Jogos Vorazes - O Garoto Do Tridente escrita por Matheus Cruz


Capítulo 5
Estilista aluada




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Os edifícios monumentais me deixam sem palavras. São Milhares de prédios amontoados, de uma arquitetura invejável, em diversos formados e cores, simplesmente mantendo o meu olhar fixo neles, num estranho poder hipnotizador. Largas avenidas serpenteiam entre eles, onde automóveis luxuosos e de cores vibrantes percorrem seu caminho.

A estação fica num ponto alto, onde a visão é ampla e podemos avistar tudo até certa distância. O imenso lago azul, cercado pela praça ladrilhada e um bosque de árvores verdejantes e floridas, está à poucos quilômetros de onde nos encontramos agora, em frente ao centro do poder, o edifício mais importante de Panem, a casa do Presidente Coriolanus Snow.

A multidão que nos espera grita quando Mags e Dakota saem do trem, são assobios, flashes, confetes e foguetes lançando cores no céu azul claro pontilhado de nuvens ralas. Claire me oferece o braço e eu aceito sem hesitar, e cinco passos depois, estou de frente para a estação lotada.

O cheiro de combustível enche minhas narinas quando a fumaça do trem invade meu campo de visão, após alguns segundos, os gritos irrompem. São mais do que assobios, ou a tradicional euforia dos habitantes da Capital. Os olhares pousam em mim e permanecem fixos, encantados, perplexos, e depois vem gritos ensurdecedores.

Eles têm um estilo bastante extravagante. São perucas coloridas para todo lado, peles cobertas de tatuagens estranhas, olhos grandes, pequenos, azuis, vermelhos, amarelos, cinzentos, dentes lilases. Acho que o maior pecado da Capital é a vaidade, porque seus moradores vivem exclusivamente para se manterem bonitos, e fazem loucuras para se manterem assim.

Fico boquiaberto quando uma moça, que aparenta ter vinte anos, cai nos braços de uma senhora. Claire olha para mim, procurando entender o que está acontecendo, mas é ele quem deve saber, porque quem viveu a vida inteira aqui foi ele, não eu.

Ah!!!, são mais gritos, flashes, eles estão me cegando! Há pessoas se jogando aos pés da rampa, tentando me alcançar. O que está acontecendo? Será que aquele papo da Mags tem haver com isso? As pessoas estão desmaiando. Oh... porque isso? Os foguetes estouram, um atrás do outro, numa sequência incessante. O mundo gira à minha volta...

–- Finnick, você... – Claire olha para as senhoras que desmaiam, se abanam, e ri – Elas estão desmaiando por sua causa! Isso é incrível!

Guardas da Capital abrem caminho com uma corda, Mags e Dakota olham para trás, me encaram perplexas por alguns segundos e depois continuam a caminhar. Percebo que o Claire estava falando a verdade, os desmaios são por minha causa, porque quando as duas passam entre a multidão, meu Deus, são ignoradas! Ignoradas!!! E toda a atenção, câmeras, mãos estendidas se voltam para mim.

–- O que está acontecendo, Claire?

–- Acho que você desencadeou certo encanto nelas... nós somos bastante eufóricos, mas acho que você conseguiu uma façanha menino... Isso nunca aconteceu antes.

Uma música invade a estação, é algum tipo de canção de boas vindas. A Capital é tão boazinha, pena que isso é apenas uma recepção para a carnificina que vem dias depois.

–- Lindo! Lindo! – uma mulher de casaco amarelo berrante e peruca consegue agarrar meu terno e me surpreendo quando ela consegue me puxar e... Eca! Meu Deus... Me beija na boca!!! Me afasto, limpo a boca...

–- Finn, não faça isso! – Claire me belisca. AI!, olho para ele e dou de ombros – Finja que gostou...

–- Como... o beijo dela tem gosto de manteiga... Eca! – continuo limpando, me segurando para não vomitar.

–- Lembre, um sorriso e você será o destaque de todos os televisores de Panem – Claire sorri e me empurra, com a mão nas minhas costas – Mande um beijo e vai chover Patrocinadores!

Verdade! Como não pensei nisso antes?

Descubro que tenho uma carta na manga... Sou o centro das atenções agora, e isso não foi intencional. Acho que a beleza bruta de um jovem robusto do Distrito da pesca pegou a Capital desprevenida.

“ ...um sorriso e você será o destaque de todos os televisores de Panem”, se eles querem um sorriso...

Respiro fundo e lambo os meus próprios lábios, ergo a cabeça e dou um sorriso. Mais e mais escândalos, Um repórter sai se esbarrando em todos só para acompanhar meus passos, aceno para a câmera, cumprindo o meu papel de Conquistador.

No estacionamento uma limusine dourada está a nossa espera. Dakota e Mags já entraram e aguardam no banco de trás, Claire me empurra, precisamos nos apressar. Claire entra e senta de frente para Mags, ponho o pé para dentro, mas antes...

Me volto uma última vez para a multidão, levo a mão até a boca e mando um beijo, daqueles bem calorosos.

Entro na limusine antes de ver o efeito que aquilo iria causar.

Ao meu lado Mags sorri, Claire faz sinal de aprovação. Recosto no banco macio e olho de soslaio para Dakota, como quem diz: “Viu como eu posso ser muito mais persuasivo do que você?”

Dakota cruza os braços, tremendo de raiva, e enxuga uma lágrima com as costas das mãos. Dois a um, virei o jogo ao meu favor!





–- Finn, isso foi inacreditável! – Mags diz, enquanto morde seu porco assado.





Estamos todos sentados à mesa, numa luxuosa sala de jantar. Claire e Mags estão muito orgulhosos da minha façanha e ficaram falando disso desde que chegamos. Eu realmente me surpreendi, fui bastante ousado, mas o jogo está apenas começando, acredito que amanhã, na Abertura Oficial dos Jogos Vorazes, a maioria delas já tenha perdido o encanto.

–- Fez direitinho em? A reação foi instantânea... Um sorriso e puft! – Claire bateu palmas empolgado e pôs uma colher de caramelo na boca.

–- Tive que me esforçar... Depois daquele beijo cuspido, fiquei com uma tremenda ânsia de vômito. – todos a mesa riram, exceto Dakota, que está zangada desde o lance da estação.

–- Ainda há tributos chegando, mas os televisores só exibem reprises da nossa chegada. – vejo a mim mesmo no imenso televisor, e suspiro de alívio pela cena do beijo ter sido cortada. Fico pensando na reação de Annie se ela assistiu àquilo.

–- Boa noite! – duas pessoas descem lentamente a escada em forma de caracol atrás de mim – Não sabem quanto tempo esperei para a chegada de vocês.

O homem, assim como todos os habitantes da Capital, tem um estilo vibrante. O cabelo azul chega até a cintura, lustroso e liso, trançado em alguns pontos. Os olhos são escuros e as pálpebras estão pintadas de branco, mas o que mais me assusta é que ele não tem sobrancelhas. O traje é diferente, um colete de seda laranja, deixando á mostra seus braços musculosos, uma calça apertada de mesma cor e sapatos de camurça vermelha.

A mulher é... aham, aham... muito linda! Ela anda graciosamente, à passos leves, como se estivesse se preparando para voar. Sua cabeleira cor de mel é cacheada, com algumas mechas amarelas, contrastando com o vestido preto de renda.

–- Pessoal... – Claire fica de pé para apresentar os visitantes – Esses são Jeline e Lia, seus estilistas.

Incrível como não os reconheci. No ano passado eles estavam completamente diferentes.

É a primeira vez, em horas, que Dakota ri. Jeline se aproxima dela e diz:

–- Quero ela – ele tem uma voz grave.

–- Acho que fiquei com o bonitão... – Lia caminha até mim e afaga meu cabelo – Não terei muito trabalho, ele arrasa por si só.

–- Decidido! – Claire volta à se sentar – Podem se servir, tem comida suficiente para um batalhão de Pacificadores.






AI! Meu peito queima, a depilação se transformou numa sessão de tortura. Enquanto isso alguém massageia meus cabelos loiros e outra pessoa corta minhas unhas. Há uma máscara pegajosa no meu rosto e Lia pôs uns óculos estranhos em mim, o que impede que eu veja qualquer coisa.






Tudo piora quando alguém pega naquele lugar, entre as minhas pernas. Oh meu Deus, não depila ai!!!


Fico de pé, completamente nu, e Lia me observa.


–- Um copo d’água por favor... – Lia pede e a assistente dela obedece, saindo da câmara.

–- Posso me vestir?

–- Hum... Não.

–- Mas a Cerimônia de Abertura é daqui à meia hora. Preciso vestir meu traje.

–- Não há traje... – aquilo me assusta, um arrepio percorre meu corpo, não pode ser o que estou pensando... – É isso mesmo que você está pensando. Só espero que não haja mortes na platéia.

Estou ferrado.



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