- Se não se importa, não estou a fim de ficar aqui jogando conversa fora. – Saí do meu momento de transe, tentando apressar aquela situação e voltar para o meu dormitório com meu iPod, claro.

                - Eu vou devolver. Não vou ficar com o que não é meu. Mas não me culpe se você teve a capacidade de esquecer isso no meio do ringue. Convenhamos, não é tão pequeno e o ringue é todo branco, impossível não ver. – Falava Drew enquanto apontava para o aparelho.

                - O que eu te fiz? – Perguntei em tom irônico.

                - Veio para esse colégio. E se for minha amiga, agradeço.

                - Você quer ser meu amigo? Que sorte a minha, não? – Ri sarcasticamente.

                - Sei que Liza não gosta de mim. Na verdade, sei que todas as suas amigas não gostam de mim. Mas você sabe que as pessoas têm a mania muito feia de distorcer os fatos.

                - Não estou interessada em saber a sua versão da história, qualquer que seja essa.

                - Por que veio para esse colégio? – Perguntou Drew interessado, com o intuito de desviar o assunto.

                - Te importa?

                - Eu não estou sendo rude com você. Pelo contrário. Não tem motivos para me tratar diferente.

                - Garoto, eu vim aqui porque me pediu. E só estou aqui porque quero isso de volta. – Disse apontando para o meu iPod.

                - Troco por informações, já falei. Agora me responde, por favor.

                Vi a curiosidade naqueles olhos verdes. Por um momento, achei que Drew estivesse sendo sincero em querer começar uma amizade, então respondi:

                - Fui expulsa da minha última escola, quando ainda morava no Brasil. Minha mãe não estava aturando meu comportamento e me mandou aqui para morar com o meu pai.

                - Ela deve ter muito orgulho de você. Já que está em um colégio interno em outro país, não acha? – Disse Drew ironicamente.

                - E você? Que orgulho ela teria de você? Ela te cuspiu garoto. Deve ter nojo da sua cara. – Eu não estava calma, definitivamente, eu estava irritada naquele dia. Estava cansada, queria meu dormitório e não estava disposta a aturar provocações de ninguém, muito menos de Drew.

                - Minha mãe morreu logo que nasci. Ela nem chegou a me pegar em seus braços. Não tenho lembranças dela, a não ser por fotos. – Respondeu Drew abaixando a cabeça.

                - Lamento. – Foi a única coisa que consegui responder. Não conseguia acreditar no que tinha dito. Eu nem o conhecia e já havia falado coisas que ninguém gostaria de ouvir, ainda mais naquela situação.

                - Ficou macia agora? Não precisa ter dó de mim. Sentimento de pena é o que eu dispenso das pessoas.

LIZA’S POV

                Sophie havia sumido após o chá da tarde. Não nos avisara para onde iria. Então, eu e Nick fomos para o teatro do colégio. Seis horas sairia a lista dos convocados para a peça de Halloween. Nick havia feito teste para ser a atriz principal e eu estava ali para apoiá-la.

                - Liz, será que eu consigo?

                - Ainda pergunta? Nick, você nasceu para ser artista. Esse papel é seu.

                Nick sorriu confiante.

                Não demorou muito e a senhorita McDonough subiu ao palco para anunciar os escolhidos:

                - Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer a todos que fizeram o teste. É importante ver o interesse de você pela arte. A “King’s Abbot Academy” é uma fábrica de talentos. Agradeço por poder trabalhar com vocês.

                Nick segurou minha mão com toda força e fechou os olhos.

                - Sem mais delongas, gostaria de anunciar os nomes e seus respectivos papéis:  Jhonny Delfort será Jacob. Nicolle Grantham será Alice. Victor Kuner será Roger. George Signori será James e Victória Muller será Clara. Os demais papeis serão fixados na entrada do teatro amanhã após o almoço. Se não citei o seu nome, amanhã você poderá vê-lo na lista. Não se preocupem, haverá mais papéis. Hoje só foram anunciados os principais. Parabéns aos escolhidos.

                Nick respirou fundou quando ouviu seu nome, mas se controlou para ouvir todos. Quando senhorita McDonough terminou, ela não demorou a se manifestar:

                - Consegui, consegui! Eu consegui, nem acredito.

                - Parabéns, eu já sabia! – Respondi rindo.

                - Não acredito que Jhonny será o meu par!

                - Por quê?  Jhonny é um cara legal, ou estou enganada?

                - Ele sempre se aproveita das garotas nas cenas. Eu serei seu par romântico, então vou torcer para não ter cenas de beijo. – Respondeu Nick rindo.

                - Bom, se houver... Pelo menos, ele é lindo. – Disse enquanto íamos para o dormitório. Nick havia conseguido o que tanto queria, então nosso cominho até o quarto foi cheio de risadas e descontração.

Sophie’s POV

                - Não estou com pena. Só achei o assunto delicado.

                Não sabia o que responder. Queria que aquela conversa terminasse, e como não consegui isso na primeira tentativa, resolvi mudar a minha estratégia:

                - O que quer saber? Se eu puder te responder, o farei.

                - Vai me ajudar?

                - Não prometo nada, mas vou tentar.

                Drew me olhou desconfiado. Pegou seu caderno preto da mochila e abriu em uma página qualquer. Novamente, olhou fixamente nos meus olhos, como se quisesse ter a certeza de que podia confiar. Então, começou a escrever. Não demorou muito e passou para eu ler:

“I say bless me with a heart of gold

A positivity and a story to be told

That I tripped, fell down to the sky

Guess what it took from me to lear how to fly”

                - O que acha? – Perguntou.

                - A letra é boa. De quem é?

                - Minha. – Respondeu Drew envergonhado.

                - Muito boa. Mas por que me mostrou?

                - Queria a opinião de uma mente feminina. Essa letra faz parte da música que vou tocar na competição.

                - Estranho você estar me contanto, até porque sou amiga de Liza e ela também está na competição. – Não pude deixar minha ironia de lado, mesmo começando a me dar bem com aquele garoto.

                - Não sou de esconder nada. A música é minha, não tem como ela cantá-la também... Espero.

                Nós dois rimos.

                - Gostaria de voltar para o meu dormitório agora, tenho muito o que conversar com as meninas. Era só isso? Posso pegar o meu iPod de volta?

                Drew me entregou o iPod e continuou:

                - Na verdade, não perguntei ainda o que realmente quero saber.

                - Então pergunte. – Respondi em um tom de voz que o acalmou. A forma em que me expressei o fez sentir que podia confiar em mim, demonstrei que o ajudaria.

                - É sobre uma pessoa. Você não a conhece, mas se estiver disposta a me ajuda, pode descobrir mais rápido do que eu jamais conseguiria.

                - Quem? – Perguntei curiosa.

                - Emma.