, com a voz abaixando-se e fazendo um muxoxo bravo.

–Ah, é sim! –Silena volta a rir, enxugando uma lágrima que havia se formado no canto dos seus olhos. Annabeth balança a cabeça e vai até a sua frente, despenteando os cabelos bagunçados da menina.

–Está bem, ok. É engraçado, você está certa. –falou com um tom de derrota enquanto a menina arrumava os cabelos pela primeira vez, ainda rindo, porém reduzindo o som até não chegar a pequenas risadas baixinhas. -Agora vá trocar-se para que possamos ir nos encontrarmos com Percy. Combinei que iríamos nos ver daqui uma hora, ontem à noite.

Silena saiu da cama com cuidado, descendo delicadamente até que seus pés tocassem o chão e ela conseguisse pular para perto da porta do banheiro. Ela arrumou a camiseta que a mãe emprestara e disse firmemente em posição de sentido dos militares:

–Sim, senhora. –marchou para dentro do aposento e fechou a porta. Annabeth deu um sorriso de lado e iniciou sua busca pelo guarda-roupa para encontrar uma camiseta e uma calça para usar.

Então escutou um rangido da porta sendo entreaberta, inclinando a cabeça com curiosidade para fora do armário a loira olhou para a garotinha que havia enfiado sua cabecinha para fora da porta.

–Ér... –começou nervosa. –Você poderia me passar a minha roupa?

Annie soltou uma sonora gargalhada que fez a garotinha enrubescer. Afastou-se do cômodo e foi até o assento onde havia depositado a roupa de Silena. Pegou-a espanando o pó inexistente, andou a passos curtos e lentos para demorar mais a viagem até o banheiro. Ela notou a pequena ficando impaciente, mexendo-se sem parar e inflando as bochechas com um ar esquentado.

–Calma, anjinho. –Annie disse, sorrindo travessamente enquanto estendia a roupa para a menina que a olhou com a testa franzida e fazendo bico. Esticou o bracinho esquerdo e agarrou a roupa rapidamente antes de fechar a porta e a trancar.

Por mais espantoso que seja; ela não estava mais apressada. Podia ser que Percy chegaria às nove horas, ela não estava pronta e – normalmente – sempre estava na frente de casa antes mesmo do rapaz chegar e, naquele dia, certamente não iria estar, o que iria a tirar da “rotina”. Tirando o fato de seu pai, sua madrasta e os seus dois meios-irmãos chegarem dali alguns minutos. Pretendia ter saído com Silena um horário desses... e agora pensava na desculpa que arranjaria ao pai para explicar a garotinha em casa.

Porém, tirou todos os pensamentos da cabeça ao mesmo tempo em que catava a roupa que usaria no dia e se despia. Não iria se preocupar muito com isso, não naquele momento. Aquele dia era uma exceção e depois de todo o tombo que dera, parecia que a misteriosa garota estava causando uma mansidão na vida dela no qual ela nunca poderia pensar um dia ficar. Assim que se lembrou do seu riso de quando ela havia caído, seu nervosismo dissipou-se como a névoa ao amanhecer.

Isso a surpreendeu tanto que ficou parada pensando no que acabara de passar por sua cabeça.

Quem ela era para causar a Annabeth tanta satisfação? Tanta felicidade e calma? Que sentimento era aquele de nostalgia quando olhava para ela?

Depois de ter se arrumado, prendido o cabelo em um rabo de cavalo e arrumado as camas, foi até a janela do quarto e ficou encarando a rua temendo de o pai estar chegando. Refletia em sua conversa que teria a provavelmente alguns minutos a seguir.

“-Oi, pai! Eu encontrei essa garotinha no parque quando saí com o Percy ontem e eu decidi que iria abriga-la até encontrarmos os seus pais hoje.”

Respirou fundo, esperava que Silena conseguisse convencê-los de deixa-la ficar, e que não faria nenhum mal. Annabeth tinha certeza que ela não machucaria nem uma mosca, então por que não a deixar ali até encontrar sua casa onde alguém claramente a estaria esperando?

O que viera mais um problema, aquele antigo problema em que ela se argumentara e remoera o tempo todo. Quem eles eram? Por que deixariam uma garotinha como ela sozinha na sua viajem? Provavelmente deixaram alguém para cuidar dela, sendo assim como ela havia saído de casa sem que ninguém percebesse?

A loira escuta a porta do banheiro ser aberta e vira a cabeça para fitar a menina que estava com um sorriso esboçado no rosto, usava o mesmo vestido de quando a vira pela primeira vez e seus cabelos estavam presos como o dela em um rabo de cavalo, porém não estava arrumado. Os cabelos loiros e longos estavam com vários fios soltos caindo do penteado no qual ela tentara fazer.

Silena estava abraçando os braços, frustrada. Tinha tentado ajeitar os cabelos mais de três vezes, mas nunca conseguira arrumar o penteado tão bem. Parecia que não tinha coordenação o suficiente para fazê-lo, sendo que ela tinha que se levantar na ponta dos pés para poder olhar apenas o topo da cabecinha, quem dera o rosto inteiro. O que complicava mais a situação... Como ela poderia enxergar e ver os seus movimentos?

Os braços estavam doloridos e formigando por tê-los levantado tantas vezes em um só momento. Tentava aliviar a dor ao esfrega-los, mas não melhorava muito seu estado. Estava achando-se a pessoa mais imprestável no mundo ao não conseguir domar os fios rebeldes. Como seu pai poderia fazer um penteado tão simples quanto aquele enquanto ela apenas ficava enraivecida ao tentar imita-lo?

Decidiu deixar-se por vencida. Afinal, não queria atrasar a mãe em seus compromissos. O despertador havia tocado mais cedo, mas a pequena ficara tão mal-humorada por tê-la feito ser acordada tão rápido, sendo que ainda estava com tanto sono, que o desligou com uma pancada, acabando desmoronando na cama novamente.

Sentia-se culpada agora. Será que fizera algo mal? Seu pai não gostava quando ela fazia trancinhas no Pégaso dele, Blackjack (mesmo que ela lhe desse uma boa explicação para esclarecer a ele seus atos, no entanto era como se ela tentasse falar com o Tio Nico quando o mesmo conversava com Thalia)... quer dizer que Annabeth não gostava de quando era desregulada no tempo? Havia notado sua inquietação enquanto olhava para o relógio pela décima vez.

Annie aproximou-se da garota que tentava colocar a franja para trás das orelhas, ajeitando os cabelos com os dedos e corando.

–Oh, querida. Quer que eu arrume isso para você? –a mãe lhe pergunta com um sorriso afável e gentil no rosto. Silena assente hesitante, e Annabeth sorri, pegando-a no colo e colocando-a na cama.

–Bem, princesinha, vamos ter que tirar esse lacinho daqui. –fala enquanto tira o nó que a criança fizera no laço para amarrar os cabelos. Penteia-os delicadamente com a ponta dos dedos, tentando não machuca-la. Vendo a menina muito quieta, decide tentar puxar assunto: – Está animada para reencontrar seu lar hoje?

Silena empalidece ao escutar a pergunta, fica totalmente petrificada e esquece como se respira.

Era isso, havia se lembrado. Eles tinham combinado de “encontrar” seus “pais verdadeiros” e onde “morava realmente” naquela manhã. O que ela faria para impedi-los? Sem transparecer o seu desespero, é claro. O que para ela parecia algo impossível.

–É... Muito... Aham... –diz engolindo em seco, de esguelha percebe a mãe franzindo a testa ao mesmo tempo em que arruma o rabo de cavalo no topo de sua cabeça e, cuidadosamente, prende o lacinho com uma mão, arrumando-o com habilidade.

–O que foi? Não está com vontade de revê-los? –Annabeth a vira para que possam se encarar, a pequena abaixa a cabeça com o intuito de escapar do olhar cinzento e autoritário da mãe. Sabia que não poderia mentir se a fitasse. Era exatamente o mesmo caso com o pai.

–Eu... –a frase morre em seus lábios. Ela o quê? A garota não sabe como completar, já estava com eles e tudo estava bem. Mas como explicar para a mãe? Não podia.

Annabeth abre a boca para retrucar quando escuta a porta da frente ser aberta e, logo em seguida, os vários gritinhos entusiasmados. Seu pai chegara e não estava sozinho, obviamente.

–Annie! Está por aí, filha? –a voz masculina de Frederick Chase ecoou pela casa.

–Sim, pai! –gritou de volta Annie, que notou um brilho nos olhos da pequena princesa a qual se levantou de um súbito como se tivesse ouvido o carrinho de sorvete passar pela rua.

–Vô Fred? –perguntou animada, dando pulinhos de entusiasmo. Annabeth franziu o cenho. Fred seria um apelido para Frederick? Era o que parecia. Mas como raios essa garotinha sabia o nome do seu pai se ela não havia nem lhe contado? E por que o... “vô”?

Silena se reconstituiu ao perceber o olhar da mãe que a encarava com curiosidade e surpresa. Podia praticamente ver as várias especulações que se formavam em sua cabeça refletidos apenas no olhar que a enviava.

Ela fechou os olhos com força, mordeu o lábio inferior e pensou freneticamente: por favor, deuses, não me matem! Eu cometi um engano, não me matem, não me matem, não me matem! Não vou repetir. Vou tomar mais cuidado.

Assim abriu os olhos novamente e sua mãe estava ajoelhada a sua frente, encarando-a com o olhar polvilhado de ideias que brotavam rapidamente da sua mente astuta, ela segurou as suas mãozinhas entre as dela e perguntou pausadamente:

–Como você o chamou, Silena? –Ela tinha lido o nome dele em algum lugar? Havia apenas mencionado um nome qualquer? Pensado alto? Sonhado acordada? Annabeth não encontrava as respostas.

A porta do seu quarto abriu-se bruscamente, assustando as duas.

–Annie!! –Matthew Chase berrou, escancarando a porta e correndo para a irmã. Ou pelo menos a que ele achou que era. –Nós voltamos!

Silena pareceu atordoada por um momento. O garoto havia caído em cima dela fazendo-os cair nos chão com estrondo.

–Annie, você ficou menor. –o menino resmunga, desagarrando de Silena e a olhando mais atentamente. –E seus olhos parecem do Percy! Eu me lembro de quando ele me visitou e seus olhos eram desse jeitinho.

O menino começou a esticar a bochecha de Silena para ver se havia mais alguma alteração até que percebeu a verdadeira Annie o encarando boquiaberta. Engrenagens funcionavam a todo vapor em sua cabeça.

–Annie! –o menino grita novamente pulando em cima da irmã. –Bem que tinha algo diferente.

Outro menino apareceu na porta, Bobby Chase fez a mesma coisa que o seu gêmeo e acabou pulando em uma Silena cambaleante que tentava sentar-se novamente.

–Annie!!! –estendeu a última vogal enquanto quase fazia a pequena se asfixiar pelo aperto em seu pescoço.

–Essa não é a Annie, Bob. –o irmão avisou, fazendo-o virar a cabeça para olha-lo. –Essa que é.

Bobby pareceu confuso. Ele intercalou sua visão para a meia-irmã e para a outra garota que parecia com sua meia-irmã.

–É uma intrusa... –sussurrou com um tom alarmado, colocando a mão na frente da boca.

Annie sorriu diante daquela cena, quando Bobby saia de perto de Silena que tentava se explicar.

–Opa, o que está acontecendo aqui? –o pai de Annabeth diz em tom risonho, olha para as duas crianças em cima de Annabeth e sorri; então seu olhar corre no quarto até chegar à pequena garotinha a sua frente, com os braços cruzados e a testa franzida, como se estivesse irritadiça por algo. Seu queixo caiu e ele continua encarando a garota, que percebe um olhar em suas costas e vira-se para o avô, levantando um sorriso doce no canto dos lábios, tentando se conter para não correr nos seus braços e dar um forte abraço nele. Tinha que se controlar, não estava em seu tempo.

–Annabeth... você poderia me dizer por que seu clone menor está parado a minha frente? Você tinha uma sósia de você mesma quando menor? Por que nunca me contara antes? Se bem que... –ele curva-se apoiando as mãos no joelho com uma expressão pensativa. –Não é que parece um pouco com aquele garoto que... –ele para, interrompendo-se. O que ele havia acabado de imaginar não era uma coisa provável, enxotou-as da cabeça e lentamente manda um olhar para Annie que capta o que ele queria dizer.

Ela respira fundo e chama Silena para mais perto de si, que vai até o seu lado de boa vontade agarrando sua mão com firmeza.

–Pai, essa é a Silena. Eu e Percy saímos ontem à tarde, fomos ao parque aqui perto e... nós encontramos ela lá. Parece que os pais haviam viajado e ela estava ali sozinha, já como estava muito tarde eu decidi traze-la para passar a noite aqui... Pensei que não iria se importar...

Frederick abriu um sorriso ao descobrir a verdade. Fez um gesto de indiferença com a mão e olhou a menina novamente.

–Oh, é claro que não me importo... –disse serenamente para não espantar a criança. Depois olhou de novo para a filha e perguntou relutante: - Você disse que ela estava sozinha e que os pais tinham viajado...?

Annie deu de ombros, evidentemente mostrando que ainda não havia entendido essa parte direito também. O pai suspirou e balançou a cabeça afirmativamente.

–Bom, meninos. Por que não vão com a sua mãe ajudar a tirar as malas do carro, huh? –perguntou docemente para os garotos que resmungaram uma coisa qualquer e saíram correndo para fora do quarto, apostando uma corrida para verem quem chegava primeiro para fora de casa.

O Sr. Chase parecia desajeitado enquanto se aproximava de sua filha e da visita inesperada.

–Olá... Silena. –disse mandando um olhar para a filha que o encorajou a continuar. –Sou Frederick Chase, pai dessa linda menina aqui ao meu lado. –Annie rolou os olhos, divertida. –É um prazer conhece-la.

Estendeu sua mão para a garota que a apertou com um largo sorriso no rosto. Ela sabia muito bem quem ele era. O seu avô gostava de convida-la para ir a sua casa constantemente, os seus tios brincavam com ela de vez em quando e conseguiam a fazer rir facilmente, mas o que ela mais gostava era de ficar com o seu avô ajudando-o a montar os aviões de que ele tanto amava. Todo vez que ela ia para lá ele encomendava peças diferentes para ser como um “novo desafio” para Silena.

Mas ela sabia que tudo isso ainda não havia acontecido. E como não queria estragar tudo, ela disse por educação:

–Sou Silena, Sr. Chase. Obrigada por ter me abrigado aqui hoje.

O pai de Annabeth arqueou as sobrancelhas, surpreso, e depois sorrira de modo descontraído.

–Não foi nada, querida.

A pequena corou timidamente e se escondeu mais atrás da sua mãe. Ela podia conhecê-lo bem, porém naquela época ela era uma completa estranha para o avô.

Annabeth passa as mãos pelos cabelos arrumados da garota, enviando-lhe um sorriso travesso.

–Ela está ali no quarto, querido. –escuta a madrasta dizer para alguém, então se lembra do combinado. Vira a cabeça para o relógio: nove e quinze. É... estava atrasada.

Os três escutam passos se aproximando até que o rosto animado de Percy aparece, fazendo com que Silena se acalme no mesmo momento. Não havia imaginada o quanto sentira falta do pai, apesar de ter se separado apenas por um tempo. Vendo-o ali era um alívio para ela que imediatamente largou as mãos de Annabeth e correu para Percy, abraçando-o com seus bracinhos fortes.

–Percy! –exclamou olhando para cima. –Você demorou. –ralou com ele, como se o estivesse repreendendo.

O moreno riu e pegou-a no colo, dando-lhe um beijo na bochecha, o que a fizera abraçar novamente seu pescoço. Quando tinha voltado para casa na noite passada sentira como se seu coração estivesse afundando, pesado como uma rocha. Havia pensado na princesinha misteriosa e em sua sabidinha a noite inteira. Silena tinha feito tantas perguntas aos dois, e comovera Percy em todos os aspectos.

–Ora, senhor Jackson, vejo que Silena sentiu sua falta. –Frederick solta uma gargalhada ao ver dois pares de olhos idênticos o observando, Percy fica um pouco enrubescido e sorri com o comentário.

–É sim... Bom dia, Sr. Chase. –cumprimentou-o.

–É Frederick, garoto. Quantas vezes tenho que dizer? Nada de formalidade, vamos lá. Você visita minha casa tantas vezes que já estou acostumado com a sua presença, Percy. –o pai de Annabeth ri com mais vigor ao notar sua filha e o namorado corarem intensamente.

Silena só fitava os dois, intrigada, e ao avô com uma onda de encanto. Sempre vira o pai chama-lo de “Fred” e por isso que havia o apelidado de Vô Fred, e não estava habituada a essas nomeações. Pelo menos seu avô estava mais relaxado ao contrário de Percy que parecia tenso. A atmosfera foi logo quebrada quando Percy perdeu a tensão nos músculos e sorriu de lado.

–Bem, então... Posso levar sua filha por um momento... Frederick?

O avô de Silena abriu um sorriso mostrando os dentes e balançou a cabeça em concedimento.

–Está melhorando, garoto. –deu leves tapinhas nas costas de Percy antes de continuar: -E claro, ela é toda sua.

Annabeth sorriu alegre e deu um beijo na bochecha do pai, agradecendo.

–Nos vemos mais tarde, querida. –ele despediu-se juntamente com Annie, que logo segurou a outra mão de Percy enquanto o mesmo mantinha um braço ocupado enquanto tinha a pequena no colo, que havia passado seus bracinhos pelo pescoço do pai para assegura-se que estava segura.

Enquanto seguiam para fora, Silena conseguiu escutar um dos gêmeos gritar:

–Ei, cadê o meu pedaço de bolo que eu guardei?

A garota balançou a cabeça, pensando em Apolo novamente. Pelo que via a família teria que ir fazer umas compras no supermercado para conseguir restaurar sua cozinha. Ela estalou a língua da mesma forma que uma mãe faria ao ver o filho fazer uma bagunça.

Mas isso é outra história.

Logo os três estavam no carro de Percy, Silena estava atrás quase estourando de felicidade ao ver que toda a família estava reunida em um “passeio”.

–Você sabe como é a sua casa, anjo? –Annie pergunta ternamente para a pequena que estava dispersa nos seus pensamentos e ainda não havia imaginado o que falaria para os dois a fim de se safar daquela emboscada que havia se metido. O raciocínio de Silena a havia deixado na mão assim como a abandonara na maior parte do tempo quando tinha uma prova oral do Quíron quando ele se encabulava em se fazer de professor da garota, mesmo que a mesma ainda não houvesse idade para frequentar as aulas que já havia sido imposta a ter com antecedência. Com seis anos já sabia a história inteira da Grécia, suas batalhas, a forma de vida, a mitologia (é claro) e por aí em diante.

–Hm... –murmurou hesitante, comprimindo os lábios e torcendo o nariz.

O moreno suspirou no volante.

–Você não sabe, princesinha? –indagou brandamente.

–Olha, saber eu sei... –decidiu se divertir um pouco com a confusão dos dois. –Na verdade tenho mais de uma casa.

Percy arregalou os olhos. Ela tinha mais de uma casa!? Isso queria dizer o quê?! Aquilo só piorava cada vez mais...

–Uma está bem longe daqui... E a outra nós já passamos. –acrescentou a garota, convicta.

–Já passamos? Por que não avisou antes? –Percy deu uma brecada no carro, provocando uma buzinada do carro de trás. –Desculpa! –gritou para fora.

–Espera, espera. –Silena acalmou-o, se ela tinha dito aquilo significaria para eles que ela sabia onde ficava a casa, sendo que ela não fazia a menor ideia onde ela poderia estar já como não a vira em lugar algum, muito menos onde era para ela estar.

E afinal, ela não queria ser separada deles. Então por que não enrolar a questão de sua “casa”? Talvez eles não se lembrassem mais no próximo dia...

–Eu não vou contar onde eu moro. –ela abriu um sorriso provocador, Annie vira-se para ela com uma expressão abstrata emoldurando o rosto preocupado.

–O que você está dizendo, Silena?

–Que eu não vou contar onde eu moro... –repetiu com a mesma determinação, mostrando que havia uma condição pairando no ar.

Percy irritou-se com as buzinas que eram direcionadas a ele e por isso estacionou em frente a um terreno aberto.

–Se...? –agitou as mãos para a pequena continuar ao girar a cabeça para olha-la.

A garota limpa a garganta e faz uma cara de séria. Tentando não rir.

–Faremos um acordo. –propõe humildemente, não esperando por respostas para ela continuar: - Se vocês ganharem, eu conto onde minha casa fica, mas caso eu ganhar... Vocês terão que fazer o que eu pedir.

Percy e Annabeth trocaram um olhar relutante, o moreno dá de ombros pensando “o que poderia ser pior do que tudo pelo que passamos?” e Annie sorriu, parecendo entender.

–Bom, manda a ver. –Percy aceita fazendo com que Silena sorria vitoriosa.

–O meu desafio é... que vocês batem a mão na cabeça e esfreguem a barriga enquanto dizem por três minutos inteiros rápido e sem travar isso: Não confunda ornitorrinco com otorrinolaringologista, ornitorrinco com ornitologista, ornitologista com otorrinolaringologista, porque ornitorrinco, é ornitorrinco, ornitologista, é ornitologista, e otorrinolaringologista é otorrinolaringologista.

Percy ficou um tempo a fitando evidentemente sem ter entendido nada. Seu cérebro parecia querer pular fora da cabeça por ter que ser utilizado tanto naquele momento, estava praticamente entrando em curto-circuito.

–Como é que é? –ele perguntou em um tom incrivelmente desconcertado.

Annie meneia a cabeça e se prepara. Não acreditava que tinha que passar por aquilo.

–Três minutos, é? –perguntou. A garota confirmou com a cabeça, animando-se com a iniciativa da mãe e ignorando o pai que continuava tentando entender a frase que ouvira.

–Pode começar?

–Pa... quer dizer, Percy, você pode marcar o tempo? –Silena confunde-se por um instante, conseguindo consertar sem causar problemas. Percy olha para o pulso na direção do relógio e respira fundo.

–Eu ainda não entendi...

–Começa a contar agora! –Silena ordena, interrompendo-o no mesmo instante em que Annie começava a fazer o que ela pedira.

Depois de dois minutos e cinquenta segundos ela enrola a língua e Silena grita: ‘VENCI!’ causando olhares assustados das pessoas que passavam pela calçada.

A loira estava sem fôlego e com a garganta seca. Percy parou o cronômetro e olhou-as segurando a risada.

–Isso foi divertido. –comentou fazendo Annabeth dar um soco em seu braço.

–Porque não foi você que teve que fazer isso, não é, cabeça de alga? –censurou-o.

Silena riu dos pais e parou imediatamente quando se lembrou de que tinha que pedir algo, já como vencera. E acordo era acordo, certo?

–Agora... vocês vão ter que fazer o que eu quiser! –exclamou, entusiasmada com a voz aumentando de volume pela empolgação.

Percy que massageava os braços que tinham sido alvo de pancada e mandou um sorriso de perdão para Annie que depois de ter balançado a cabeça com um resquício de riso passando pela sua feição, voltou-se para a garota que continuava com um sorriso enorme no rosto.

–E o que você quer, corujinha? –perguntou carinhosamente.

Silena pensou um pouco... Qual seria a programação de hoje...?

–Eu quero um sorvete! –pediu para os dois, Percy espantou-se.

–Nessa hora?

–Nunca é tarde para o sorvete. –Silena advertiu-o com uma certeza absurda.

O moreno inclinou-se e deu um beijo na testa da garota, logo em seguida fazendo o mesmo com sua sabidinha que o olhava ciumenta, fazendo-o gargalhar. Depois se virando para a rua, anunciou:

–Para a sorveteria vamos, então.

O caminho não era longe, mas com a pequena atrás fez com que parecesse ter parecido um longo trajeto pelo tanto que conversava. Ela fizera os pais rirem, pensarem e retrucarem sobre os assuntos que ela trazia a tona.

Assim que chegou, Annie murmurou consigo mesma com a voz já rouca, nunca havia sorrido tanto em uma só manhã, muito menos ter falado tanto, ou nunca se passara pela sua cabeça, também, que iria debater sobre arquitetura com uma garota de seis anos de idade.

–Até que uma água cairia bem.



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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! O próximo eu planejo um pouco de ação... vou tentar me dedicar mais nesta fanfic por ter a deixado parada por tanto tempo. Obrigada de novo a todos que estão acompanhando e por não terem me abandonado, amo vocês! Só vou fazer uma pequena observação: eu vou tentar postar pelo menos um capítulo por semana, já como tenho duas fics em andamento e às vezes fica meio corrido para escrever as duas ao mesmo tempo. Bom, é isso, vejo vocês nos comentários. Até o próximo! Pequeno spoiler: o título do capítulo (por enquanto) será Corujinha em perigo.
O que será que vai acontecer?



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