Quando Draculaura abriu seus olhos tudo parecia turvo. Era noite e vaga-lumes vagavam dentro da abandonada casa do moinho. Ela respirava pesado e sentia o detestável cheiro de sangue nos seus cabelos. Os fios estavam presos em uma camada grossa de coágulo. Lágrimas delicadas desceram sobre seu rosto e suas pernas tremiam. Ela odiava sangue, mas nunca havia percebido isso até este traumatizante dia.

Draculaura levantou-se trôpega e seu cabelo comprido derrubou o barril de sangue pela palha do chão fazendo a garota correr na direção oposta. Ela pensou em como iria voltar para casa daquele jeito. Seu pai reprovaria seu estado e os criados inventariam histórias para espalhar.

Ela correu para fora da casa e olhou em volta. Desejava ver tochas de alguém procurando por ela ou até mesmo de algum aldeão perdido na noite. Nunca estivera até tão tarde ali e o moinho era distante do Castelo de Bran, onde morava.

-Talvez eu consiga tirar isso do meu cabelo na água do rio...talvez...

Draculaura passou a manga do seu vestido pelo rosto choroso. Ela sentou-se nas grandes pás de madeira do moinho. Pedras enormes diminuíam a correnteza e impediam a água de empurrar as pás. Era seguro lavar seus cabelos ali enquanto corujas piavam para a lua.

Um morcego sobrevoou sua cabeça, assustando-a. Ela olhou para cima, mas quando se deu conta o morcego estava tocando gentilmente seu cabelo ensangüentado. Os dois se encararam pelo que pareceu ser uma eternidade para ela. O rosto selvagem do animal transmitia inocência e, se pudesse falar, ele diria para não ter medo. Algumas coisas são inexplicáveis e mágicas assim. Um outro morcego menor surgiu ao perceber que o primeiro estava seguro junto da garota.

Os morcegos seguravam-se nas mechas e subiam e desciam os fios. Draculaura ficou imóvel com um sorriso incrédulo no rosto. Seu coração gentil dizia para não se preocupar e apenas sentir-se como uma princesa naquela noite, sendo cuidada não por pássaros coloridos, mas por misteriosos morcegos negros.

-Obrigada... por tudo. – ela sussurrou, incerta se poderiam entender.

Não demorou muito para que a menina percebesse que os morcegos se alimentavam do sangue. Um calafrio percorreu sua espinha, mas ela tentou manter o sorriso e não espantá-los.

 Um dos morcegos partiu e retornou com pequenas frutas vermelhas nas suas garras. Draculaura comeu satisfeita e percebeu que o mesmo morcego retornava com mais e mais framboesas e cerejas.

Na sexta vez que o morcego retornou, suas garras se diluíram em fumaça escura e foram se metamorfoseando em mãos humanas. Draculaura sentiu seu coração acelerar e quase caiu no rio. Um garoto pálido, de cabelos negros e olhos vermelhos estava diante dela e segurava frutas em uma mão enquanto estendia a outra para a garota segurar. Seus olhos eram cativantes e genuinamente preocupados com a menina.

-Mas quem é você?

Ela segurou a mão estendida. A pele dele era fria, mas ao fechar seus dedos ao redor da mão dela, Draculaura percebeu que aquele toque era seguro e aconchegante. O garoto sorria, embora parecesse branco e melancólico como um cadáver.

-Alguém que precisa cuidar de você.

Era tudo o que Draculaura precisava saber para abraçar aquele desconhecido e sentir que seu pesadelo havia se transformado em sonho.

- Pode me chamar de Valentine. – ele retribuiu com seus braços fortes o abraço dela.