Jogos Vorazes - O Garoto Do Tridente escrita por Matheus Cruz


Capítulo 4
Um conselho antes que o Trem pare




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Estou de volta, no Distrito 4, sentado à beira de um rochedo.

Observo o sol desaparecer aos poucos na linha do horizonte, dando ao mar uma tonalidade alaranjada, que sobe com a maré cheia, quebrando as ondas com violência à beira da imensa rocha onde estou sentado.

Fico de pé e o meu cabelo esvoaça ao vento fresco revigorante, com o familiar aroma salgado. Tiro os chinelos, a camisa e a bermuda, respiro fundo e salto.

Flexiono os braços para a frente, junto os pés e mergulho.

A água gelada me abraça e abro os olhos para a imensidão azul celeste à minha frente. Nado com precisão, girando na água, dando piruetas. A sensação de liberdade é incrível, me sinto solto, sem compromisso, os pensamentos longe, concentrado apenas em aproveitar cada segundo e milésimo desse momento.

Paz, acho que nunca mais vou tê-la de volta.

Engraçado, quando a rede flutua lentamente na água, vindo ameaçadoramente em minha direção, compreendo exatamente como os peixes se sentem quando os pescadores, como eu, tentam capturá-los. Eles se debatem, tentam fugir, ficam desnorteados...

Eu poderia facilmente nadar para longe dali, mas meu corpo ficou flácido, desobediente e paralisado. A rede se aproximava cada vez mais. Me desesperei, mas meu corpo continuou teso, flutuando, como se estivesse sem vida.

A rede me enrolou, apertando, tirando a minha liberdade. Vou morrer, penso, e nunca mais verei minha família, meus amigos e a Annie, nunca mais...

Tudo por causa dessa rede, que me prende, sufoca. Estou de pés e mãos atadas, não há o que fazer, nem como fugir, esse é o meu destino. Está escrito...

Essa rede se chama Jogos Vorazes.



Termino de abotoar o terno e me olho no espelho. A vestimenta de gala é lustrosa, impecavelmente limpa e passada, simplesmente magnífica, com o caimento perfeito para o meu corpo. O terno preto e a gravata borboleta prateada contrastam, brilhantes. A calça é listrada com diferentes tons negros e os sapatos são cinza escuro.







Os Carreiristas sempre ganham cortesias como essa. E, querendo ou não, eu sou um Carreirista. Pelo menos é o que todos acham, mas na arena, as escolhas são minhas. Dakota com certeza se juntará àquele tradicional grupinho de Carreiristas, terá aliados fortes, mas não me vejo lutando ao lado dela, simplesmente fora dos meus planos.







Aliás, nem tenho planos.



Sento na cama e espero alguém vir destrancar a porta.





–- Devia prestar mais atenção no que está à sua volta, na arena é preciso ter mais do que dois olhos.





Ah meu Deus! Pulo da cama e olho para trás. A Mags quase me matou de susto, e agora estou encarando sua expressão fria e observadora. Ela está em pé, encostada numa das imensas estantes de livros do quarto, bebericando uma taça de vinho tinto.





–- Mags?!... é... você me assustou. – digo, ainda mais impressionado com a incrível habilidade que ela tem de mexer com o emocional das pessoas.





–- É, eu sei – Mags deixa escapar um risinho – Desculpe, não era a minha intenção.

–- Bem, quem lhe deve desculpas sou eu... Não sabia sobre...

–- Shiii! Já passou, prefiro esquecer esse assunto. – Mags caminha até mim e senta na cama. – Sente aqui – diz, ajeitando o lençol, num lugar ao seu lado.

Lhe obedeço, hesitante, e me acomodo.

–- Finnick, você é um garoto especial. – Mags passa a mão em meu cabelo molhado, carinhosa – Nenhum dos meus antigos tributos mexeram tanto comigo.

O quê? Não estou entendendo...

–- Mas... porque...? – as palavras simplesmente se esvaem, Mags desvia o olhar e fica um bom tempo pensando. Acho que o lance do tridente deixou a Mags muito chateada.

–- Finn... há muito tempo... – começa, mas engole em seco e balança a cabeça negativamente. – É melhor esquecermos isso. – ela vira o rosto para mim e seus olhos estão úmidos, o que me assombra ainda mais.

–- Mags o que está acontecendo? – pergunto. Ela enxuga os olhos com as costas das mãos e volta à sorrir.

–- Finnick, esqueça o que eu falei. – ela bebe o último gole de vinho e lambe os lábios.

–- Tudo bem, não vou insistir. – eu abaixo a cabeça e Mags volta à ficar de pé.

–- Só quero te dar um último conselho. – nesse momento, sinto que o trem começa à diminuir a velocidade e aos poucos vai parando – Muito cuidado com a sua coleguinha, a Dakota. Ela é realmente perigosa, dissimulada.

–- Não acredito! Você percebeu? – essa foi realmente uma boa notícia, fiquei com um gostinho impagável de vingança na boca – Pensei que ela tivesse te enganado. – minha vontade é correr até o quarto dela e esfregar na cara daquela menina nojenta que estou vencendo.

–- Devo acrescentar que a estratégia dela não é nada original, e suas mentiras não enganam ninguém.

–- Nossa, pensei que...

–- Aprenda... O pior dos astutos é achar que todo mundo é bobo.

Nesse momento a porta do quarto se abriu. Segui Mags para fora e nos juntamos à Claire e Dakota, que estavam à nossa espera. Claire está vestido uma espécie de quimono azul claro e não entendi porque suas tatuagens verdes ficaram vermelhas. Dakota fez uma traça no cabelo loiro e está usando um vestido verde coberto de lantejoulas.

–- Senhorita Mags, a senhora poderia segurar minha mão, estou um pouco tensa – devo confessar que a voz amável de Dakota me dá calafrios, mas depois do que a Mags me disse, tenho que me segurar para não dá risada.

–- Claro querida, eu entendo você, já passei por isso antes. – Dakota pega a mão de Mags e leva até os lábios

– Você é uma rainha. – isso me dá nojo. Ela olha de soslaio para mim, como quem diz: “Viu como eu posso ser persuasiva?”

E antes que as duas se adiantem até a rampa de saída do trem, Mags pisca marotamente o olho para mim.



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