Gutt escrita por Ennaz


Capítulo 2
Ele veio de 1986


Notas iniciais do capítulo

Eu adorei receber cinco comentários no primeiro dia que postei. Mas fiquei um pouco decepcionada com o que escreveram. Não que eu achasse o adorei, continua!, continuaaaaaaaaaaa pleaaaaaaseeeee!!! e foi muito bom! ruim. Mas... vocês podiam ter escrito mais, não é? Na boa. Eu quero muito saber quais foram as partes favoritas de vocês. Que personagens vocês mais gostaram. Até vocês reclamando por eu estar apagando os marotos vale. Não ligo não. Me encontro num momento de doideira na minha vida que me impede de ficar mal. E rezem para que eu continue assim, porque é a minha época mais criativa. Eu simplesmente não tenho medo de colocar o que quero. Mas, continuando, eu tava fugindo do assunto. Leem esse capítulo 2 (isso se essa nota inicial não te espantou), e vejam qual foi a sua parte favorita. Ao final do capítulo, pensem bem no que vão escrever. Eu adoro reviews enormes! Quilométricas! Eu quero saber o que estão achando mais do que eu gostei, eu quero saber do eu adorei essa parte onde você coloca isso, isso e isso... e blá, blá, blá, whiskasachê. Eu quero mesmo saber.
Então, leia o capítulo, aproveite, e me conte depois o que achou.
Aliás, adorei o último review que recebi, hoje. Ela disse o que pensava. Adorei.



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- Ah, gente, deem uma pausa no momento love de vocês e venham dar uma olha no que as nuvens cuspiram – disse Esmeralda, os olhos arregalados fitavam algo que se mexia entre as mesas do salão.

Tiago também olhou. Demorou um pouco para perceber o que era, pois a figura era mais ou menos da altura das mesas. Por um breve momento achou que se tratava de um elfo-doméstico perdido. Talvez o misterioso tornado tenha sugado um deles diretamente das cozinhas. Não achou uma ideia tão absurda diante do fato do tornado ter atravessado o teto. Mas nada do que pensou, ou tivesse pensado, o prepararia para o que viu. Quando finalmente percebeu que não era um elfo-doméstico ficou chocado. Era um garotinho. Idêntico a ele de quando tinha menos de oito anos de idade. Uma pergunta gritou em sua mente: quem era aquele moleque?

Capítulo 2

Ele veio de 1986

- Cara, aquilo foi sinistro demais. – disse Sirius, encostado ao tronco da árvore favorita dos marotos nos jardins da escola.

- É... – Tiago concordou, fazendo folhas subirem e descerem com a varinha.

Os marotos estavam aproveitando o dia ensolarado que se abriu para eles após o estranho evento do tornado.

- Nuvens pesadas surgem do nada, formam um tornado, cospem um garotinho e depois somem sem deixar sinal.

- E o garotinho era a sua cara. – ria Remo, lendo seu pergaminho de DCAT.

- Pois é. Aquilo foi o mais assustador. Parecia um clone meu de quando eu era criança.

- Mas vocês viram que ele tinha olhos verdes? – Pedro perguntou, ele comia uma varinha de alcaçuz.

- É? Tinha?

- Sim, não viram?

- Não. – os três responderam espantados.

- Bom, eu vi, e eram bem verdes.

- Mais do que os da Evans?

- Mais do que os das gêmeas?

- Mais verde que o meu cabelo?

- Aaaarrrrhhh!! – gritou Pedro de susto, ficando em pé num salto.

Cosmo surgira logo atrás dele, surpreendendo a todos os marotos.

- Vocês deviam ver a cara de vocês. – ria o verdinho.

- Argh, Cosmo, essa sua mania de aparecer do nada já está me irritando, cara – disse Sirius, cerrando os dentes.

- Foi mal. – ele riu mais um pouco.

- Achei que você estava na biblioteca – disse Remo.

- Se eu disse que estaria lá, então certamente eu estive lá.

- Ta...

- Ouviu alguma coisa sobre o garotinho do tornado? – perguntou Tiago.

- Nada, eu só sei o que todos sabem. Que Dumbledore o levou para o escritório dele para conversarem. Mais informações, eu não sei. Mas por que vocês não usam o Rabicho. Não é ele que sempre descobre as coisas para vocês?

- Nah, eu estou de folga. Não quero espionar ninguém, hoje. – disse o garoto todo jogado no gramado. – Puxa, essas nuvens estão tão fofinhas que eu gostaria de me deitar nelas para dormir.

- Ele tomou alguma coisa estranha, hoje? – perguntou Tiago para os outros, que deram de ombros.

- É. Normalmente ele não teria recusado uma tarefa que você ou o Sirius dessem a ele. – Remo comentou.

- Maluco ou não, ele está certo – disse Cosmo, se deitando no gramado para observar as nuvens – as nuvens estão muito fofinhas- ah! Aquela é a minha bisavó Gertrudes?

- Hã?!

Os garotos levantaram seus olhos a tempo de ver um ponto roxo berrante voar serpenteando entre as nuvens. Tiago jurou ouvir uma risada fina e sinistra de uma velha malvada vir daquele ponto.

- Ah!! – arfou Esmeralda ao avistar um ponto roxo berrante voar serpenteante por entre as nuvens brancas e fofas da janela da biblioteca.

- Aquela não é a vovó Gertrudes? – perguntou Jade, ao lado dela. Elas ouviram uma fina e sinistra risada de velha maluca vir de lá.

- O que, que é que aquela velha ta fazendo sobrevoando Hogwarts numa vassoura? Eu to falando, aquela véia é doida.

- Ela veio de casa naquela vassoura? Nós moramos no País de Gales. Lá no sul do sul.

- Shhhiiii!!! – Madame Pince mandou de sua mesa, com um olhar extremamente  azedo no rosto. Como se ela quisesse esmiuçar as meninas até o pó para não falassem alto na sua biblioteca nunca mais.

- Foi mal. – disse Esmeralda com um enorme sorriso envergonhado na face.

- Meninas, saiam da janela e venham me ajudar, por favor. – sussurrou Lílian, carregando uma grande pilha de livros nos braços.

- Uau, quantos livros – comentou Jade pegando um terço da pilha.

- Tá querendo ler a biblioteca toda é?! – disse Esmeralda pegando o outro terço.

- Estou querendo saber o que significa daquele tornado. Foi completamente fora normal, até para os padrões bruxos. Não sei se irei encontrar alguma coisa que explique, mas seu não procurar, jamais terei certeza de nada.

- É... todos os livros falam de tornados, nuvens, e coisas relacionadas a- louça voadora?

- Ah, quem sabe? Foi um dos eventos sobrenaturais, não foi?

- Ta, legal, Lil, me conte – Jade apoiou os cotovelos na mesa, encarando Lílian bem de perto – depois que o titio Dumb levou o mini-Potter com ele, você levou o Tiaguito contigo pra enfermaria, não foi?

- É. Ele estava com a mão machucada por que me protegeu de uma faca, não foi? Foi o mínimo que eu pude fazer por ele.

- Ah, qual é, Lil? – Esmeralda se juntou a irmã – diga, não achou fofo quando ele te abraçou para te proteger do tornado malvado?

- E vocês não acharam fofo quando Remo e o Black te abraçaram para protege-las do tornado malvado? – Lílian rebateu.

- Achamos – responderam as duas em coro.

- Acha que não estamos de olho neles?

- Quem não quer Sirius Black?

- Ou Remo Lupin?

- Até o Pettigrew tem a sua quota de admiradoras. Bem pequena, mas tem.

- Sempre fico com uma pulga atrás da orelha em relação a ele, não sei por quê? Só espero não pegar peste bubônica.

- O que?

- Hã?

- O que isso tem a ver?

- Isso o que?

- Peste bubônica e o Pettigrew.

- Ah, não sei. Tem a ver?

- Você é louca?

- Sou?

- Meninas, podem me ajudar? – Lílian pediu segurando o riso.

- Ajudar?

- Podemos?

- Sim, podemos.

- Então podemos.

- Lil.

Lílian levou um susto tão grande que deixou o livro cair, fazendo, além de tudo, um barulho muito alto. O momento seguinte foi tão cheio de horrores com a visão do inferno, livros e Madame Pince na forma de morcego-humano, que Lílian e as meninas, e Cosmo, o culpado pelo susto, só se lembravam de estarem do lado de fora da biblioteca no momento seguinte.

- Cosmo – disse Lílian – você me deu um susto.

- Foi mal. – riu o dito-cujo.

- Ok, você atrapalhou nossa investigação, o que você tem a dizer em sua defesa? – disse Jade para o sobrinho.

- Ah, nada além de que o tio Dumb está pedindo a presença da Lil no escritório dele.

- Ah...

- Então já vou indo, até mais meninas. – e Lílian seguiu para o escritório do diretor.

Chegando ao corredor da gárgula de Dumbledore, Lílian se encontrou com Tiago no meio do caminho.

- Oi, Evans. – ele a cumprimentou, sua mão bagunçando ainda mais aquele cabelo rebelde. Ela odiava aquilo nele, embora não soubesse o porquê.

- Olá, Potter, como está sua mão?

- Como se uma faca jamais tivesse se enfiado nela. – mostrou a mão lisa sem sinal de cicatriz. – aliás, sobre o seu lenço, eu gostaria de devolvê-lo, mas ele ainda está manchado de sangue. Eu gostaria de limpá-lo antes disso e-

- Ah, está tudo bem, pode ficar com ele, eu tenho outros iguais a ele.

- Ah, sério, Lil, quer me dar o seu lenço? – ele sorriu divertido e provocador. Ela fechou a expressão na hora.

- O que você insinuando, Potter?

- Ora, nada demais.

- E não me chame de Lil. É Evans para você.

- Ok, ok, Evans. De qualquer forma, seu sobrenome também é lindo. Aliás, tudo em você é lindo.

Lílian odiava aquilo nele. Ele sempre conseguia deixa-la envergonhada. Não só sabia, como tinha certeza que seu rosto estava vermelho. Ela o sentia quente como estivesse com febre.

Os dois pararam em frente à gárgula e se encararam. E ele lhe fez a mesma pergunta que ela queria fazer a ele:

- Dumbledore a chamou também?

- Sim... e espero que você não tenha feito nada de ruim e me encrencado junto.

- Relaxa, eu não fiz nada de maroto essas semanas. Pelo menos... não que eu me lembre.

- Argh! Eu sabia.

- Chiclete!

E a gárgula de dragão deu um salto para o lado, revelando a escada em caracol que subia para a antessala do diretor. Diante da porta-dupla de carvalho, Lílian inspirou fundo e bateu três vezes.

- Entrem, Sr. Potter e Srta. Evans. – Dumbledore abriu a porta com magia e indicou um sofá de dois lugares para eles – fiquem a vontade. Nós temos muito o que conversar no momento.

Lílian entrou, como o pedido, com Tiago Potter a seguindo. A prof.ª McGonagall, em pé ao lado de uma poltrona, os encarava com uma expressão tão estranha e pouco usual  que Lílian não conseguiu decifrar o que a professora pensava. Porém, embora a professora se encontrar numa postura tão rara fosse digna de longa observação e avaliação, a figura que simplesmente capturou toda a sua atenção foi o garotinho sentado na poltrona ao lado da professora. Ele a encarava com grandes olhos verdes chorosos e aguados. Seu nariz vermelho escorrendo. Claramente estivera chorando a pouquíssimo tempo, pois ainda fungava e limpava as lágrimas. Era uma figura cativante e encantadora, porém aflitiva e angustiante. Suas roupas estavam largas e velhas, furadas e gastas. Quase esfarrapadas.

Ele estava magro. Como se não comesse direito desde a sua primeira infância. Ela imediatamente teve pena e simpatia por aquele menino. Quis confortá-lo e por isso sorriu para ele. Achou graça quando ele, vermelho, escondeu o rosto com as mãos e fechou os olhos. E ainda mais graça quando ele a espiou com um dos olhos por entre os dedos enquanto ela se sentava no sofá, ao lado de Tiago. Já este, Lílian reparou, olhava o menino com muita curiosidade. Intrigado. Ela não estranhou, pois o garotinho era a cara do maroto. Mas por alguma razão, achou que aquele menino lembrava outra pessoa, mas ela não soube dizer quem.

- Antes de começar a relatar-lhes o que o nosso pequeno convidado me explicou – começou Dumbledore – gostaria de introduzi-los no assunto.

O diretor os fitou nos olhos por alguns segundos antes de continuar.

- O que vocês sabem-me dizer sobre viagens no tempo?

Surpresa pelo tema, Lílian trocou um olhar perdido com Tiago. E tomando um tempo para pensar um pouco, ela ouviu a resposta de Tiago.

- Ah... o que eu sei sobre viagens no tempo? – disse ele – er... bom, o que eu posso dizer é que nós podemos voltar algumas horas no tempo usando o vira-tempo. E é tudo que eu sei.

E as atenções se viraram para Lílian, que, constrangida, respondeu:

- O que eu sei o Potter já disse, e nada mais. Além de que os bruxos costumam ter muito cuidado com essa questão, já que já foi provado que viagens no tempo é algo extremamente perigoso. Se fosse comigo, eu evitaria viajar no tempo. Para qualquer tempo.

- Ah, não, você não aproveitaria nem para conhecer aquele seu herói que já morreu a muito tempo? – perguntou Tiago.

- Hum, agora que você falou isso, até que uma viagem no tempo parece tentadora, mas... eu não arriscaria meu futuro para satisfazer um simples capricho meu. Pense bem. Você arriscaria a vida que você construiu só para poder conhecer um herói?

- Cara, do jeito que você está colocando parece até um sacrilégio.

- Ah, por favor, mostre que você tem algum bom senso nessa sua cabecinha e me diga que viajar no tempo não é perigoso?

- Ta, ta, ta. Você está certa. Viagem no tempo é perigoso. Mas que seria uma aventura, a se seria.

- Sim, uma aventura. Mas uma perigosa e terrível aventura. Ui, ui, ui.

A prof.ª McGonagall pigarreou, chamando a atenção dos dois jovens. Lílian sentiu seu rosto esquentar ao perceber que se esquecera por completo dos professores ao entrar naquela discussão com o Potter. E quis sair daquela sala o mais rápido possível para se enfiar num buraco qualquer e sumir. Talvez até fosse uma boa ideia aquele tornado estranho surgir naquela sala e a sugar para um mundo inabitado, quem sabe? Mas talvez aquele tornado só cuspisse garotinhos.

- Perdão, prof. Dumbledore. Eu me exaltei. – Lílian se desculpou. Quis socar o Potter, pois ele ria dela.

- Certamente.

- Desculpe, professor, mas eu ainda não entendi porque nos chamou aqui para falar sobre viagens no tempo. – disse Tiago – achei que fosse por causa de algo que fiz.

- E vocês fez alguma coisa ultimamente? – perguntou a Prof.ª McGonagall, lançando um olhar severo sobre o maroto.

- Não... que eu me lembre.

Lílian revirou os olhos diante da resposta do colega. Ela já não sabia se ele estava brincando ou não.

- Na realidade, Sr. Potter, eu apenas queria ter uma margem por onde começar a explicar o extraordinário e espantoso fenômeno que se desenrolou a nossa frente. – Dumbledore retomou o assunto.

- Fenômeno? O tornado que cuspiu o moleque? Au!

Lílian socara Tiago na costela.

- O que foi?

- Não o chame de moleque. Coitado.

- Ah, ok. Não o chame de moleque. Ta legal, garoto, qual seu nome? – o maroto se dirigiu ao garotinho que o tempo todo os encarara com genuína curiosidade inocente e, mais recentemente, diversão.

O menininho corou e abaixou a cabeça, murmurando:

- Tia Petúnia disse para nunca falar com estranhos se eu não quiser ser levado para venderem os meus órgãos.

- Uh, ouh! Que tipo de monstro faria uma coisa dessas com uma criança? – Tiago chegou a se jogar para trás, de tão assustado.

- No mundo trouxa, isso é bem comum – disse Lílian – infelizmente.

- Os trouxas são monstros? Por que eles quereriam órgãos? Ainda mais de crianças?

- Transplante de órgãos. É um método excepcional da medicina trouxa para casos excepcionais de doenças que exigem transplante de órgãos. É um método aprovado e utilizado no mundo todo. Só que é permitido transplantar apenas órgãos em bom estado cujo o antigo dono já tenha morrido e estivesse claro em sua carteira que é doador de órgãos. No caso do fígado e dos rins, e de outros órgãos não vitais, nem é necessário que o doador esteja morto. Mas o problema reside no tráfico de órgãos. Para isso, os bandidos sequestram pessoas aparentemente saudáveis e roubam seus órgãos, estando elas inconscientes ou não. Como as crianças são alvos fáceis, é mais comum que elas sejam as vítimas.

- Que horror! – ele parecia apavorado de verdade, chegava a estar pálido-esverdeado. Ela achou uma graça que ele reagisse daquela maneira. Por mais que o relato fosse macabro, os trouxas já se encontravam acostumados e por isso não era comum que um rapaz de dezesseis anos se apavorasse dessa maneira com esses casos.

- Não se preocupe – Lílian se voltou para o garotinho – ninguém irá te machucar. E só para você saber que sou sua amiga, e não uma estranha, vou te falar o meu nome. Eu me chamo Lílian. Lílian Evans. E esse aqui ao meu lado se chama Tiago Potter.

- Acho que vou vomitar... – o rapaz estremecia ainda pálido, ao seu lado.

- Você é meu parente? – perguntou o garoto para Tiago.

- Ah, hã? Parente? Por que a pergunta? – Tiago ainda se encontrava com o aparente mal-estar.

- Porque eu também sou Potter. E meu pai também se chamava Tiago Potter. E minha mãe era Lílian. – o menino olhou para a garota.

- Ah?

- Sério? – Tiago parecia já ter se recuperado do mal-estar. – Puxa, que coincidência.

- É... aliás, eu tenho uma irmã chamada Petúnia. Como você se chama?

- Harry. Harry Potter.

- Nome bonito. – Lílian e Tiago comentaram ao mesmo tempo. Os dois se encararam.

- Estava falando do nome do Harry, não do sobrenome – disse Lílian.

- Eu também estava falando do nome do Harry.

- Ta, deixa pra lá. Harry. Essa tia que você falou, como ela se chama mesmo?

- Petúnia.

- E... ela é irmã da sua mãe ou do seu pai?

- Uma vez eu perguntei pra ela se ela era irmã do meu pai, mas aí ela disse que jamais seria irmã do imprestável do meu pai. Foi assim que ela disse. Então eu acho que ela é irmã da minha mãe. Mas ela não disse que não era, nem que era. Então não sei.

- Pior que essa sua tia fala igual a minha irmã.

- Imprestável? Mas, espera, por que você perguntou a sua tia, não era mais fácil perguntar para seus pais?

E o pequeno Harry, que estava se animando cada vez mais, abaixou a cabeça entristecido e disse:

- Não posso. Eles morreram.

E o coração de Lílian afundou em seu peito.

- Ah... eu sinto muito, Harry.

- Morreram? Morreram como?

- Tiago! – ela o socou de novo.

- Au! O que foi agora?

- Não seja insensível!

- Eu não estou. Foi mal. Ah! Sei lá! Eu só queria saber.

Harry riu.

- Não precisam se preocupar. Eu nem me lembro de como foi. Tinha um ano, acho. Tudo que sei foi o que a tia Petúnia me contou. Que foi num acidente de carro onde ganhei essa cicatriz.

E o garotinho afastou sua franja da testa para mostra uma estranha e peculiar cicatriz em forma de raio.

- Cicatriz estranha para um acidente de carro. – comentou Lílian.

- Prof. Dumbledore, eu ainda não compreendi porque o senhor nos chamou aqui. – disse Tiago.

- Nem eu, professor. Se for por causa do Harry não seria melhor procurar pelos tios dele? Falar com o Ministério ou com os policiais.

- É...

- Acha que já não teríamos feito isso se a solução fosse essa? – a prof.ª McGonagall respondeu, uma de suas sobrancelhas se levantara.

- Er... – Lílian trocou um olhar aflito com Tiago – já teriam?

- Sim, já teríamos.

- Então por que não fizeram?

- Porque, Sr. Potter, há um grande empecilho nos impedindo de contatar os tios dele. – disse Dumbledore.

- E que seria...

- Harry, em que ano estamos?

- Ah... mil e novecentos e oitenta e seis.

- Hã?!

- Eu acredito nele. – Dumbledore declarou com veemência.

- Não há nenhuma chance dele estar mentindo?

- Eu não menti! – protestou o menino.

- Ele não mentiu. – Dumbledore foi veemente novamente.

- Ele não se enganou?

- Não! Eu não me enganei! A professora Smith disse que estávamos no ano de mil novecentos e oitenta e seis, em setembro. E o tio Válter e a tia Petúnia comemoraram a chegada do ano de mil e novecentos e oitenta seis. E a TV também comemorou. Ela mostrou bem grande na tela, mil e novecentos e oitenta e seis.

- Ok, ok, garoto, já entendi. Você é de mil novecentos e oitenta e seis.

- Isso é realmente possível, professor? – perguntou Lílian.

- Era possível um tornado surgir e atravessar o teto do salão principal? – Dumbledore perguntou em resposta.

- Bom... não? Nem com magia?

- Confesso que já vi muita coisa estranha em toda a minha vida, mas um tornado de nuvens atravessando teto de Hogwarts, eu nunca tinha visto – refletiu Dumbledore. – Não me lembro de nenhuma magia que faça isso, nem que convoque um garotinho de carne e osso através desse tornado. Mas acabou de acontecer na nossa frente. Um tornado de nuvens atravessou o teto e deixou um garotinho que acha que está em mil novecentos e oitenta e seis para trás. Eu acredito que ele é desse tempo.

- Do futuro?

- O senhor acredita mesmo?

- Acredito, e também não é somente nisso que acredito. Há um fato a mais no qual acredito, e que envolve mais a vocês dois do que imaginam.

- E o que seria?

- Pensem bem. Com que idade vocês estariam em mil novecentos e oitenta e seis?

Lílian se pôs a calcular. Ela agora tinha dezesseis anos. Faria dezessete em janeiro próximo, em mil novecentos e setenta e sete, aliás.  Dê mais dez anos, e ela estaria com:

- Vinte e seis. – respondeu, não apenas ela, como também Tiago.

- Idade o suficiente, não acham?

- Para...

- Para o Harry ser o filho de vocês.

Aquelas palavras fizeram o cérebro de Lílian parar de funcionar por um instante. Ficou muda e não conseguiu formular frase nenhuma. Quem a despertou foi Tiago, quando ele disse:

- O que? Eu e a Evans? Com um filho? Isso é possível?

- Não, não é! – Lílian protestou.

- Na verdade, é possível.

- Não, não é, professor. Por que eu teria um filho com o... Potter?

- Srta. Evans, - a professora Minerva se pronunciou – vivi anos o suficiente na minha vida para saber que jamais sabemos com quem teríamos filhos. Muito menos quando somos jovens.

- Você tem filhos, professora? – Tiago perguntou. Insensível como sempre, na opinião de Lílian.

- Não, Sr. Potter. E eu, na minha juventude, acreditei que teria filhos com o homem dos meus sonhos. Mas as coisas não ocorreram como eu desejei. E eu jamais tive filhos.

- Ah, eu sinto muito, professora.

- Mas, professor – disse Lílian – por que o senhor acredita que eu e o Potter somos pais do Harry?

- É, eu também queria saber.

- Na realidade é uma forte suspeita que eu tenho. Por isso pedi para que viessem e confirmassem o que o Harry teria a dizer.

- Ah, bom, então vamos começar. Assim eu provarei ao senhor que eu não tive um filho com o Potter.

- Na verdade, você está certa – disse Tiago – você ainda não teve um filho comigo, mas, em mil novecentos e oitenta, você vai ter um filho meu chamado Harry Tiago Potter.

E ele riu quando Lílian o socou na costela novamente.

- Eu também tenho Tiago no nome. – disse Harry.

- Aí, viu?

- Uma coincidência. – rebateu Lílian.

- No meio de muitas.

- Harry, querido, poderia me dizer qual era o nome de solteira de sua mãe, ou da sua tia Petúnia?

- Ah... minha tia Petúnia não gosta quando eu pergunto dos meus pais, ela odeia falar da minha mãe...

- Parece ainda mais minha irmã – comentou Lílian sem interromper o garoto que continuou:

- ... eu não sei porque ela não gosta de falar da minha mãe. Mas um dia a tia pediu um trabalho de genealogia. Eu fiquei muito nervoso porque teria que fazer perguntas a minha tia, e uma das regras lá de casa, para que meus tios não briguem comigo, era que eu não deveria fazer perguntas. Mas eu tinha o trabalho da escola para fazer e eu tive de perguntar. Não queria tirar nota baixa. Então eu perguntei, pedi, pedi, pedi e pedi para que a tia me dissesse o nome e a data de nascimento dos meus pais. E o nome de solteira da minha mãe, porque a tia da escola estava pedindo os nomes de solteiras das mães. Tia petúnia ficou muito aborrecida, mas me disse o que o trabalho pedia. E ela disse que o nome de solteira da minha mãe era Evans.

Tiago começou a rir. Lílian quis socá-lo de novo, mas ela precisava confirmar mais algumas coisas.

- E a data de nascimento de sua mãe?

- Hum... eu lembro porque eu só sabia o da minha mãe, que é trinta de janeiro de mil novecentos e sessenta.

E Tiago riu mais ainda. Pois a data de nascimento de Lílian era esse. Mas Harry ainda não tinha terminado de contar a história, que continuou:

- A data de nascimento do meu pai eu não sabia, e a professora não me deu nota máxima por causa disso. Ela achou que eu estava com preguiça de perguntar a minha tia. Ela não acreditou que a minha tia não sabia a data de nascimento do meu pai. Ela achou que eu estava inventando quando disse que a tia Petúnia não tinha nem as fotos e documentos dos meus pais. Porque também faltavam as fotos no cartaz com a minha árvore genealógica. E os meus avôs paternos também não estavam na árvore, eu não sei nem seus nomes. E a professora disse que eu estava inventando e me levou para a diretora, para me suspender por estar mentindo. Eu fiquei muito nervoso e irritado, porque ela não acreditava em mim.

“Aí aconteceu uma coisa muito estranha. As canetas da diretora estouraram, uma delas estava na mão da diretora e manchou toda a mão dela e o papel onde ela escrevia. Ela ficou muito irritada, porque era um papel muito importante. Mas elas não me culparam como a tia Petúnia e o tio Válter me culpavam quando essas coisas estranhas aconteciam, por isso não mandaram nenhum recado pra eles. Eu fiquei feliz com isso, porque se elas tivessem dito alguma coisa, eles brigariam comigo e me deixariam de castigo por muito tempo no armário embaixo da escada.”

- Armário embaixo da escada? – Tiago estava pasmo – eles te trancariam ali só por causa de um pouco de magia acidental?

- Eles sempre me trancam no armário embaixo da escada quando eu faço algo errado ou estranho. É lá que eu durmo.

- Você dorme num armário embaixo da escada? – Tiago já não estava mais pasmado, estava chocado.

Mas não se comparava ao que Lílian sentia. Aquele sentimento de quem descobria algo terrível sobre o seu futuro. Era medo, choque, tristeza e decepção. Tudo ao mesmo tempo. Daí, como se quisesse dissipar suas dúvidas e medo, ela perguntou para Harry:

- Por que você está morando com seus tios?

- Eu já disse. Meus pais morreram.

Ela não viu a expressão de Tiago, mas soube o que ele sentia pela forma que o maroto se mexeu ao seu lado. Ele havia entendido o que significava. A professora Minerva arfou, parecia desesperar-se.

- Eles morreram num acidente de carro. – lembrou Harry.

E, querendo acreditar que ainda lhe faltavam anos e anos de vida, Lílian argumentou para Dumbledore:

- Por que eu sofreria um acidente de carro? Por que eu estaria num carro? Prof. Dumbledore, tem certeza que eu sou a mãe do Harry, apesar de tudo apontar que sou? Por que, eu sendo bruxa com um marido bruxo estaria num carro com o meu filho?

- Lílian tem razão, por que estaríamos num carro trouxa e morreríamos na forma trouxa de morrer. Nós escaparíamos de um acidente de carro com muita facilidade. – disse Tiago.

- É essa parte da história que me intriga. – disse Dumbledore, que se encontrava extremamente triste naquele momento – não podemos descartar que foi sua irmã quem contou essa história ao Harry, Srta. Evans. Como acha que ela contaria sobre a sua morte a um filho que você deixou para ela cuidar?

- Eu... eu realmente não sei... mas ela estaria tão amargurada ao ponto de... mentir para o meu filho?

- Tia Petúnia mentiu? – Harry perguntou extremamente chocado – mas ela sempre briga comigo para eu não mentir. Por que ela mentiu pra mim? O que ela mentiu?

- Provavelmente sobre tudo – respondeu Tiago, completamente amargurado.

- Harry – chamou Dumbledore, o garoto se virou para ele em resposta, seus olhos expressavam pura confusão – qual é a sua lembrança mais velha? Do que você sempre se lembra que você não sabe de onde é?

- Hum... – ele se esforçou para pensar – acho... que é um sonho...

- Apenas pense nele por um tempinho – Dumbledore puxou sua varinha e encostou-a na têmpora de Harry.

Lílian ficou aflita. Mas relaxou quando viu Dumbledore apenas puxar um fio de prata da cabeça do menino com a varinha. O professor pegou um frasco e pôs o fio nele.

- Pode relaxar, Harry.

O garoto o fez, e bocejou.

- Eu já posso voltar pra casa? Está ficando escuro, e o tio Valter sempre fica muito irritado quando eu chego tarde. E ás vezes ele me bate quando fica muito irritado.

Aquilo deixou Lílian ainda mais infeliz. Saber que sua irmã maltrataria tanto a seu filho era triste e desesperador demais. Não. Aquele dia estava confuso e desesperador. Como pode um tornado de nuvens surgir do nada e deixar um garotinho de seis anos que mais tarde ela descobre ser o seu filho de dez anos no futuro? Era... absurdo demais para ser verdade.

- Vocês estão dispensados. – disse Dumbledore, por fim, guardando o frasquinho consigo. – E, Sr. Potter e Srta. Evans, eu ficaria contente em deixa-los cuidar do Harry enquanto eu tento resolver o problema dele. Espero que não seja um problema para vocês.

- Ah... o que? Cuidar do Harry? – Lílian despertou de seu devaneio.

- Sim, eu queria que vocês dois cuidassem do Harry. Claro, que se quiserem.

Lílian instintivamente olhou para Tiago, que olhou para ela. Foi uma espécie de comunicação muito estranha que ela se lembra de já ter feito apenas com Severo Snape quando eram crianças e muito amigos. Um tipo de comunicação visual que ela vê acontecer com muita frequência entre as gêmeas. E que jamais experimentara com Tiago Potter. Ele parecia dizer: “Podemos. Podemos?”. E ela dizia: “Acho que podemos”.

Voltando-se ao mesmo tempo para os professores, Tiago começou a dizer:

- Acho que...

- ...podemos – completou Lílian.

- Fico feliz em ouvir isso de vocês. Agora, imagino que Harry esteja com fome. O jantar já deve está para ser servido, então não se demorem e não se atrasem para o jantar. Podem ir. E não se preocupem, eu farei o meu possível para descobrir o que aconteceu com o Harry. E tentar reverter a situação de vocês.

Lílian e Tiago assentiram e se despediram dos professores. Mesmo que o clima tenha melhorado, eles ainda continuavam infelizes e entristecidos. Assim, eles saíram da sala do diretor, ainda carregando a aura cinzenta da infelicidade e com Harry os seguindo. Lílian se sentia particularmente infeliz.

- Isso foi muito aborrecedor. – disse Tiago quando já virava o corredor para a Torre da Grifinória – sem dúvida, a coisa mais aborrecedora desesperadora e horrível que eu já ouvi na minha vida. Saber que num futuro, eu e você vamos morrer e deixar um filho para a sua irmã cuidar- não, cuidar, não. Maltratar. Essa é a palavra certa. E, juro, que se eu encontrar esse tal de Valter eu- Lílian? Você está bem?

Lílian começara a chorar.

- Lí-lílian? Não chore.

Tiago tentava confortá-la com tapinhas desajeitados em seu ombro. Harry não parecia saber se segurava mão dela ou se ficava com a mão recolhida. Ele a encarava com seus olhos verdes espantados.

- Desculpem, é que... eu não consigo acreditar... a minha irmã... ela... realmente... maltrataria meu filho... e se fosse o filho dela... se fosse ela e o marido dela a morrer... e se o filho deles ficasse órfão... eu cuidaria dele... eu cuidaria dele de verdade... eu cuidaria dele com carinho, porque... ela é minha irmã... ele teria um quarto e uma cama macia para dormir. Ele não... ele não dormiria num armário embaixo da escada... ele não dormiria...

- Lil?

Eles ainda não tinham os visto. Mas Esmeralda, Jade e Cosmo, e os marotos se encontravam esperando por eles no corredor. Não se sabia o quanto eles tinham ouvido da conversa, mas Tiago, completamente sem ação, pediu ajuda aos amigos com um olhar. Ele não sabia se as gêmeas tinham entendido sua expressão, ou se aquilo era uma reação natural entre garotas. Mas Esmeralda e Jade se aproximaram completamente assustadas com as lágrimas de Lílian e procuraram saber o que aconteceu. Como elas não conseguiram uma resposta clara da ruiva, elas a levaram de lá, provavelmente para o quarto delas onde ficariam horas a consolando.

- Tiago, o que aconteceu com a Lílian? – perguntou Remo, muito preocupado.

- Você fez alguma coisa que a deixou chateada? – Sirius perguntou.

Pedro estava muito nervoso. Já Cosmo parecia calmo, como se já soubesse a resposta. Ele apenas sorriu reconfortador e deixou Tiago agir a sua maneira.

Harry se aproximou dele, e perguntou muito preocupado:

- Por que aquela moça estava chorando?

Tiago nunca soube de onde viera a resposta. Mas ele jamais dirá que era mentira.

- É porque ela é um anjo. Que no momento se encontra muito magoado. – ele se curvou para olhar o garoto nos olhos, sorriu e passou a mão na cabeça dele de forma carinhosa. Harry, encantado pelo gesto, sorriu corado. Seus olhos verdes brilhavam de... felicidade?

- Er... ok... isso... foi sinistro. – disse Sirius.

- É... – concordou Remo.

Cosmo sorriu e assentiu. Saindo logo em seguida.

Continua...


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Notas finais do capítulo

E acabou o capítulo. De boa. Qual foi a parte que vocês mais gostaram? Acham que eu forcei alguma coisa? Foi drama demais ou de menos? Estou apagando muito os marotos? Digam o que pensam, estou curiosa! Estou quase enlouquecendo de tão curiosa! Por favor, me digam!
Continua... continua mesmo... será?... vai depender... do que?... não sei, da minha vontade?
Nos veremos logo. Será? Ah, para com isso!
Desculpem. Eu estou meio doida. Acho que é por causa dos meus gatos. Ou será que são os hormônios? De qualquer forma eu gostaria tanto que eu continuasse desse jeito. Ta dando certo. É quando eu sou mais criativa. Se eu perder essa linha, vou perder a linha. De novo, do que mais gostaram? Quero saber. ò.ó