Naruto abriu os olhos devagar e piscou três vezes devido à claridade excessiva. Sua cabeça doía demais e a garganta o lembrava Suna. Mas ao mesmo tempo em que essas sensações foram processadas, percebeu que se sentia bem de uma maneira que nunca havia acontecido antes, e isso se devia ao leve peso de uma cabeça morena que se apoiava em seu braço. Deu um sorriso e se pôs a contemplar o rosto de Hinata, que ainda dormia tranquila, parecendo uma criança feliz.

— Minha menininha... minha Hina*... — Ele sussurrou, passando os dedos carinhosamente no rosto da garota.

Sabia que devia se levantar e começar a avaliar os estragos que a festa havia causado em seu novo lar, mas não tinha nenhuma vontade de fazer isso no momento.

Ouviu um baque no quarto ao lado, o que deveria indicar que Sasuke também havia acordado, e se perguntou se Sakura ainda estaria lá. Era bem provável, apesar de ela não ter bebido no dia anterior, graças aos seus Hanges. Abriu um largo sorriso ao se lembrar da noite que fez Sakura ter, numa espécie de vingança por todos os socos que recebeu durante a vida.

“Realmente estou convivendo demais com o teme.” — Pensou, afinal, vingança nunca fez sua cabeça, e sim a de Sasuke.

Sentiu movimento ao seu lado e viu Hinata abrir os olhos confusa, parecendo não entender onde estava.

— Ohayo! — Deu um sorriso de canto, que também havia aprendido com Sasuke.

“Definitivamente preciso de outras companhias...”

— Naruto-kun. — Ela deu um sorriu tímida, mas inesperadamente sentou-se com os olhos arregalados e corou. — Naruto-kun...? — Olhou ao redor, assustada. — O que estou fazendo aqui?

— Maa. Só dormimos, não precisa se preocupar. — Ele também sentou-se, de frente para ela, com as pernas cruzadas e segurou suas mãos, sem tirar o sorriso do rosto. — E eu nunca dormi tão bem! Mas vamos começar de novo... ohayo, Hinata-chan!

Ela relaxou e também sorriu.

— Ohayo...

Se fosse dizer mais alguma coisa não conseguiu, pois um grito estridente soou no andar de baixo. Eles se entreolharam assustados antes de levantarem e saírem correndo do quarto. No corredor, quase trombaram com Sasuke e Sakura, que também saíam alarmados pela porta ao lado, a garota tentando assentar os cabelos desalinhados e o Uchiha enfiando de qualquer jeito uma camisa azul escura.

Todos se entreolharam e coraram, mas não disseram nada, apenas seguiram seu caminho para a sala, de onde parecia que os gritos vinham. Ao chegarem no alto da escada, puderam distinguir as palavras que acompanhavam os gritos:

— ARGH, ARGH, ARGH! EU DORMI COM UM CACHORRO! AAAAARGH! FIQUE LONGE DE MIM!

Pararam no pequeno patamar onde as duas partes da escada se juntavam e viram Matatabi encarapitada no encosto do sofá, com as pernas encolhidas e segurando os joelhos. Kiba estava em frente, do outro lado da mesa de centro, levantando-se e esfregando as costas, como se houvesse sido jogado longe e caído de mau-jeito. Seus outros amigos e os bijuus acompanhavam a cena aturdidos por terem acordado com os gritos, alguns estavam de pé e bocejando e outros ainda sentados pelo chão, descabelados e de olhos inchados. Neji e Tenten já se encontravam ali, assim como Sai e Ino.

— Maa, maa... eu não fiz nada, só dormi perto de você! — Kiba mais uma vez tentou se aproximar da bijuu, com as mãos erguidas como se estivesse se rendendo para não assustá-la ainda mais.

— AH! IIE! Não se aproxime!

— O que está acontecendo aqui, dattebayo?

— Naruto, me leve de volta! — Matatabi exigiu.

— Demo...

—AGORA!

— Hai, hai.

Nem bem terminou de dizer isso e a bijuu desapareceu numa pequena nuvem de fumaça.

— Ei, nós também. Esse negócio de ressaca não é brincadeira... — Kurama se intrometeu.

— Que ótimo... — Disse com ironia o loiro. — A ressaca de vocês não vai me afetar, ja nai?

— Iie.

Todos os outros bijuus que estavam espalhados pela sala sumiram também, deixando os shinobis que não sabiam quem eles eram intrigados.

— Para onde ela foi, Naruto? Quem eram esses caras? — Kiba perguntou, o olhando irritado, afinal, nem havia conseguido conversar com a garota de seus sonhos.

— Kiba, esquece ela. A Matatabi não é para você. — Sakura respondeu no lugar do loiro, terminando de descer as escadas e sentando-se no sofá desocupado por Kurama. Naruto e Sasuke a acompanharam, o primeiro puxando Hinata junto com ele.

— Itai... Kurama estava certo. Esse negócio de ressaca não é brincadeira! — Naruto comentou, sentando-se ao lado da morena e apoiando a cabeça no encosto do sofá. — Acho que preciso de água.

— Eu vou buscar, Naruto-kun! — A Hyuuga se prontificou, mas foi interrompida por Sakura.

— Sabe, Hinata, acho que o melhor é prepararmos o desjejum para todos, afinal eu pareço ser quase a única aqui em condições de fazer alguma coisa. Ino, Tenten, nos ajudem onegai.

— Eu vou também... — Temari tentou se levantar do canto onde estava encostada com Shikamaru. Aparentemente haviam dormido ali, no chão mesmo, apoiados na parede.

— Ôe, cuidado! — Shikamaru amparou-a quando uma tontura a acometeu. — Espere mais um pouco.

— Soo... — A loira respondeu, com uma das mãos na cabeça. — Daqui a pouco eu vou ajudá-las, Sakura-san.

— Daijoubu, Temari-san. Não precisa. — Respondeu Sakura, já se dirigindo à cozinha, mas parou ao ouvir a observação da loira de Suna:

— Precisa, sim... Quero entender por que vocês quatro parecem tão bem, depois de uma festa daquelas. — Viu que as garotas coraram muito. — Quero realmente entender isso! — E deu um sorrisinho malicioso.

— D-depois te contamos nosso segredo, Temari-san! — Ino empurrou as outras três para a cozinha, ainda corada, mas retribuindo o sorriso.

— O que deu nelas? — Curioso, Kiba perguntou, ainda olhando em direção à porta por onde saíram.

— Não sei se notou, mas elas não são as únicas que estão bem, por aqui. — Shikamaru observou, olhando de relance Sai e Neji.

— Sou ka! Onde esteve durante a festa, Neji? Não o vi mais depois de terminarmos de arrumar tudo.

Com a pergunta de Kiba, o gênio Hyuuga foi avermelhando aos poucos, e logo ficaria de numa cor digna de Hinata. Mesmo achando que seria um espetáculo muito interessante a ser apreciado, Naruto resolveu interferir, afinal, seria bom deixar o primo de sua futura namorada lhe devendo um favor.

— Então Kiba, você perguntou sobre Matatabi, não quer mais saber? — Viu Kiba virar-se para ele de maneira afoita e Neji suspirar aliviado.

— Hai, Naruto! Aliás, esse nome não me é estranho.

— Claro, baka! Ela é um dos bijuus... — Shikamaru se intrometeu, jogando-se em um sofá, acompanhado por Temari. Depois comentou, pensativo: — Mas uma coisa que eu não sabia é que um deles era fêmea.

— Nem eu sabia, Shikamaru, mas com o tempo me acostumei. Ela é legal, todos eles são. — Naruto comentou.

As outras pessoas que estavam na sala estranharam que eles falassem dos bijuus tão calmamente, mas ficaram ainda mais aturdidas por saber que haviam participado da festa com eles sem desconfiarem de nada.

— Quer dizer que ela é um dos bijus? — Kiba estava desolado. — Ela é a Nekomata, ja nai? Por isso me quis tão longe dela...

— Hontou ni. Ela tem um problema sério com cachorros. — Sasuke comentou, com uma cabeça apoiada nas mãos e cara de acabado. — Se você resolvesse criar gatos ninja, quem sabe?

Todos olharam para Sasuke como se ele houvesse revelado que também era um bijuu.

— Isso foi uma piada? — Perguntou Neji atônito. — Desde quando Uchiha Sasuke faz piadas?

— Ele faz às vezes, mas como podem ver, não é muito bom nisso. — Comentou Naruto. — Nee, Sasuke?

— Urusai, usuratonkachi! —Respondeu emburrado, o que acabou arrancando risadas e consequentemente deixando-o ainda mais emburrado.

— Voltando ao que importa, agora os bijuus podem ficar livres... — Shikamaru resolveu voltar ao assunto que mais o interessava. — Mas é por um período de tempo curto, não é? Afinal, eles apenas controlam clones seus.

— Na verdade, não. Eu uso meu próprio chakra apenas no momento em que crio os bushins. Quando assumem o controle, é o próprio chakra bijuu que é utilizado. É como se fosse um corpo próprio, mas eu ainda posso desfazer o jutsu, assim eles voltam para dentro de mim. — Explicou o loiro. — Agora eu poderia criar um corpo para cada um definitivamente, graças ao poder do Rinnegan, mas eles não querem. Ainda têm medo de voltarem a ser caçados e usados como armas.

— Naruhodo. — Neji também ficou curioso quanto ao assunto. Todos estavam. — Mas vocês não têm planos para que isso aconteça? Que eles fiquem livres, quero dizer.

— Mochiron*. Porém ainda tenho várias coisas para realizar antes, e eles pediram para continuar como estão por mais um tempo. Na forma em que ficam agora, o melhor lugar para se recuperarem de qualquer coisa ainda é dentro de mim. Se tiverem um corpo humano próprio, poderão viver normalmente, mas ainda ficam mais confortáveis com suas formas bijuu. Deve levar mais um tempo até que se adaptem.

— Interessante. Essa é mais uma de suas metas? — Perguntou o Hyuuga em tom pensativo.

— Aa. — Respondeu o loiro. — E também não me esqueci da minha promessa para você, Neji.

O moreno ficou olhando para Naruto durante um tempo, como se estivesse tentando se lembrar de algo, até que suas feições se iluminaram.

— Daijoubu, Naruto. Não estou pedindo nada.

— Sei disso. Mas além de ter prometido a você, outra pessoa me pediu. Pensei que soubesse. — Naruto disse coçando a cabeça. Se perguntou por que Hinata ou Hiashi não haviam dito alguma coisa.

— Hinata-sama. — Neji suspirou. — Ela não me disse nada. O que exatamente ela pediu?

— Hum... Vamos deixar para falar sobre isso depois. — Naruto desconversou. — Agora o que quero é comer. Já volto.

Ele saiu da sala e foi em direção à cozinha. Não chegou a entrar, pois ouviu murmúrios e risos. A curiosidade falou mais alto e ele se aproximou até poder ouvir alguma coisa sem denunciar sua presença.

— Não aconteceu nada demais. — Era Sakura quem falava. — Sasuke havia bebido demais, e mesmo que ele aguentasse fazer alguma coisa, eu não queria que fosse nessas condições.

— No meu caso já havia passado da hora. — Dessa vez era Tenten que cochichava. — Já faz bastante tempo que estamos juntos e eu queria muito isso.

— Você não pareceu surpresa quando Tenten contou o que aconteceu, Hinata. — Ino observou. — Eu já sabia, afinal ajudei a planejar tudo, mas você... Por que está tão vermelha, Hinata?

O som de um riso constrangido de Tenten se fez ouvir e arrancou um sorriso do loiro. Podia imaginar a cor que Hinata estava.

— Ahn... er...

— Ela e Naruto nos pegaram no flagra. — A mestre das armas respondeu no lugar da Hyuuga, já que esta não parecia capaz.

— EHHH?

— Fale baixo, Sakura! — Ino repreendeu.

— Hai, Hai... — Ela respondeu impaciente, porém num tom mais baixo. — Mas como foi isso?

— Eles simplesmente despencaram para dentro do quarto. — Tenten explicou, já recuperada do constrangimento e dando uma risadinha maliciosa. — Hinata embaixo de Naruto, sabe como é...

— Tenten-san! — A Hyuuga repreendeu. Ao ouvir isso, até Naruto corou.

Sakura e Ino começaram a rir. O loiro gostaria muito de ouvir mais alguma coisa, mas percebeu que alguém se aproximava de onde estava e decidiu entrar de vez na cozinha.

— Hinata-chan, posso falar com você um momento? — Disse, já passando pela porta e puxando a garota para um canto.

— O que foi, Naruto-kun? — Ela perguntou baixo, para que as outras três, que os observavam pelo canto dos olhos não ouvissem.

— Ahn... — Pensou por um momento, tentando se lembrar do por que estava ali. A conversa que ouviu o distraiu completamente. — Ah, sim! Você e seu otoosan não contaram para Neji o que haviam me pedido para fazer?

— Iie. Não tínhamos certeza se você conseguiria alguma coisa, então preferimos não dar esperanças. — Ela suspirou, mas depois o encarou com uma expressão determinada. — Conseguiu encontrar algo?

— Hai. Quero falar com seu pai ainda hoje sobre isso, mas pode ser à noite. — Ele a abraçou e beijou longamente, arrancando suspiros das garotas que assistiam a cena. — Antes, precisamos falar sobre algumas coisas.

Ela nem conseguiu responder, estava muito constrangida pela ação do loiro na frente de outras pessoas, apesar de feliz, então apenas assentiu.

— Pensei que você havia dito que ia comer... — Temari havia entrado na cozinha sem que eles vissem, e agora comentava calmamente, enquanto tomava um copo d’água.

— Eu disse que queria comer, não que iria... — O loiro respondeu com um toque de malícia na voz, o que deixou não apenas Hinata corada, mas todas as garotas que o ouviram. Ele deu mais um selinho na morena, antes de passar por Temari e pegar o copo que estava em suas mãos e tomar o restante da água e devolvê-lo vazio. — Vou esperar na sala...

Ele saiu da cozinha, mas não se afastou. Parou onde estivera antes, curioso sobre o que mais comentariam e não esperou muito:

— Kami-sama! — A exclamação partiu de Ino. — Quando aquele garoto inocente e irritante se tornou tão... provocante?

— Ino-san! — Hinata a repreendeu, e desta vez não havia nenhum sinal de hesitação ou timidez em sua voz.

— Gomen ne, Hinata! Eu sei que ele é seu... não precisa me atacar como fez com a Sakura na festa! — Ino respondeu divertida.

“Atacar a Sakura-chan? Que história é essa?” — Naruto se perguntou, no que foi ecoado por Tenten:

— Que história é essa, Ino?

Ele não esperou para ouvir a resposta que seria dada; preferiu ir direto à fonte e perguntar a Sasuke, já que o único período que ele não sabia dos movimentos da amiga na festa foram os poucos momentos em que ela estivera na sala. Se alguma coisa aconteceu, só poderia ser nesse espaço de tempo. Voltou para junto dos outros, que pareciam estar numa discussão acirrada, mas ele não entendeu o motivo.

— Como assim, não foi grande coisa, Sasuke? — Kiba perguntava em um tom de voz irritado.

— Mesmo não concordando com a maneira de Kiba se expressar, também acho que foi muito mais do que você faz parecer. — Neji comentou num tom de voz cansado.

— Sem dúvida! — Chouji concordou.

Sasuke estava com uma expressão que Naruto conhecia bem, e queria dizer que ele não diria mais nada sobre o assunto. Sai e Shino apenas observavam tudo em silêncio.

— Sobre o que estão falando? — O loiro perguntou, sentando-se ao lado de Sasuke.

— Estávamos perguntando sobre sua missão, mas o Uchiha não quer contar nada do que fizeram! — A explicação do Inuzuka foi acompanhada de um olhar inconformado sobre o moreno. — Até parece que era ultrassecreta!

— Problemáticos... — Shikamaru estava recostado no sofá e parecia adormecido, mas abriu os olhos para comentar. — Óbvio que seria assim.

— O que quer dizer, Shikamaru? — Mais uma vez, Chouji se manifestou.

— Quero dizer que é assim que Sasuke age. Ele nunca foi de falar muito, portanto não diria nada agora, mesmo que não seja segredo, afinal essa missão foi do Naruto.

— Hontou ni... — Naruto concordou. — Mas o que querem saber exatamente?

— Nos conte algumas das batalhas que tiveram nesse período fora! — Chouji pediu animado.

Naruto olhou para Sasuke, que simplesmente deu de ombros, com uma cara que queria dizer “eles não acreditaram em mim!”.

— Er... minna... se vocês esperam esse tipo de coisa, infelizmente teremos que desiludi-los. — O loiro coçou a cabeça sem graça. — A maior parte do tempo passamos apenas conhecendo e conversando com as pessoas, sabem? Claro que ajudamos em algumas situações complicadas, mas nada muito empolgante para quem já lutou conosco na última guerra...

— Nani? Eu achei que essa missão importantíssima teria um pouco mais de emoções... — O Inuzuka comentou, desapontado.

— Kiba, era uma missão para trazer a paz ao mundo shinobi. — Sasuke respondeu sem expressão. — Como esperava que fizéssemos isso? Atacando qualquer um que encontrássemos pela frente? Na verdade foi mais uma forma de Naruto exercitar seu dom...

— Fora essa ser a maior frase que já ouvi do Sasuke-kun, ainda fica a pergunta: que dom seria esse? — Sai se manifestou pela primeira vez.

— Você deveria saber tão bem quanto eu, Sai: o dom de mudar as pessoas e convencê-las usando somente palavras e determinação. — O Uchiha respondeu.

— Tashika ni*... — Sai ficou pensativo. — Como faz isso, Naruto-kun?

— Shirimasen, dattebayo! Essa é uma das coisas que ainda preciso descobrir. — Naruto respondeu. — Sempre pensei que era como Sasuke disse, apenas pela determinação, mas os bijuus acham que é mais que isso. Dizem que é esse o verdadeiro poder ao qual o Rikudou Sennin se referiu, porém eu realmente não sei se há alguma coisa a mais por trás disso.

Nesse momento as garotas voltaram da cozinha carregando algumas bandejas e as depositaram na mesa de centro. Os rapazes pararam de conversar e durante um tempo todos ficaram muito ocupados para dizer qualquer coisa. Depois que acabaram de comer, resolveram descansar um pouco, e estavam nisso, apenas jogando conversa fora, quando Karin apareceu, acompanhada de Juugo com a expressão calma de sempre e Suigetsu parecendo extremamente mal-humorado.

— Yo, minna!

— Karin nii-chan! Onde esteve? — Naruto perguntou sorrindo. — Yo, Suigetsu, Juugo!

Todos se cumprimentaram e os três se juntaram aos outros, sentados no sofá e no chão, ao redor da mesa. Juugo trazia uma caixa.

— Em casa. Tenho uma casa aqui no clã, não sabia? — Respondeu Karin.

— Pra falar a verdade, não. — Riu constrangido. — O que tem nessa caixa?

— Coisas para consertar o estrago que a festa causou... — A ruiva sorriu para todos. — Vamos fazer faxina!

— NANI? — Shikamaru, Temari e Kiba gritaram juntos.

— Não reclamem! — Suigetsu disse irritado. — Ela me tirou da cama para isso!

— Yare yare...

— Hai, hai...

— Shimatta!

Entre resmungos indignados e várias latas de refrigerante para a ressaca, todos ajudaram. Vários jutsus foram usados para a limpeza ser mais rápida, e até os bijuus foram convocados para ajudar. Agora que sabiam quem eles eram, os shinobis de Konoha procuravam conhecê-los melhor, e nenhum deles se esquivou a perguntas ou aproximações.

A tarde correu em um clima agradável por parte de quase todos, mas Hinata ainda estava preocupada com a repercussão de suas últimas atitudes em sua amizade com Karin, e percebia que a ruiva por vezes a olhava atravessado. Tentou aproximar-se, mas a outra parecia decidida a evitar que ficassem a sós. Num rompante, em determinado momento, simplesmente pegou-a pelo braço e praticamente a arrastou em direção à varanda.

— Não vai mesmo falar comigo, Karin-chan?

— O que quer, Hinata?

— Me desculpar! Sei que o que fiz foi errado, mas até mesmo Naruto-kun me perdoou... Onegai, não quero que as coisas fiquem assim entre nós! — Ela estava com os olhos marejados.

Um suspiro pesado escapou dos lábios da ruiva, que ainda parecia relutar em perdoar Hinata tão rápido.

— O que você fez me deixou com muita raiva. Primeiro pensei que estava escondendo uma coisa tão importante de mim, já que sempre soube de seus sentimentos por Naruto, mas depois fiquei absolutamente irada, quando descobri que mentiu para todos e que estava magoando meu itoko por egoísmo! Nunca esperei isso de você...

— Eu sei... — Hinata respondeu, sem mais conter as lágrimas. — Gomenasai, Karin-chan. Eu não queria magoar ninguém, muito menos o Naruto-kun. Só fiz aquilo por que fiquei com medo de sair ferida disso tudo. Eu o vi com a Sakura-san e...

— Nani? Com a coisa rosa? Ela deve ter agarrado ele! Ah se eu pego ela...

— N-não é nada disso, Karin-chan! — Aflita, a morena tentou se explicar, e acabou por contar tudo o que vira no dia anterior.

— Eu não acredito que foi isso! — Karin não sabia se ficava mais indignada pelo mal-entendido ou pelo que ele acarretou, mas acabou por rir da situação. — Só você mesmo, Hinata!

A atenção delas foi desviada para uma figura alta, que se aproximava da casa pelo jardim. Hinata abriu a boca para expressar seu espanto por vê-lo ali, mas uma risada alta saiu pela porta da frente, logo seguida pelo próprio dono da risada e da casa, que se abaixou rapidamente para escapar de um jutsu Suiton arremessado por alguém que permaneceu na sala. A morena viu o que ia acontecer, mas não teve tempo sequer de esboçar uma reação; o jutsu acertou em cheio o visitante inesperado, molhando-o de cima a baixo.

Vendo a pessoa a sua frente completamente ensopada, Naruto olhou assustado para Hinata, que estava com uma expressão entre o alarme e o choque. Nenhum dos dois conseguiu dizer nada, apesar da boca do loiro abrir-se e fechar-se diversas vezes, tentando articular palavras de desculpas. O silêncio foi quebrado por Neji, que saiu da sala, seguido de Suigetsu, aparentemente o autor do jutsu desastroso:

— Hiashi-sama!