A Winter Night escrita por Olivia Hathaway


Capítulo 7
Capítulo 6




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Eu já conhecia aquela dor.

E mesmo que ela fosse familiar, toda vez que ela aparecia era como se fosse a primeira vez: ela aparece do nada e arranca uma parte do seu coração, e você fica lá, sangrando. Você não pode lutar contra ela, pois ela sempre irá existir. E, se continuar a lutar, mais ferido você acaba ficando. A única solução é você se acostumar com ela, saber que haverá momentos em que ela volta, só que com menos intensidade. É o que chamam de seguir em frente.

É apenas assim que seu coração irá melhorar um pouco.

Um dia depois que recebi a carta, fomos ao cemitério. Não fizemos um funeral para Nicholas, apenas um memorial. Chamei as pessoas mais próximas e comuniquei o restante da família, mas sabia que os outros eventualmente iriam saber.

Chovia naquela tarde, mas eu nem me importei. Nem mesmo em como minhas roupas ficaram encharcadas. Chorei toda a minha dor, sabendo que agora eu estava sozinha no mundo: meu pai morrera na guerra, minha mãe por pneumonia e agora meu irmão, em um estúpido acidente. Um estúpido acidente do qual eu não sabia detalhes.

De todos os presentes, Dimitri foi o único que não chorou. Se eu o tivesse conhecido ali, naquele momento, eu diria que se tratava de um homem grosso e desprovido de qualquer tipo de sentimentos. Mas não era verdade. Seus olhos provavam o contrário: ele estava triste pela morte do amigo.  E foi ai que entendi que aquela era a sua maneira de encarar a morte.

***

1 semana depois...

"Agora eu quero que você sente e fique paradinho" o garoto se acomodou no leito, mas eu ainda podia sentir seu medo. Seus dedos estavam para apertar o lençol. "Qual o seu nome?"

Meu pequeno paciente olhou para mim, com seus grandes olhos azuis. "Brian"

Eu sorri e me ajoelhei para nivelar nossos rostos. "Brian, um nome muito bonito o seu. Aposto que é um menino corajoso e esperto. Quantos anos você tem, querido?"

"Tenho 10"

"Um garotão, hein?" ele estava se acalmando, o que era muito bom. "Bom, Brian, eu sou Rose, sua amiga. E quero ajudá-lo a continuar forte e saudável. Só que para isso, eu preciso da sua ajuda"

Brian me olhou desconfiado por um momento e hesitou antes de responder. "O que eu preciso fazer?"

"Por enquanto, eu preciso que você deixe ouvir seu coração" puxei o estetoscópio do pescoço. "Quero ver se ele está bem. Posso?"

Ele fez que sim com a cabeça e pousei o estetoscópio em seu peito, por baixo da blusa, e escutei seus batimentos. Depois fiz isso nas costas. Para o meu alívio, tudo estava normal.

"Agora eu quero ver sua garganta" falei, guardando o aparelho. "Abra a boca como se fosse para engolir uma melancia"

Aquilo arrancou uma risada dele e ele fez o que eu pedi. Caramba, a cada dia que passava eu estava lidando melhor com crianças. Isso sim era o que eu chamava de evolução!

Quando Brian abriu a boca, eu encontrei o problema. O vermelhão de sua garganta confirmava isso. Sua garganta estava inflamada e isso explicava suas dores. Resfriados nessa época do ano eram comuns, e esse garotinho de aparência angelical e cabelos dourados era apenas mais uma vítima. Bem, pelo menos ele não tinha febre. Isso já era uma grande melhoria. 

Sua mãe pelo menos vai ficar mais tranquila e ter menos trabalho.

O garoto tossiu novamente.

"Você tem dificuldades para respirar?" perguntei.

"Um pouco" outro acesso de tosse, este mais breve que o anterior.

Fui até a mesinha e escrevi os remédios que ele deveria tomar, junto com seus respectivos horários. Peguei um xarope, um que também estava incluso na lista, e enchi uma colher conforme as especificações.

O garoto me olhava com expectativa.

"Prometo que o gosto não é tão ruim assim" dei uma piscadela e ofereci a colher. Ele abriu a boca e engoliu o remédio, fazendo uma careta quando sentiu o gosto.

"Esse até que é bom" respondeu com um sorrisinho. "Obrigado, senhorita Rose"

"Por nada" eu fui até o armário e peguei um pirulito dentro de uma lata. Fiz uma nota mental de pedir a Grace para colocar mais doces lá. Os olhos de Brian brilharam quando viram o agrado. "Tome, um presente por você ter sido um bom paciente"

"Oh, obrigado!" ele agarrou o pirulito como se fosse algo precioso e antes que eu percebesse, ele me abraçou. "Obrigado! Obrigado!"

"De nada" afaguei seu cabelo, surpresa pelo seu gesto de afeição. As crianças que eu geralmente tratava apenas agradeciam e saiam correndo da enfermaria, como se quisessem sair daquele hospital e nunca mais voltar lá. E eu não tirava a razão delas.

Eu o acompanhei até o corredor, onde sua mãe estava. Expliquei a ela que seu filho estava apenas com um simples resfriado e entreguei a lista. Ela parecia aliviada e me agradeceu.

O garoto me lançou um último olhar feliz antes de partir.

"Você deveria ter terminado a faculdade de medicina e depois ter virado pediatra, sabia?" eu quase dei um pulo de susto quando Nathan falou. Girei para encará-lo.

"E você deveria parar de assustar as pessoas"

"Então eu a assustei? Acredito que ganhei uns pontinhos com essa vitória" Ele riu. "Mas voltando ao assunto, por que você desistiu da faculdade? Faltava, o que? uns três anos?"

"Dois anos" corrigi.

"Caramba!" exclamou, surpreso. "E como você pôde fazer uma coisa dessas?"

Minha desistência da faculdade não era um dos assuntos que eu gostava de discutir. Especialmente em tempos como esse.

"Nate, para falar a verdade, nem eu sei o porquê" isso era uma mentira, porque eu sabia exatamente o motivo que me levou a fazer essa decisão.

E ele envolvia um homem, alianças de noivado e aquele costume ridículo de que as mulheres tinham que cuidar da família.

"E se isso serve de consolo" joguei essa lembrança para longe. "eu me arrependo por ter feito isso. Mas, agora é tarde demais de qualquer jeito"

"Infelizmente" disse. Olhou para seu relógio e mordeu o lábio. "Agora se me der licença, preciso voltar ao trabalho. Meu intervalo acabou de terminar"

"E o meu de começar" dei um beijo em sua bochecha. "Vai lá"

"Vejo você mais tarde"

Caminhei até a cozinha e enchi um copo de chocolate quente e um prato com biscoitos que tinham acabado de serem assados. O cheiro estava divino. Um dos cozinheiros apenas balançou a cabeça em reprovação e eu o ignorei. Afinal, uma mulher precisa comer. E para quê fazer tanta comida se depois eles iriam reclamar das sobras? Ora, eu estava apenas aliviando eles de um futuro estresse!

Fui até meu escritório, onde coloquei cuidadosamente a comida na mesa, fechei a cortina e abri minha bolsa, puxando as cartas que iria analisar.

A morte de Nicholas ainda era uma coisa que eu teria que me acostumar, mas eu não iria aceitá-la sem antes saber como exatamente ele morreu. Eu não aceitava que ele tinha morrido em um "simples acidente". Não havia dúvidas de que ele havia sido assassinado.

Aquela carta que Marie havia me mandado, escrita ás pressas e fria não era o seu estilo, mesmo que fosse para contar uma notícia ruim. E quando eu liguei para sua casa, ninguém atendeu. Ela disse na carta que estava indo para a Espanha, mas era difícil de aceitar que Marie agiria assim em uma situação como essa.

Quando contei a Dimitri sobre minha teoria, dois dias atrás, vi que ele havia ficado surpreso e com certeza pensava da mesma maneira. Mas aquela expressão havia sumido tão depressa que não tive tempo de argumentar. Ele então dissera o que disse em uma outra noite, em como era difícil enfrentar esse tipo de coisa. Também tentara me convencer de que acidentes como aqueles eram comuns, que Nicholas não tinha nenhum motivo para ser assassinado, mas eu sabia que ele mentia. Que nem ele mesmo acreditava em suas próprias palavras. Mas é claro que ele negou. Era impossível ganhar uma discussão dele.

Ignorei a raiva que senti naquele momento por ninguém acreditar em mim e abri os envelopes, lendo cada carta, procurando qualquer trecho que servisse de pista e prova de que eu estava certa. Mas não havia nada lá.

Fui tomada por um desânimo e estava aceitando o fato de que teria que pedir desculpas a Dimitri quando notei algo estranho. As assinaturas.

A última carta tinha uma assinatura estranha, quase como se tivesse que tentado que copiar as de Marie. Não, aquilo não havia sido por causa da pressa. Além disso, até a caligrafia estava diferente, desenhada demais para ser a de Marie. E sua assinatura estava centralizada. Marie sempre assinava na lateral, não importava se fosse um simples bilhete.

O desânimo foi substituído por excitação e, é claro, raiva. Excitação porque eu finalmente tinha provas o suficientes para suspeitar de um assassinato para mostrar a Dimitri e contratar um detetive. A raiva, bem... meu único desejo depois de encontrar os bastardos que fizeram isso é de matá-los.

Eu precisava contar isso a Dimitri. Agora.

Olhei para meu relógio. Merda, eu teria que voltar a trabalhar em meia hora. E não, eu não conseguiria esperar meu turno acabar para falar com ele.

Peguei um caderno onde estava os turnos de cada enfermeira e procurei o nome de alguma enfermeira que começaria a ter seu intervalo nesse momento. Eu o encontrei: Vasilisa Dragomir.

Lissa não se importaria em pegar parte do meu turno, disso eu sabia. Eu a encontrei em uma das salas do hospital, ajudando uma senhora de idade que fraturara a pena a sentar na cama. Como eu pensei, Lissa não se importou. Apenas disse que eu deveria examinar algumas salas mais tarde em seu lugar. Eu aceitei.

Tirei meu uniforme e saí do hospital, indo em direção ao escritório de Charles, que ficava ali perto. O prédio ficava ao lado de uma padaria, e

"Com licença" respirei fundo. "Você sabe me dizer onde posso encontrar Dimitri Szelsky?"

Para evitar que Dimitri fosse descoberto, decidimos que ele deveria usar um sobrenome falso. Forjar os documentos provando sua nova identidade também não foi um problema, era apenas saber a pessoa certa para fazer esse tipo de serviço. Por mais que fosse sujo, era necessário. Apenas eu, Lissa, Christian e Margareth sabíamos seu real sobrenome.

O homem parou de escrever e olhou para mim. "Ele não está aqui, senhorita..."

"Hathaway" sentia-me cada vez mais impaciente. E a vontade de responder daquele homem estava me irritando. "Você pode me dizer onde encontrá-lo?"

"Ele está trabalhando na construção de um prédio, a três quadras daqui" disse. Eu comecei a me virar para ir embora. "Mas não sei se ele estará lá. Aqui consta que seu turno já terminou"

"Obrigada"

Eu praticamente corri até o endereço que ele deu, ansiosa para contar a Dimitri minha descoberta. E eu provaria a ele que ele estava errado, ah se não provaria!

"Olha só, se não é a enfermeira sexy!" Mason caminhou até onde eu estava e tirou a boina que usava. "Está tudo bem com você? Parece ofegante"

"Estou ótima" falei dando um sorriso. Não acho que o tenha convencido. Fui direto ao ponto. "Onde está Dimitri?"

"Ele está lá em cima coordenando o pessoal. Você quer que eu o chame?"

Eu detestava atrapalhar o trabalho dos outros, mas dessa vez era necessário. E Mason soube exatamente a minha resposta.

"Já volto" disse antes de sair de vista.

"A senhorita aceita um copo de água?" olhei para o lado, onde um pedreiro me encarava com uma expressão gentil. "Parece fatigada"

Ele voltou com um copo de água e eu tomei praticamente tudo em um gole. Fiquei surpresa com o tamanho da minha sede.

"Obrigada" falei, devolvendo-lhe o copo. "O senhor é muito gentil"

"Por nada" ele sorriu, expondo seus dentes. Eles eram um pouco desordenados, mas não chegavam a ser feios.

"É um prédio comercial?" perguntei, olhando para a construção. Havia uma pilha de tijolos ali perto. Um grupo de funcionários saia do local.

"Para falar a verdade, eu não sei bem o que vai sair aí" falou, coçando a barba. "Mas tem cara de ser. Provavelmente uma confeitaria, pelo tamanho da cozinha"

Dimitri apareceu alguns minutos depois, junto com Mason. Eu me levantei. Ele tinha uma sobrancelha erguida, como se questionasse o que eu estava fazendo ali. Eu confirmei isso quando ele perguntou.

"O que está fazendo aqui, Rose?"

Cruzei os braços como se estivesse indignada. "Eu só quis te fazer uma visita. É proibido visitar os amigos no horário vago?"

Dessa vez, ele estreitou os olhos, como se eu estivesse sendo absurda. Era incrível como Dimitri conseguia detectar uma mentira minha com tanta facilidade.

"Não está, não" e então olhou em seu relógio de pulso. "Seu horário vago já acabou"

"Eu poderia ter conseguido algum tempo extra já que estou sem pacientes" argumentei. Estava conseguindo deixar Dimitri cada vez mais intrigado, e por mais que eu quisesse enfrentá-lo, a situação era, por hora, engraçada.

"Aposto que você não conseguiu. Provavelmente trocou de turno com alguém" eu fiz uma careta, e isso o fez soltar uma risada baixa. "Sempre sei quando está mentindo, Roza. Diga o que te incomoda"

"Szelsky!" Dimitri e eu olhamos para um homem baixinho que deveria ter a mesma idade que Dimitri. Ele nos olhava e parecia furioso. "Volte já ao trabalho! E mande sua namorada voltar outra hora"

Senti Dimitri fechar os punhos e a próxima coisa que percebi foi o mesmo cara ficando pálido, olhando para Dimitri como se ele fosse algo extremamente perigoso.

Olhei para o rosto de Dimitri. Ele encarava o cara com uma expressão gélida, mortal. Aqueles olhos chocolate, que antes eram gentis, misteriosos e calorosos,  estavam agora duros, com uma ferocidade que eu jamais tinha visto na vida.

Dimitri exalava morte e violência do pior tipo naquele estado. E a fúria daquele homem não chegava nem perto da de Dimitri.

"Saia" disse rispidamente.

O homem sequer pensou duas vezes antes de cumprir as ordens de Dimitri e sair dali. Ninguém prestou atenção no que havia acabado de acontecer, o que eu era grata. Dimitri provavelmente teria arrumado uma bela encrenca por ter praticamente matado um funcionário apenas com um olhar.

"Inglês arrogante" resmungou ele. Fiquei surpresa com esse comentário, pois Dimitri não era um cara que tinha costume de xingar os outros. "Só quer dar ordens, mas não passa de um funcionário preguiçoso"

"Tenho certeza de que ele jamais voltará a te enfrentar" eu apertei sua mão, a fim de acalmá-lo. "E Charles logo tomará providências"

"Eu espero" disse, abaixando o rosto para ver o meu e nossos olhos se encontraram. Olhos castanhos chocolate observavam-me calorosamente, sem nenhum sinal daquela fúria de segundos atrás. "Agora me conte por que está aqui"

"Não tem um lugar mais... reservado?" perguntei, sentindo-me inquieta. Não estaria a vontade conversando sobre isso aqui, no meio do pessoal.

"Há uma pracinha ali na frente" ele gesticulou com a cabeça para o lugar, atrás de mim. "Acho que atende as suas exigências"

Caminhamos até a pracinha, e eu sentia a curiosidade de Dimitri aumentando a cada minuto que passava. Sentamos em um banco, embaixo de um enorme carvalho. Olhei para cima, onde três passarinhos cantavam alegremente, alheios a nossa presença.

Foi então que percebi que Dimitri estava esperando uma resposta. Olhei para ele.

"Eu encontrei provas de que Nick pode ter sido assassinado" abri a bolsa e puxei as cartas. Não iria deixar ele falar. "Por favor, me deixe terminar! Essa carta que recebi sobre a morte dele está diferente das anteriores"

Entreguei a ele três cartas e mais a última. Dimitri as pegou e ficou analisando por alguns minutos. Meus dedos brincavam com a pulseira que usava enquanto Dimitri olhava as cartas. Eu estava com esperanças de que ele finalmente concordasse comigo.

Mas não foi isso que aconteceu.

"Eu deveria saber" disse baixinho. Levantou uma das cartas. "Que você iria buscar qualquer coisa para provar essa sua teoria. Na verdade, eu já estava esperando algo desse tipo vindo de você"

"E eu deveria saber" tentei manter o mesmo tom que ele usara. "Que você novamente não iria acreditar em mim"

Ele fechou os olhos e respirou fundo. "Rose, nós já conversamos sobre isso"

Havia um aviso em sua voz. Que era melhor eu não insistir nessa conversa pois ela levaria ao mesmo lugar que a anterior, sem nenhum de nós ganhar nada além de mágoas. E eu sabia que ele não estava de bom humor hoje, era só lembrar do que ele acabara de fazer com um dos funcionários de Charles.

Só que eu não me importava. Eu estava certa naquele momento, cansada de ninguém acreditar em mim. Eu estava frustrada. E a minha frustração estava beirando a explosão.

"Ok, você está brincando comigo" acusei. "Não está levando a sério nenhuma palavra que eu estou falando!"

"Eu estou levando a sério" ele disse. Dava para ver que estava lutando para manter a calma. "Mas eu acho que você está passando por muita coisa. E como foi um caso em que a maioria dos detalhes está oculto, você está suspeitando de tudo -"

"Não estou suspeitando! Eu tenho provas de que isso não foi um acidente!" explodi. "Não vê que está tudo muito estranho? Como você explica essas cartas? Marie não tem essa caligrafia bonita e nem assina daquele jeito! E como você explica a falta de detalhes desse acidente?"

"Eu não sou nenhum detetive e muito menos possuo uma bola de cristal para adivinhar o que realmente aconteceu naquele barco" ele estendeu as cartas para mim. "Mas você precisa entender que acidentes acontecem e -"

"Aquilo não foi um acidente! Meu irmão foi assassinado pelo amor de Deus!" eu apontei meu dedo para ele. "E eu sei que no fundo você também concorda comigo. Sei que concorda! Vi a sua cara quando falei nisso pela primeira vez!"

"Está imaginando coisas!" ele agarrara a mão que antes estava apontada para seu peito. "Chega disso, Rose. Eu não quero discutir com  você"

"Então pare de agir assim!" gritei. "Pare de tentar me convencer de algo que nem você mesmo acredita! Desde que Nick morreu você me evita, e quando conversamos, você sempre diz que estou errada. Estou cansada disso! Estou cheia de ficar ouvindo você dizer que estou imaginando coisas, que estou frágil demais. Você me faz sentir como se eu fosse uma mulher histérica e lunática, pelo amor de Deus!"

"Nesse momento você está agindo como uma!"

"Ah, é claro que estou! Toda vez que adivinho o que você pensa, o que mente, você insiste em dizer que são coisas da minha imaginação!" cruzei meus braços "Qual é o seu problema, Dimitri Belikov? Tem medo de que eu descubra algo? Ou melhor dizendo, você é algum tipo de espião? Porque certamente está agindo como um que acabou de ser descoberto!"

"Não se atreva a dizer isso" rosnou. "Porque você não faz ideia do que está falando!"

"Lá vem você de novo! Agora vai me dizer o que eu deveria fazer e-"

"Exatamente" cortou ele, friamente. "E já que você está de folga, sugiro que volte para casa e dê uma boa descansada, porque parece uma mulher histérica que não se encontra em suas plenas faculdades mentais para ter uma discussão de maneira civilizada"

Eu apenas o encarei. Aquilo foi como um tapa na minha cara, especialmente porque vinha dele. Por um momento eu vi arrependimento nos seus olhos, mas não prestei atenção o suficiente. Queria sair daquele lugar antes que eu o mandasse diretamente para o inferno ou fizesse algo pior, como entregá-lo para a polícia. Porque ele certamente merecia todas essas coisas, em especial a última. Porque eu jamais aceitaria que me chamassem daquelas coisas. Eu podia ser tudo, mas eu não era uma mulher frágil e maluca.

"Rose..."

Algo dentro de mim quebrou.

"Não encoste em mim, seu comunista imundo!" silibei, puxando meu braço que Dimitri agarrara, tentando me parar. "Não me toque! Apenas me deixe ir!"

Dimitri apenas ficou ali, parado e me encarando com uma expressão tomada por culpa, arrependimento e frustração.

E honestamente, era bom ver que ele se sentia arrependido por isso.

***

"Dimitri não vem jantar?"

Margareth balançou a cabeça. "Não. Ele disse que não poderia aparecer pois tinha que tratar de alguns assuntos"

"Covarde" murmurei baixinho, encarando minha comida sem a menor vontade de comer.

Por mais que eu ainda estivesse com raiva dele, eu me sentia arrependida por ter o chamado de comunista imundo. Tudo bem que ele tinha tocado uma parte de mim que explodia facilmente, mas eu não tinha esse direito. Até porque eu sabia que ele não gostava do governo de seu país e não era um monstro como seus colegas.

"Vocês brigaram?" perguntou ela, mas eu sabia que ela estava fazendo uma acusação.

"Não"

"Não minta para mim, mocinha" retrucou ela. "Sei que está mentindo porque não tocou em sua comida. Está remoendo o que se passou, não?"

"Sabe Mags, você está acabando com o meu apetite" cutuquei o pedaço de torta no meu prato com o garfo. "E eu não quero conversar sobre isso"

"Rose, eu não estou pedindo uma explicação" sua vez se tornou amável. "Só acho que vocês deveriam se entender. Não gosto de vê-los brigados"

Olhei para ela. Apesar do cabelo loiro que agora estava praticamente branco por causa da idade, Margareth ainda tinha aquele brilho jovem e astuto em seus olhos azuis. E eles não deixavam nada passar despercebido. Isso era uma das coisas que eu mais gostava nela, mas que agora apenas me irritava.

"Bom, então me desculpe, porque eu não sei por quanto tempo você irá ficar amargurada por isso"

Ela bufou. "Vocês dois vão me deixar maluca daqui a pouco. São teimosos e orgulhosos demais!"

Eu tinha que dar crédito a Margareth, pois ela tinha razão quanto a isso. Dimitri e eu tínhamos coisas em comum, e eu tinha certeza de que orgulho e teimosia faziam parte dessa lista.

Comi um pouco da torta e fui para a sala, tentar assistir algo na TV. Passava Tom&Jerry, o programa preferido de Dimitri. Todas as vezes que passava esse desenho Dimitri estava sentado no mesmo sofá que estou nesse momento, totalmente absorto.

Afastei essa lembrança e decidi tomar um banho. Era a melhor coisa que eu poderia fazer naquele momento, pois o banho poderia me fazer relaxar.

Enchi a banheira, prendi meu cabelo em um coque alto e me despi. A água estava morna e cheia de espuma, exatamente do jeito que eu queria. Fechei meus olhos e encostei-me em uma das extremidades dela, apreciando aquele raro momento de solidão.

Não sei por quanto tempo fiquei naquele estado - acho que cheguei até cochilar porque a água estava começando a esfriar, quando ele entrou.

Abri meus olhos e olhei para Dimitri. Foi por muito, muito pouco que não o percebi ali.

"O que está fazendo aqui, Dimitri?" perguntei, tentando me cobrir mais com a espuma. Ele parecia sem jeito, como se tivesse sido pego em flagrante.

"Margareth me pediu para buscar o creme facial dela" ele fez uma careta. "Mas eu não sabia que você estava tomando banho"

"Não tem problema, estou coberta" gesticulei para a espuma. "E não é como se você estivesse cometendo um atentado ao pudor"

Ok, Rose, o que você está fazendo? Pensei que estivesse irritada com ele. Afinal, Dimitri feriu seu orgulho.

Dimitri apenas assentiu e foi até o armário procurar pelo creme. Meus pés tocaram a torneira e abriram o registro, fazendo encher mais água morna. Eu sentia que aquele momento estava se tornando mais estranho a cada segundo que se passava.

"Margareth te mandou aqui para falar comigo, não foi?"

Ele girou, já com o creme em mãos. Percebi que ele estava hesitando e aquilo meio que me deixou curiosa. "Na verdade, ela realmente me pediu esse creme. Mas eu queria conversar com você sobre o que aconteceu mais cedo. E Rose, eu-"

"Eu não preciso da sua compaixão" resmunguei. Eu estava sendo mesquinha, porque eu sabia que ele estava arrependido, mas eu queria que ele sofresse tanto quanto me fez sofrer.

"Eu quero ajudar" não olhei para ele, e aquilo o fez resmungar algo em russo.

E eu nada respondi. Ficamos naquele silêncio insuportável durante segundos, até que ele caminhou até a porta. Achei que fosse embora, mas ele parou ali por um momento.

"Estou indo á Paris daqui a pouco"

Antes que eu tivesse a chance de recuperar-me do choque e de dizer algo, ele saiu.

Ps: se encontrarem algum erro, me avisem! Pois tive que escrever pelo wordpad e não tem correção lá :/ 


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Notas finais do capítulo

Feliz ano novooo meninass! Espero que tenham curtido! E pra começar o ano, aí está mais um capítulo! hehe
Bom, vocês provavelmente já estão odiando o Dimitri, mas peço que entendam o lado dele, que será o próximo capítulo!
Fora isso, não tenho mais nada a dizer. Apenas que em janeiro talvez eu demore mais pra postar porque começarei a revisar a matéria do ano passado pra não sofrer tanto no cursinho :/
Ah, agora me digam o que acharam desse capítulo! Tenho medo de ter pegado pesado demais ele :/
Beijos e até breve ;*