– Então, você querrria que o seu cabelo fosse rrrosa?

Ironizou uma garota de esbranquiçados cabelos louros enquanto levava seu indicador cruelmente para o rosto de Draculaura. Ela estava contra a parede e a sombra das suas inquisidoras a fazia se encolher. Nas mãos, manchas de coloração rosa e pétalas de flores da mesma cor. Estava escondida na casa do velho moinho para que ninguém a visse tentando algo que, no ano de 1690, parecia impossível. Tudo que Draculaura queria era ser ela mesma, mas não estava conseguindo se esconder do mundo para tentar descobrir o que significava ser ela mesma.

–Nós vamos te dar um cabelo rrrosa, amiguinha. – a loira colocou as mãos na cintura e deu um sorriso macabro. Sua outra comparsa, tão loira quanto ela, abriu caminho para uma terceira garota que trazia um pequeno barril de madeira.

As garotas loiras afundaram suas mãos no barril e mancharam suas luvas de renda com um líquido viscoso e vermelho. O sangue parecia recente e brilhou ao encontrar um raio de sol que entrou por uma fresta no telhado. Draculaura abafou um grito e mal teve coragem para olhar as mãos escorregando pelo seu sedoso cabelo negro. Seus olhos reviraram e ela se conteve para não vomitar. O sangue era fresco e lhe deixava tonta. O cheiro de sangue lhe lembrava feridas abertas que não se podia estancar. Draculaura...estava prestes a desmaiar.

Com a garota desacordada, o trio cruel puxou o corpo na direção do barril e despejou as pontas do cabelo comprido no balde de modo que mais mechas de cabelo de manchassem de sangue e vísceras.

– Ela morreu?

–Claro que não, ela logo vai acordar...

–E quando isso acontecer estaremos bem longe. Será que ela vai ousar contar para alguém?

–Não.

Uma das garotas pegou o sangue e escreveu nas tábuas de madeira que formavam as paredes da casa velha. “Refúgio da Draculaura”.

–Agora ninguém vai acreditar nela. – as três sorriram sombriamente.