Interlúdio escrita por Djin


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Once Upon A Time não me pertence. Obviamente. Se pertencesse, Bibidi-Bobidi-Boo seria a música de fundo do Rumpel como fada-madrinha em The Price of Gold (1x04). Novamente, todos os créditos aos senhores Edward Kitsis e Adam Horowitz e à ABC.
Agradecimentos especiais à minha beta, Mellie, que gosta de colorir meus rascunhos com seus sempre bem-vindos- comentários haha



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Toda lembrança que Isabelle French tinha dos últimos anos era nebulosa e confusa. Uma sucessão infindável de pílulas, refeições insossas e horas de apatia dopada. Dias vazios e sem significado, em que a brancura das paredes acolchoadas parecia se fechar sobre ela e invadir até sua mente.

A única coisa que coloria ocasionalmente seus pensamentos eram os sonhos. Quando ela não estava dopada demais, quando seu sono não era o peso opressor das drogas, arrastando-a para a escuridão, eles vinham. Sonhos caóticos, desordenados, de castelos enormes, vestidos fabulosos e rosas vermelhas dançando em sua mente. Às vezes, uma risada estridente ao fundo, surpreendentemente familiar. Ou acordava assustada, a imagem de um olho estranho gravado em sua mente, de íris enormes. E quase sempre o barulho da roca de fiar.

Isabelle tinha absoluta certeza que nunca tinha visto uma em sua vida. Ainda assim, parecia saber perfeitamente como funcionava e como soava. O girar da roda em sua mente era confortador, por algum motivo.

Com o tempo, ela descobriu que os remédios quase sempre faziam os sonhos sumirem na escuridão... mas a falta deles também. Como se só o estado semi-nebuloso em que ela se encontrava enquanto as drogas saíam do seu sistema permitisse os devaneios para aquele mundo insólito e colorido da roca de fiar. Quando ela deixava de tomar muitas doses seguidas, escondendo as pílulas sob a língua, ficava alerta demais, presa no quarto branco, vazio. Sem nada, nem seus sonhos esquisitos.

Ela supunha que não deveria lhe fazer muito bem ficar brincando com seu ‘tratamento’, tomando as doses desordenadamente. Mas ela não poderia ter se importado menos com isso. Não quando a perspectiva era passar o resto da vida presa, sozinha, sem nada além da brancura sufocante e do eterno silêncio.


Mas de repente as coisas haviam mudado. Há muito tempo ela havia desistido de sair daquela prisão, mas subitamente ela se viu no centro de uma pequena confusão, zonza e agarrada à uma mulher de jaqueta vermelha, piscando contra a claridade que lhe ardia os olhos. E agora tudo seria diferente.

–*-*-*-

Os próximos dias foram um borrão em sua mente, enquanto ela se desintoxicava dos medicamentos e tentava se adaptar a sua nova realidade. Ela foi transferida para outra ala do hospital, onde era visitada todos os dias pelo Dr. Hopper. Ele era gentil e parecia sinceramente preocupado com ela e com tudo pelo que tinha passado. Para Belle foi muito fácil se apoiar nele, encontrar segurança e conforto em sua voz calma. Ainda assim, ela nunca mencionou nada sobre devaneios de castelos, rosas e rocas de fiar; nem sobre a sensação de estranheza e irrealidade que ela sentia ao olhar o mundo à sua volta. Ela estava decidida a nunca mais voltar para sua ‘prisão’, e ela faria e seria o que fosse necessário para evitar isso.

A mulher loira, que se apresentou como ‘Xerife Emma Swan’, também vinha vê-la com frequência. Ela parecia se sentir pessoalmente responsável por Isabelle após o ‘resgate’. E o garoto vinha junto, às vezes. O filho da xerife, ao que parecia – ou seria da prefeita? Isabelle ainda estava meio confusa sobre esse ponto. Mas ela gostava dele, quando ele se sentava ao seu lado, tagarelando tarde afora.


Ele não a olhava de forma estranha, como todas as outras pessoas no hospital. Não parecia ter medo dela, nem falava devagar, como se ela fosse incapaz de entender uma frase normal. Só conversava, falando de coisas do dia-a-dia, sobre como esperava que ela ficasse boa logo ou do livro estranho gostava de carregar consigo. E por isso tudo Isabelle era muito grata.

–*-*-*-

Ao fim de uma semana, o Dr. Hopper anunciou que logo ela receberia alta, já que ela parecia ‘plenamente capaz de retornar ao convívio social’- segundo ele disse. A única exigência seria que ela comparecesse a sessões semanais em seu consultório. Ela mal podia esperar para deixar aquele lugar que tinha sido sua prisão por tanto tempo, mas, ao mesmo tempo, estava um pouco ansiosa e preocupada. Ela não tinha certeza de para onde ir ou o que fazer, nem se sentia assim tão ‘plenamente capaz de retornar ao convívio social’.

Foi nesse mesmo dia que seu pai veio visitá-la. Ele parou à porta do seu quarto e ficou olhando-a, hesitando por apenas um segundo antes de se adiantar para abraçá-la, parecendo emocionado.

“Isa! Minha filhinha, minha linda princesinha!”

Isabelle se deixou ser abraçada, sem saber como reagir. Ela estava feliz em vê-lo e sentiu seus olhos ficarem rasos de lágrimas, mas não conseguia evitar de sentir raiva também. Ela se lembrava do papel de seu pai em sua internação, e em todos esses ano ele nunca tinha feito nada, nunca tinha ido vê-la ou tentado tirá-la de lá. As memórias voavam em sua mente, envenenando o reencontro.

“Papai... ”

Ele se afastou um pouco e ficou olhando seu rosto, sentado ao seu lado na cama do hospital.

“Eu vim assim que soube que você estava aqui. Eu mal posso acreditar. Eu pensei que nunca mais iria te ver, minha Isa.”

“Bem, não foi por sua ajuda que eu saí de lá.”- Isabelle não pôde evitar a mágoa em suas palavras, mas se arrependeu ao ver o sorriso morrer no rosto de seu pai. Ele parecia verdadeiramente angustiado.

“Oh, Isa... O que eu podia fazer, filha? Disseram que eu não podia te ver. E você estava sob cuidados médicos! Eu tenho passado por tantos problemas, com a loja, com tudo... Eu não podia fazer nada, filha.”

Seu olhar suavizou e ela segurou sua mão. “Tudo bem, papai. Vai ficar tudo bem, agora.”

“Sim. Sim, vai ficar tudo bem agora. Você pode voltar para casa e nós vamos ficar juntos de novo. Nada mais de ruim vai acontecer.”

“Eu não vou voltar para sua casa, papai.” Isabelle mordeu o lábio inferior, insegura, ao ver a surpresa machucada no rosto do pai.

"Mas, Isa...”

“Eu não posso. Não depois de tantos anos... não depois de o senhor ter me mandado para esse lugar.”

“Eu só queria o seu bem.”- Sussurrou ele, vergonha e dor compondo seu semblante.

“Eu sei... eu sei. E o melhor para mim agora é ficar um pouco sozinha.”

Ele a olhou em silêncio por um instante, antes de se levantar, com um suspiro, e e dirijir à porta. Ele hesitou, com a mão no trinco, e se virou para encará-la.

“Mas me prometa, Isa, que você não vai me tirar da sua vida. Não para sempre. Já perdemos tantos anos...”

Isabelle forçou um pequeno sorriso e acenou levemente com a cabeça. Com isso, ele se retirou.

–*-*-*-

Quando Emma veio vê-la, Isabelle estava sentada na cama, com uma enorme caixa de papelão ao seu lado, mexendo em seu conteúdo, tão distraída que não percebeu sua aproximação. Ela pigarreou de leve, fazendo Isabelle levantar os olhos, espantada.

“Emma! Eu não te vi chegando.”

“Pois é, você estava meio ocupada...”- Ela apontou para a caixa, interrogativamente.

“Ah, isso? Meu pai me mandou algumas das minhas antigas coisas. Acho que vem bem a calhar, já que amanhã eu saio daqui.”

“Ah... O Archie mencionou que seu pai esteve aqui ontem.”

Quando Isabelle não comentou nada, Emma sentou ao lado da caixa e começou a dar uma olhada dentro dela. Ela pegou um livro de dentro e começou a folheá-lo, distraidamente.

“Já sabe o que vai fazer amanhã?”

Meu pai deixou um envelope com algum dinheiro. Tenho que arrumar um lugar para ficar, com aluguel barato.”

“Hm. Não há muitas opções na cidade, na verdade. Acredite, eu procurei.”

"É verdade, você se mudou há pouco tempo. Você é de Boston, não é? Eu mesma nunca saí de Storybrooke... Eu sei que a cidade é pequena, mas tenho certeza que consigo encontrar algum lugar.” – Isabelle deu um pequeno sorriso resoluto.

“Bom, talvez você não precisse procurar um lugar para ficar. Talvez você pudesse passar um tempo comigo...” – Começou Emma, arrancando um olhar de surpresa de Isabelle. -“Fiquei sabendo que você se recusou a voltar a morar com o seu pai. Eu e o Dr. Hopper concordamos que talvez não seja muito bom para você morar totalmente sozinha assim que sair do hospital...”- Com a explicação, o olhar de surpresa se tornou uma leve indignação.

“Vocês acham que eu não sou capaz de ficar sozinha?”

“Oh, não, não, Isabelle! Não foi isso que eu quis dizer! Mas você não precisa ficar sozinha. Olhe... Quando eu vim para Storybrooke, eu me meti em alguns problemas. Eu fiquei realmente surpresa em receber o apoio de pessoas que eu mal conhecia... Mas eu posso dizer que é muito bom poder contar com ajuda. Eu também quero poder oferecer um pouco de amizade, quando alguém precisa.”

Isabelle analisou suas palavras por um instante, hesitante, e Emma completou: “Vamos fazer assim, você fica comigo só umas semanas. Enquanto você se estabiliza, consegue um emprego... Então você procura outro lugar para ficar. Combinado?”

“Certo... Combinado. Muito obrigada, Emma.”- Isabelle segurou sua mão um instante, deixando finalmente um sorriso crescer em seus lábios. Ela não podia negar que era um imenso alívio não ter que enfrentar sozinha o mundo por trás das portas do hospital.

“Ora, sem problemas! Agora, o que tanto seu pai trouxe para você? Estou vendo que você gosta de ler, hm?” – Respondeu Emma, começando um papo leve que se estendeu pelo fim da tarde.

Ao se retirar, ficou acertado que ela voltaria na manhã seguinte para pegar Isabelle. Ela sentia muita simpatia pela pobre garota e, mesmo sem provas, não podia deixar de pensar que ela devia ser mais uma vítima de Regina, com toda a história estranha de sua imensa internação, cheia de irregularidades. Emma estava muito satisfeita com sua decisão. Só a meio caminho de volta para delegacia, ela se lembrou de que talvez devesse ter conversado sobre o assunto com Mary Margaret – a dona da casa.



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Notas finais do capítulo

Comentários são sempre muito apreciados =)