O Verdadeiro Poder escrita por FP And 2


Capítulo 8
Sentimentos Liberados


Notas iniciais do capítulo

Eu não ia postar esse cap hj, mas atendendo a pedidos e já que praticamente terminei o cap 11...
**
HyuugaTomoko, divirta-se!



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Naruto estava atordoado com o conteúdo daquela caixa, não sabia o que pensar. Achou que fosse algum tipo de piada de mau gosto.

— O que significa isso, baa-chan?

— Recebemos várias reclamações a seu respeito. Iniciou-se em Konoha, mas durante essa semana me foram passadas muitas outras, de todas as nações aliadas.

— Reclamações? — Naruto ficou confuso. O que havia feito para que reclamassem dele para a Hokage? E de que maneira o que havia naquela caixa tinha a ver com isso?

— É verdade, Naruto. Mesmo em Suna, antes da guerra, eu recebi várias reclamações sobre você e essa semana repassei-as à Hokage-sama. — Gaara, que parecia já conhecer o conteúdo da caixa, resolver intervir.

— Nani? Que tipo de reclamações? O que eu fiz, dattebayo?

— Eu não disse que reclamavam de você. Acredito que saiba que antes dessa guerra estávamos programando o próximo Exame Chuunin, que deve se realizar em Suna. — Tsunade não esperou que Naruto respondesse e continuou: — As reclamações eram contra as regras. De alguma maneira espalhou-se a notícia de que você ainda é um gennin, e isso desencadeou uma série de pedidos de jounnins responsáveis por outros times, solicitando que você fosse impedido de participar. Por esse motivo, essa semana reuni os conselheiros de Konoha e também todos os jounnins. Foi decidido por unanimidade que você merecia receber isso. Você é o primeiro gennin na história de Konoha a ser promovido diretamente a jounnin. Parabéns Naruto!

Quando ouviu as palavras de Tsunade, Naruto levantou lentamente o colete que estava dentro da caixa e acariciou com carinho o símbolo de seu clã. Por baixo estava o resto do uniforme. Os outros esperavam a reação que certamente viria com um sorriso em seus rostos. Ela não tardou a vir.

— SUGOI*! — Gritou enquanto contornava a mesa, ainda segurando o colete. Agarrou Tsunade e jogou-a no ar três vezes enquanto continuava a gritar. — ARIGATOU, ARIGATOU, ARIGATOU, TSUNADE BAA-CHAN!

— Yamete!* Naruto, me ponha no chão! — Quando Naruto a soltou finalmente, recebeu um soco na cabeça.

— ITAI! — Naruto massageava a cabeça, sob risadas de todos.

— Isso não é jeito de tratar a Hokage na frente dos outros Kages! Agora, desapareça!

— Yare yare*... — Por mais que reclamasse, Naruto não conseguia tirar o sorriso do rosto. Pegou a caixa com o restante da roupa. — Ja ne! — E saiu correndo do local sem nem esperar que Sasuke e Sakura o acompanhassem. Eles se entreolharam e também saíram da sala. Tsunade estava com um sorriso no rosto após a saída de Naruto.

— Ele é sempre assim? — O Tsuchikage perguntou, achando graça na reação de Naruto.

— Na verdade, ele voltou um pouco diferente dessa guerra. Está um pouco mais controlado em algumas situações, mas no fundo... Hai, é sempre assim. — Tsunade respondeu enquanto voltava a se sentar, ainda com um sorriso no rosto.

— Isso é bom. Sua alegria é contagiante. — A Mizukage comentou, também sorrindo.

— Essa é uma de suas maiores qualidades. — Gaara observou.

Durante essa conversa, Naruto corria por Konoha com um enorme sorriso no rosto. Queria colocar aquele colete e ver como ficaria, mas não tinha mais um apartamento onde pudesse se trocar. Parou por um momento pensando, depois saiu correndo novamente em direção ao alojamento onde acordara pela manhã.

Chegando lá, colocou o colete por cima de sua roupa habitual, mas não tinha um espelho onde pudesse verificar como estava. Sentou na cama e ficou pensando em como faria. Precisava se ver com aquele colete para ter certeza de que era verdade. Ficou pensando em bater em alguma das casas que já haviam sido reconstruídas e pedir para se olhar no espelho. Achou melhor não fazer isso, pensariam que tinha ficado maluco depois da guerra. Enquanto se debatia com essas questões, Sasuke e Sakura chegaram à tenda.

— Parabéns, Naruto, você merece! — Sakura exclamou.

— Quem diria, hein, dobe?

— E então como estou?

— Horrível. — Sasuke respondeu.

— NANI?

— Sasuke-kun tem razão. O colete ficou horrível com essa roupa. Está parecendo uma abóbora.

— Kuso! Porque esse colete tem que ser verde?

— Não seria mais fácil colocar logo o uniforme completo? — Sasuke tentou colocar um pouco de bom-senso em Naruto.

— Hum, não sei. Esse preto sem graça não é muito a minha cara. — Comentou, revirando o restante do uniforme nas mãos.

— Baka, Naruto! Dê um toque pessoal. Todos os shinobis fazem isso. — Sakura apontou.

Os olhos de Naruto brilharam. Já sabia o que fazer. Tirou o colete e deixou sobre a cama. Pegando o restante do uniforme, enfiou-o de qualquer jeito de volta na caixa e saiu com ela debaixo do braço.

— Arigatou, Sakura-chan! — Deu um beijo no rosto de Sakura e saiu correndo da tenda.

— O que ele vai fazer agora? — Ela perguntou cismada.

— Sendo o Naruto, tremo só de pensar. — Sasuke respondeu.

Mais uma vez correndo por Konoha, Naruto agora tinha um objetivo em mente. Não sabia onde procurar, mas precisava encontrar a única pessoa que, tinha certeza, não riria de suas ideias. Além disso, queria muito encontrá-la de novo. Onde ela estaria? Mal conseguia se situar na vila agora e já estava anoitecendo, então demorou um pouco a encontrar o lugar onde antes era o clã Hyuuga. Apesar das dificuldades, chegou lá e logo encontrou Neji, que saía de uma grande casa que parecia estar quase terminada.

— Yo, Neji! A Hinata está?

— Não está, Naruto. Ela saiu daqui há mais ou menos uma hora, mas não sei onde foi. O que quer com a Hinata-sama?

— Quero pedir um favor a ela. Vou procurá-la! — E saiu correndo antes que Neji perguntasse mais alguma coisa.

Andou por Konoha por quase meia hora e não a encontrou. Estava quase desistindo quando uma ideia trouxe um pequeno sorriso a seus lábios.

— Será...?

Encaminhou-se para a grande árvore de onde se via o Monte Hokage. A viu de longe, mas ela parecia tão absorta em pensamentos que não o notou. Estava sentada em uma das raízes da árvore, encostada no tronco enquanto remexia em uma mecha de cabelo e olhava para o céu. Naruto ficou apenas olhando durante um tempo. Ela era tão bonita, sempre achou isso, mas pensava que seu jeito era estranho. Quase deu uma risada. Estranho era ele nunca ter nem imaginado qual era o motivo. Decidiu surpreendê-la. Deu uma grande volta por trás da árvore, tomando cuidado para não fazer nenhum ruído, afinal ela uma kunoichi* excelente. Aproximou-se devagar e quando estava perto o suficiente, deu um salto e colocou a mão sobre seus olhos, torcendo para que ela não resolvesse fechar todos os seus tenketsus*.

— Naruto-kun. — Hinata murmurou, sem nem ao menos se mover. Naruto destampou seus olhos e percebeu que ela estava com seu doujutsu ativo.

— Shimatta*! Não tem graça fazer isso com quem tem o Byakugan! — Naruto estava inconformado e Hinata riu.

— Gomen ne.

Ele sorriu de volta e sentou-se a seu lado, colocando a caixa no chão.

— Como você está, Hinata?

— Bem, Naruto-kun. E parabéns pela promoção.

— Então você já sabia?

— Todos sabiam, mas era surpresa, por isso ninguém disse nada.

— Por que tenho a impressão que sou sempre o último a saber das coisas? — Naruto fez bico.

Esse comentário parecia ter ativado alguma lembrança embaraçosa, pois Hinata corou de repente e olhou para o outro lado. Ele não se achava muito brilhante, mas percebeu porque Hinata ficou daquele jeito.

— Eu também fui o último a saber, não é? — Com a mesma velocidade que soltou, teve vontade engolir a pergunta novamente, ao ver o constrangimento de Hinata, mas era tarde para isso.

— Eu não tenho certeza, Naruto-kun, mas imagino que sim. O Kiba sempre soube e vivia me perguntando sobre isso, apesar de eu nunca admitir, o Shino também, mas ele é mais discreto. Não sei quem mais reparou.

— Ahn... — Foi a única coisa que conseguiu responder. Após uma pausa, decidiu mudar de assunto. — Hinata, eu estava te procurando para pedir um favor.

Aliviada por Naruto falar de outra coisa, Hinata apenas olhou para ele interrogativamente, com um pequeno sorriso.

— É que... eu recebi o uniforme jounnin, mas não faz meu estilo usar uma roupa toda preta, sabe... será que você poderia me ajudar nisso?

— Claro, Naruto-kun! Eu já tenho uma ideia sobre isso.

— Sério, Hinata? Você pensou nisso muito rápido! — Opa! Ele fez de novo... Hinata novamente ficou constrangida. Porque você não pensa antes de dizer as coisas, baka? Naruto se xingava mentalmente.

— Na verdade... eu já havia pensado nisso, quando soube que você seria jounnin. Imaginei como ficaria com o uniforme. — Hinata admitiu, mais vermelha do que nunca. — Sem sua cor preferida, não seria você. Se quiser eu posso fazer umas mudanças.

— Arigatou, Hinata. — Naruto pigarreou. Ela tinha o dom de deixá-lo emocionado com as menores coisas que dizia. Entregou a caixa contendo o uniforme a ela. — Vou confiar em você.

Hinata levantou-se e ele a acompanhou, ficando de frente para ela. A vontade que sentia de abraçá-la novamente era quase irresistível. Num impulso tirou a caixa de suas mãos, recolocou-a sobre o tronco e abraçou Hinata. Ela correspondeu sem hesitar. Novamente Naruto não queria largá-la, mas dessa vez sentia falta de algo mais. Não entendia o que era, mas sentia que precisava descobrir. Acariciou levemente seus cabelos e essa vontade pareceu duplicar. Ele afastou-se um pouco para fitá-la e Hinata também o olhava nos olhos. A mão que estava em seus cabelos moveu-se para seu rosto, o acariciando de leve. Sentindo que Hinata tremia levemente, ele se aproximou mais. Um dedo acariciou seus lábios, e viu Hinata fechar os olhos. Seus lábios tocaram os dela numa carícia suave, quase como se apenas as respirações se misturassem. Sua mão voltou a cariciar o rosto de Hinata, o puxando para que o beijo finalmente acontecesse.

Foi a sensação mais intensa que já sentiu em sua vida. Não sabia defini-la, mas tinha vontade de que nunca acabasse. Estava ofegante e percebeu que Hinata também. Mas sentiu que precisava parar. Abraçou-a ainda mais apertado e enterrou o rosto em seus cabelos. Sabia que podia magoá-la ainda mais com o que estava fazendo, mas não conseguia evitar. Era tão bom estar com ela, nunca pensou que um dia pudesse se sentir assim.

Ao mesmo tempo, eles ouviram um barulho de um passo em folhas secas e se separaram rapidamente. Ao se encararem, não sabiam qual dos dois estava mais vermelho. Hinata ativou o Byakugan e sussurrou:

— Ino...

Naruto entrou em pânico, não queria ser visto na situação em que se encontrava. Na certa não conseguiria pronunciar uma palavra.

Hinata olhou para o lado de onde viera o barulho e quando olhou novamente na direção de Naruto. Ele não estava mais ali.

— Naruto-kun...?

Naruto não soube como fez aquilo, mas quando deu por si, sentiu-se sendo engolido por água gelada. Afundou, perdendo o fôlego e lutou para voltar à tona. Levantou-se sobre a água, ainda confuso. Olhou em volta e percebeu que estava sobre um pequeno lago, distante de onde se encontrava anteriormente. Como havia feito aquilo? Nem imaginava, mas logo percebeu que não era tão distante da vila. Seguiu em direção a uma claridade que se via ao longe, acima das árvores.

Chegou a um espaço de onde podia ver a vila sendo reconstruída. Caminhou até a borda do monte e ficou ainda mais confuso. Percebeu que estava acima do Monumento Hokage, próximo ao rosto de Tsunade.

— Mas como foi que cheguei aqui, dattebayo?

— Ei, Gaki!

— AH! — Com o susto, Naruto quase se jogou do Monte Hokage. — Kurama, quer me matar?

— Agora não. Não posso garantir no futuro.

— O que você quer?

— O que foi aquilo, hein? — Kurama perguntou maliciosamente.

— Aquilo o que? — Naruto já estava ficando irritado. Não queria conversar nesse momento.

— Ficou tão abalado que bateu seu próprio recorde de tele transporte... e não está curioso? Nem parece você...

— Ah, é mesmo. — Mas nem parecia haver curiosidade em sua voz. — Aquilo foi... Hiraishin no Jutsu?

— Mas é claro, Naruto! O que achou que fosse?

— Eu... nem estava pensando nisso.

Kurama deu uma risada gostosa.

— Não sei porque ficou assim, afinal nem foi seu primeiro beijo...

— Como não? Quando foi que eu beijei uma garota antes?

— Não conto aquela maluca que quase roubou seus poderes, mas não se esqueça que seu primeiro beijo foi com... Uchiha Sasuke.

— ARGH! Kurama! Nem me lembre disso! Você conseguiu acabar com a minha noite!

Com uma última risada maliciosa, Kurama deixou Naruto em paz.

Ele começou a caminhar em direção ao alojamento onde estavam suas coisas. Parecia que teria que ficar hospedado por lá até a viagem para Suna. Irritado, aturdido e completamente molhado, caminhava resmungando entre os moradores que o olhavam com curiosidade. Sua cara também não deveria estar muito boa. Não sabia por que estava tão irritado. O comentário de Kurama sobre seu primeiro beijo? Achava que não. A queda no lago? Também não, já passara por coisas piores. Começou a repassar os acontecimentos da noite e sentiu-se melhor. Revivia aquele momento várias vezes em sua mente e ainda pensando nisso adentrou a barraca.

— Onde você... — Sasuke começou, mas interrompeu-se ao olhar para Naruto. — Não acha que deveria tirar a roupa antes de tomar banho, dobe?

— AH! NÃO ENCHE, TEME! — Naruto, que já havia conseguido se acalmar, irritou-se imediatamente. Virou-se de costas para Sasuke e começou a tirar as roupas encharcadas. Baka! Tinha que interromper seus pensamentos...

Parou imediatamente, em meio ao ato de tirar a camisa. Era por isso que estava tão irritado? Por ter sido interrompido? Bufou e terminou de tirar a roupa. Colocou uma bermuda seca, jogou-se na cama e ficou encarando o teto como fosse mais uma coisa a irritá-lo.

Sasuke o olhava com curiosidade, mas preferiu não perguntar nada. Continuou a lustrar sua katana em silêncio, que era o que estava fazendo quando Naruto chegou. Passados alguns minutos, Sakura entrou no quarto. Vendo a expressão de Naruto perguntou:

— O que aconteceu? — Estava preocupada, imaginando que já houvessem começado a brigar.

— Nan demo nai* ‘ttebayo! Hoje foi o dia mais feliz da minha vida! — Naruto praticamente rosnou.

O contraste entre sua frase e seu tom de voz era tão diferente do Naruto de sempre, que Sasuke o olhou espantado e Sakura ainda mais preocupada. Vendo a expressão de seus amigos, Naruto suspirou e sentou-se na cama. Passou a mão pelos cabelos para se acalmar e falou menos agressivo:

— É sério, não aconteceu nada demais. Daijoubu.

— Dobe, você saiu daqui todo contente, demorou uma eternidade, e quando volta está ensopado e com cara de quem não sabe onde está. Quando falei com você, só faltou pular no meu pescoço. Agora, defina estar bem.

— É verdade, Naruto, onde foi quando saiu daqui?

— Procurar alguém para fazer umas mudanças naquela roupa... — Naruto respondeu totalmente aéreo, olhando para o nada.

Quase imediatamente sentiu-se ser agarrado e levantado pelo pescoço. Sakura tentava esganá-lo.

— O que está fazendo, S-sakura-chan?

— Sakura? — Até Sasuke aprecia preocupado com a reação dela. — O que está fazendo?

— Esse não é o Naruto! Deve ter sobrado algum Zetsu!

— M-me, solta S-sakura-chan!

— Então me responda uma coisa que apenas o verdadeiro Naruto saberia: quem foi a primeira pessoa que você beijou?

Naruto quase morreu engasgado sem precisar de mais esforço de Sakura. Será que ela sabia sobre Hinata? Viu Sasuke ficar vermelho e se lembrou da piadinha de Kurama.

— O t-teme! — Disse quase sem folego e sentiu subitamente a pressão em sua garganta sumir. Caiu de joelhos no chão, tossindo, logo deitando-se de barriga para cima tentando recuperar o fôlego.

— Não tinha outra forma de confirmar, Sakura? — Sasuke continuava vermelho.

— Gomen ne, Sasuke-kun, mas tinha que ser alguma coisa vergonhosa o suficiente para nenhum dos dois nunca ter comentado com ninguém.

— O que está acontecendo aqui? — A voz calma de Kakashi se fez ouvir e os três se viraram para a entrada da tenda, onde ele se encontrava escorado e com as mãos nos bolsos. Naruto levantou-se com dificuldade do chão e jogou-se na cama, massageando a garganta.

— Sakura quase matou Naruto. Nada de anormal, pelo que me lembro... — Sasuke deu um tom de pergunta à sua resposta.

— Ah, sim. Realmente, nada mudou nesse sentido. — A voz de Kakashi expressava toda despreocupação com a situação. — Qual foi o problema dessa vez?

— Naruto está agindo de maneira muito estranha... pensei que pudesse ser algum inimigo disfarçado. — Sakura explicou.

— Todos o conhecem bem demais. Se fosse um inimigo faria um trabalho melhor. — Kakashi afirmou. — Qual o problema, Naruto? — Não obteve resposta. Naruto olhava para o teto com uma expressão estranha, como se visse outra coisa. — Naruto? — Chamou novamente em voz mais alta.

— Dobe?

— NARUTOOOO! — Sakura gritou, vendo que ele parecia estar dormindo com os olhos abertos e não responderia.

— NANI? — Sentou-se assustado na cama.

— Eu perguntei o que aconteceu com você. Não está se sentindo bem?

—Estou sim, Kakashi-sensei. Só pensando em algumas coisas. — Imaginou-se então contando aos três o que havia acontecido e corou intensamente. Achou melhor guardar só pra ele.

— Que coisas são essas? E porque ficou vermelho? — Sakura o olhava desconfiada.

— Não quero falar sobre isso. — Naruto disse deitando-se novamente e virando de costas para os três. — Só quero pensar um pouco, em paz, mas não tenho privacidade nem dentro da minha própria cabeça.

— Naruto... — Sakura, irritada com a resposta, deu um passo em direção a Naruto. Foi impedida de continuar por Kakashi. — Mas... mas... Kakashi-sensei?

— Vamos deixá-lo descansar. Sei que você não está acostumada com isso, mas vocês não são mais crianças. O Naruto também não. Ele deve ter seus motivos. Vamos. — Kakashi esperou que Sakura passasse à sua frente para saírem da tenda. Ela ainda lançou um olhar irritado para Naruto e outro, dessa vez inconformado, para Sasuke, antes de sair.

— Quer que eu te deixe sozinho um pouco? — Sasuke perguntou, após a saída deles.

— Não, Sasuke. Você é silencioso o suficiente, não me incomoda.

— E desde quando a Sakura te incomoda? Que eu me lembre, ela sempre foi irritante, mas nunca te incomodou.

Naruto soltou uma risada sem graça e sentou-se na cama olhando Sasuke.

— Você sempre a achou irritante, não é? — Naruto o olhava com curiosidade. — Estou começando a entendê-lo. Ela também é sua amiga, nunca te esqueceu, assim como eu. Mas no caso dela é um pouco diferente. — Ele queria saber se havia alguma possibilidade de Sasuke um dia corresponder os sentimentos de Sakura. Não queria perguntar diretamente, mas resolveu arriscar: — Você nunca sentiu nada mais por ela?

— Não, Naruto, nada além de amizade. Porque a pergunta?

Ele ficou encarando Sasuke durante um tempo. Queria falar com alguém sobre tudo o que estava acontecendo, mas não sabia se Sasuke era a pessoa certa. Tinha certeza que ele não iria falar com ninguém a respeito, mas o problema era que suas dúvidas incluíam Sakura e os sentimentos dela pelo amigo. Olhou para o chão, tentando decidir se diria alguma coisa, porém não precisou.

— Você ainda gosta dela? — Com essas palavras, Sasuke decidiu por ele.

— Hai. Sempre gostei dela, mas...

— Ela gostava de mim. — Sasuke afirmou. — Ela disse que me amava na noite em que deixei Konoha. Eu imaginei que fosse apenas uma paixãozinha de criança. Ela nunca esqueceu?

— Nunca. — Naruto suspirou e o olhou. — Assim como eu. Mas ela nunca me deu nenhuma chance. Sempre esperou por você.

— E agora que estou aqui, você não sabe o que fazer. — Sasuke disse com certeza e Naruto apenas assentiu e olhou para o teto. — Eu nunca fui bom com essa coisa de sentimentos Naruto. Pelo menos não os bons. Não sei o que te dizer, mas não acho que deva desistir. Por isso você voltou tão nervoso?

— Iie. Não é tão fácil assim. Tem outra garota que... — Naruto travou, não sabia como prosseguir.

— Você está namorando outra garota? — Incrédulo, Sasuke o encarou com os olhos arregalados. Era a última coisa que esperava de Naruto.

— IIE! Claro que não, dobe! Pelo menos... — Parou pensativo.

— Como assim ‘pelo menos’? — Com uma das sobrancelhas levantadas, Sasuke perguntou. Não era curioso e também não costumava pensar muito sobre relacionamentos, mas nesse momento, aquela conversa estava sendo tão surreal para ele, Naruto estava agindo de maneira tão estranha, que sentiu necessidade de entender o que se passava.

— É que... quando a abracei pela primeira vez, foi uma coisa tão intensa, tão forte... Eu não sabia o que era aquilo. Depois senti isso mais uma vez, quando abracei minha mãe...

— Como assim abraçou sua mãe? Ela não está... — Ele não completou, mas isso realmente interessou a Sasuke.

— Quando dominei o poder de Kurama. Esqueceu?

— É verdade. Ela te ajudou. Mas continue o que estava dizendo.

— Não comparei o que senti na hora, mas quando acordei no campo de batalha depois de ter absorvido os bijuus, essa garota segurava minha mão. Senti mesmo antes de abrir os olhos. Essa sensação tão forte. Me lembrei de minha mãe e de onde já havia sentido isso antes. Lembra-se de quando Nagato destruiu a vila?

— É claro, mas o que...? — Perguntou confuso. Estava perplexo pela súbita mudança de assunto.

— Ela apareceu lá para me ajudar. Eu teria sido capturado pela Akatsuki naquele dia se não fosse por ela. Ela me disse um monte de coisas, como sempre me observou, disse que eu dava forças a ela. E disse que sempre me amou.

— Wakatta. Mas porque naquela hora? — Mesmo não sendo um expert em relacionamentos, Sasuke estranhou que ela dissesse isso logo naquele momento. — Porque ela nunca disse isso antes?

Naruto poderia se perguntar a mesma coisa se não conhecesse Hinata, sua timidez e o medo que tinha de que ele suspeitasse de alguma coisa. Deu um pequeno sorriso e seus olhos ficaram um pouco desfocados, como se visse outra coisa a sua frente. Isso não passou despercebido a Sasuke. Meneando levemente a cabeça, Naruto voltou ao normal e olhou Sasuke sério.

— Ela me disse que foi lá porque queria e que estava preparada para morrer. Só não queria que isso acontecesse sem que eu soubesse. — Naruto ainda não se conformava com a atitude de Hinata. — Falei com ela alguns dias depois. Ia dizer que não queria magoá-la e que gostava de Sakura, mas quando a abracei senti como se toda a solidão e vazio, todos os sentimentos ruins que tive ao longo de minha vida sumissem e não consegui dizer nada disso. Foi estranho.

Agora que estava com um olhar perdido era Sasuke. Alguma coisa do que Naruto disse parecia ter mexido com ele.

— Todos os sentimentos ruins... — Sussurrou. Levantando a voz, mas ainda com uma expressão distante, perguntou: — Como é isso, essa sensação?

— É difícil explicar. Parece que um calor irradia por todo o corpo, uma sensação de paz e de ter feito tudo certo na vida. É como um prêmio. Não consigo explicar melhor que isso.

Calor, paz, ter feito todas as coisas certas. Sasuke se deu conta que eram todas as coisas que faltavam a ele. Seria essa a sensação de ser amado? Será que Sakura... Mas focou novamente o olhar em Naruto e decidiu que não podia magoar seu amigo, não mais do que já fizera até ali. Sentiu um aperto no peito ao pensar nisso. Com um suspiro pesado, que fez Naruto olhá-lo curioso, perguntou:

— E Sakura? Nunca teve essa sensação com ela? Nunca a abraçou?

Naruto também suspirou. Pensava nisso também.

— É diferente, teme. Não é que ela nunca tenha me abraçado, mas é uma coisa diferente. Fico nervoso, meu coração dispara, sinto um aperto no peito, em frio na barriga, mas... Não sei. Mesmo no dia que ela disse que me amava, eu...

— Nani? — Não chegava a ser um grito, mas saiu mais alto do que ele pretendia. Quando ouviu as palavras de Naruto, sentiu uma coisa estranha dentro dele. Suas entranhas pareciam ter revirado, e, sendo um especialista em sentimentos negativos como ele mesmo havia dito, reconheceu algo muito parecido com ódio. Não era tão forte, mas ainda tinha vontade de socar Naruto. Por que isso agora? Não tinha mais vontade machucá-lo, não de verdade. Baixou novamente a voz para perguntar: — Quando foi isso?

— No mesmo dia em que ela decidiu que iria te matar. — Olhando duramente para o amigo, Naruto decidiu contar tudo. Sabia que essas lembranças não faziam bem a Sasuke, mas ele precisava enfrentá-las. — Ela me abraçou e disse isso. Mas eu não consegui sentir nada além de raiva. Sabia que era mentira. Só fez isso para que eu desistisse da promessa que fiz a ela de trazê-lo de volta. Depois disso ela foi atrás de você com aquela kunai envenenada e quase morreu também. Lembra o que eu disse? Ela nunca te esqueceu.

Baixando a cabeça, Sasuke ficou pensando. Estava confuso e não gostava disso. Decidiu pensar sobre isso outra hora, talvez quando sua fase de viver apenas de ódio estivesse bem longe. Agora queria saber mais sobre essa história de Naruto, conhecer novamente seu melhor amigo e voltar a entendê-lo, não apenas como shinobi. Já que se propôs a voltar a viver em Konoha, sabia que teria uma vida diferente e queria que fosse o mais normal possível. Talvez se interessar por essas histórias que não tivessem nada a ver com luta e morte pudessem ajudar. Claro que ainda teria a missão que fariam, mas depois...

— Por tudo que disse dessa garota, se as coisas não mudaram desde o tempo da academia, acredito que se trata de Hyuuga Hinata, certo?

— NANI? Como você...?

— Mesmo que eu não seja a pessoa mais indicada para isso, até eu conseguia perceber a maneira estranha que ela agia perto de você, dobe. — Sasuke respondeu com um sorriso sarcástico. — Você sempre foi um completo baka.

— Acho que agora eu sou obrigado a concordar com você. — Naruto se jogou na cama e ficou fitando o teto. — Se até mesmo o baka-sem-sentimentos Uchiha Sasuke percebeu...

— Eu nunca fui sem-sentimentos, Naruto. — Sasuke também se deitou e encarou o teto. — Ao contrário. Mas eram os piores possíveis.

Naruto deu uma risadinha triste. No fundo sabia disso e era por isso que queria tanto ajudar Sasuke. Ficou pensando em como tudo estava diferente agora. Quem diria, estar tendo esse tipo de conversa com Uchiha Sasuke? Se não o conhecesse tão bem, talvez tivesse a mesma reação que Sakura tivera com ele, imaginando ser alguém disfarçado. Levou um susto ao ouvir a pergunta de Sasuke.

— Soshite*... Porque chegou tão irritado?

Naruto corou. Não queria contar, mas ao mesmo tempo queria. Queria falar sobre isso porque havia sido uma coisa boa demais, mas ao mesmo tempo estava confuso e com vergonha de não saber o que estava sentindo. Percebeu que Sasuke o olhava curioso e resolveu falar.

— Eu a beijei.

— Hum, sei. — Sasuke deu uma risadinha. — E depois disso teve que se jogar no lago para, digamos... esfriar a cabeça? Por isso estava irritado? Pelo jeito, o tempo que passou com Jiraya fez efeito em você. Como você o chama mesmo? Ero-Sennin? — Imaginava a cena de Naruto, logo Naruto, naquelas condições. Dessa vez Sasuke estava mesmo com vontade de rir. Nunca havia sentido isso antes e ficou mais feliz por ter voltado e estar perto do amigo. Já estava fazendo bem a ele.

— TEMEEEEE! — Naruto se levantou da cama e estava pronto para socá-lo, mas um fato inédito o fez parar no meio do caminho e arregalar os olhos. Sasuke estava rindo. Não era exatamente uma gargalhada, mas estava bem próximo disso. — Quem é você e o que fez com Uchiha Sasuke?

Para ele era tão normal conter todas as emoções que estava com o maxilar doendo de conter a gargalhada. Sasuke segurava a barriga com ambas as mãos e lágrimas escorriam de seus olhos. Vendo essa cena, Naruto não se conteve. Começou a rir também, a principio apenas feliz, mas ao ver Sasuke soltar uma sonora risada, parecendo estar sofrendo com isso, não aguentou e começou a gargalhar descontroladamente, tanto que caiu de volta na cama e se contorcia de um lado para o outro enquanto ria.

— Mas que diabos está acontecendo aqui?

Os dois se viraram ao mesmo tempo para entrada da tenda, ainda sem conseguir conter as risadas. Ao ver a cara de espanto misturada com choque que Kakashi lançava a Sasuke, nem ele mesmo se conteve e o ataque de risos continuou ainda mais forte. Vendo que não obteria nenhuma resposta, Kakashi deu de ombros e foi saindo de novo, mas tinha um sorriso no rosto. Ver Sasuke daquela maneira era uma novidade, e uma novidade que o deixava muito satisfeito.

As risadas dentro da tenda continuaram por mais um tempo, até que eles se acalmaram. Ainda com lágrimas nos olhos e um pouco sem-graça por ter agido daquela maneira e ser flagrado, Sasuke deu um sorriso. O primeiro sorriso verdadeiro que dava desde que era criança, antes do massacre de seu clã. Ainda sorrindo e pensando em Kakashi, lembrou-se de uma coisa.

— Naruto.

— O que foi, Sasuke?

— Você já conseguiu ver o Kakashi-sensei sem aquela máscara?

— Ainda não. — Naruto fez um bico, mas depois abriu um sorriso e olhou para Sasuke. — Se nem daquela vez conseguimos...

E ficaram até bem tarde acordados, relembrando tudo o que haviam feito há tanto tempo para tentar ver o rosto de seu sensei, antes de caírem em um sono profundo, mais felizes do que algum dia se sentiram na vida.


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Notas finais do capítulo

*Kunoichi = ninja mulher
*Nan demo nai (yo) = não é nada!
*Shimatta = droga!
*Soshite = e então
*Sugoi = legal; incrível
*Tenketsu = ponto de circulação de chakra
*Yamete! = pare!; pare com isso!
*Yare yare = exclamação de reclamação e conformismo