Cheguei à sala de matemática e o professor estava sentado em sua cadeira lendo um livro de trigonometria. A aula ainda não havia começado, mas os alunos já estavam todos em seus lugares. Avistei um único lugar ao fundo e fui em direção a esse.

Quando me sentei, percebi que Drew se encontrava logo atrás de mim e Nathan se localizava ao seu lado.

– Já decidiu a música para a competição? – Ouvi Drew perguntar.

– Ainda não. Não sei se minha parceira é boa o suficiente. Se é que me entende...- Logo identifiquei a voz de Nathan.

O meu interesse pela aula de matemática, que já não era muito grande, desapareceu. Esforcei-me ao máximo para ouvir cada palavra daquela conversa. Não sou de espionar ou querer saber de fofocas da vida alheia, mas eles estavam falando de um assunto o qual envolvia Liza. Senti a obrigação de ouvir.

– Não sei como você foi entrar nessa. Cantar com a Liza? Ninguém nunca a ouviu cantar!

– Antes só do que mal acompanhado, mas nesse caso, não tive escolha. Sábado verei do que ela é capaz! – Riu Nathan sarcasticamente.

– Boa sorte! – Desejou Drew ironicamente.

– Não deve ser tão ruim, qualquer coisa, coloco ela como backing vocal! – Consegui ouvir as gargalhadas abafadas de Drew e Nathan. Não conseguia compreender aquela conversa, falavam de Liza como se ela fosse uma garota sem qualquer talento. Nunca a ouvi cantar, mas não estava gostando de Nathan duvidando da capacidade dela.

– Eu vou cantar aquela música a qual você me ajudou com o arranjo no piano tempos atrás, lembra-se? – Perguntou Drew em tom de sussuro.

– Claro! Tem certeza que quer tocá-la?

– Absoluta. Fiquei sabendo que ela estará presente no dia da competição. Essa é a minha chance, não posso desperdiçar. – Falou Drew esperançoso. Não consegui virar para ver sua expressão, mas pude sentir o sorriso de canto de boca de alguém que planeja alguma coisa.

Minha curiosidade só aumentou em relação àquela conversa. Além da raiva que despertara em mim. Não sabia que Drew e Nathan eram amigos, era minha primeira semana naquele colégio, mas eu não imaginava os dois próximos. Eu achava Nathan uma boa pessoa, mas pelo jeito que se referia à Liza, pude perceber que não passava de outro babaca como Drew. Apesar de tudo o que eu ouvi, uma pergunta não saia da minha cabeça: Ela quem? Quem estará presente no dia da competição?

Nas aulas que se seguiram, tentei sentar perto de Drew e Nathan. Estava disposta a descobrir tudo o que conseguisse. Porém, não obtive sucesso.

– Enfim, almoço. – Comemorou Eleanor.

– Onde está Liza? – Perguntei curiosa logo quando me dei falta de sua presença.

– Quis ficar no dormitório. Ela está muito pensativa nesses últimos dias, não presta atenção nas aulas e não se importa com os intervalos e horários de almoço e janta. – Respondeu Nick.

– Aconteceu alguma coisa?

– Não. – Disse Zoey querendo mudar de assunto.

– Na verdade, aconteceu sim Zoey. Liza agiu por impulso aquele dia do jantar com Nathan. A competição foi o primeiro assunto que ela conseguiu pensar e não esperava aquela resposta. – Respondeu Nick.

– Mas ela queria cantar na competição, não queria? – A conversa entre Drew e Nathan começava a fazer sentido conforme Nick contava o que tinha acontecido.

– A questão é que Liza não consegue cantar. Ela sente uma enorme pressão quando está em frente de várias pessoas, ela simplesmente trava.

– Mas ela não participava de competição? Eu lembro de ela ter comentado algo sobre sempre ficar em segundo lugar e Drew... – Não precisei terminar, já esperava aquela resposta. Bastou poucos segundos para eu confirmar tudo aquilo que ouvira de manhã na aula de matemática.

– Ela participava, mas como backing vocal. – Disse Nick enquanto olhava para sua gelatina aguada de morango, pensando se deveria comer ou ficar sem sobremesa.

– Nunca ouvimos sua voz, a não ser misturada por mais algumas do coral. – Zoey resolveu entrar na conversa.

– Ela é muito insegura, só isso que a prejudica. – Lamentou-se Nick enquanto olhava para seu pote de gelatina já vazio e levantou-se em busca de outro.

– Ela tem que desistir logo. O Nathan, querendo ou não, depende dela nessa competição. Ela sabe que não vai conseguir, todas nós sabemos, não tem porque continuar enrolando essa história. – Falou Eleanor, mais uma vez, sem medo de expressar o que pensava. Ninguém disse nada, mas percebi que, mesmo com as curtas e grossas palavras, Eleanor não estava errada. E, pela segunda vez, eu concordava plenamente com ela.

Na aula de economia, avistei um lugar ao lado de Nathan. Porém, sentei-me atrás, já que Drew sentou onde eu queria.

– Ei, Nathan. Posso lhe pedir um favor? – Perguntou Drew com uma expressão de preocupado. Cheguei, disfarçadamente, com o meu corpo para frente para poder prestar atenção no que falavam.

– Manda aí, cara!

– Eu sei que você está participando da competição também, mas eu queria saber se poderia me ajudar com a parte da música que pede o arranjo do piano. Como sabe, vou cantar com o Wes e nenhum de nós dois sabemos tocar esse instrumento muito bem! – Riu Drew envergonhado.

– Eu toco para vocês, pode ficar tranquilo! – Respondeu Nathan enquanto pegava um caderno preto das mãos de Drew. Por mais esforço que fizesse, não conseguia enxergar o que estava escrito na capa sem demonstrar que estava prestando atenção neles e não na aula.

A caminho da aula de biologia, não consegui segurar minha curiosidade quando vi Liza caminhando ao meu lado:

– Não sabia que Drew e Nathan eram amigos...

– E não são. Eles se falam, mas não são próximos.

– Não é o que parecia hoje nas aulas.

Zoey, que estava atenta no que conversávamos, não demorou muito a responder:

– Nossa Liza! Você está muito desligada nesses últimos dias. Não percebe o que acontece ao seu redor, nem mesmo no que diz respeito ao Nathan.

Nick entendeu o que eu e Zoey queríamos dizer. Ela também percebeu os dois de cochichos nas aulas durante a manhã e perguntou:

– Desde quando eles são amigos?

– Desde quando vieram para esse prédio e começaram a dividir o mesmo quarto. Eles sempre se falavam, mas agora ficaram mais próximos. – Adiantou- se Eleanor.

Percebi o olhar confuso de Liza que abaixou a cabeça pensativa. Não sabia que Nathan e Drew eram, agora, colegas de quarto.

Na aula de biologia, Nathan chegou atrasado e foi sentar no fundo da sala, enquanto eu já havia me adiantado ao lado de Drew. Meus olhos estavam fixos em sua mochila aberta, até que ele se inclinou para guardar alguma coisa que demorei a identificar. Era o meu iPod!

Não sei o que senti, minha vontade era levantar e pegar o meu iPod, mas não quis atrapalhar a aula. Aquele pilantra estava usando o que era meu, que direito ele tinha? Rasguei uma folha de meu caderno, escrevi “você tem algo que me pertence” e joguei em sua mesa.

Vi seu sorriso de canto de boca e não demorou nada para ele escrever e me devolver o bilhete.

“Você pode ter informações que me interessam. Um pelo outro, o que acha? Caso queira, me encontre na biblioteca após o chá.”

Eu esperei ansiosamente a passagem das aulas. Eu não ia trocar o que era meu por informações. Eu iria a biblioteca pegar de volta o meu iPod e apenas isso.

As aulas de etiqueta já eram chatas e como eu estava ansiosa, demorava mais a passar. Durante esse tempo, percebi que um garoto moreno, dono do melhor sorriso que eu já vira, não parava de olhar para Nick. Eu ri da situação, afinal, ela não percebeu, e pelo que parecia só eu tinha presenciado a cena daqueles brilhantes olhos castanhos fixos nela.

Eu não podia me esquecer de contar a ela sobre o que vi, mas quando o chá se finalizou, corri até a biblioteca.

Não demorei a avistar Drew sentado em uma das mesas próxima aos computadores. Segui em sua direção e me sentei em sua frente.

– Pronto, estou aqui. Já pode me entregar o meu iPod.- Já me sentei ordenando que ele me devolvesse, enfatizando o “meu” da frase.

– Mais calma aí. – Respondeu, tirando o iPod da mesa e o juntando a si.

Segui o meu iPod com o olhar e vi aquele caderno preto perto de seu braço direito. Era um caderno com capa preta e notas de músicas. Tinha uma etiqueta na parte superior na qual li “Propriedade de Drew Mont’Alverne”. Por um momento, esqueci o motivo de eu estar ali. Ele tinha o mesmo sobrenome que eu, não conseguia acreditar, uma vez que nunca havia conhecido outra pessoa com tal sobrenome além de minha família.

Ele percebeu onde meus olhos estavam fixos, então pegou o caderno e o guardou na mochila.