O despertador tocou às oito da manhã. Eu e as meninas nos arrumamos correndo para descer para o café da manhã. Percebi certo desânimo no rosto de Liza, mas sabia que aquilo ia mudar logo, logo.

O refeitório não estava muito cheio. Para falar a verdade, nós éramos as únicas sem contar alguns professores. Afinal, os alunos que permaneceram na escola, não iriam acordar tão cedo em pleno domingo.

Não demorou muito e as meninas seguiram para a biblioteca para colocar os trabalhos escolares em dia. Nick foi a única que tomou um rumo diferente. Ela seguiu para o teatro para pegar o roteiro da peça de Hallowen com a senhorita McDonough. Eu e Liza ficamos um tempo na biblioteca... Ela permanecia em silêncio, parecia insegura e um tanto nervosa. Não quis pressioná-la, por isso não iniciei nenhum tipo de conversa.

- Quase nove horas, vamos? – Disse à Liza distraída e ela se levantou.

Avistamos Drew sentado em um dos bancos próximo da fonte. Quando nos viu, deu aquele sorriso de lado.

- Tinha esperanças que vinha! – Gabou-se.

- Pela competição, apenas. – Respondeu secamente Liza, mas depois deu um sorriso para amenizar a situação.

- Por um acaso você tem preferência por cantar alguma musica? É que eu queria tocar uma de autoria minha, mas se você não quiser...

- Na verdade tinha sim, mas por mim tudo bem. Pode tocar a sua.

- Tudo bem mesmo? – Perguntou Drew virando a cabeça com olhar de dúvida.

- Claro. – Respondeu Liza delicadamente balançando a cabeça.

- Bom, vejo que trouxe Sophie junto com você. Acho que não irá se importar de um amigo meu presente. Ele vai me ajudar com o arranjo da música.

- Sem problemas! – Respondeu.

Sem mais delongas fomos indo em direção à sala de música. Não lia pensamentos, mas tinha a certeza de que Liza estava nervosa quanto aquilo. Ela não tinha lembranças muito boas daquele lugar. Quando fomos entrando, deparei-me com o maior medo de Liza. Vi que ela deu um passo para trás, hesitando, mas depois levantou a cabeça e seguiu em frente. Era Nathan, estava sentado de frente para seu teclado do outro lado daquela sala espaçosa.

- Ei Drew, pelo som que você quer fazer, acho que o teclado vai ficar mais harmonioso e terá uma melodia melhor! – Disse Nathan fingindo não ter notado a minha presença e a de Liza naquela sala.

- Você quem manda! – Respondeu Drew sentando em uma das poltronas no canto da sala, um pouco distante de Nathan.

- Vou pegar meu violão ali e já volto! – Respondeu Drew se levantando. – Aqui está a letra da música. – Entregou o papel à Liza. Eu, que estava logo ao seu lado, inclinei-me para ler e a música era realmente boa. Drew tinha esse dom. Lembro-me de uma estrofe da música de uma vez que Drew tinha me mostrado na biblioteca quando devolveu meu iPod.

- Voltei. Vamos ensaiar só pelo refrão por enquanto, tudo bem?

- Ok. – Respondeu Liza um pouco insegura.

- Eu começo com você, sem frustrações. – Disse.

- Obrigada. – Disse Liza respirando fundo.

Nathan começou a tocar a parte no piano e Drew começou a cantar, Liza acompanhou-o. A voz dela era delicada e doce. Era gostosa de se ouvir, misturada com a voz de Drew dava uma harmonia fantástica, mas eu queria que ela cantasse sozinha. Queria que ela tivesse confiança nela mesma.

- Muito bem! Mas devo confessar que essa parte é apenas sua. Será que você consegue sozinha?

- Vamos tentar. – Respondeu.

Nathan voltou a tocar e Liza começou a cantar bem baixinho:

“Curious, what you gonna do ?”

Drew interrompeu:

- Se você cantar baixo assim, ninguém vai poder desfrutar de seu talento!

Liza abaixou a cabeça envergonhada e continuou cantando naquele mesmo tom.

- Olhe pra mim. – Pediu Drew caridosamente. – Vamos começar de novo.

Drew continuou com Liza, mas ele aumentou o seu tom enquanto cantava, Liza fez o mesmo. De repente Drew foi diminuindo seu tom de voz sem que Liza percebesse. Quando fomos nos dar conta, Liza estava cantando sozinha, olhando para Drew que só mexia sua boca.

Olhei para Nathan e vi a confusão em seu olhar. Com certeza ele estava arrependido! Liza era uma cantora nata, tinha uma voz linda, só precisava demonstrar o seu dom e com a ajuda de Drew, nós conseguimos, ele conseguiu, ela conseguiu!

- Eu consegui! – Liza disse em um tom encantador. Ela estava realmente feliz. E eu estava feliz por ela. Drew também estava. Ele a ajudou e tinha uma parceira perfeita para a competição!

- Vamos repassar esse refrão uma ultima vez? Seu esforço por hoje já valeu a pena! – Disse Drew sorridente e orgulhoso de si.

Antes que Nathan voltasse a tocar, ouvi que tinha alguém batendo à porta. Fui ver quem era.

- Bom dia, Sophie Mont’Alverne? – Perguntou um senhor barrigudo e barbudo segurando uma vassoura em uma mão e uma rosa com um bilhete em outra.

- Eu mesma... O que foi?

- Entrega para senhorita! Tenha um bom domingo. – Ele me entregou a rosa e o bilhete e fechou a porta.

- Mas o que...

- hmmmmmmmmmmmmm. – Pude ouvir Drew e Liza no fundo da sala.

- Gente, quem era aquele homem? – Perguntei confusa.

- Era o zelador. – Nathan finalmente resolveu falar. Devia ter perdido a fala desde que Liza entrou na sala, e após ela ter cantato, devia ter esquecido como se falava.

- E cupido! – Zombou Drew.

- Ele é sobrinho distante, muito distante, da família Abbot. Ele trabalha de zelador porque não quer deixar a escola. Por ter descendência, por mais que de muitas gerações, ele não pode ser demitido em consideração à família e ao próprio colégio, então ele ajuda os alunos com relacionamentos e outras situações. – Explicou Liza.

- Nossa que amor! – Fiquei surpresa e ri. Deixei a rosa em uma mesa ao lado e abri o bilhete:

“Tenha um bom dia, senhorita Mont’Alverne. O que acha de um próximo final de semana divertido pela cidade de Cumbria? Ou até mesmo outro lugar mais próximo!? Vou gostar de te apresentar à Inglaterra. Assinado: seu admirador, por enquanto, secreto. “