Interlúdio escrita por Djin


Capítulo 1
Capítulo 1




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“ Emma! Emma!“

Henry entrou correndo no Granny’s, carregando uma pasta cheia de papéis sob o braço, e sentou na frente da cadeira onde Emma tranquilamente lia seu jornal. Ele parecia muito alarmado e atraiu o olhar curioso de todos os que desfrutavam de suas refeições no Granny’s naquela manhã fria em Storybrooke.

“Calmaí, garoto. Isso não é horário para alguém estar tão agitado.”

“Mas, Emma, você não vai acreditar no que eu encontrei!” – sussurou conspiratoriamente o garoto. “Eu descobri um calabouço onde a rainha má mantém alguns prisioneiros.”

A mulher olhou suspeitosamente para a pasta enorme que o garoto tinha colocado sobre a mesa, à sua frente. “E onde seria isso...?”

“Eu estava no hospital... Sabe, algumas crianças ainda vão lá, mesmo depois que a Srta. Blanchard se demitiu. Então, eu estava lá e eu vi minha mãe conversando com o Dr. Whale. O que é muito estranho, porque ela não tinha nenhum motivo para estar lá! E ela entrou numa porta onde estava escrito ‘saída’, mas tinha que colocar uma senha para abrir! Por que colocar senha numa saída? E eu segui ela, enquanto ela acompanhava uma enfermeira entre as celas dos prisioneiros. E tinha um troll varrendo o chão e vigiando! Eu corri e peguei uns papéis antes que ela notasse, e trouxe pra ver se você acha alguma pista sobre os prisioneiros!” –falou o garoto, agitado, sem parar para tomar fôlego.

“Calma, devagar, devagar, garoto! Você está me dizendo que roubou um prontuário do hospital? Agora, isso é um pouco demais. Vamos ter que devolver isso.”

Emma levantou-se, segurando a pasta e se dirigindo para a saída, mas foi parada pelo garoto segurando seu braço.

“Por favor, por favooor, Emma! Só dá uma olhada! É importante!” – e ele realmente falou com tanto desespero que parecia que sua vida dependia disso. Com um longo suspiro, e se sentindo derrotada pelas súplicas, Emma finalmente parou para olhar para a capa da pasta, e algo imediatamente ganhou sua atenção.

“Paciente: Isabelle French” – leu para si mesma. “French... French!”- Aquele nome ela conhecia bem. Mal fazia duas semanas que o Sr. Gold havia sido preso por agredir o florista Moe French, enquanto berrava sobre o que ele havia feito a ‘ela’. Quem quer que fosse ‘ela’. Talvez valesse mesmo a pena investigar esse ‘calabouço’ que Henry havia encontrado...

–*-*-*-

Sr. Gold estava com o humor particularmente brilhante naquela tarde. Era sempre bom manter ‘olhos e ouvidos’ espalhados pela cidade, e a informação que ele recebeu naquele dia foi especialmente agradável. Parece que o jovem príncipe havia descoberto alguns prisioneiros escondidos no hospital.

Agora, você poderia falar muitas coisas sobre Regina, menos que ela não tinha se empenhado nessa maldição. Encontrando as mais diversas formas de torturar as diferentes vítimas de sua ira, presas na estagnação de uma vida sem perspectivas, sem evoluções, e sem finais felizes. De pobreza desesperadora à riqueza solitária; de total desconhecimento sobre as verdadeiras identidades até fazer o próprio conhecimento de sua condição ser a maldição de alguém; e agora prender algum pobre infeliz num asilo, nos fundos de um hospital, taxado de louco pela eternidade atemporal de Storybrooke. A rainha devia ter se divertido inventando esses detalhes variados.

Mas bem mais divertido estava ele, agora, diante da perspectiva de outra pequena derrota da rainha. Ele sabia que há alguns dias a salvadora vinha mexendo os pauzinhos, conversando com o Dr. Hopper e planejando uma manobra de ação. E agora ela estava marchando para resolver o quer que estivesse acontecendo no hospital... E ele não perderia o show por nada!

Claro, tudo isso graças ao incentivo do garoto. Graças a Deus o menino tinha tanto empenho, porque se dependesse do cinismo de Emma, eles poderiam muito bem se preparar para mais 28 anos de maldição antes de ela acreditar em alguma coisa!

Enquanto caminhava, ele se indagava quem seria o prisioneiro que tinha recebido aquele castigo em particular. Será que esse tinha sido o destino de Maleficent? Ele não a tinha visto vagando pela cidade, alheia a seu passado de amizade/inimizade com a rainha... Já entrando no hospital ele pôde ouvir as insinuações de um pequeno tumulto. Seguindo o burburinho, ele se posicionou a uma distancia confortável, assistindo enquanto o Dr. Whale discutia com o Dr. Hopper sobre a – falta de – prudência de remover uma paciente de onde tinha sido mantida por tanto tempo sob cuidados intensivos. Parecia haver certa discordância sobre o que eles entendiam por “cuidados intensivos”.

O Sr. Gold notou a xerife saindo por uma porta onde estava escrito “saída”, amparando uma moça de cabelos castanhos desgrenhados, que escondia o rosto no ombro da sua jaqueta vermelha – falando sério, será que a mulher só tem uma jaqueta no guardarroupa?! Ele continuou apreciando a confusão, enquanto os médicos discutiam, até que conseguiu pegar um vislumbre do rosto da garota e se sentiu totalmente paralisado por um instante.

Ela estava com os cabelos bagunçados, pálida e mais magra do que ele jamais havia visto... Os lindos olhos azuis que passaram rapidamente por ele, enquanto analisavam o ambiente, estavam emoldurados por olheiras e não o reconheceram, é claro. Mas ele a reconheceu. Ele a reconheceria em qualquer lugar, mesmo se mil anos se tivessem passado.

Ele sentiu sua cabeça rodar enquanto tentava dar sentido ao que estava acontecendo. Ela estava morta. Ela devia estar morta. Ela não estava morta? A voz da prefeita conseguiu arrancá-lo do transe, enquanto ela entrava no recinto, esbravejando com a xerife sobre a inconstitucionalidade dos seus atos. Tudo pareceu cair sobre ele como uma chuva gelada, arrepiando todo seu corpo e sacudindo a verdade inegável para o centro de seus pensamentos: ela havia mentido. A rainha havia mentido descaradamente, deliberadamente. E todos esses anos, enquanto ele pensava que sua Belle estava morta, a bruxa a havia mantido prisioneira, tanto na terra encantada quanto em Storybrooke. Enquanto sua cabeça rodava, ele mal notava a discussão acalorada à sua volta.

“ O que você pensa que está fazendo, Srta. Swan?!” – exigiu a prefeita. “Nem mesmo você pode achar correto sequestrar uma paciente que precisa de cuidados médicos!”

“ Não comece, Regina! Há mais irregularidades nessa ala do hospital do que eu acharia possível! Estou aqui com o apoio do Dr. Hopper para dar um suporte justo a esses pacientes!”

“ De fato, prefeita, essa paciente não tem uma reavaliação psiquiátrica há anos...”

“QUIETO, Dr. Hopper!” – rugiu a prefeita, não muito regiamente. “Vocês dois serão responsabilizados pela insensatez de suas atitudes! Eu esperava esse tipo de irresponsabilidade da Srta. Swan, mas, sinceramente, Dr. Hopper...” – nessa hora seus olhares se encontraram. A prefeita viu o Sr. Gold parado, ali, assistindo a todos os acontecimentos, e, pela palidez que a dominou enquanto ela perdia as palavras no meio da frase, ele pôde sentir muito bem que ela percebeu o problema em que estava.

Sim, agora ele sabia. Sabia de toda sua mentira, de tudo que havia feito... e ela iria pagar. Iria pagar muito caro. Ele deixou todo seu ódio transbordar no seu olhar, deixando bem claro para a rainha que ela estava muito, muito encrencada. O esforço que tinha que fazer para não pular no pescoço dela o fazia tremer. Sem uma palavra, ele virou as costas e se retirou do hospital.

Não havia muito que ele pudesse fazer no momento e ele confiava na xerife para cuidar de sua Belle por enquanto. Mais que tudo, ele confiava no medo que tinha visto nos olhos da prefeita. Se ela levantasse mais um dedo contra Belle, ela estava morta. E ela sabia disso.

Mais atordoado do que havia se sentido em décadas, o Sr. Gold fez seu caminho até sua loja, sua mente fervilhando de ideias. Ondas de ódio, que faziam seu coração palpitar de vontade de vingança; pontadas de tristeza, por tudo que havia acontecido a sua amada; receio e dúvida, sobre o que deveria fazer sobre ela agora; e, o mais assustador, um vislumbre de esperança se insinuando no fundo de sua mente.

–*-*-*-

Regina parecia muito concentrada enquanto colhia maçãs, um cesto pendurado em seu braço e o cabelo balançando na brisa noturna. Ela nem mesmo ouviu quando ele se aproximou.

“ Vossa Majestade.” – Sr. Gold falou calmamente, deixando o veneno se insinuar pela sua polidez, muito mais assustador que qualquer alteração de voz. E ela parecia mesmo bastante assustada quando se virou para encará-lo. Em um segundo, tentando se recompor, ela o cumprimentou com um sorriso cheio de falsa autoconfiança.

“ Sr. Gold! A que devo a honra desta visita a essa hora do dia?”

“ Ah... Eu acho que você sabe exatamente por que eu estou aqui, queridinha.”

“Bom... Se te interessa saber, a garota está perfeitamente bem.” – disse ela, virando-lhe as costas para voltar a colher maçãs. Ele se aproximou, ficando a centímetros de suas costas, e quase pôde senti-la tremer pela sua proximidade.

“Vinte e oito anos presa em um sanatório nos fundos de um hospital. Vinte e oito anos! É isso que você chama de perfeitamente bem, Vossa Majestade?” – ele susurrou, esperando que ela pudesse sentir todo seu ódio exalando com suas palavras.

“Ora, Rumpel, eu poderia tê-la matado. Mas não matei. Você deveria me agradecer.”

“Não! Não, você a manteve presa. Pra usar quando precisasse. Isso é muito pior!”

Ele agarrou o braço dela quando ela foi pegar outra maçã, se controlando para não estrangulá-la ali mesmo. Ele não podia matá-la. Não agora, pelo menos... Ele tinha feito a maldição para ser quebrada por Emma, quando ela conseguisse superar a rainha má. De certa forma, a rainha era uma peça necessária no equilíbrio das coisas. Ele não iria se arriscar a ficar preso pela eternidade em uma maldição que já não podia ser quebrada, agora que a salvadora não teria uma vilã para antagonizar. Apesar de ter passado séculos lidando com a magia negra, e de ser bastante bom nisso, ele era sempre cuidadoso ao lidar com suas regras. Magia negra podia ser bem volúvel e caprichosa em seus detalhes.

“Escute com atenção. Você não vai se aproximar dela. Não vai prejudicá-la novamente, seja como for, você entendeu bem? Ou, que Deus lhe proteja, mas você vai se arrepender amargamente.”

Regina ficou parada, olhos arregalados, quase sem respirar enquanto ele a olhava com sentimentos assassinos, antes de uma risadinha irônica. “ Por favor?”

A prefeita soltou um longo suspiro e desviou o rosto, claramente tentando se recompor, e levou alguns minutos antes de conseguir falar.

“ Como queira.”

“Muito bem, Vossa Majestade.” – sorriu ele, virando-se para ir embora. “E acho melhor não tentar nenhum truque, ou eu posso pedir para você, por favor, fazer algo que vá fazê-la se lamentar por muito, muito tempo. “

Ela assistiu seu vulto se perder na escuridão da rua, e só então se virou para voltar para casa.



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Notas finais do capítulo

N.A.: O nome Isabelle French não foi idéia minha. Eu o encontrei em várias fanfics e achei definitivamente apropriado. Vi também Anabelle French e outros nomes que não tinham relação sonora com Belle, mas, na minha cabeça, ficou meio marcado que o nome certo dela em SB seria esse... Então, aí está.
Opiniões em geral são mais do que bem-vindas! Prontos para um pouco de Belle no próximo capítulo???