Uncovered escrita por SatineHarmony


Capítulo 13
Coração




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A ripple in the water from the drop of a pearl

I'm on the shore waiting for the heart of a girl

(Uma onda na água causada pela queda de uma pérola

Eu estou à margem esperando pelo coração de uma garota)

Heart of a Girl

Tudo o que Orihime pôde fazer foi ficar atônita. Ela encarou o arrancar à sua frente com os olhos arregalados de surpresa, diante da declaração que ele dera. Sentiu um vazio tomar conta do seu peito... O que ela tinha feito? Perdera a sua inocência para tal pavorosa criatura, e ainda gostara! Inoue queria estapear-se por ter sido tão idiota, tão burra, tão tola.

Mas agora estava tudo feito, não tinha como mudar o passado. Ela não ficaria se lamentando pelo ocorrido, invés disso tentaria agir feito a guerreira que sempre quis e resistir contra o cuarto Espada.

— Você não escutou Aizen-sama? — perguntou Ulquiorra, ainda em pé, esperando-a se vestir. — Você tem que ir para a quinta torre para atrair o shinigami que você tanto gosta. — ele fitou-a intensamente, e ela detectou um tom de desprezo quando ele falou sobre Ichigo. — Assim nós poderemos lutar e você estará assistindo quando ele for derrotado por mim.

— O quê? Como?... — balançou a cabeça, confusa.

— Mulher tola. — sua voz ficou ríspida. — Você não tem mais utilidade. Atraiu dez integrantes do Gotei 13 mais o Shinigami Substituto e seus amigos. Você já fez a sua tarefa, agora será descartada.

Orihime engoliu em seco, percebendo, pela primeira vez, a gravidade da situação.

— Vista-se, mulher. — repetiu a ordem numa voz meio que irritada.

Inoue assentiu uma vez, recolhendo as peças do seu uniforme, e vestindo-as o mais rápido possível que podia, sob o olhar impaciente de Ulquiorra, que estava simplesmente observando-a, com as mãos dentro dos bolsos.

Quando terminou, saíram do quarto do arrancar e seguiram pelos corredores mais uma vez, estes completamente vazios pela ausência dos Espada — seja por estarem mortos ou por terem saído para lutar com Aizen.

Logo chegaram na quinta torre. Orihime avistou o trono de Aizen, e calafrios percorreram pela sua espinha. Sentiu as palmas de suas mãos suarem frio pela batalha que pressentia estar por vir. Pelo canto do olho, viu Ulquiorra parado apático como sempre.

Perguntou-se se Kurosaki-kun tinha chances de vencer uma luta contra ele. Ela já sabia que a reiatsu de Ichigo era de enorme quantidade, mas conseguiria ela bater a experiência e poder de Ulquiorra? A garota apostava que dentro da mente do arrancar ele planejava mil e uma táticas para derrotar o seu amigo, sendo essa a principal razão que a fazia ficar tão temerosa.

Então sentiram como que um jato de poder espiritual ser direcionado para eles dois.

— Kurosaki-kun. — Orihime levou suas mãos até o seu peito, melancólica. Virou-se para observar a reação do cuarto Espada, surpreendendo-se ao ver de relance um meio-sorriso sádico.

Esse é o fim, notou Inoue. Era o fim da vida da pessoa que amava platonicamente. Era o fim dos seus amigos, tantos os humanos quanto os capitães shinigami que estava lá fora, naquele deserto sem vida.

— Está com medo? — perguntou Ulquiorra, olhando-a pela primeira vez desde quando chegaram na torre.

Aquela foi a conversa mais profunda que Orihime teve com o arrancar. Ela captou todas as indiretas nas coisas que ele falara, e logo compreendeu: o cuarto Espada estava confuso. Confuso por ter feito algo puramente por ser uma ordem, e ter gostado. Ter gostado de ficar com ela, e isso contradizer todos os seus princípios.

"Não há mais nada que a proteja. Tudo está acabado"

Inoue abaixou pesadamente a cabeça ao escutar isso. Ela sentiu a ambiguidade — não só as lutas haviam acabado como nós também acabamos. Algo que nunca podia ter sido iniciado finalmente terminara — agora era só esperar para ver se isso traria benefícios para ambos.

"Você vai morrer aqui sozinha"

Eu a abandonarei porque devo acreditar fielmente nos meus dogmas. Você deveria ser apenas uma mera humana, mas, infelizmente, tornou-se mais do que isso para mim.

"Estou perguntando se está aterrorizada"

Você se arrepende de tudo o que passamos juntos? Dos momentos em que lhe mostrei minha verdadeira natureza? Dos momentos em que você me ensinou sobre a sua natureza?

Ao sentir isso na fala de Ulquiorra, ela decidiu entrar no seu jogo:

— Não estou com medo. — não me arrependo. Sei que deveria, mas não posso. Ela esperava que ele tivesse entendido a mensagem. Então falou sobre seus amigos, numa vã tentativa de fazê-lo perceber o quanto companheirismo pode mudar uma vida, ajudar uma pessoa. — Meu coração está com os meus amigos — e o mais importante, eu estou aqui, com você.

— Que besteira. — sinto muito, mas não posso ficar com você — Não sente medo porque os seus amigos vieram? — eu nunca irei compreender esse sentimento de amizade, não importa o quanto você tente. — Está levando a sério o que está dizendo? — mesmo depois de tudo, você ainda insiste em me ajudar?

— Sim. — eu não me importo com as coisas que você fez. E, mesmo ignorando o aviso anterior dele, continuou a falar sobre os seus amigos. Ela tinha que despertar algo nele — um sentimento, uma reação, qualquer coisa. — Eu apenas desejava que Kurosaki-kun não se ferisse. — eu não queria que você dois lutassem porque não saberia em qual lado ficar. — Apenas queria que todos estivessem bem. — obrigada por não ter machucado nenhum dos meus amigos.

— O seu destino e o de seus companheiros já está decidido. — eu posso não lutar com eles, mas os outros arrancars irão. — Se seus companheiros vieram, então você e eles morrerão. — estou apenas seguindo ordens. Desculpe-me. — Essa coisa de um sentimento em comum na realidade não existe. — talvez, talvez, eu sinta algo por você. Mas sabemos muito bem que você não se preocupa somente comigo...

Orihime sentiu vergonha de si mesma enquanto lia as entrelinhas do que o cuarto Espada falava. Ela era uma péssima pessoa e sabia disso, mas escutar aquilo em voz alta fazia com que doesse ainda mais. Ela insistia em ajudá-lo com seus sentimentos, mas como podia fazer isso quando ela mesma e suas emoções estavam desordenadas e confusas? Não sabia de qual lado ficar, em quem confiar...

— Não passa de uma ilusão criada por vocês, humanos. — eu estou acima disso tudo. Eu não me importo com nada.

— Talvez isso seja verdade. — por fim ela admitiu. — Talvez seja impossível sentirmos algo exatamente igual, mas nós podemos colocar as pessoas bem perto dos nossos corações. — eu não darei o braço a torcer, eu não desistirei de você nunca. — Talvez seja isso o que chamamos de juntar corações. — se não tivéssemos nos conhecido em meio de tal confusão, nós teríamos feito isso.

— Coração? — Inoue reprimiu um sorriso ao sentir uma nota de curiosidade genuína na voz de Ulquiorra. — Vocês falam sobre isso de um jeito tão fácil. Como se o tivessem na palma da mão. — me conte mais sobre esse tal de "coração". Eu quero saber mais. — Aquilo que não pode ser visto não existe. Foi assim que acreditei e lutei até agora — mas então você aparece e põe à prova tudo o que eu creio. — O que é o coração? Se eu abrir o seu peito, eu o verei? — o seu toque teve uma sensação similar a levar um choque. — Se eu despedaçar a sua cabeça, o encontrarei? — me convença de que sim. Me faça acreditar nas coisas que você acredita. Me dê esperanças.

Porém, antes que Orihime pudesse fazer algo, ela viu a razão de toda a sua confusão entrar de supetão na quinta torre.

Kurosaki-kun.

A luta que se seguiu foi extremamente dolorosa para Inoue assistir, mas ela insistiu nisso. Ela tinha que saber quem venceria. Ela tinha que ajudá-los. A verdade era que Orihime era masoquista, só podia ser isso. Mesmo quando ela livrou-se da espécie de "feitiço" doentio que a fazia ver as duas pessoas que mais amava lutarem até a morte, mesmo quando eles subiram até acima da abóbada, ela insistiu em segui-los. Egoísta, pediu ajuda para Ishida e foi atrás deles.

Atrás dos seus dois amores.

Ela presenciou coisas terríveis. Viu seu amigo de longa data cair, sua recém-pessoa-mais-importante ordená-la a perder todas as suas esperanças. Era desconcertante como Ulquiorra falava coisas tão brutas, tão desumanas, e mesmo assim ela não conseguia evitar sentir algo por ele. Quando ele disparou o cero próximo à Kurosaki-kun, o seu grito não foi só pela morte inevitavelmente eminente do seu amigo. Era também para alertar o cuarto Espada que ele não precisava fazer aquilo.

E então ela viu aquilo. Ichigo, na sua versão hollow completa. Totalmente isento de sanidade, raciocínio e humanidade. Orihime abraçou-se, tentando transmitir para si mesma uma sensação de proteção. Quando ela o escutou dizer que a salvaria, ela tremeu de medo. Então foi por ter chamado o seu amigo, num momento de pânico, que ele ficara assim?

Observou Ulquiorra ser praticamente esmagado pela forma boçal do hollow de Ichigo. Aquilo só serviu para aumentar o seu sentimento de culpa. Seu coração latejou dolorosamente no seu peito quando assistiu o arrancar perder uma de suas pernas e um dos seus braços. Controlou o seu impulso de gritar o nome do cuarto Espada — se Ichigo reagira de tal forma quando ela pediu ajuda, o que aconteceria se a escutasse gritar o nome do seu inimigo?

Viu aquela coisa parecida com o Kurosaki-kun ter um dos seus chifres cortados por Ulquiorra, em seguida caindo no chão, sem vida.

Lágrimas escorreram dos olhos de Inoue enquanto ela corria para socorrer o seu amigo, mas foi impedida por um clarão repentino que durou menos de um segundo. Ela surpreendeu-se ao ver Ichigo sem o seu buraco hollow, voltando à sua forma shinigami.

Ele acordou confuso e Orihime sorriu brevemente quando ele perguntou se ela estava bem. Que bom, Kurosaki-kun havia voltado ao normal, porém ele estava entrando em colapso pelo o que o seu hollow interior fizera. Ficou atônito ao perceber que machucara Ishida, e que cortara um braço e uma perna de Ulquiorra.

O cuarto Espada, por sua vez, parecia estar impaciente. Ele passou para Ichigo a sua zanpakutou, ignorando os pedidos do garoto de cortar-lhe os seus membros para tornar a luta mais justa. Inoue sentiu calafrios quando escutou o arrancar concordar com as condições do seu amigo, porém mal ele terminara de falar, a coisa que Orihime mais temia aconteceu: ela observou parte de suas asas virarem cinzas negras, sendo levadas pelo vento frio.

— Tsc — estalou a língua —, acabou o tempo.

A garota simplesmente odiou a forma como ele falara aquilo com desprezo. Como ele podia estar tão calmo sabendo que sua morte era eminente? Não, Ulquiorra não podia morrer! Inoue ensinara quase nada sobre sentimentos, e sobre o coração. Ele tinha que saber como era ser humano antes de falecer, isso era o mínimo que ela podia fazer por ele.

Por mais que a força de vontade de Orihime fosse imensa, ela não era capaz de se mexer. Estava parada, estática, ajoelhada no chão. Ichigo reagira da mesma forma. Em sua mente, tudo o que a menina pensava era: não, não, não...

— Me mate. — continuou o Espada. — Vamos. Eu já não tenho forças nem para andar. — disse, sua expressão impassível. Se não me matar agora, esse duelo ficará para sempre sem um vencedor. — Inoue queria repreender o arrancar — como ele podia ser tão orgulhoso mesmo sabendo que o seu fim era próximo?

Orihime abstraiu completamente a curta conversa que Ichigo e Ulquiorra tiveram, tentando lutar contra as lágrimas que insistiam em transbordar dos seus olhos. Decidiu então ficar em pé, esforçando-se para se equilibrar.

— Logo agora que eu estava começando a me interessar por vocês... — disse o Espada, e a garota foi capaz de ler as entrelinhas: é uma pena que no final das contas você não pôde me ensinar nada.

Ela o observou estender a mão em sua direção, da mesma forma que fizera incontáveis vezes. Orihime recordou-se dos raros momentos em que se abraçaram, da única vez em que sentiu os lábios dele contra os seus, de todas as conversas que tiveram.

— Tem medo de mim, mulher? — seus sentimentos por mim ainda são os mesmos?

— Não tenho medo. — respondeu. Não importa o que você faça, eu sempre sentirei algo por você.

— Entendi. — disse, e mesmo que estivessem numa situação angustiante e amargurada, a humana teve vontade de curvar os cantos da sua boca. Ele a compreendera.

Com isso, Inoue tentou segurar a sua mão, estendendo o braço para Ulquiorra, porém viu os mesmos se transformarem em cinzas. Mesmo assim continuou a avançar. Não, ainda não é o fim, pensou.

Observou o resto do corpo do arrancar se desintegrar, os soluços vindo fortes da sua garganta com tal visão à sua frente.

Então não havia mais nada.

Vazio.

Seu corpo era um misto de emoções. Sentia tristeza — tristeza pelo seu amado ter morrido antes que pudessem ficar juntos e viverem em paz. Sentia pena — pena por ele ter-se ido sem saber qual era o significado verdadeiro de ter um coração. Sentia raiva — raiva por ele ter dito que não tinha mais forças para andar, e mesmo assim esforçou-se para segurar a sua mão, sendo tudo isso em vão. Ela queria saber por que ele fizera isso. Na verdade ela já sabia, mas queria escutar aquelas três palavras tão especiais vindo da boca dele, com a sua usual voz entediada — eu te amo.

Mas isso nunca aconteceria, e Orihime teria que se conformar com isso. Não importava o quanto ela desejasse, o quanto ela quisesse voltar no tempo, isso nunca aconteceria.

Agarrando-se ao seu último fio de esperança, abriu a mão em meio ao vento frio, capturando um pequeno punhado das cinzas que momentos antes eram o corpo do seu amado.

Com essa mão, aproximou-a do seu peito, no lado esquerdo, o pó preto movendo-se devido às suas batidas cardíacas.

— É assim, Ulquiorra-kun. — disse para si mesma, sob o olhar preocupado de Ichigo. — É dessa forma que dois corações se tornam um.


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Notas finais do capítulo

Geeeeeeente, não se assustem, por favor! Esse não é o final de Uncovered - ainda. Eu juro, esse era o fim que eu tinha definido desde quando comecei a escrever a história, lá em novembro, mas como eu percebi que era maldade fazer isso com vocês, eu decidi escrever um epílogo. É um epílogo simples, curto, mas completamente UA. Ou seja, eu não segui a storyline do mangá, então eu dei alok e escrevi o que veio na cabeça. Mas prometo que o epílogo não é algo sem graça, tipo, só com descrições dos sentimentos da Inoue. Eu prometo, o epílogo tem informação. Bastante informação.
Eu viajarei no carnaval, então não sei se poderei entrar no computador na sexta-feira que vem, mas caso eu perceba que realmente não conseguirei postar no dia certo, eu prometo que irei postar o epílogo alguns dias adiantados ç.ç
PS.: Esse definitivamente foi um dos capítulos mais difíceis de escrever. Sério, não é fácil tentar encontrar duplo sentido nas conversas canon do Ulquiorra com a Orihime.