Uncovered escrita por SatineHarmony


Capítulo 10
Silêncio




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When you told me about your heart

You laid it on the line

(Quando você me contou sobre o seu coração

Você o pôs em risco)

— Matter of Time —

Kuchiki-san não tinha morrido — Orihime agora tinha certeza absoluta disso. Depois do momento de desespero, percebeu que a reiatsu de sua amiga estava recompondo-se pouco a pouco, num ritmo vagaroso. Com isso em mente, o sorriso no rosto da garota alargava-se mais e mais.

Agora ela estava andando pelo quarto, cantarolando distraidamente sob o luar. Contornava os móveis com passos leves, quase dançando.

— Estou entrando. — escutou o cuarto Espada falar. Em resposta, Inoue simplesmente deu de ombros, por mais que o arrancar não pudesse vê-la.

Ulquiorra ergueu minimamente as sobrancelhas, cético, ao ver o estado de espírito da humana.

— O quê me dá a honra da sua presença, Ulquiorra-kun? — sorriu Orihime, e com um pulo parou em frente dele.

— Não me chame assim. — foi ríspido.

— Mas por quê? — a garota fez um biquinho.

O Espada reprimiu um suspiro impaciente, e os dedos de uma das mãos que estava dentro do bolso enrijeceram-se.

— Você é bipolar? — perguntou, de forma indiferente.

— Como? Claro que não! — exclamou, mexendo os braços em gestos exagerados. — Eu sou assim. — explicou, e sua expressão escureceu-se repentinamente. — Eu era assim. — então ergueu a cabeça, fitando-o. — Eu era assim antes de você me sequestrar. — havia mágoa em sua voz.

Ulquiorra arregalou os olhos por um instante, logo voltando a ficar apático como sempre. Agora sim ele sabia que a mente daquela humana estava no seu máximo. Admirava como ela resistira por tanto tempo aos jogos doentios de Aizen-sama, mas ela não tinha mais forças para lutar. Mudanças repentinas de humor, possível Síndrome de Estocolmo só faltava ela desenvolver depressão.

E mesmo com tudo isso dentro de si, lutando para sair, a garota ainda não se submetera completamente à ele...

Lágrimas escorreram dos olhos de Orihime, e Ulquiorra alarmou-se com tal ação.

— Você não sente pena? Você não se arrepende de todas as coisas erradas que fez? — encarou-o em meio à água que só aumentava. — Você tem que devorar almas para sobreviver, apóia um homem terrível, sequestra meninas sua voz falhou e está sempre assim. Sempre com o mesmo rosto... — a mão de Inoue coçou, ela queria tocar, confortar aquela pobre pessoa à sua frente. — Mas você sente algo, não é? Mas reprime. — seus olhos brilharam de realização.

Ulquiorra bufou num tom de desprezo, e quase revirou os olhos para a humana.

— Eu não posso sentir algo. — levou uma das mãos até o zíper do seu uniforme arrancar, puxando-o até que Orihime pudesse ver o seu buraco hollow. — Falta algo. — declarou. — Falta o coração.

Com isso, o quarto caiu em puro silêncio, enquanto ambos refletiam nas palavras de Ulquiorra. Inoue engoliu em seco, antes de falar:

— Isso não é um coração. — ergueu a mão para o buraco, presa àquela visão. O Espada segurou o seu pulso, impedindo-a de tocá-lo.

— De fato, isso não é um coração. — pausa. — É um vazio.

— E por isso acha que só é capaz de sentir o vazio? De sentir nada? — ergueu uma sobrancelha. — Não é necessário um coração para ter sentimentos... — rebateu, hesitante, seu pulso ainda na mão de Ulquiorra.

— Emoção é algo completamente desnecessário. — respondeu, seco. — Isso torna as pessoas irracionais.

— Se é algo desnecessário, então por que pondera tanto sobre isso? — percebeu Inoue.

Pela primeira vez desde quando fora presa ali, Orihime viu Ulquiorra sem palavras. Observou a expressão do arrancar, que parecia estar mais fria do que nunca, num sinal claro de que ele estava esforçando-se para encontrar uma resposta. Ele largou o pulso da menina, e começou a andar de um lado para o outro, pensativo.

— Eu invejo por causa do coração. — disse, sua voz soando fraca, algo que surpreendeu a humana. — Eu cobiço por causa do coração. — observou-a, os olhos quase famintos, como que para provar o seu ponto. — Eu sou orgulhoso por causa do coração. — parou de andar, ficando parado no centro do quarto, alguns metros separando-o da garota. — Eu sinto ira por causa do coração. — deu alguns passos à frente, aproximando-se dela. — Por causa do coração estendeu uma mão pálida na direção de Inoue —, eu desejo tudo seu.

Com esta declaração, os olhos de Orihime arregalaram-se, sua boca abrindo-se parcialmente, com surpresa. Essa não sabia o que dizer não, talvez não houvesse o que ser dito. Porque eram momentos assim que se apreciava a beleza do silêncio. A garota o compreendera por mais que o Espada falasse que os humanos eram inferiores à ele, Ulquiorra os invejava. Os invejava porque eles tinham um coração e ele não.

— Então é isso... — a garota concluiu, fitando-o. — Você se frustra com os humanos por eles banalizarem o coração. — em algum lugar nos olhos do arrancar, ela viu que suas suposições estavam corretas. — Por não perceberem o quanto ele significa, o quanto ele é importante. — ela diminuiu mais um pouco a distância entre os dois com um passo. — E você, que supostamente — enfatizou a última palavra — não tem um coração, se importa tanto com ele.

Ulquiorra não respondeu Orihime, permanecendo em silêncio, mas a humana sabia que tudo o que tinha falado estava certo.

— Mas você está errado. — ela ganhou confiança ao ver o cuarto Espada encará-la. — Porque você tem um coração, só não sabe disso ainda. — estendeu o braço, segurando a mão que Ulquiorra manteve em sua direção esse tempo todo. A garota percebeu que ele tremeu por um instante, de surpresa pelo carinho que fizera, mas decidiu ignorar. — E você tem sentimentos. — seu polegar fez movimentos circulares nas costas da mão do arrancar. — Você viu? A forma como o seu corpo reagiu... — explicou. — Isso significa algo.

Ulquiorra continuou em silêncio, mas isso não abalou Orihime. Ela sabia que essa era a forma dele de aproveitar o momento. Tornando-se mais ousada, deu mais alguns passos até terminar com a distância entre eles, seu braço livre envolvendo parcialmente o pescoço do Espada, enquanto a sua cabeça repousava no seu peito, numa espécie de abraço.

Numa reação surpreendentemente humana, ele correspondeu com uma mão escorregando pelas suas costas até pousar num dos lados da sua cintura.

E eles ficaram assim sabe-se lá por quanto tempo. A verdade era que, naquele momento, ambos pouco se importavam com algo insignificante como as horas. Orihime sentia-se plenamente feliz, seus olhos fechados, sentindo o peito de Ulquiorra descer e subir contra o seu rosto a cada respiração.

Então, os dois sentiram oito reiatsus entrarem no Hueco Mundo. O corpo de Inoue tencionou-se ao notar que eram shinigamis. O arrancar, com um senso mais específico, reconheceu quatro reiatsus de capitães, três de tenentes e uma relativamente fraca.

Mais lixo, pensou. Mas isso significava que a Soul Society finalmente comovera-se com o rapto da mulher. Tudo estava ocorrendo conforme planejado por Aizen-sama.

Sem mais nem menos, desenlaçou os dedos da sua mão direita com os da humana, e tirou seu braço da sua cintura, em seguida segurando o pulso da menina que estava em contato com o seu pescoço, afastando-a de si.

Orihime lançou-lhe um olhar desolado enquanto observava o Espada fechar o zíper do seu uniforme, e sair do quarto em total silêncio.


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Notas finais do capítulo

Então, gente, Uncovered chegou aos 50 reviews! õ/ Então eu quero agradecer a todo mundo que está lendo e dando reviews, muito obrigada mesmo mesmo mesmo >.Aaagora, eu tenho uma coisinha pra falar. Se por acaso uma de vocês gosta de Hitsugaya.Hinamori, eu postei uma fanfic deles, que tal dar uma passada lá? -qq (sim, eu estou me autopromovendo na notas finais, morre//) O nome da fanfic é Aoi Tori (fanfiction.com.br/historia/317864/Aoi_Tori) ç.ç