A Winter Night escrita por Olivia Hathaway


Capítulo 6
Capítulo 5




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Só foi meia hora depois que consegui me livrar de Emily. Sua conversa superficial realmente tinha me cansado. Antes de partir, ela tinha me lembrado novamente da festa de debutante de Kate.

"Não se esqueça" ela tinha dito assim que acendeu um cigarro. "Kate vai ficar desapontada se você não for... E se você não quiser ficar em nossa casa de campo, tem as outras casas do condado, onde vão ficar os outros convidados"

"Eu ligo quando decidir onde vou ficar" falei acompanhando-a até o portão. "Umas duas semanas antes eu te aviso, pode ficar tranquila. E dê lembranças para tia Olívia"

"Mandarei" o motorista de Emily prontamente abriu a porta do Rolls-Royce para que ela entrasse. Ela me deu um beijo estalado no rosto. "Até a próxima, prima. E tente ser um pouco mais civilizada, pois já passou da fase de conseguir esses galos"

"E você tente combinar um pouco mais suas roupas, tem couro demais aí. Os caçadores podem te confundir com um urso pardo" sorri maliciosamente quando vi a raiva inundando os olhos dela. Mas não a deixei falar. "Nos vemos na festa de Kate" E com isso eu a deixei.

"Sinto que Lady Emily está muito irritada" Margareth disse assim que entrei em casa. Havia diversão naqueles olhos. Ela deve ter ouvido nossa conversa e apreciado cada segundo, pois Margareth não gostava de Emily também. "O que você fez?"

"Falei a verdade" disse. "Agora se ela gostou ou não, não é problema meu. E sabe de uma coisa? Eu vou sair e dar uma volta"

De repente eu senti uma súbita vontade de sair de casa e fazer alguma coisa. Ficar parada mesmo doente era algo que eu não conseguia fazer. Eu tinha que fazer alguma coisa. Um passeio pelo bairro pareceu-me uma ótima ideia, mesmo que eu ainda estivesse me recuperando do galo.

"Você não pode fazer isso. Ainda precisa se recuperar da batida"

"Estou perfeitamente bem" repeti o que tinha dito a Natalie mais cedo. "E lúcida. Já tive ferimentos muito piores. E não se preocupe, eu volto para o almoço"

Para deixá-la mais calma, tomei uma aspirina antes de ir até a lavanderia para pegar minhas botas de combate. Elas estavam gastas, pois eu já as tinha há 3 anos e quase sempre as usava. Troquei de roupa e fui até a garagem, onde guardava a bicicleta.

Não era um dos últimos modelos, mas era uma boa bicicleta. Eu a tinha trazido dos EUA e pedalava nela de vez em quando. Para o meu alívio, os pneus ainda estavam cheios e ela não tinha nenhuma peça quebrada.

Não tive dificuldades em pedalar, mesmo que não fizesse isso há meses. No começo eu apenas acabei tendo uma breve briga com os freios, mas logo depois eu fiquei no controle. Pedalei até uma pequena ponte de pedra que levava para um parque e depois voltei para a rua de casa, decidida a ir até o final dela. Só havia duas casas depois da minha, o que vinha depois era um bosque cheio de pinheiros. Um bosque que, quando eu era menor, atiçava minha imaginação sobre o que eu poderia encontrar lá.

Era um lugar bonito e ao mesmo tempo selvagem. As flores já começaram a nascer, dando um toque mais alegre para o lugar. Fui até a beirada da rua para arrumar o coque que se desmanchara por causa do vento quando notei uma trilha que adentrava o bosque. Era uma trilha fresca, que parecia ter sido usada no máximo umas duas semanas atrás.

Decidi segui-la para ver até onde ela ia. Ainda faltava algumas horas para o almoço, de modo que eu não chegaria tarde. Havia lama no caminho, e eu acabei sujando minhas botas. A bicicleta estava com lama respingada, mas isso não me fez desistir. Eu daria um jeito de lavá-la mais tarde.

Quando o caminho se tornou íngreme, eu tive que sair da bicicleta para não levar um tombo. Foi então que eu a vi.

Ali, um pouco escondida entre pinheiros e as árvores de maple, havia uma pequena cabana de madeira. Parecia que havia sido abandonada há anos pelo estado em que se encontrava. Uma janela estava quebrada e o telhado estava um pouco afundado. Mas nada me impedia de imaginá-la ali quando fosse outono, quando todas aquelas árvores estivessem com a folhagem alaranjada e avermelhada espalhada pelo chão. Acordar em um lugar como aquele e olhar aquela paisagem pela janela seriam como em um sonho.

Eu também podia ver um caminho que com certeza levaria a algum riacho, pois conseguia ouvir o barulho de água corrente de eu onde estava. Flores do campo se espalhavam por quase toda a beirada dessa trilha na frente da cabana. Fiquei imaginando por que alguém teria deixado de morar em um lugar tão lindo como aquele quando ouvi um barulho de marteladas.

Encostei a bicicleta no tronco de um carvalho e caminhei até a cabana e olhei para cima. Para a minha surpresa, era Dimitri quem estava lá, consertando o telhado.

Peguei uma pedrinha no chão e atirei onde ele estava para chamar sua atenção. A pedra quicou perto da sua bota, mas conseguiu atrair sua atenção. Ele olhou para baixo.

“Rose?”

“Então é aqui que você se esconde de manhã?” não consegui não rir da cara que ele me olhava. Dimitri estava surpreso e incrédulo. Provavelmente porque jamais suspeitou que alguém encontrasse seu pequeno esconderijo. Ele não disse nada, apenas continuava me olhando como se eu fosse algum tipo de miragem. Passei a mão no meu cabelo. “É um lugar bonito, sabe? Nunca achei que aquela trilha fosse dar aqui”

“Nem eu” disse, se levantando do telhado. Por um momento, Dimitri sumiu da minha visão, mas logo ele apareceu, já no chão. Senti seu olhar em mim, fazendo a mesma coisa que eu estava fazendo com ele: uma análise. Seu rosto estava suado e seu cabelo castanho estava preso em um rabo de cavalo. Eu sabia o quão macio era aquele cabelo, pois o tinha tocado quando Dimitri estava inconsciente por causa de uma febre.

Ele usava uma blusa branca que estava desabotoada em cima, revelando parte do seu peito. O suspensório que usava só o deixava com uma aparência mais rústica.

"Rose, o que está fazendo aqui?" perguntou, por fim. Seu rosto era um misto de desaprovação, preocupação e surpresa. "Você não deveria estar na cama se recuperando?"

“Ei, eu estou bem" falei cruzando meus braços e colocando minha melhor cara de Rose-saudável. "Mesmo que eu não me lembre de como consegui esse galo"

Eu não deveria ter dito essa última parte. Aquilo pareceu deixar Dimitri desesperado.

"Você... não se lembra de nada?"

"Calma, camarada" eu ri e caminhei até a escadinha que levava para a varanda e me sentei. Dimitri me seguiu. "Eu só não me lembro do que me assustou e me fez bater a cabeça e desmaiar. Isso é um pouco normal para quem acaba desmaiando nesses casos"

Ele demorou um pouco para aceitar. "Mas no geral, como você se sente?"

"Uma sobrevivente"

Eu esperava que ele fosse revirar os olhos com minha resposta espertinha, mas ele surpreendeu não apenas eu, mas a nós dois, quando sua mão tocou meu rosto com o maior cuidado o possível, como se eu fosse algo quebradiço. Fiquei imóvel e prendi minha respiração.

Ele levantou meu queixo para que nos olhássemos e senti seus olhos analisando cada detalhe do meu rosto. Seus dedos então, percorreram meu rosto, até chegarem onde estava o galo. O toque dele era suave e gentil, porém a sensação que tomou conta do meu corpo não se assemelhava a isso. Era puro fogo, correndo pelas minhas veias, queimando em meu peito, fazendo-me sentir arrepios.

"Você não tem ideia do quão preocupado eu fiquei quando a vi no chão" confessou ele. Eu podia ver em seus olhos todos os tipos de emoções. "Tive tanto medo naquele momento. Senti-me culpado por ter te deixado para ver aquelas caixas sozinha. Eu deveria lembrado do perigo que -"

"Está tudo bem, não foi sua culpa" respondi, sentindo-me completamente embriagada pela maneira que ele estava me tratando naquele momento. E aquela culpa que eu via em seus olhos... aquilo era demais para eu suportar. "Ninguém sabia que eu iria me assustar e acabar desmaiando. E não aconteceu nada. Eu estou aqui com você"

Se o olhar de gratidão que ele me lançou fez-me sentir como se tivesse asas, o movimento que ele fez logo em seguida para afastar meu cabelo, de modo que expusesse meu hematoma, só me deixou ainda mais excitada.

"Não está tão ruim assim" ele disse suavemente "vai sarar"

"Vai demorar semanas para isso aí sumir" resmunguei. "Nathan e Lissa vão fazer todo o tipo de piada com o meu descuido"

Aqueles dedos faziam círculos onde estava o hematoma. "Você não precisa se importar com os comentários dos outros. Foi um acidente"

Suspirei.

“Tá, talvez não seja algo completamente normal ver algo que deforme o seu rosto e o torne menos atraente em você, mas eu tenho meu cabelo”, peguei em uma mecha, como se fosse provar a ele algo “E ele esconde o galo, não percebeu?”

Dimitri então parou de me analisar e de dar lições de vidas zen para tocar uma mecha do meu cabelo. Ele a enrolou no dedo, parecendo hipnotizado. “Dimitri?”

Ele parecia estar totalmente fora de si. “Seu cabelo..." sua voz demonstrava extrema admiração e só fazia meu coração bater mais rápido. "Realmente, você o tem, e ele faz toda a diferença. Seu cabelo é lindo”

Revirei os olhos. “Meus cabelos? Eles estão completamente sem corte e fora de moda, tanto que preciso urgentemente cortá-los e-“ Dimitri me interrompeu com seus protestos na mesma hora.

“Não corte" disse bruscamente. "A única pessoa aqui que os acha fora de moda é você, porque eu vejo como todos os outros te admiram.” Dimitri raramente expressava seus sentimentos e quando o fazia, não era tão insistente. Ele me examinou um pouco mais, deixando aquela mecha para atrás da minha orelha.

Tal demonstração de afeto mexeu comigo. Mas logo percebendo a nossa proximidade, Dimitri se afastou de mim. E foi como se tivessem tirado algo do meu corpo. Todo aquele calor que havia entre nós foi apagado.

Merda, pensei, talvez eu não seja tão atraente quanto ele disse segundos atrás. Ele se recompôs, cruzando os braços enquanto colocava a bendita máscara que escondia todos os seus sentimentos, e pigarreou. “Mas, enfim, faça o que achar melhor. Você é a dona do cabelo, não eu"

"Claro" foi a única coisa que consegui dizer.

Dimitri se levantou. "Você quer beber alguma coisa? Água?"

"Uma água me faria bem" respondi. Essa mudança abrupta de comportamento estava me deixando cada vez mais confusa.

Ele voltou alguns segundos depois com duas garrafas de água e sentou-se ao meu lado, um pouco mais longe do que antes. Aquela distância era sua garantia de que não faria algo imprudente outra vez, disso eu tinha certeza.

"Então, essa cabana é sua?" puxar conversa era a melhor coisa que eu poderia fazer naquele momento. Não gostava daquele silêncio constrangedor que pairava sobre nós.

"Sim, eu a comprei de Charles mês passado" disse tomando um gole de sua água. "Mas só agora pude começar a reformá-la"

Pensei no vidro quebrado e no telhado afundando. "Você tem muito trabalho pela frente"

Ele assentiu. "Sim, mas a sorte é que a madeira não estava totalmente podre quando eu a comprei. Senão teria que começar tudo do zero. Os móveis, por outro lado, vou ter que praticamente substituir todos" Seus olhos se encontraram com os meus. "Você quer ver como está ficando?"

"Adoraria"

Ele estendeu a mão e me ajudou a levantar. Entramos na pequena cabana e Dimitri começou a me explicar as mudanças que pretendia fazer. Havia um lampião de querosene em cima de uma mesinha, junto com alguns papéis. Aquele espaço, eu deduzi assim que vi um fogão com uma chaminé alta, deveria ser a cozinha.

"Aqui é onde vai ser o quarto" disse gesticulando para onde havia uma cama com armação de metal de solteiro ao lado de uma janela com uma cortina. Ambos estavam em ótimas condições, apesar de não serem novos. "Colocarei uma escrivaninha ali e uma prateleira aqui na frente"

Como não havia divisórias naquela cabana com exceção onde ficava o quarto, ele sabia que tinha que dar um jeito de criar mais. E ele estava fazendo isso direito. Dimitri continuou explicando, mas eu acabei fixando minha atenção na vista que a janela do quarto proporcionava. Dava para ver o nascer do Sol por aquela janela, disso eu tinha certeza.

De repente eu me imaginei deitada naquela cama, observando os raios de sol infiltrando esse lugar, dando uma tonalidade dourada áquela cortina de renda velha e aos livros da estante. Imaginei também Dimitri na escrivaninha de mogno, inclinado e concentrado enquanto escrevia algo. Muito provavelmente seu cabelo, que estaria com algumas mechas fora do rabo de cavalo, estaria dourado por causa da luz. Era uma visão totalmente surreal e incrível.

Um leve toque no meu ombro me fez voltar a realidade.

"No que está pensando?"

Os olhos castanhos de Dimitri se encontraram com os meus, e novamente eu me senti presa ao seu olhar. Naquele momento, seus olhos pareciam poder exergar a minha alma, captar minha essência. E aquilo mexia comigo de uma maneira que eu queria que ele realmente pudesse vê-la.

"Estava pensando em como esse quarto vai ficar depois da reforma" confessei e olhei novamente para a janela. "E em como o nascer do sol iria deixar esse lugar mais lindo do que já é"

"Pensei a mesma coisa" disse, enfiando as mãos no bolso. "Foi por isso que decidi que aí seria o quarto"


"Você sabe, Margareth vai ficar uma fera quando descobrir que você pretende se mudar" brinquei.

Aquilo arrancou um meio sorriso dele. "Com certeza. Ela lembra muito a minha mãe,sabe?"

“Sua mãe?”, perguntei debilmente. Dimitri nunca havia falado nada sobre a família, e vi naquela brecha a oportunidade de descobrir um pouco mais sobre ele. Afinal, assim como Margareth havia dito, se ele pudera descobrir onde estaria se metendo, eu tinha igual direito. “E como é a sua mãe?”

"Uma versão mais exigente de Margareth" disse ele. "Era filha mais nova de um fazendeiro, mas nunca teve vocação para o campo. Ela tratava dos doentes e chegou a se tornar enfermeira, antes de se casar com o meu pai. Todos que a conheciam a admiravam. Diziam que ela era a mulher mais bondosa do mundo" havia orgulho e amor em sua face. "Sinto saudades dela"

"Ela ficou na Rússia?" Não conseguia imaginar como ele pudera deixar sua mãe na Rússia.

Ele deu um longo suspiro. "Sim, ela ficou lá, junto com minhas duas irmãs. Quando eu disse que estava partindo e que queria que elas viessem comigo, ela recusou. Disse que era mais seguro se elas permanecessem lá"

"Seguro?" não havia lógica naquilo. "E se decidissem prendê-las por traição ou coisa do tipo por causa da sua fuga?"

"Esta tudo bem, Roza" tranquilizou ele. Aquele nome que ele acabara de me chamar carinhosamente fez meu coração disparar. "Elas estavam na Sibéria quando fugi. Não nos víamos desde 1947 e raramente nós falávamos. Eles não tem qualquer prova de que elas estejam envolvidas"

"E como você tem tanta certeza de que nada irá acontecer?"

"Porque estamos cuidando para que isso não aconteça" a maneira como ele falou provocou arrepios na minha pele.

De repente fiquei imaginando o quão influente Dimitri era na Rússia e que tipo de cargo ele realmente teve no governo, a ponto de ter gente de olho nas coisas que aconteciam por lá. Eram pessoas que também eram membro do partido, disso eu tinha certeza. E a inteligência de Dimitri, aliado a sua capacidade de calcular uma estratégia com precisão, com certeza o colocaram em um cargo importante. A maneira que ele agia, praticamente sempre no controle, observando tudo me lembrava um leão espreitando sua presa, estudando cada movimento e vendo qual seria a melhor tática para caçá-la quando tivesse a chance.

Outra coisa me perturbava: E se ele fosse algum tipo de espião?

Não, isso era impossível. Por que se ele fosse um espião, o que estaria fazendo aqui? Essa cidade não tinha nada haver com as disputas entre os comunistas e o resto do mundo. Londres talvez faria bem mais sentido. E minha família não estava metida nessa briga. Meu pai já estava morto há tempo o suficiente para não arranjar confusão - não que ele tivesse arrumado quando vivo.

Nesse momento, eu estava cheia de perguntas e estava com vontade de fazê-las. E eu iria fazer isso. Entretanto, quando eu estava para abrir a boca, alguém nos interrompeu.

"Dimitri" uma voz masculina chamou seu nome. "Cara, onde você está?"

Dimitri e eu fomos até a varanda e encontramos um homem ruivo parado lá, segurando duas caixas de ferramentas. Ele nos olhou por um momento e compreensão surgiu em seu olhar.Suas bochechas coraram como um pimentão.

"Ah, droga" ele largou as caixas no chão e coçou o cabelo. Imediatamente eu entendi o que ele achava que tinha visto. "Eu... hã... desculpe se interrompi alguma coisa" seus olhos azuis caíram em mim. "Não sabia que você estava acompanhado de uma moça bonita, senão eu nem teria aparecido"

"Somos apenas amigos" me apressei em dizer. Fui até ele e estendi minha mão. "Sou Rose Hathaway"

"Hathaway?" ele olhou para Dimitri. "Não foi dela que você estava falando semana passada?"

O quê? Dimitri falando de mim?

O homem riu da minha expressão. "Não se preocupe, foram coisas boas" ele pegou minha mão e a beijou. "Mason Ashford" as sardas que ele tinha aliado ao seu sorriso davam-lhe uma aparência infantil e travessa. "Ao seu dispor, madame. E devo dizer que a senhorita é ainda mais bonita pessoalmente"

"Oh, mais o senhor é muito gentil" sorri em resposta. Conhecendo os homens, eu sabia que Mason estava me dando uma conferida. E ele gostou do que viu.

"Sabe, eu passei a apreciar a moda feminina quando ela decidiu que vocês poderiam usar calças" comentou ele. "Uma peça que valoriza muito bem o corpo das mulheres. E você não é uma exceção"

Eu olhei para baixo. Estava usando minha calça jeans preferida, mas não achava que ela valorizava tanto o meu corpo. Claro que era bem melhor do que aquelas saias longas, mas tudo depende de como você se veste.

"Mason" rosnou Dimitri em advertência. "Conseguiu as ferramentas?"

Mason direcionou sua atenção a Dimitri. "Sim. E as telhas também. O gerente disse que terça elas já estarão na loja e que você pode ir buscá-las"

"Isso é ótimo" disse Dimitri, aliviado. Ele pegou as caixas. "Vou guardar elas. Diga ao Peter que terça eu passo lá"

"Seu amigo é estranho" disse Mason quando Dimitri voltou para a cabana. Olhei para a porta onde ele acabara de entrar.

"Não acho que ele seja estranho" respondi. "Eu só acho que ele é... cauteloso. E que já passou por muita coisa"

Mason se encostou em uma mesa improvisada onde estavam algumas ferramentas e uma caderneta. "Deve ser aquele medo de quando você foge de um país, o de ser encontrado. Eu tenho uma prima judia que fugiu da Alemanha durante a guerra. Até hoje ela olha para os lados com medo de que alguém a prenda. É sinistro. Mas vamos para de falar disso. Conte-me mais sobre você. Com o que trabalha?"

"Sou enfermeira"

Seus olhos se arregalaram. "Bem, acho que gostando mais de você a cada minuto que se passa"

***

Mason e eu ficamos conversando até Dimitri voltar, depois voltamos juntos para a estrada. Infelizmente, Mason tinha que voltar para o escritório de Charles e ajuda-lo em um projeto. Mas em poucos minutos de conversa eu fiquei sabendo que ele era filho do dono do maior supermercado da cidade, que tinha uma irmã mais nova que acabara de se casar com um empresário de Liverpool e que era engenheiro. Dimitri e ele se conheceram porque ele estava trabalhando no mesmo projeto.

Depois que Mason foi embora em uma moto, Dimitri e eu fomos caminhando até minha casa. Ele fizera questão de levar a bicicleta, e ficamos conversando sobre assuntos bobos quando me lembrei de uma coisa.

"O que significa Roza?"

Já tínhamos passado a primeira casa, faltava apenas uma para chegar a minha. Eu desviei de uma poça de água. Dimitri sorriu.

"Roza é seu apelido em russo" explicou. Eu novamente saboreei o nome e a maneira como ele pronunciou. Decidi que gostaria de ouvir ele me chamando nesse apelido mais vezes.

"Então, uh... eu posso te chamar de Dimi ou algo do tipo?" desviei de outra poça. "Já que você está me chamando pelo apelido e tudo mais"

"Dimka"

"Hã?"

Seu sorriso ampliou. "Meu apelido em russo"

"Russo é uma língua estranha"

Ele riu alto e aquilo foi como música para os meus ouvidos. Ele tinha uma risada linda. Combinava com ele. Ele me olhou, seus olhos tinham um brilho brincalhão. "E vocês ingleses falam de uma maneira fria demais, como se fossem superiores"

Paramos de repente na frente de casa, eu me encostei no portão, de modo que ficasse de frente para Dimitri. "Você errou feio aí, camarada. Eu sou americana"

"Um pequeno detalhe" disse, ainda sorrindo. "Mas para mim, é tudo a mesma língua"

"Eu vou ser boazinha e te perdoar por isso" mordi o lábio para segurar a risada. "Apenas porque você está há pouco tempo aqui e ainda tem um pouco de dificuldade de entender essa língua esnobe"

Ele ia me respondendo quando escutamos um miado. Olhe para baixo e encontrei Maggie caminhando até nós, sem o menor sinal de sujeira.

"Ora ora quem decidiu aparecer" Dimitri a pegou no colo.

Eu a encarei irritada. "Você vai ter é uma bela de uma punição pelo susto que nos deu ontem, mocinha"

Maggie apenas me olhou com seus grandes olhos azuis, como se soubesse o que eu planejava fazer com ela. "E não me olhe com essa cara!"

"Pegue-a, Rose" eu a peguei do colo de Dimitri. "Vou guardar a bicicleta"

"Ok. Só mais uma coisa" ele me olhou. "O que me assustou ontem a noite?"

"Guaxinins" disse simplesmente.

"O quê?" não consegui não gritar. Dane-se a etiqueta. "Você está me dizendo que aqueles pequenos bastardos mascarados me assustaram?"

Ele tentou manter a postura séria. "Exato. Você acabou abrindo o ninho de um e eles acabaram te assustando"

"Isso é impossível" resmunguei.

Nos separamos e fui até a caixinha de correios pegar as correspondências. Mas eu fiquei pensando em como eu consegui ser assustada por guaxinins. Sim, eu ainda não estava conseguindo acreditar. Ser assustada por uma coruja ou por um cão raivoso era uma coisa, mas guaxinins...

"Bem, Maggie, acho que não temos nada interessante aqui" falei depois de olhar os envelopes.

A maioria eram cartas de contas e convites de festas. Havia uma duas correspondências de parentes. Uma delas era uma carta da esposa do meu irmão, Marie.

Larguei Maggie no chão e abri o envelope. A carta era breve e a letra mostrava que ela escrevera ás pressas. Entretanto, seu conteúdo me atingiu como uma faca no estômago. Especialmente um trecho .

"Houve um acidente semana passada, em um iate, e poucos foram os sobreviventes. Não sabem como aconteceu, mas o iate ficou em chamas. E Nicholas estava lá. Rose, eu realmente não sei como escrever isso, mas o Nick não estava entre os sobreviventes"

Naquele momento, meu mundo desabou.

Porque não era possível. Nicholas não poderia estar morto. Não ele.




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Notas finais do capítulo

Ufa, aí está mais um capítulo! Esperam que tenham gostado e que não tenha ficado muito Romitri hahaha Também peço desculpas pelo final não ter ficado tão emotivo, mas é que não estou conseguindo escrever cenas tristes =P
Queria desejar um feliz natal atrasado a vocês e feliz ano novo (caso eu não poste mais até 2013) ^^
Obrigada minha querida sisterzinha Dani por ter me ajudado a escrever esse capítulo! Apertarei suas bochechas quando tiver oportunidade hahaha
Ah, queria agradecer os comentários que recebi até agora, vocês não sabem o quanto estou feliz por saber que vocês estão gostando da fic! Obrigada por tudo,pessoal *---*
E agora tratem de me dizer como eu me saí, viu?
Beijos ;*