– O que você está fazendo aqui? – sussurrei surpresa.

– Estou fazendo esta pergunta internamente desde ontem, quando apareci na França. – ele riu – Mas e você o que está fazendo aqui? Graças a Merlim, encontrei alguém que eu conheça neste fim de mundo! E, bem, fico ainda mais feliz que tenha sido você, meu lírio. – sorriu maroto.

– Não faço ideia do que estou fazendo aqui também! E eu vou ignorar a ultima parte. – ele ia retrucar, mas eu coloquei a mão à frente impedindo. – Espera. Você disse França?

– Acho que sim. Foi onde fui parar. – ele disse e eu arregalei os olhos. Não tive tempo de responder, o rei chegou e me puxou pelo braço.

Fomos andando até o centro do salão e pude perceber que Potter nos acompanhava boquiaberto. Certamente, por ser tão lento, só agora havia percebido o que estava para acontecer. James Potter, o imbecil.

Enfim, chegamos ao centro do salão e as pessoas ao nosso redor se afastaram formando um perfeito círculo. As trombetas soaram e o meu coração estava a mais ou menos 200 batimentos por segundo. Qual é! Não é exagero! Eu estava prestes a ficar noiva de James Potter! E tudo bem, era melhor que um velho rabugento, careca e desdentado. Mas, era o Potter! Porcaria de destino! Porcaria de magia estranha e inexplicável que nos trouxe para a Idade Média!

– Meus amigos. – o rei começou- Como sabem, ou não – ele sorriu- estou ficando velho. –muitas pessoas riram - Preciso passar o meu trono para o próximo sucessor. E, como minha esposa, Rainha Helena...

–Que descanse em paz! – todos os presentes disseram. Exceto eu e Potter que não sabíamos de nada, é claro.

– ...não teve filhos homens...- o rei continou e consegui perceber uma pontada de decepção em sua voz, mas ignorei. – A próxima na linha de sucessão para o Trono da Inglaterra, é minha filha, Princesa Lílian Aphroditte Lencastre III. – todos me olharam e eu não pude deixar de corar. – Como a tradição da família real é que nenhuma sucessora seja coroada sem ser casada, apresento-lhes , Príncipe James Henry Muller Fontaine IV , da França. E noivo de minha filha.

Todos no salão aplaudiram quando Potter apareceu e se postou ao meu lado, tão surpreso quanto eu, mas com um sorriso maroto nos lábios. Que ótimo. Vou me casar com James Potter !E bem, ele é um pouquinho melhor do que os velhos carecas e desdentados. Só um pouquinho. Mas, mesmo assim...eu vou me casar com ele!E pela cara dele, ele está gostando disso! Oh, como eu sou ingênua! Ele não está gostando, ele está ADORANDO isso! Merlim, eu estou completamente ferrada. Completamente!

– EU NÃO QUERO ME CASAR – verbalizei sem querer meus pensamentos e a julgar pela multidão que olhou para mim boquiaberta, falei alto demais. – Quer dizer, - corei – Eu não quero me casar hoje. – sorri, mas ninguém pareceu estar convencido . Potter segurava o riso, ao meu lado. Idiota. Acéfalo. Nem para me ajudar nesta hora, o filho da mãe serve. – E...- não sabia o que dizer - VIVA! – disse a única coisa que me passou pela cabeça e levantei uma taça de vinho. No segundo seguinte todos estavam gritando e festejando e levantando suas taças de vinho também. Inclusive, Potter.

– Bem pensado . – ele sussurrou em meu ouvido, rindo.

– Eu não teria passado por isto, se você tivesse me ajudado. E, antes que você fale qualquer coisa a mais, não estaríamos aqui se você não tivesse girado aquele maldito vira tempo, quando eu disse para não virar!

– E quem disse que foi culpa do vira tempo? Não viemos parar aqui depois disso! – ele disse irritado, mas ainda sussurrando.

– E quem disse que não foi culpa dele e sua? – retruquei e ele se calou, por alguns instantes.

– Vamos discutir isto. Temos tempo, já que ficarei aqui até o casamento.- arregalei os olhos. Ele devia estar louco, se acreditava por um segundo sequer que eu iria mesmo me casar com ele!Além disso, eu tenho certeza absoluta que iremos voltar para o presente bem antes disto. Quer dizer, nem tanta assim. Mas farei o possível.

– Não vamos nos... – as trombetas soaram novamente. Qual é! Já estava ficando irritante. Se meus tímpanos estourarem, eu juro que vou quebrar esses instrumentos irritantes pessoalmente.

– E agora, a tradicional Valsa dos Noivos! – o rei anunciou para o salão. Ok, agora eu estava mesmo ferrada. Quem disse que eu sei dançar valsa?Para ser mais exata, quem disse que eu sei dançar qualquer coisa? E quem criou essa maldita tradição? Eu queria estrangular o Einstein que teve essa maravilhosa ideia.

Uma melodia começou a tocar. E sabe aquelas vezes que você ouve algo, e tem certeza absoluta de que já ouviu antes, mas não se lembra? Como um deja vu? Então. Eu senti a mesma coisa com aquela melodia. Muito estranho.

Potter postou-se à minha frente rapidamente e me puxou pela cintura. Instintivamente, coloquei uma mão em seu ombro e com a outra segurei a dele que estava erguida.

– Você sabe dançar?- sussurrei para ele.

– James Potter, sempre sabe.

– Lílian Evans , nunca sabe. – ele riu um pouco.

– Então, está na hora de aprender princesa. – ele sussurrou a ultima palavra no meu ouvido e eu não pude evitar ficar arrepiada.

Ele começou a se movimentar pelo salão e eu tentei a todo custo acompanhá-lo. Mas, sem querer, pisei no pé dele.

– Ai! – ele reclamou de repente.

– Desculpe! Eu disse que não sabia.

– Hum, ok. – ele sorriu. – Quer saber? Faça o seguinte. Ponha os pés encima dos meus. – arqueei as sobrancelhas. – Vamos, faça o que eu disse.

Ainda desconfiada, coloquei os meus pés sobre os dele. Ele sorriu novamente. E no segundo seguinte estávamos rodopiando pelo salão. Ri.

– James Potter, sempre sabe. – eu disse e ele riu comigo. Mas ainda achava que conhecia aquela melodia. E não sabia de onde.

Continuamos dançando e rodopiando pelo salão, com a multidão rindo e aplaudindo. Até que a música acabou. Ele me pôs no chão, mas não me soltou. E nem eu o soltei. Ficamos nos olhando por um longo tempo e eu pude perceber o quão bonito ele estava aquela noite. Um terno azul, com calças brancas e botas pretas. Exatamente como os príncipes dos filmes. Seu cabelo preto estava bagunçado ,como sempre e seu sorriso brincalhão.

– Precisamos voltar. Eu não vou me casar com você!- falei de repente quebrando todo o clima. Não que tivesse algum clima entre mim e Potter. Nem pensar. De jeito nenhum.

– Conheço alguém que pode nos ajudar.-ele pronunciou parecendo meio desapontado.

– Conhece? Achei que tivesse dito que estava feliz por ter encontrado alguém que conhecesse nesse fim de mundo, no caso, eu. – apontei para mim mesma e arqueei as sobrancelhas enquanto me soltava dele.

– Quer conversar lá fora? – ele disse puxando-me de novo, ignorando as pessoas que ainda nos olhavam, já que estávamos no meio do salão.

– Eu acho ótimo. As pessoas estão olhando e eu tenho certeza que parece que já nos conhecemos.

– Mas nós já nos conhecemos. Muito bem, aliás. – ele sorriu maroto. Revirei os olhos.

– As pessoas não sabem. Ou quer que eu te lembre que estamos na Idade Média? Por sua culpa?

– Eu já disse que não é minha culpa!

– Veremos. – soltei-me dele e fui em direção à Elizabeth e á Larissa e Melody. – Me encobertem, por favor. Ele quer conversar comigo, à sós. – revirei os olhos e elas olharam uma para outra maliciosas. Ignorei. Para garotas da Idade Média, elas estavam bem saidinhas.

Segui para fora do salão e percorri um grande corredor até a porta que dava acesso aos jardins. Não olhei para trás, então não sabia se Potter estava atrás de mim. Apenas quando cheguei ao portão é que eu lembrei que era inverno. E que eu estava sem casacos, sem botas, sem luvas e sem cachecóis. E puxa vida! Fazia mais frio em 1415 do que nos dias atuais. Maldito aquecimento global. Ou bendito, não sei. Depende do ponto de vista. Se você gosta de um frio congelante, com sensação térmica de -15ºC, então é maldito. Mas, se você como eu, não tem roupa pesadas e quentes, e está prestes a ter uma hipotermia, é bendito.

Enfim, corri de volta para dentro do castelo. Mas como eu sou uma pessoa inútil e descoordenada, tropecei e caí. Em algo... macio.