“Segunda feira... Ótimo!” – pensei ironicamente assim que acordei. Fui para o banheiro tomar meu banho. Só não coloquei música pra tocar em respeito ao Charlie.. Ele não merece meu barulho logo cedo. Sai do banheiro enrolada na toalha, afinal eu consegui esquecer de pegar pelo menos minhas roupas íntimas. Eu devo ter a raiz do cabelo loira mesmo! Vesti meu conjunto de algodão, e fui a procura de boas roupas pro primeiro dia de aula. Acabei com minha calça Jeans velha, minha blusa de manga curta azul marinha, meu All Star azul e minha jaqueta cinza chumbo. Deixei o cabelo solto pro caso de eu precisar me esconder e desci.

Tomei com café com Charlie em silêncio.. De alguma forma ele sabia que eu estava tensa, e me deixou quieta.

Tive que aceitar a carona de meu pai pra ir pra escola... Ou isso ou ir a pé, e minha disposição pra segunda opção estava abaixo de zero.

–Boa aula, Bella. – disse Charlie assim que abri a porta do carro. – Divirta-se..

–Obrigada, pai.. Farei o possível. – dei um sorriso fraco e sai em busca da secretária, enquanto colocava os fones no ouvido.. Resolvi escutar Evanescence, afinal é relaxante pra mim. Procurei pela “Lithium”, só pelo prazer de escutar. É tão perfeita.. Encontrei a secretária, finalmente, e fui cuidar da parte burocrática do meu dia. ( Charlie cuidou da minha matricula assim que soube que eu voltaria a morar com ele.)

Assim que sai da secretária com o mapa dos prédios nas mãos – na frente do rosto pra falar a verdade – eu bati em algo frio, duro e com um perfume estonteante. Levantei os olhos e vi um anjo na minha frente. Bom, pelo menos a beleza daquele rosto não tinha nada de humana. A pele clara feito neve, o rosto banhado em perfeição. Mesmo com a expressão de dor, ele era lindo. Mas alguma coisa estava errada. E eram seus dentes cerrados e a respiração travada, o olhar quase doentio.

– Desculpa! – eu disse, mas ele já não estava mais perto de mim.

– Uau! Você acaba de bater de frente com o garoto mais gato da cidade! Como eu queria estar no seu lugar. – ouvi alguém dizer atrás de mim.

–Jess! Sossega! – disse outra voz.

Me virei na direção das vozes e vi duas meninas.

– Oi, eu sou Angela. – disse a dona da segunda voz. Ela tinha os cabelos longos e negros presos, só a franja solta. Era alta e magra. Sua beleza era bem simples e discreta. – E essa é a Jessica. – disse apontando pra outra menina, que era bem mais baixa, mais corpulenta, e de cabelo meio ruivos, meio castanhos. Elas sorriam para mim, e eu sorri timidamente em resposta.

– Eu sou Isabella.. Mas pode me chamar de Bella.

–Humn.. Bom.. Com esse “acidente” nem precisamos dar boas vindas. – disse Jessica dando uma risadinha pateticamente assanhada. Angela deu uma cotovelada leve no braço de Jessica e me convidou para ir pra sala com elas, caso nossa aula fosse a mesma. E era. Fomos andando enquanto Jessica tagarelava sobre as pessoas da escola, mas eu não conseguia me concentrar muito. Eu estava pensando no menino que eu tecnicamente atropelei. A sensação fria que eu tive ao topar com ele voltou e eu percebi que ele também tinha essa aula junto comigo. A única carteira vaga era a do lado da dele, levando em consideração que Angela e Jessica estavam se sentando juntas nas carteiras do fundo da sala. Tive que me sentar ao lado da estatua viva da perfeição. Não foi nada agradável. A aula foi completamente tensa ao lado dele, e quando o sinal tocou ele saiu de sala no mesmo instante, sem olhar pro lado. Me virei para as meninas pra perguntar quem ele era afinal e Angela respondeu.

–Ele é Edward Cullen. Se mudou com os pais adotivos e com os irmãos há alguns meses.. Eles ficam sempre na deles.

–E os irmãos são tipo.. Casais. É tão estranho.. - disse Jessica.

–Mas eles não são irmãos de verdade, então não há nada errado. - replicou Angela.

Acenei com a cabeça pra mostrar que entendi. Mas continuei incomodada. A situação ficou na minha cabeça(oca por sinal) a manhã toda. Que ótimo pra um primeiro dia de aula: descobri que causo repulsa nas pessoas!

Pelo menos o tempo passou rápido, e quando me dei conta estava indo pra casa. Angela me deu uma carona, já que Charlie não poderia me buscar.

Quando paramos em frente a minha casa agradeci a Angela pela gentileza, e fui andando em direção à porta. Ignorando a viatura do meu pai parada na entrada, e o volume meio redondo coberto no canto dos fundos do quintal. Abrindo a porta fui recebida por Jacob e Charlie conversando animadamente.

–Bella! Chegou em boa hora! Temos uma surpresa pra você! – disse Jacob, mais empolgado que criança no Natal. Charlie sorriu, concordando.

Eles me levaram pra porta dos fundos, e em direção ao volume que eu já tinha visto.

Os dois pediram que eu me virasse, e tiraram o plástico escuro que cobria o volume. Depois Jacob segurou meus ombros e me virou gritando: “SEJA BEM VINDA, BELLINHA!”

– Um fusca?!?! Pra mim?!?! Não acredito! – disse completamente feliz. Agora a criança no Natal era eu. Mas o fusca era lindinho demais! E ele era amarelo clarinho, tão perfeito. – Eu amei!! Obrigada, pai! Obrigada, Jake!

–Fico feliz que tenha gostado, garota. Mas tenha juízo. Eu sou seu pai, mas isso não me tira as obrigações de policial. – E eu nem preciso dizer que quem disse isso foi meu pai, certo?

– Sim, Sr. Chefe de Polícia Swan! – eu disse batendo continência.

Jacob é claro, riu escandalosamente. E eu o arrastei pra um passeio no meu novo xodó. Acho que vou batizá-lo de Smurfete. Eu aaaamo Os Smurfs.

Enquanto eu dirigia Jacob perguntou:

–E aí, Bella, como vai o coração? Algum amor deixado pra trás?

–Não.. Meu coração continua intacto e “vazio” da forma como sempre foi.

–Nossa, que menina fria.. - disse ele em tom de zombaria. Nós rimos. Ele continuou:

–Mas você nem pensa em quebrar essa frieza não? Você tá ficando velha, e daqui a pouco vai ficar difícil pra você, ein..

–O que você tá querendo com isso ein? Arrumar um cunhado pra você atormentar?

–Cunhado? - disse ele desanimado - Ah! Você ainda me vê como um irmão.. Droga!

–Droga porque? - “Droga mesmo! Ele ainda era apaixonado por mim! Como assim, depois de 10 anos?!” perguntei e pensei enquanto estacionava o carro perto da calçada da praia.

–Eu disse “droga”? Humn.. Acho que você está escutando coisa demais. Eu não disse isso.

–Disse sim, Jake! Eu ainda não estou ficando maluca. E porque sua voz ficou triste de repente?

–Triste? Eu não estou triste. E acho mesmo que está ficando maluca!

Bati no braço de Jacob em resposta à piadinha.

–Nossa! Tá malhando ou tem uma pedra ai debaixo desse casaco?

–Nem um nem outro. Só estou crescendo.

–Crescendo.. Sei disso.. - eu disse ironicamente.

–Deixa de ser implicante, ou.. – Ui! Tinha ameaça na voz dele! Como se ele fosse capaz de fazer alguma coisa comigo.

–Ou o que? Vai me jogar na água?

–Isso seria melhor do que o que eu pensei.. Menos arriscado.

–Arriscado? Como se você fosse me machucar..

–Existem coisas que não podemos controlar, Bella.

Havia um tom sombrio na voz de Jacob. Mas ele logo se recompôs e perguntou animado:

–Mas como foi na escola hoje?

–Terrível! Não tem meio termo: ou são receptivos demais ou mal-encarados demais.

–Mal-encarados? O povo daqui é sempre muito simpático..

–Deve ser porque o tal do Edward não é daqui.

–Edward? Edward Cullen?

–É. Você conhece ele?

–Os Cullen são um problema pra nós da reserva... - E havia outra vez o tom sombrio na voz dele. –Essa conversa está indo pra um lado perigoso, Bella. É melhor você ir pra casa.

–Mas..

–Bella! Vá. Outro dia a gente se fala.

Eu não podia discutir com as costas dele.. Isso porque ele estava correndo pra direção contrária à minha, e porque, francamente, ele me mandou embora e fugiu. Que ridículo!

A atitude de Jacob afirmou pra mim que alguma coisa errada estava acontecendo por aqui. E eu iria descobrir. Por bem ou por mal.

Indo pra casa, resolvi que falaria com Edward no dia seguinte. Nem que tivesse que colocar o garoto na parede...

O resto do meu dia foi tranquilo. Estudei e fiz meus deveres do dia enquanto ouvia o álbum ‘Coma’, do Guns ‘n Roses. De noite desci, cuidei da janta de Charlie, jantamos, e depois subi pra tomar meu banho. Cai na cama e percebi o quanto o dia tinha sido cansativo. Talvez seja por causa do estresse.. Dormi com o celular tocando música ao meu lado. A última música que eu me lembro de ter escutado era 'Where The Lines, Overlap– do Paramore'.