Eu tinha chegado em “King’s Abbot Academy” um pouco depois do chá da tarde de terça-feira, o que significava que no dia seguinte haveria aula.

Estávamos no dormitório aguardando o jantar que só seria servida às oito, pontualmente.

Aproveitei o tempo livre para ler o livro que Gil me entregou. Queria saber das regras antes de cometer qualquer erro que me custasse mais uma expulsão. A leitura estava se tornando cansativa pelo excesso de palavras como “é proibido” e “não é permitido”.

“Proibido comer carne. Proibido comer qualquer tipo de doce, desde balas a chocolates. Proibido beber refrigerante e bebidas alcoólicas. Proibido o uso de cabelos exóticos. Proibido o uso de jóias extravagantes. Proibido ouvir música alta. Proibido namorar. Proibido o uso de aparelhos celulares ou qualquer outro tipo de meio de comunicação.”

“Não é permitido o acesso a internet nos horários de aula. Não é permitido conversar com o sexo oposto durante os horários de aula. Não é permitida a entrada no refeitório com o uniforme de esportes. Não é permitida a leitura de revistas...”

- Não podemos beber refrigerante e comer doces? Que tipo de prisão é isso aqui? – Perguntei para Liza e Nick.

- Está nas regras, mas não quer dizer que você precise segui-las. Nós usufruímos de tudo isso, mas se for pega, há punição. É só tomar todo o cuidado. – Dizia Liza enquanto levantava o colchão de sua cama e me mostrava vários doces, bebidas, revistas e seu notebook.

- E em relação a comer carne – começou Nick – só comemos nos finais de semana quando vamos para cidade.

- Nossos celulares foram confiscados logo no primeiro dia, por isso não temos. Mas estamos pensando em ir fazer uma visita à sala da diretora, quando ela estiver ausente! – Disse Liza sorrindo.

Nossa conversa foi interrompida pelo barulho de uma sirene.

- Hora da janta. Vamos lá! – Disse Nick enquanto corria em direção à porta.

Chegamos ao refeitório e eu não conseguia acreditar na grandiosidade daquele lugar. Era tudo muito bonito e com um aspecto medieval. As mesas iam de fora a fora, deixando as pessoas no ambiente um pouco mais próximas. Fomos para uma mesa próxima a outra entrada, a qual eu imaginei ser a entrada dos meninos. Então, tive certeza quando as portas se abriram e por ali entravam vários garotos conversando entre si.

- Já viu ele? – Perguntou Liza a Nick.

- Ainda não!

- Quem? – Perguntei curiosa.

- Nathan! – responderam juntas.

- Quem é Nathan?

- Só o filho da nossa professora de música. – Disse Liza, demonstrando um sorriso envergonhado.

- E você gosta dele?

- Não.

- Gosta. – Respondeu Nick

- Na verdade, nunca tive coragem para falar com ele. – Completou Liza

- Ela tem medo de não saber o que falar e demonstrar o que sente.

- Também. Mas o meu medo é ele não se importar com os meus sentimentos ou não sentir o mesmo.

- Mas você poderia tentar, não acha? Garanto que você terá uma surpresa. Imagine só se ele sentir o mesmo? – Eu disse.

- Eu sei Sophie, mas é muito arriscado.

- Tudo o que é proibido é mais gostoso. – eu respondi rindo.

- Você não prestou atenção em quem é ele, não é? – Perguntou Nick.

- Por quê?

- Porque ele é o filho da professora. Aqui não é permitido relacionamentos. Sabemos que ele não arriscaria o emprego da mãe para se envolver com qualquer garota que seja.

- Liza não é qualquer garota...

Percebi o rosto de Liza tomando um tom levemente avermelhado.

- É aquele de cabelos castanhos, franja jogada para o lado direito e olhos verdes. Aquele é o Nathan. – sussurrou Nick.

- Ele está vindo para cá, por favor, falem qualquer coisa comigo. – implorou Liza.

Vi que Nathan e seus amigos sentaram na mesma mesa em que estávamos. Uns dois lugares após onde Liza estava sentada.

- Ei Liza, por que você não pergunta para o filho da professora de música? Talvez ele possa lhe informar! – Perguntei em um tom de voz alto. Nathan olhou curioso e sorriu. Liza ficou mais vermelha do que estava e sorriu envergonhada.

- Posso ajudar em alguma coisa? – Nathan perguntou.

Nick sorriu para mim. Conclui que fiz algo bom, mas ainda sim precisava ajudar Liza a encontrar as palavras certas.

- O que queria saber mesmo Liza? – perguntei a ela, na esperança em ajudá-la de alguma forma.

- Ah, desculpe incomodar...

- Não é incômodo algum, prazer sou Nathan.

- Sou Elizabeth, e essas são Sophie e Nicolle.

- Prazer em conhecê-las. Mas então, o que queria saber?

- É que vai ter uma competição de música em Manchester daqui a 3 semanas. Eu queria participar, mas como é um dueto, eu preciso de alguém para cantar comigo. Não sei se sua mãe sabe de alguém que esteja interess...

- Eu topo! – disse Nathan imediatamente

Olhei para Nick sem acreditar.

- Sério? Não tem problema se não quiser, posso encontrar outra pessoa...

Olhei para Liza tentando fazer sinal para ela se calar.

- Eu quero sim! Na verdade, estava procurando alguém para cantar comigo também. Já tinha visto sobre essa competição. – Disse Nathan alegremente.

Fomos interrompidos pela sirene. Era o toque de recolher. Não tínhamos nem jantado direito, mas o que aconteceu naquela noite foi simplesmente maravilhoso e melhor do que qualquer refeição.

- Bom, temos que ir agora, durante a semana combinamos tudo certinho! Boa noite meninas – Despediu-se Nathan.

- Boa noite! – respondemos.

- Muito Boa noite, não é mesmo Liza? – Disse Nick.

- Eu nem estou acreditando! – Respondeu- Obrigada Sophie, obrigada mesmo. Eu nunca teria coragem em fazer isso...

- Agradeça-me depois!

Voltamos para o dormitório e Liza estava com um sorriso reluzente de orelha a orelha. Levantamos o colchão e pegamos uns salgadinhos para enganar a fome, já que não tivemos tempo para jantar.

Conversávamos e ríamos como se não tivesse aula no dia seguinte, até que ouvimos uma batida brusca na porta. Era Gil. Rapidamente apagamos as luzes e deitamos em nossas camas. Desejei sonhar coisas boas antes de enfrentar o que me aguardava nos próximos dias.