Estava tudo escuro, quando ouço o barulho do despertador. Eu devia estar muito cansada, afinal, naquela noite não consegui sonhar com nada. Parecia uma pedra sobre a cama que só se moveu com o aviso de um novo dia. Abri os olhos e tudo se clareou.

Procurei desesperadamente o meu quarto, as minhas coisas e minha mãe parada atrás de minha porta me esperando levantar para ir para a escola. Levaria um tempo para eu me acostumar com a nova rotina.

Ao invés de tudo o que desejava, via Liza e Nick se levantando e se arrumando para irem tomar o café. O relógio mostrava seis horas, o café da manhã seria servido às sete e eu assistiria a minha primeira aula de álgebra naquele internato às oito.

- Bom dia! – Disseram Liza e Nick quando viram que eu acordei.

- Bom dia.

- Acho melhor se apressar, temos que chegar cedo para tomar o café antes que as frutas boas acabem. – Disse Liza.

Levantei da cama e fui vestir o uniforme. Como já imaginava, aquela saia era muito grande para mim, na verdade, acho que caberia duas de mim sem nenhum problema. Fui escovar os dentes e pentear o meu cabelo. Estava desanimada para aquele dia, portanto nem me preocupei em ficar bonita ou passar qualquer tipo de maquiagem para esconder minhas imperfeições.

- Todas prontas, podemos ir? – Perguntou Nick.

Fomos para o refeitório. Não estava muito cheio. Sorte.

- Cadê os meninos? – Perguntei.

- O horário do café deles é às sete e meia.

Percebi a falta de animação na resposta de Liza, mas me levantei para escolher as melhores frutas antes de voltar a me juntar a elas.

- Nem acredito que consegui pegar os morangos hoje. – Disse Nick toda animada.

- Normalmente, só sobram laranjas e uvas para nós. – Continuou.

Comemos e subimos de volta para o dormitório.

- Fique tranquila quanto ao seu material. Eles entregam os livros de cada matéria em todas as aulas, ou seja, você não terá que carregá-los para baixo e para cima sempre! – Disse Liza.

- Ah! Melhor. – Respondi.

Esperamos um tempo e descemos em direção às salas de aula. Atravessamos o pátio e eu pude ver o jardim que separava os prédios dos meninos...

Entramos na sala 512. Nick sentou-se ao lado de Liza e eu me sentei atrás de Nick. Não demorou nada e tocou o sinal. Após esse, um professor baixo e gordo entrou na sala.Foi até a lousa e escreveu “Senhor Corey”.

- Bom dia turma! Acabei de saber que temos uma aluna nova, por favor, apresente-se.

Fiquei sem saber o que fazer, todos me olharam imediatamente. Estava parada em meu lugar paralisada, querendo sair correndo daquele lugar para não voltar mais. Até que Liza sussurrou: “Levanta-se e diga o seu nome”.

Então, levantei-me e disse:

– Prazer, Sophie Mont’Alverne.

– Seja bem-vinda senhorita Mont’Alverne, sou Taylor Corey e serei seu professor de álgebra. Por favor, alunos, peguem seus livros no armário ao fundo e abram na pagina 437.

Vi todos se levantarem e irem buscar o livro, fiz o mesmo.

Apesar de ter ficado muito envergonhada no começo daquela aula, até que achei normal. Não sou muito ligada à exatas, porém senhor Corey explicava muito bem e era atencioso em relação às dúvidas de alunos.

As aulas daquela manhã passaram muito rápido. Quando percebi, já estávamos no refeitório para o almoço.

– Onde está o Nathan? – Perguntou Liza ansiosa.

– Calma Liz, você sabe que ele se atrasa sempre. Por favor, almoce antes que ele chegue, pois hoje não quero ficar sem comer. – Respondeu Nick

O cardápio de hoje era salada de batata com feijão. Não gostava do que via, parecia que alguém tinha cuspido aquela comida na bandeja, mas a minha fome era maior que qualquer coisa, então ignorei.

– Liza vai falar com o Nathan com aquele bafo gostoso de feijão. Olha só quem vem aí. – Disse Nick rindo e apontando para a porta.

Liza revirou os olhos e eu ri. Faltava trinta minutos para acabar o horário de almoço, pensei que Nathan iria pegar sua comida e sentar conosco para discutir com Liza a música que iriam cantar na competição, porém não foi isso o que aconteceu.

Nathan passou do nosso lado e sorriu para Liza e seguiu para a mesa onde estavam seus amigos.

–Vamos. – Disse Liza.

– Por que tão rápido? Não vai esperar ele vir falar com você? – Perguntei.

– Ele não virá. Agora vamos nos preparar para a aula de dança.

Estávamos no banheiro feminino próximo da sala de música. Arrumávamos nossos cabelos, quando ouvi uma música abafada de fundo. Eram vozes de garotos, os quais cantavam “Every Little Thing She Does Is Magic – The Police”:

“Though I've tried before to tell her

Of the feelings I have for her in my heart

Every time that I come near her

I just lose my nerve

As I've done from the start”

Parei tudo o que estava fazendo e comecei a prestar atenção naquele som agradável. Liza e Nick faziam o mesmo, porém com uma expressão de desprezo.

“Every little thing she does is magic

Everything she does just turns me on

Even though my life before was tragic

Now I know my love for her goes on”

- Apresento-lhe Drew. – Disse Nick.

Após isso, percebi que outra pessoa começou a cantar, um rap, o qual não consegui ouvir muito bem. Não demorou muito e a música acabou.

- Quem são eles? – Perguntei.

- Drew e seus amiguinhos. Ele adora cantar rap e participar de competições.

- Não acredito que ele vai participar da competição em Manchester. – Disse Liza.

- O que tem participar? Eles são bons, mas garanto que você e Nathan são melhores. – Respondi tentando mudar o clima tenso.

- Eles são bonitos, tocam e cantam bem. Todas as competições que participei fiquei em segundo lugar porque o primeiro já era deles. – Disse Liza cabisbaixa.

- E outra, depois do que aconteceu no almoço, não sei se Nathan vai cantar comigo. – Completou.

- Mas Liza, não aconteceu nada no almoço! – Respondi.

- Exato!

- Vamos para a aula de dança antes que cheguemos atrasadas? – Disse Nick rapidamente.

Eu não sabia o que pensar depois de ter ouvido aquela música. Eu não sabia quem eles eram, nunca os tinha visto, mas eu gostei muito do que ouvi e sabia perfeitamente que eles tinham grandes chances na competição. Apesar de tudo isso, eu acreditava que Liza e Nathan podiam ser melhores, mesmo nunca tendo ouvido eles cantarem.