Gutt escrita por Ennaz


Capítulo 6
Número da sorte: 20


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que o capítulo cinco estava ficando enorme. Ainda bem que cortei porque se está enorme mesmo cortado, imagina se eu não o tivesse feito? Esse capítulo está enorme.
Quando lerem esse capítulo, não sei se vocês vão gostar do que coloquei aqui. Alguns podem deixar de ler a fic... de qualquer forma, mesmo se for deixar de ler, deixe um comentário dizendo o que achou aqui.



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Ele olhou para Harry, que ressonava no leito. Afastou a franja da testa do garoto e passou o polegar em sua cicatriz. Com o olhar aflito, fez uma pergunta que Lílian não sabia se era para ela ou para o além:

- Será uma sina?

Lílian o observou em silêncio por mais um tempo, e disse na falta de resposta melhor:

- Talvez o Harry goste de sua prima.

Tiago riu. Lílian desviou o olhar para Harry. Por isso não viu quando Tiago lhe lançou um olhar mais terno e mais gentil que ele lançara ao pergaminho momentos atrás.

Capítulo 6

Número da sorte: 20

Era hora do jantar e Harry continuava a dormir. Tiago e Lílian não se afastaram dele em nenhum momento. Seus amigos já tinham vindo visitar Harry mais cedo; Madame Pomfrey os expulsou. Quando o menino recebeu uma visita um tanto inesperada. Alvo Dumbledore surgiu em suas vestes azul-meia-noite com estampas de estrelas prateadas e um chapéu combinando.

- Boa noite, meus jovens – ele os cumprimentou cordialmente – imagino que ainda não tenham ido jantar.

Os dois confirmaram.

- Hum. Deveriam jantar alguma coisa lá no salão. A hora está passando e se não forem logo ficarão sem ter o que comer.

Tiago e Lílian trocaram olhares apreensivos e Lílian tentou argumentar:

- Mas, o Harry... ele precisa da gente, se ele acordar-

- Não se preocupem. Eu mesmo ficarei com ele. Soube que sua cicatriz doeu, e gostaria de falar com o pequeno Sr. Potter.

- O senhor soube? – Tiago ficou desconfiado – quem contou, professor?

- Isso não vem ao caso. O importante é que preciso compreender o que está acontecendo com o pequeno viajante do tempo. Enquanto isso; é melhor irem jantar. Senão ficarão com fome.

Apesar de contrariada, Lílian se sentiu convencida. Ela olhou para Tiago que encarava o diretor de uma forma que muitos poderiam interpretar como desafiadora, ou até desconfiada. Temendo que o colega fizesse besteira, ela o puxou pelo braço para fora da enfermaria.

- Eu não acredito que você pensou em respondê-lo – disse ela já a alguns metros da ala hospitalar.

- Ele estava tentando, não, ele nos afastou do nosso filho de propósito, Lil. Ele sabe de algo que não quer que saibamos.

Ela sentiu um calafrio na espinha ao ouvi-lo dizer “nosso filho”. Era estranho. Mas ela não podia negar, então... tinha que aceitar que Harry era filho dela e de Tiago Potter. Nem se importou que ele tivesse a chamado pelo apelido.

- Está desconfiando de Dumbledore?

- Não sei... talvez... ele está escondendo alguma coisa. Ele fez aquilo, lembra? O negócio do fio prateado. E não disse o por quê.

- Talvez ele só esteja tentando entender o que está acontecendo para poder nos explicar tudo depois. É só ter paciência.

- É... quem sabe?

- AAARRRRREEEEE!!!! – um rapaz passou correndo por eles, instantes depois uma cueca com uma capa e um S vermelho estampado em sua fronte passou voando.

- Não tente escapar, meliante! A justiça é meu volante! – recitava a cueca.

Lílian trocou um olhar surpreso com Tiago. E então... caíram na gargalhada.

O salão estava praticamente vazio, e nenhum de seus amigos se encontrava por lá. Por isso jantaram sozinhos. Não tiveram assunto para conversas, fora Harry e o Super Cuecão. Ao término do jantar, eles voltaram para enfermaria. Encontrando Harry acordado e cabisbaixo. O prof. Dumbledore se encontrava conversando algum assunto que o garoto não pode lhes dizer quando o velho diretor saiu. Lílian começou a entender os sentimentos de Tiago. Ela também começava a se irritar com os segredos. Mas não exteriorizou o que sentia. Eles ficaram com Harry até que Madame Pomfrey o liberou. Tiago carregou o menino em suas costas; um dos efeitos colaterais da poção era a sonolência posterior.

Chegando ao quarto dos meninos do sexto ano na torre da Grifinória eles encontraram não só os marotos e Cosmo, como também as gêmeas. Esmeralda jogava Snap Explosivo com Sirius, montando um castelo de cartas. E Jade e Remo jogavam xadrez bruxo, enquanto Cosmo dava dicas à tia. Pedro comia alguns dos doces que eles tinham pegado em Hogsmead. Eles os receberam calorosamente quando chegaram, em especial ao Harry e os introduziram na diversão de cada. Esmeralda pegou o menino no colo e ficou mostrando seus brinquedos para ele. Enquanto Tiago ocupava seu lugar e Lílian passava a dar dica ao Remo no xadrez. Foi uma noite agradável, que terminou quando as garotas se despediram e foram para o seu quarto.

A campainha do despertador tocou estridente. Tiago estremeceu em seu sono, agarrando-se ao travesseiro. Ele era sua âncora para mantê-lo em seu sonho. Alguém afastou suas cortinas, lançando a forte iluminação solar sobre seus olhos cerrados. Sentiu alguém bater de leve em seu ombro. Relutante, abriu os olhos, encontrando um par de olhos verdes emoldurados por óculos de aro redondo. Os óculos que ele havia consertado. Era Harry. O menino sorriu para ele enquanto dizia:

- Bom dia.

- Hum... bom dia... que horas são, hein?

- Hum... – ele olhou para o relógio – seis.

- Seis?

- Seis e meia, acho... os dois ponteiros estão no seis.

- Ah... é domingo, quem pôs o despertador para tocar tão cedo? – ele reclamou, se virando para o outro lado e tentando abafar o som da campainha com o travesseiro.

- Ah... fui eu... foi mal – a voz sonolenta de Remo respondeu. Ouviu seus passos andarem até o despertador e o aparelho se silenciou – eu tenho uma reunião da monitoria... não posso me atrasar...

Ouviu, meio dormindo, o amigo abrir seu armário e pegar sua roupa. Imaginou que fosse o uniforme, já que era uma reunião da monitoria. Remo teria de estar uniformizado. Tiago agradecia em seu íntimo por não ter sido escolhido monitor em seu quinto ano, detestaria ter que acordar tão cedo num domingo só para assistir á uma reunião chata. Ouviu, meio ao longe, uma porta se abrir e bater ao fechar. Viu uma gelatina verde dançar a sua frente. Havia pedaços nela. Pedaços de... couve? Não! Eram árvores. Por que tinha árvores numa gelatina?

- Pai? – alguém o chamou, sentiu uma mão em seu ombro e levou um susto.

Era Harry. Ele o acordara e... ele o chamou de pai? Por um momento ele olhou confuso para o menino. Harry ficou nervoso. Tiago percebeu e tentou falar alguma coisa.

- Ah... me chamou?

- Si-sim...

- Por quê?

- Eu... queria sair... um pouco...

- Ah... Harry... está muito cedo ainda... dorme mais um pouco...

- Estou sem sono.

Ah! O segundo efeito colateral: falta de sono. Harry demoraria a pegar no sono novamente. Tiago só desejava que ele o fizesse durante a próxima noite. Mas havia uma chance disso acontecer só em dois dias. Até lá, provavelmente Harry o acordaria por se sentir solitário. É... cuidar de alguém era cansativo.

- Harry... ainda está cedo... espere um pouquinho...

Remo voltou nessa hora, para guardar suas roupas de dormir. Assim Tiago se lembrou de alguém que poderia ajudá-lo.

- Remo.

- Hum?

- A Lil... Evans... – já não sabia como chamá-la, ela não havia reclamado quando ele a chamou de Lil no corredor na noite anterior, nem quando a chamou de Evans pelo resto da noite – ah... ela vai estar nessa reunião de monitoria, não é?

- Acredito que sim, por quê?

- Leve o Harry com você, ela vai gostar de ficar com ele – e voltou a se deitar.

- Hum... sem dúvida a Lil gostaria de ficar com o Harry, mas... não sei se uma reunião de monitoria chato seria um bom lugar para uma criança – ele ouviu Remo argumentar.

É. Ele tinha razão.

- Ah... então esquece – ele perdeu a paciência – vai embora, logo.

Ouviu Remo soltar um suspiro aborrecido e sair em seguida. Houve silêncio por algum tempo, Tiago se sentiu adormecer novamente quando...

- Pai...

Aquilo ainda era muito sinistro. Estava lhe dando calafrios.

- O que foi?

- Não vai sair, não?

- Desculpa, Harry, mas eu ainda estou com sono... espera um pouco. Brinca com os brinquedos que a tia Esmeralda te deu, por enquanto.

- Está bem... – a voz de Harry soou triste.

Sentiu seu coração apertar-se de forma desagradável. Imediatamente se arrependeu por ter dito aquilo, mas ele ainda estava com sono. Harry teria que esperar. Então, algo que seu pai dissera há algum tempo lhe veio a cabeça:

- O que é ser pai? – ele repetira a curiosa pergunta de Tiago – ora, o que posso lhe dizer a respeito, filhote? Acho que poderia dizer que ser pai, é perder aquela manhã de domingo de sono, para ganhar uma manhã maravilhosa aproveitando-a com o seu filho. Isso é ser pai.

Ah! Por que ele tinha que dar logo esse exemplo? Aquele velho. Ele realmente cumpria com o que dizia. Tiago se lembrou do tempo em que ainda era criança. De quando ele acordava muito cedo aos domingos, com muita energia e pedia ao pai para praticar quadribol com ele. E aquele velho, mesmo sendo velho e estando cansado, se levantava sem reclamar, com um sorriso no rosto e saía com Tiago. Aquelas manhãs de domingo se tornaram lembranças maravilhosas para ambos. Sim. Cuidar de alguém era cansativo. Ser pai era cansativo. Mas... Seu pai dizia que era recompensador. Ele se levantou e viu Harry, com os ombros baixos, brincar justamente com o apanhador da Grifinória em miniatura feito por Esmeralda. Que era Tiago.

Sentiu mais uma pontada de remorso. Devia ter se levantado na hora. Mas o mal teria de ser desfeito, e se levantou.

- Harry, se prepare que vamos jogar quadribol, hoje – bagunçou o cabelo do garoto ao passar pela cama dele. O menino abriu um sorriso enorme.

Tiago foi até a cama de Sirius e a chutou, gritando:

- Sirius, acorda!

- O que é? – o outro abriu a cortina, furioso.

- Quer ser o padrinho do Harry?

O maroto o encarou surpreso e respondeu:

- Mas é claro. Ele é maneiro.

- Então se levante, vamos jogar quadribol com ele.

Sirius olhou para Harry, e depois para o relógio, e então para Tiago.

- Por que tão cedo? – perguntou.

- Ele está sem sono, por causa da poção do sono que tomou.

- Irônico... tá, eu vou com vocês, mas me prometa que eu vou ser o padrinho dele quando ele nascer daqui a quatro anos, ou menos. Pode demorar menos tempo para ele nascer agora que a Evans parece mais amigável com você.

- Ah, você acha?

- Só parece, só parece. Não quer dizer que tá. – e os dois se dirigiram para a cama de Pedro.

Tiago abriu a cortina, mas se arrependeu imediatamente. Pedro estava sem camisa e dormia todo espalhado. Era uma visão horrível. Ele fechou a cortina após o choque.

- Por favor, não faça mais isso – Sirius lhe pediu, ele estava pálido-esverdeado.

- Vamos deixá-lo dormir.

E os dois foram para seus armários, pegar suas roupas.

- Ah, isso me lembra que Harry precisa de mais uma roupa.

- Não pegue mais as roupas de Pedro. Não o quero andando pelado por aí.

- Acho que vou ter de pedir as do Cosmo.

Tiago abriu a cortina da cama do colega e levou mais um susto. O verdinho já não estava mais lá.

- Mas já?

- Por que tão cedo? Ele é maluco!

- Vou pegar uma roupa dele de qualquer forma.

- Cuidado. É capaz de um crocodilo sair do armário dele.

- He! He! Bem lembrado.

Tiago puxou os puxadores do armário devagar. E quando teve certeza que nem crocodilo, nem leopardo, ou macaco pulariam em cima dele, o abriu. Para encontrar várias roupas coloridas – a maioria verde, e uma coleção de objetos curiosos. Incluindo uma dentadura. Uma dentadura de verdade. Aquilo era legal e bizarro ao mesmo tempo. Tiago procurou pelas roupas mais normais do armário. Achou uma blusa com cara de infantil que ficaria legal em Harry. E um par de bermudas, que ficaria bem em Harry.

- Acho que preciso pedir uma permissão ao Dumbledore para comprar roupas para o Harry em Hogsmead. Talvez a Eliane goste de sair com a gente. Ela gosta de roupas. Principalmente de comprá-las.

- Ah? Meu Raio de Sol? Ela está vindo?

- Não te contei? Ela vem hoje. Chega hoje à noite, durante o jantar. Vai ser selecionada na frente de todo mundo.

- Finalmente. Mas achei que ela demoraria mais tempo para vir.

- É... também achei... vamos, Harry? Vamos vestir você.

- Está bem. Mas... deixe um recado pro tio Cosmo, não gosto de usar as coisas dos outros sem eles saberem.

- Olha a Evans falando de novo – riu Sirius.

Dessa vez os três foram até o campo de quadribol. O que fez Tiago se perguntar quando o capitão do time, Alfred, marcaria o primeiro treino da Grifinória naquele ano. Felizmente não havia ninguém no campo, nenhum time pareceu ter marcado treino para aquele dia. Pois passaram a manhã toda ensinando truques ao Harry, que aprendia rapidamente. E ninguém apareceu para reclamar. Pararam ao se virem cansados e com fome. Então deixaram o campo. Antes disso, Tiago achou ter visto alguém os observar das arquibancadas. Procurou, mas não achou quem quer que fosse. Pensou que tivesse sido imaginação e saiu. Voltando para o castelo, eles comeram no desjejum. Encontrando Lílian e Remo no salão. Harry logo desatou a falar da manhã que tivera com Tiago e Sirius.

- Estou começando a ficar com inveja. O Sirius e o Tiago passam o tempo todo com você, e acabam se divertindo. Eu já nem tenho tanto tempo para isso.

Dentro da declaração, o que chamou a atenção de Tiago, foi que a garota o chamara pelo nome. Trocou olhares animados com Sirius e disse a seguir:

- Estou planejando levar o Harry para comprar roupas em Hogsmead. Se você quiser, você pode vir conosco, Lil. – enfatizou o apelido dela, só para ver como ela reagia.

Surpreendentemente ela sorriu. Um sorriso de lado. E olhou para Tiago.

- Claro que eu vou, Tiago. Vocês, homens, são péssimos para comprar roupas.

- Então você vai com a gente, mãe?

Tiago teve vontade de rir. Teve certeza que Lílian ficara abalada ao ouvir ser chamada de mãe. Mas independente de como ela se sentia, ela respondeu bem-humorada:

- Claro. Não deixaria o seu pa- quer dizer, o Tiago escolher suas roupas. Isso é trabalho de mã- o meu trabalho. – ela ficou vermelha e Tiago quase riu. – Mas... se o Harry precisa de roupas, de quem são essas?

- Do Cosmo. – respondeu Tiago.

- Do Cosmo? Sei que ele não é muito alto, mas uma blusa dele deveria parecer um vestido no Harry.

- Tiago a ajustou – contou Sirius.

- Sério? Sabe ajustar roupas? – ela perguntou surpresa.

- É; o Tiago sabe o feitiço de ajustar roupas – disse Remo, com um sorriso divertido.

- Você sabe? – ela continuava com o seu tom de surpresa.

- Claro que sei, minha mãe me ensinou.

- Ela também me ensinou. – disse Sirius.

- Assim como me ensinou a cozinhar.

- Também me ensinou.

- Feitiços de arrumar quarto.

- Isso também.

- De limpeza.

- Também.

- Dobrar roupas.

- Igualmente.

- Costurar.

- Idem.

- Feitiços domésticos em geral.

- O mesmo.

- Ela é uma mãe incrível.

- Melhor que a minha. Mas todas as mães são melhores que a minha. – Sirius deu de ombros e voltou a comer.

- Imagino – disse Lílian admirada – a minha mãe também me ensinou essas coisas, mas só o jeito trouxa. Afinal ela não é bruxa.

- Ah, eu poderia te ensinar o jeito bruxo.

- Gostaria muito.

Quem diria? Depois de tantas cantadas e tentativas furadas, seriam suas habilidades domésticas que o aproximariam dela. Se ele soubesse disso antes.

E foi-se a manhã e a tarde do sétimo dia. Domingo escurecia. As estrelas despontavam no manto de Nyx. Um dia tranquilo já se ia. Os marotos e os malucos – que era o nome do grupo formado pelas gêmeas, Cosmo e Lílian; algo que fez Tiago rir muito e Lílian protestar dizendo que não faria parte de um grupo chamado de malucos – seguiram para a torre da Grifinória. Tomaram banho e se arrumaram para o jantar. Remo e Lílian, como monitores, trabalharam para manter os alunos em ordem. Harry ganhou uma veste bruxa de seu tamanho da Prof.ª McGonagall, e o menino a vestiu. Ela dissera que era para o garoto ficar uniformizado aos demais. Tiago achava que era um presente. Eles se sentaram às suas mesas, e quando os monitores também se sentaram, todos esperaram a comida.

Mas ao invés disso, o prof. Dumbledore se levantou e disse:

- Caros alunos. Gostaria de anunciar que hoje chega uma aluna nova para se juntar a nós. Era para ela ter vindo no Expresso de Hogwarts como os demais alunos do primeiro ano, mas circunstâncias especiais a fizeram ficar em casa por mais tempo. Mas ela finalmente decidiu vir e agora se encontra esperando ser conduzida pela prof.ª McGonagall até o salão e ser selecionada a uma das casas como todos vocês foram. Por isso lhes peço que sejam pacientes e que deem as devidas boas-vindas à ela. Pode entrar, prof.ª McGonagall.

E as portas do salão se abriram. Por elas passaram a professora e, atrás dessa, uma menina. Era Eliane, e Tiago se sentiu muito feliz por vê-la. Como era ela? Bom. Ruiva. Olhos castanho-claros. Usava óculos. Magra e alta como os Potter de sua idade: doze anos. Ou quase doze anos, pois ela faria doze em novembro, no dia sete. Ela se encontrava uniformizada. Seguia a professora, olhando para todos os lados. Quando seus olhos se encontraram com os de Tiago, ambos sorriram um para o outro. Ele deu um sinal de positivo, levantando o polegar para ela. Como um incentivo. E a garota seguiu de cabeça erguida.

A prof.ª McGonagall parou diante de todo o salão e Eliane parou logo atrás. O prof. Flitwick pôs o banquinho de três pernas ao lado da professora e o Chapéu Seletor sobre o banquinho. Tiago se perguntou se o chapéu cantaria alguma coisa. Mas talvez não o fizesse por ser fora do habitual. Enganara-se. O chapéu abriu seu rasgo próximo à aba, que era a boca, e começou a entoar:

Escute, menina, de talento latente,

Mesmo que sejas a última e única,

Não deixarei de lhe contar

As belezas de cada família.

As quatro famílias

Que formam a Hogwarts:

Grifinória, Lufa-Lufa,

Corvinal e Sonserina!

Grifinória,

É dos corajosos.

Lufa-Lufa,

Pertence aos bondosos.

Corvinal,

Habitada por sábios.

Sonserina,

Composta pelos ambiciosos!

Estas são as casas,

A qual pertencerá?

Não se saberá,

Até que me ponha...

Em sua cabeça!

Mas quem sabe?

Tal decisão...

Talvez decida...

O rumo...

De nossa história.

E o chapéu se calou, terminando a canção num tom sombrio. Os alunos bateram palmas. Alguns alunos, em especial os sonserinos, lançaram olhares desconfiados sobre a menina. Talvez se perguntando por que uma simples aluna recebia tamanha atenção. Todos fizeram silêncio quando a professora abriu o pergaminho com a lista de novos alunos daquele ano. Talvez por formalidade, pois ela certamente sabia o nome de Eliane.

- Potter, Eliane – chamou a professora.

Houve murmúrio. Tinha mais expressões descontentes em meio a Sonserina que em outras casas. Alguns rostos se voltaram para Tiago, que sorriu para cada um deles. Eliane se adiantou até o banquinho e se sentou. A professora pôs o chapéu em sua cabeça. Passou-se um tempo. Quase um minuto. Tiago sabia que o chapéu se encontrava falando com ela. Ele ainda se lembrava da vez dele. Foi o momento mais a apavorante de seu dia quando o chapéu ponderou colocá-lo na Sonserina. Por causa de sua tendência em quebrar regras. Se perguntou se o chapéu estaria tendo uma conversa semelhante com Eliane porque a garota riu e disse alguma coisa que soou como “fala sério”. Mas ele não ouviu para ter certeza.

Ela riu mais uma vez. As pessoas começaram a se perguntar por que ela estava rindo. Ninguém ria durante a própria seleção. Costumava-se estar apavorado demais para tal. Mas ela parecia tranquila. Talvez... tudo que ela tenha vivido, tenha tornado momentos como esse menos pavorosos. Então o chapéu finalmente anunciou:

- GRIFINÓRIA!

E a mesa da casa aplaudiu enquanto Eliane se juntava a eles. Ela passou por um bom pedaço. Deixou os alunos do primeiro ano para trás e se dirigiu diretamente para Tiago, se encaixando entre ele e Sirius.

- Oi – ela disse sorridente para Tiago.

- Você não de-

- Shi! – ela o mandou ficar calado. Dumbledore se levantara e agora dizia:

- Seja bem vinda, srta. Potter. Espero que encontre amigos valiosos durante sua estada na escola. Então, terminada a Cerimônia Especial de Seleção. Acredito que todos nós estamos livres para começar o jantar.

E as travessas douradas se encheram do mesmo tipo de comida servida no banquete de abertura do ano letivo. Realmente, Dumbledore quis que Eliane se sentisse bem vinda.

- Você não devia se sentar com a gente logo de cara. – Tiago terminou a sentença que começara antes de Dumbledore falar.

- Por que não? Por aqui, eu só conheço vocês, o Remo e o Pedro – argumentou Eliane.

- Justamente por isso – Remo respondeu – para você conhecer gente nova. Se se prender só na gente, vai ser mais difícil conhecer alguém novo.

- Concordo – disse Sirius.

- Se você não se juntar aos alunos do primeiro ano você não vai arranjar amigos da sua idade – Pedro explicou com rosbife na boca. Eliane estremeceu ao olhar para ele.

- Mas... eu não estou a fim de fazer isso hoje... – ela respondeu – falo com eles no dormitório, nas aulas, refeições e qualquer outra hora. Mas agora, eu quero ficar com vocês.

Não houve mais argumentos.

- Pai... – Harry o chamou num sussurro e o puxando para mais perto. Tiago se curvou para aproximar o ouvido dele e deixou que falasse – quem é ela?

- Ah... é a Eliane, minha prima de segundo grau – ele respondeu no ouvido do menino – o que faz dela a sua... prima de terceiro grau.

- Minha prima de terceiro grau?

- Não a conheceu no seu tempo?

- Não...

- Ainda não deve ter tido a oportunidade.

- Quem é esse garoto? – Eliane perguntou, encarando Harry. O menino sorriu e acenou para ela – É a sua cara.

E encarou Tiago. Exigindo claramente uma resposta. Seus olhos castanho-claros faiscavam. Aí Tiago se lembrou de um fato incômodo. Eliane tinha muitas qualidades, mas ela tinha um terrível defeito: era ciumenta. Muito ciumenta. Harry poderia vir a gostar dela, mas ela gostar de Harry... e de Lílian, seria outra história.

- Explico para você, depois. Quando estivermos num lugar seguramente privado.

Ela aceitou a resposta, mas parecia continuar querendo amaldiçoá-lo com o olhar.

O jantar seguiu tranquilo até que o diretor deu o banquete por encerrado. Os alunos voltaram para as suas casas. Lílian se ofereceu para mostrar seu quarto a Eliane, mas a garota a dispensou e preferiu Remo. Eles seguiram juntos, os dois grupos e as crianças. Remo mostrava tudo no castelo para Eliane, que se maravilhava com os quadros e os fantasmas. Harry ficava cada vez mais agitado. Tiago começou a ficar preocupado quando o menino passou a cantar uma musiquinha esquisita enquanto dançava.

- Que já começou o Muppets Show! – Harry pulou no sofá no salão comunal ao cantar a estrofe final da canção estranha. E ainda continuou a pular.

- Eles ainda passam O Show dos Muppets? – perguntou Lílian.

- Passam. E cavalo de Fogo. He-Man. Os Muppets Baby. Nossa Turma. She-Ha. Caverna do Dragão. Os Smurfs. Os Flintstones. Os Looney Tunes. Os Jetsons. Batman. Super-Homem. Homem-Pássaro...

- Tem desenhos que eu não conheço – Lílian comentou enquanto Harry continuava a citar uma infinidade do que quer que fosse.

- Caramba, o pivete tá que nem um diabrete da Cornualha – observou Jade enquanto Harry pulava do sofá para a poltrona e da poltrona para o sofá.

- Será que ele vai dormir? – Sirius perguntou.

Tiago suspirou. Teria problemas com o Harry, com os quais que teria de lidar por um tempo até o garoto voltar ao normal. Pegou o horário do primeiro ano em seu bolso e o estendeu á Eliane. Que assistia a cena de Harry com uma expressão aborrecida.

- Você tem aula de Defesa Contra as Artes das Trevas amanhã – disse – é melhor ir se preparar para dormir.

A garota pegou o pergaminho com o horário. Olhou para o pergaminho e depois para Tiago e argumentou:

- Mas ainda são oito horas.

- Oito e meia e você vai acordar às seis.

- Mas não tô com sono. – ela cruzou os braços, teimando.

Ela não ia fazer isso, ia? Tiago coçou a cabeça procurando por uma solução. Mas que droga, ele só tinha dezesseis anos e agora teria que lidar com duas crianças. Uma à mil por hora por causa de uma poção de sono, e outra teimando em ficar acordada. Ele tinha impressão que era só para contrariá-lo, ou seria outra coisa? Eliane não tinha razão para querer contrariá-lo. Qual seria a razão dela ao querer ficar acordada com eles? De qualquer forma, como ele iria convencê-la a ir dormir? Aí fez-se a luz em sua mente e ele soube como. Podia não funcionar aquela noite, mas serviria para ela ir dormir cedo nas noites seguintes.

- Tudo bem. Fique acordada e nos ajude a cuidar do Harry.

- Como?

- O Harry tomou uma poção do sono que tem efeitos colaterais. Essa energia toda é um-

- Por que uma criança tomaria uma poção do sono? Isso é estranho.

- Foi a enfermeira quem a deu ao Harry-

- Por quê?

- O Harry estava... estava passando mal...

Ela fechou a expressão novamente, provavelmente achava que ele estava mentindo ou escondendo alguma coisa. Mas a verdade é que ele não tinha como explicar. “A cicatriz do Harry doeu tanto que não tivemos outra escolha senão dar uma poção de sono a ele”, como explicar isso?

- Mas agora ele está sem sono. E muito agitado.

Harry agora corria por toda a sala, indo de um lado a outro. Pedro se colocara em frente a passagem para evitar que Harry saísse correndo pelo castelo enquanto os outros tentavam evitar que ele se machucasse ou quebrasse alguma coisa.

- Tiago, ajuda, não tá dando para controlá-lo – pediu Lílian.

- Hum... Esmeralda, pegue o time da Grifinória de brinquedo lá no meu quarto.

- Sim, senhor! – ela bateu continência e subiu a escada apressadamente.

- Tiago, você ainda não me explicou quem é o garoto – Eliane o seguiu enquanto o maroto tentava segurar Harry – por um acaso ele é o resultado de uma poção que não deu certo?

- Ah! As pessoas podem achar que é isso? – não sabia por que, mas aquilo o fez rir – que engraçado.

- O Harry não é um resultado errado de uma poção – Lílian defendeu o garoto, um pouco ofendida.

- Claro que não – concordou, ele – Eliane, juro que te explico quem é o Harry, mas apenas... quando não houver mais ninguém.

A sala comunal ainda estava cheia de alunos. Mas alguns já subiam para os quartos justamente por causa do Harry. Era possível ouvi-los reclamando dele.

- Você não se parece com a tia Petúnia – Harry segurou o rosto de Lílian enquanto falava – a tia Petúnia tem dentes grandes e ela se parece com uma girafa por causa do pescoço comprido dela. Meu primo Duda parece um porco de peruca. E o tio Válter me lembra leões-marinhos.

- Harry, isso não foi educado de se dizer – dizia Lílian claramente tentando não rir.

- Mas é verdade.

Tiago começou a rir. De onde Harry tirou “porco de peruca”?

- Chegando... – cantarolou Esmeralda ao descer a escada, o time da Grifinória em suas mãos – time grifinório; vermelho e dourado; feito de ouro; coração de leão; não foge da ação!  E olha, sou eu!

E mostrou sua bonequinha para Eliane.

- Eu sou uma artilheira – disse e riu.

- Como você e a tia Petúnia são tão diferentes e a tia Esmeralda e a tia Jade serem tããão parecidas? Oh! – ele arfou chocado – tia Petúnia é adotada!

Dessa vez as gêmeas riram. Lílian teve mais dificuldades para segurar o riso.

- N-não... – ela gaguejou – ela não é adotada-

- Você foi adotada?

- Não. Não fui. Somos irmãs de sangue, mesmo.

- Então por que são tão diferentes?

- Irmãs podem não se parecer muito, depende dos traços físicos que nós puxarmos de nossos pais. Eu herdei alguns traços. A Petúnia herdou outros diferentes.

- Hum... e a tia Esmeralda e a tia Jade puxaram traços iguais.

- Não, mais que isso – disse Jade – a Esmeralda é a minha cópia.

- Por que você diz isso? Sou mais velha – Esmeralda redarguiu – a cópia é você.

- Só porque você nasceu antes não quer dizer que tenha sido a primeira a ser formada.

- Tanto faz. Eu ainda te amo, cópia!

- Também te amo cópia!

E as duas se abraçaram. Harry começou a rir do nada e já voltava a correr quando Tiago decidiu agir rapidamente.

- Harry, quer brincar com a Eliane?

- O que?!

- Quero! – o menino respondeu.

- Mostre as suas novas jogadas com o time da Grifinória de brinquedo pra ela.

- Sim!

Harry abraçou seus bonecos e correu até Eliane, logo explicando sobre cada boneco para a garota. Esta lançou um olhar furioso para Tiago, mas continuou com o Harry. Enquanto isso, Tiago se sentou com os amigos e levantou a questão:

- Quem vai ficar com Harry até ele dormir?

- Quem tiver aula de manhã, levanta a mão – disse Esmeralda.

Os únicos que não o fizeram foram Lílian e Pedro.

- Acho que sou eu quem deveria ficar com o Harry.

- Mas, Lílian, você tem que monitorar os corredores bem cedo, amanhã – Remo argumentou – É melhor que o Pedro fique com o Harry, ele tem apenas História da Magia. Tenho certeza que ele vai dormir a aula inteira.

- Eu também vou fazer História da Magia. Posso dormir nessa aula, também. Sem falar que posso deixar de almoçar para dormir.

- Vai ficar sem comer? – Tiago perguntou preocupado.

- Não tem problema. Posso aguentar. Uma vez minha mãe me disse que ser mãe é perder refeições para poder cuidar de um filho doente. O Harry não passa de uma criança doente, eu posso cuidar dele até ele melhorar.

- Agora estou curiosa para saber por que sua mãe lhe disse isso – disse Jade.

- Porque eu perguntei.

- Pergunta curiosa, essa – Tiago não deixou de se lembrar da vez que fizera a mesma pergunta ao seu pai.

- Sempre quis escrever um livro – ela ficou corada ao explicar – e... eu estava escrevendo uma historinha sobre uma mãe e sua filha. Então perguntei para a minha mãe o que ela achava que era ser mãe.

- Lílian, mesmo que você pense assim, não tem porque se sacrificar tanto quando o Pedro pode ficar de olho no Harry – argumentou Remo.

- E o que eu vou ter que ficar fazendo? – Pedro perguntou.

- Apenas cuidar para que Harry não saia correndo pelo castelo ou caia na lareira – explicou Esmeralda.

- Ah, só isso? Parece fácil.

- Não é tão fácil. Você vai ter que ficar o convencndo que qualquer outra coisa é mais interessante que um passeio noturno pelos corredores e a lareira.

- Ai, vida.

As gêmeas riram da expressão de Pedro.

- Pedro realmente não precisa fazer isso, eu posso fazer – Lílian ainda argumentou.

- Lil, não seja teimosa. Deixe o Pedro tomar conta do Harry.

- Não se preocupe, Lil – disse Tiago – se Pedro fizer alguma besteira ele terá de se ver comigo e com você, então relaxa. Ele não vai fazer besteira, né Pedro?

Pedro estremeceu ao concordar.

- Não é isso. E não seja assim com Pedro. Coitado. É só que... o Harry é o meu filho – ela sussurrou – a responsabilidade é minha. Não dele.

- O Harry também é meu filho – sussurrou Tiago em resposta – então, acho que vou ter que ficar com ele, também.

- O que? Não. Você tem aula amanhã.

- É herbologia.

- Você não tem tanta facilidade em herbologia, assim.

- Mas é fácil se recuperar nas aulas da prof.ª Sprout. Além do mais, Sirius pode me ajudar depois.

- Acha que ele vai anotar tudo da aula?

- Boa – disse Sirius.

Esmeralda riu e disse:

- É melhor que seja o Pedro a cuidar do Harry.

- É, a tarefa é simples. O Pedro pode.

- Certo, Pedro?

E todos olharam para o menor dos marotos.

- Cla-claro – estremeceu.

- Então está decidido. Pedro fica com o Harry.

- Eu já disse que essa finta não é assim! – Harry brigava com Eliane, que respondeu:

- Mas é claro que é! Quem te ensinou isso?

- Meu pai!

- Então ele está errado!

- Não está!

- Está!

- Não!

- Sim!

- Não!

- Ah, quer saber? Vou dormir!

E subiu a escada batendo os pés, causando um barulho enorme. Um problema resolvido, ao menos. Assim, Tiago e os outros desejaram sorte a Pedro e o deixaram com Harry na sala comunal. Mas não foi tão fácil. Ao ver Tiago e Lílian subindo para os dormitórios, Harry quis ir com um deles. Tiveram de convencê-lo a ficar com Pedro. No fim, ele aceitou a ideia e começou a correr em volta do maroto azarado. O que se deu durante a noite, Tiago não soube até a manhã seguinte. Surpreendentemente ele acordou mais cedo que o normal, mais cedo até que Remo, até mesmo antes do despertador tocar.

Desceu a escada para a sala comunal, ver o que tinha acontecido. Surpreendeu-se. Lá não estavam apenas Harry e Pedro. Estava Eliane. Pedro e Harry, finalmente, se encontravam dormindo. Largados pelo chão da sala, próximos à lareira. Harry parecia dormir tranquilamente. Pedro aparentava estar exausto. Ambos estavam com os rostos desenhados. Em Pedro tinha bigodes, sobrancelhas grossas, óculos redondos e um sol na sua bochecha. Harry tinha dentes de roedor, uma nuvem de onde parecia sair sua cicatriz, barba e bigode. Eliane, por outro lado, estava acordada e arrumada para a aula. Ela se encontrava encurvada sobre e Harry, e colocava uma pena manchada de tinta na mão do garoto. Tiago desceu de mansinho e finalmente disse como quem não via nada:

- Bom dia.

A garota estremeceu toda, sobressaltada. E se voltou para Tiago.

- Ah! Bom dia...

Tiago olhou para o rosto de Pedro.

- Foi o Harry quem fez isso – ela apontou.

- Ah, e foi o Harry quem desenhou no próprio rosto enquanto dormia?

- Oh! Você devia ter visto. Foi incrível. A mão dele começou a se mexer sozinha e a riscar o rosto. Foi um fenômeno sobrenatural...

Tiago sentiu vontade de rir. Como ela podia ser tão descarada. Ele se aproximou de Harry e examinou o rosto do garoto.

- Espero que não seja tinta permanente.

- Claro que não! Não sou tão má, assim.

E Tiago abriu um meio sorriso para ela. Que corou ao perceber que se delatara. Ele passou o dedo na nuvem e se sentiu aliviado ao ver a tintar borrar e sair em seu dedo. Mesmo que soubesse que Eliane não faria tamanha maldade com um garotinho, não deixou de ficar preocupado. Ele já havia desenhado em rostos usando tinta enfeitiçada para ser permanente, mas foi durante o segundo ano e escrevera um “L” na testa de um monitor que ele encontrara cochilando. Aquele “L” nunca mais saiu. Teria sido complicado explicar sobre Harry a Lílian. Ele não queria que Eliane se metesse em problemas. Não no momento.

- Você tinha me dito que explicaria quem é esse garoto – disse a menina.

Tiago a olhou nos olhos. Os olhos castanhos dela faiscavam por trás de seus óculos.

- É uma história complicada e inacreditável. Mas verdadeira.

- Continue.

- O Harry não é um resultado de uma poção que deu errada. Ele é um garotinho comum e normal. Como qualquer bruxinho da idade dele.

- Ele parece ter quatro anos. Mas é muito esperto para quatro anos – ela observou.

- Na realidade ele tem seis.

- Seis?! Mas ele é menor que uma criança de seis anos. Acho... não sei como é uma criança de seis anos...

Tiago riu e continuou a contar:

- A verdade é que aconteceu um evento extraordinário e longe do racional e do lógico.

- O que aconteceu?

- Nessa última sexta-feira. Há três dias. Um tornado formado por nuvens e vento atravessou o teto do Salão Principal. Por um momento achamos que fossem comensais que tinham inventado uma magia nova para invadir lugares como Hogwarts.

Eliane estremecera ao ouvir a palavra “comensais”. Ele devia ter usado outro termo, pensou logo depois. Mas continuou a contar:

- Mas não eram eles. Era outra coisa. Que nem Dumbledore descobriu o que foi. Apenas sabemos que aquele tornado serviu de algum jeito, como um portal temporal. Que trouxe Harry, um garotinho de seis anos de dez anos no futuro.

- Dez anos no futuro? Esse garoto é de dez anos no futuro? Como isso pode acontecer?

- Essa a questão. Ninguém sabe como. Apenas sabemos que aconteceu.

- Quem acredita nisso?

- Dumbledore.

- Por que ele acredita nisso?

- Ele conversou com Harry. Ele dizia que estávamos no ano de oitenta e um, e não no de setenta e seis. Agora ele sabe que viajou no tempo e veio para o passado e... – ele tinha medo da reação de Eliane – que ele é meu filho.

E esperou a menina falar alguma coisa. Mas ela não disse nada. Apenas ficou muda. Achando que ela não falaria nada, continuou:

- Parece que o Harry vai nascer em oitenta o que dá três anos e dez meses para ele nascer. E, enquanto Dumbledore não encontra um jeito de levar o Harry para o seu tempo de origem, eu e Lílian, que é a mãe, estamos cuidando dele.

E ele esperou ela falar alguma coisa, mais uma vez. E mais uma vez ela ficou muda. O encarando. O cenho franzido, porém estagnada. Preocupado, Tiago passou a mão na frente dela, esperando uma reação. Mas a garota nem piscou. Mas aí a expressão dela passou de paralisada para uma emburrada. Muito, mas muito emburrada.

- Não – e ela o abraçou – não quero dividi-lo com ele. Você é o mais próximo de pai que tenho agora. Não quero dividi-lo com mais ninguém. Ele ainda vai nascer. Vai ter muito tempo com você. Por que eu tenho que te dividir?

Ela começou a chorar. E Tiago não conseguiu lhe dizer que Harry não teria tanto tempo com o pai. E que ele, Tiago, morreria quando o menino tivesse um ano de idade. Ele não conseguiu contar que estava certo que Eliane o perderia também. Isso, porque ele também não queria admitir. Ele queria vencer sua morte precoce e continuar ao lado de Harry, Eliane, e de Lílian. Ao lado de seus amigos. Por isso não disse.

- Entendo o que você está sentindo. Mas... sinto muito... não poderei atender a esse seu desejo. Harry também precisa de mim. Apenas aproveite a companhia dele, também. E não se prenda a mim, tá bom? Você precisa fazer amizade com o pessoal do primeiro ano. Faça isso e você verá – ele passava a mão no cabelo dela enquanto falava – as coisas entrarão em seus eixos.

Eles foram interrompidos com um barulho alto vindo da escada das meninas. Eliane o soltou imediatamente, escondendo o rosto e enxugando as lágrimas. Uma cantoria vinha de lá e Tiago logo reconheceu as vozes das gêmeas, que surgiram cantando:

- Um bolo de aniversário!

- Pra mim?!

- Sim, sim.

Lílian vinha com elas e parecia que queria sumir dali.

- Um bolo de aniversário!

- Pra mim?!

- Sim, sim.

- Agora sopre a vela, mas não queimes o nariz! – cantaram as duas, uma para a outra – Um bolo de aniversário pra ti!

- Brilha, brilha, morceguinho – recitou Esmeralda – brilha bem devagarinho; desce, desce, vem pousar... cá no bule do meu chá.

E as duas se abraçaram e rodopiaram, se abraçando e pulando de mãos dadas o tempo todo enquanto diziam:

- Feliz aniversário para ti!

- Feliz aniversário para ti!

- Hoje é o nosso aniversário!

- Vinte de setembro!

- Vinte é o número!

- Nosso número da sorte!

- Feliz aniversário para ti!

- Nosso dia especial!

- Dezessete, é a nossa idade!

- Maioridade, agora é nossa!

- Feliz aniversário para ti!

O resto do dia seguiu animado e alegre, tudo por causa do aniversário das gêmeas. Lílian reparou no rosto rabiscado de Harry, mas apenas quis saber se a tinta era enfeitiçada para ser permanente. Sabendo que era tinta comum e que sairia, Lílian riu e até tirou fotos do Harry e de Pedro. Eliane não disse mais nada o dia inteiro. O aniversário das gêmeas, como todo ano, se mostrou um evento enorme. Seus mil e um parentes fora de Hogwarts, mandaram seus presentes via coruja. Durante o desjejum, choveu presentes para as gêmeas. Os trinta parentes que se encontravam em Hogwarts, também deram os seus presentes. E Tiago acreditava que jamais veria presentes mais curiosos e bizarros que aqueles.

Ambas ganharam, cada uma, um trabalho artesanal feito com tomates e palitos. Cada uma ganhou uma almofada em forma de porco que andava, corria e grunhia. Esmeralda chamou o seu de Ebenézer, o que pareceu ser uma piada interna, pois todos os seus parentes riram. Elas também ganharam globos de neve cada um com um Papai Noel que viajava sobre cidades em seu trenó com as renas voadoras. E uma espécie de globo de metal contendo uma música tocada em violino. Era impossível não fazer parte da festa, até os professores foram incluídos. Dumbledore foi o mais entusiasmado, lhes deu parabéns e um presente que ele confessou ter arranjado na hora.

Eliane, que observava a festa em silêncio, ao lado de Tiago, comentou baixinho:

- Deve ser legal fazer parte de uma família tão grande. E sabe – ela se voltou para ele – eu sonhei com algo que eu nunca sonhei.

- Ah, é? Isso é estranho? – Tiago achou graça.

- É. É estranho, porque... eu nunca sonhei comigo com mais de doze anos de idade...

- E você sempre sonhou com você com doze anos.

- Não... eu já sonhei comigo com quatro, cinco, seis anos até doze anos de idade. Mas nunca mais que doze. Mas aí, vindo pra Hogwarts, eu dormi a viagem toda. E durante o sono eu sonhei comigo... e eu me casava com um homem, mais ou menos da minha idade de cabelo escuro. Cabelo preto. Não consegui ver seu rosto. Mas eu vi você, Tiago, sentado ao lado de uma mulher ruiva cujo rosto eu também não vi. Ao lado de vocês tinha... quatro crianças de até dez anos... sem rosto, também. E o Sirius, ao lado de uma mulher loira sem rosto. E Remo. Eu só via o seu rosto e o rosto do Sirius e de Remo. Nenhum outro estava nítido. Foi estranho...

Tiago também achou estranho. Um sonho que parecia uma visão do futuro. Mas um futuro bem improvável, em vista que ele morreria aos vinte e um deixando um filho de um ano para trás.

- Bem, eu já vou indo – Eliane se levantou, ela olhava para os primeiranistas que já deixavam as mesas, um garoto de cabelos negros, olhava para Eliane. Ele sorriu e a chamou – farei o que você disse. Vou tentar... me enturmar.

- Vai... boa sorte – disse Tiago – não tenha medo de tentar.

- Eu sou da Grifinória. Minha maior qualidade é a minha capacidade de enfrentar meus medos.

Ela sorriu e saiu com os outros garotos. Tiago a observou sair pelas enormes portas do Salão. O céu, refletido no teto, exibia um dia ensolarado. Mas parecia haver uma nuvem de dúvida sobre a cabeça de Tiago. Ninguém sabia, não é? O porquê de os comensais invadirem a casa de seus primos e os matar. Talvez... a lenda dos videntes na família Potter, não fosse apenas lenda. Apenas, talvez...

Continua...


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Notas finais do capítulo

O capítulo ficou gigante. Ficou gigante! Eu devia ter cortado o capítulo em outro lugar. Havia outro lugar bom para cortar, mas eu não vi antes. Ah, ok, ok, deixando a lamúria de lado, vamos conversar. O que acharam da Eliane? Do mistério? Acho que o Cosmo está perdendo terreno, mas sabe, é engraçado como eu consigo fazer as coisas, porque eu já arranjei uma desculpa para explicar o sumiço dele. Logo vocês saberão qual é a desculpa. Não pretendo me demorar muito no mês de setembro. Seis capítulos, e eles ainda estão em setembro? Puxa... quanta coisa. E isso tudo aconteceu em apenas três dias. Quase quatro. E foram seis, seis capítulos.
Demorei para postar? Acho que não. Mas vocês é que sabem se eu demorei. Foram vocês que esperaram.
A entrada da Eliane... ela é uma personagem que muda muita coisa no enredo. Ainda não tenho certeza se foi uma boa ideia colocá-la na história, mas eu já a apresentei e introduzi na história. Agora eu preciso ver como usá-la de forma correta nessa fic. Eu comecei uma nova crise nesse capítulo e acrescentei outro mistério. Graças a entrada de Eliane. Quais foram as perguntas que eu suscitei em suas mentes? Não sabe o que é suscitar? Bom, suscitar é o contrário de morrer, ou seja, é nascer. Suscitar é igual a nascer. Portanto, que perguntas nasceram, surgiram, brotaram em suas mentes? Hum? óˬò
Estou pensando em reeditar a fic quando eu terminá-la. Tem coisas que eu coloquei nos capítulos anteriores que não condiz com as demais dos novos capítulos. Mas só depois de finalizar a fanfic. Aí também poderei trazer os especiais, os capítulos especiais que eu estava planejando, mas que eu não acho que conseguirei colocar na fic, não de primeira. Mas ainda não passa de planos. Posso mudar de ideia até lá. Uma das razões que me faz querer reeditar os capítulos, a fic toda praticamente, é que tem coisa no cap 6 que eu poderia ter deixado no 5.
A música que as gêmeas cantam, não sei quem conhece, mas no original o verso é um bom desaniversário. Mas as gêmeas não estavam comemorando o desaniversário delas, mas o aniversário. Mas como um bom aniversário não fica tão bom, decidi colocar um bolo de aniversário. Para mim soava melhor. Me digam o que acharam.