Uncovered escrita por SatineHarmony


Capítulo 9
Contra-Ataque




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/292530/chapter/9

And my affection - well it comes and goes

I need direction to perfection

(E a minha afeição - bem, ela vem e vai

Eu preciso que me guiem para a perfeição)

— All These Things That I've Done —

Orihime se sentia suja, envergonhada consigo mesma. Como pudera ter se rendido tão facilmente ao Espada? Era simplesmente frustrante a forma como ele lhe tocara com tanta delicadeza, cuidado, enquanto falava tais coisas rudes, tão bruto. E ela permitiu. Sentiu-se comovida pelos toques e palavras dele, e se deixou levar, sem pensar nas consequências.

Depois que o arrancar a fez comer até o último grão de arroz, elogiou-a de um modo que soou falso aos ouvidos de Inoue, e foi embora do quarto sem dizer mais nada. Porém, não era necessário falar; era só fitar os seus olhos que ela via como ele a zombava por ser tão fraca. Talvez ele quisesse até sorrir de deboche, mas só não o fazia para não quebrar a sua máscara intocável.

Como ele era sádico por fazer tal coisa, amarrar uma menina e tirar vantagem das suas reações para conseguir o que queria. Por um instante Orihime chegou a desejar que ele a estuprasse, ou a tocasse de modo indevido, mas não por essa razão. Era pelo arrancar ter sido tão educado que ela estava irritada. Inoue não podia reclamar do que acontecera ele não bateu nela, não a maltratou, simplesmente alimentou-a. Tecnicamente, ele não fizera nada de errado. Ela não tinha argumento algum para reclamar do que acontecera, e isso a exasperava profundamente.

Deitou-se no sofá, tentando descansar depois de tudo o que ocorreu. Seus olhos escorregaram instintivamente para a mesa redonda e a cadeira, e ela sentiu calafrios em sua espinha. Aquilo tinha sido um absurdo a forma como ele se aproximara dela, como seus dedos percorreram a sua pele.

Orihime surpreendeu-se com como o Espada era quente, mesmo com aquela aparência gélida. E a sua temperatura só pareceu aumentar durante todo o acontecimento. Quando ele sentou na pequena cadeira junto com ela, a garota teve a impressão de que ele emanava chamas, que aqueceram-na por completo.

Fechou os olhos, sentindo ódio de si mesma. Tentou abraçar a inconsciência, que no momento parecia ser a única solução para os seus problemas.

4

Ulquiorra desfez o seu meio-sorriso debochado ao passar por entre as portas duplas da sala de Aizen-sama.

Ele se recordava dos mais minuciosos detalhes do ocorrido. A forma como aquela mulher tola suspirou com os seus toques, a forma como ela entreabrira os seus lábios enquanto suspirava, a forma como relaxou os ombros e fechou os olhos serenamente...

— Ulquiorra. — foi recebido pelo seu mestre, que estava sentado em seu trono.

— Aizen-sama. — respondeu no mesmo tom impessoal. — A humana concluiu a sua refeição com sucesso. — disse.

— Foi necessário o uso da Kyouka Suigetsu? — perguntou, com a cabeça apoiada na mão, de forma entediada.

— Na verdade, senhor, eu não queria usá-la... E assim o fiz. — admitiu. — Creio que ilusões não teriam um resultado eficiente na mulher. Creio que ela precisava de uma dose de realidade para aprender a fazer o que lhe é dito.

— Foi indelicado? — ergueu as sobrancelhas.

— Se eu partisse para a violência, não seria diferente de Grimmjow ou dos outros. — refletiu. — Decidi manipular a sua mente. Iludi-la com palavras rudes e ações suaves.

— Falou para ela tudo o que eu pedi? — seus olhos observaram o Espada a sua frente.

— Sim, tudo. — assentiu.

— Como ela reagiu? — finalmente Aizen parecia interessado na conversa.

— Na exata forma que previu. Aquilo foi o suficiente para ela me obedecer. — respondeu prontamente.

— Dispensado. — fez um movimento com a mão.

Quando Ulquiorra fez menção de sair, sentiu duas reiatsus esvaírem-se uma do inimigo, outra de um Espada.

— Parece que Aaroniero falhou. — observou ele.

— Não, ainda não. — negou o shinigami. — Você sabe o que fazer, Ulquiorra.

— Sim, Aizen-sama. — assentiu.

4

Orihime estava dormindo quando sentiu a reiatsu de sua amiga sumir. Acordou, ressaltada, olhando para os lados. Lágrimas gordas já escorriam de seus olhos.

— Estou entrando. — escutou alguém falar do corredor, mas não se importou com isso.

Enterrou a cabeça nas mãos, tremendo em meio ao choro e pânico. Não, outro ataque não... Ela não podia ter outro ataque a lembrança do seu último ainda era fresca em sua mente, a forma como ficara de joelhos para Ulquiorra, tão fraca... Não, ela não faria isso. Nunca mais ficaria tão vulnerável na frente daquele monstro.

O Espada entrou no quarto, não parecendo surpreso com o estado no qual a garota se encontrava. Ele já esperava por isso.

— Aizen-sama tem um dever para você. — disse ele, intocado pela aura de angústia que tomava conta do quarto.

Orihime ergueu a cabeça, os olhos ilustrando puro ódio. Ulquiorra mostrou brevemente choque com tal reação da humana.

— Vá embora. — murmurou, a voz dura, mesmo que a aparência estivesse tão frágil.

— Você não me escutou, mulher? — Ulquiorra estava tão sério e impassível quanto ela. — Aizen-sama tem ordens para você. Você deve segui-las.

— Não, agora não. — a garota continuou a insistir.

— Eu não tolerarei insubordinação. — ele aproximou-se pouco a pouco dela, olhando-a de cima da forma que a menina tanto odiava. — Eu tenho permissão para castiga-la de todas as formas possíveis. — estendeu a mão em direção à humana. E assim o farei se continuar assim.

No ímpeto, Orihime levantou-se do sofá, com uma expressão claramente exasperada no rosto. Orihime não era uma pessoa com o costume de ser irritar por pouco ela era serena, calma , porém quando ela se irritava, era pior do que uma pessoa de pavio curto.

Porque quando Inoue Orihime ficava irritada, ela descontava na pessoa que causou isso.

E dessa vez Ulquiorra era o culpado.

Ela colocou as mãos em ambos os lados da cabeça, ainda encarando-o, de uma forma tão intocável quando o Espada à sua frente.

— Tsubaki, Koten Zanshun, eu rejeito. — disse em uma voz tão fria quanto a de Ulquiorra.

A fada voou de uma das presilhas do seu cabelo, em direção ao arrancar. Ele brilhava na usual luz laranja-amarelada, mostrando toda a fúria de Orihime. Ulquiorra não se deu ao trabalho de desviar-se — Tsubaki bateu contra o seu peito, incapaz de penetrar no hierro do Espada. O lugar de colisão na roupa do arrancar estava intacto.

Ao fundo, Inoue apoiou-se no braço do sofá, seus joelhos fraquejando.

— Não, não desmaie, humana. — Ulquiorra falou, com certa urgência podendo ser percebida em sua voz.

— E-Eu... — fechou os olhos, suas pernas parecendo de borracha enquanto caía no chão. Usando o sonido, o Espada parou em frente a ela, sustentando-a envolvendo a cintura da menina com os seus braços.

Deixou-se soltar um suspiro impaciente. Isso era humilhante, mas ele precisava dos poderes da humana imediatamente. Se demorasse mais tempo, talvez não houvesse mais chances nenhuma de Aaroniero poder voltar a viver.

— Você, volte para ela. — seu tom era de ordem ao dirigir-se à fada jogada no chão, mostrando alguns machucados pela colisão com o peito de Ulquiorra.

Tsubaki simplesmente estreitou os olhos antes de novamente virar um fio de luz laranja, voltando a ser uma das pétalas da presilha em forma de flor de Inoue.

— Mulher, acorde. — balançou-a com cuidado em seus braços. Ulquiorra queria dar um tapa em si mesmo por deixar isso acontecer. Mas, realmente, de onde viera aquela raiva toda da garota? Antes ela estava tão submissa, o que mudara? Hum, ele teria que implantar um pouco de peso na consciência dela. Sim, culpa era uma das maiores fraquezas dos humanos.

Colocou-a sentada no sofá, sua cabeça pendendo para o lado esquerdo.

— Mulher, acorde. — pediu de novo, mais impaciente.

— Tatsuki, você dormiu na minha casa?... — perguntou, enquanto esfregava os olhos de forma sonolenta.

— Mulher. — Ulquiorra voltou a ficar inexpressivo.

— Ulquiorra! — exclamou, dando um leve gritinho. Logo ele percebeu que lágrimas voltaram a se formar em seus olhos.

— Pare. — impediu-a de chorar novamente. Ele não tinha tempo para isso.

— Ela... Kuchiki-san mor... — ela não se permitiu de terminar a frase. Não, isso era mentira.

— Aizen-sama tem ordens para você. — disse Ulquiorra pela centésima vez.

Os olhos de Orihime se arregalaram ao escutar isso.

— A reiatsu do novena Espada, Aaroniero, sumiu. Ele foi encontrado morto no pavilhão Espada. Aizen-sama ordena que você cure-o da mesma forma que fez com o braço de Grimmjow.

— Minha amiga, ela... — ela abaixou a cabeça.

— Mulher, eu não irei esperá-la. — trincou os dentes. — São ordens, e elas têm que ser obedecidas agora. Você será castigada se assim não o fizer.

— Não, eu não irei. — Orihime levantou do seu lugar no sofá. — Eu sei muito bem que deve ter sido ele o Espada que matou Rukia! — disse de uma vez, surpreendendo-se com como admitira que Kuchiki-san talvez estivesse morta. — Vocês nunca, nunca, conseguirão tirar a minha esperança e bravura. Eu não sou sua aliada, e você é muito menos o meu companheiro. — foi brusca, seu cenho se franzindo de ódio.

Esperou que Ulquiorra a agarrasse pelos cabelos e batesse nela, mas nada aconteceu. Igual a quando ela deu um tapa nele, este permaneceu inexpressivo, intocável. Porém seus olhos... Inoue viu o quanto ele estava irritado. Pensou ter visto de relance desespero, e parou para refletir. O cuarto Espada era um mero peão no meio daquele jogo doentio de Aizen. Da mesma forma que ela recebia ordens de Ulquiorra, ele tinha instruções de outra pessoa, que fora quem causou tudo.

Culpa veio em sua mente. Se ela não fizesse o que ele pedia, Ulquiorra teria que arcar com as consequências.

— Desculpa... — hesitou, engolindo em seco. — Desculpe-me, mas eu não posso curar o assassino de uma das minhas melhores amigas. Isso seria tão errado e tão antiético... — lágrimas silenciosas desceram pelo seu rosto.

— Entendi. — murmurou, aquela única palavra soando extremamente fria. Com isso, virou-se para a porta, sem olhar para trás.

— Sinto muito... — começou Orihime. — Sinto muito por acertá-lo com o Tsubaki. — passou as mãos nos olhos, tentando secá-los.

— Não se preocupe. — respondeu o Espada, e o coração da garota derreteu-se com tal frase dita por ele. O arrancar virou-se para fita-la. — Você é tão fraca, não há o que temer. — sua voz soou áspera, e saiu do quarto.

Sozinha, sob o brilho do luar, Inoue tremeu enquanto sentia os últimos restos de sanidade em sua mente se perderem em meio às manipulações que passara nas últimas semanas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ceerto gente, provavelmente vocês perceberam que eu me distanciei um pouco do mangá aqui. No canon, depois da morte do Aaroniero, Ulquiorra e Ichigo lutam, e o Grimmjow sequestra a Orihime para curá-lo. Na storyline de Uncovered isso não aconteceu - basicamente, Ulquiorra e Ichigo nunca lutaram, então ele nunca se machucou e não houve a necessidade de Grimmjow recorrer ao poder de cura de Orihime. Em outras palavras você pode imaginar tudo o que aconteceu em seguida referente à esses dois - Ulquiorra na caja negación, Orihime assistindo a luta do Nnoitra contra Nel e Kenpachi e depois sendo "pega emprestada" pelo Starrk - não aconteceu (ou podem simplesmente "apagar" a presença da Orihime).
Espero que eu não tenha confundido vocês... É que eu realmente queria seguir o mangá, mas ainda tinha algumas ideias a mais para Ulquiorra e Orihime ç.ç