Jogos Vorazes - O Garoto Do Tridente escrita por Matheus Cruz


Capítulo 3
Uso tridentes para desenterrar segredos




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–- Bem, podem começar as apresentações.

Estamos em outro vagão. Nesse não há assentos e uma cortina negra cobre as janelas. Faz calor ali dentro, os refletores pouco adiantam, o ambiente continua sombrio.

Mags, sentada num sofá de couro cor de caramelo, leva o cigarro à boca e tira, soprando a fumaça negra para fora dos pulmões e sorrindo quando Dakota se adianta e para na sua frente.

–- Me chamo Dakota Marshall, tenho dezesseis anos e estou... com muito medo dos Jogos. – Isso me dá nos nervos, a garota se demonstra tão frágil e inocente para a mentora que minha pele arrepia, tenho vontade de agarrar aquele pescoçinho e torcê-lo. O pior de tudo é que Mags acredita no conto da menina.

–- Shiii! – Mags leva o dedo à boca – Querida, você não pode se expor para os adversários. Principalmente seus medos. Se você teme os Jogos, guarde o sentimento bem fundo no seu coração e procure desenterrar a coragem que existe dentro de você. – observo a cena do canto do vagão, o ódio me faz fechar a mão com tanta força que os nós dos meus dedos embranquecem, Dakota é realmente muito esperta. – Agora, demonstre o que você tem de melhor.

Dakota assente com a cabeça, se dirige até a mesa no outro lado do vagão, onde há diversos instrumentos expostos, e pega quatro facas.

Mags sorri, e se ajeita na poltrona, ansiosa.

–- Posso? – Dakota pergunta.

–- Claro querida.

É tudo muito rápido, Dakota dá um giro e arremessa as facas, que pairam no ar e acertam, as quatro, exatamente no centro do alvo pendurado na parede.

–- Uau! – Mags bate palmas – Isso foi incrível!

Dakota faz uma reverência, pegando na barra do vestido, cruzando as pernas e dobrando os joelhos sorridente. Quando estiver na arena, vou fazer questão de acabar com essa garota, odeio pessoas que se acham mais espertas que as outras.

–- Dakota, você me surpreendeu! Querida, com esse talento inacreditável, eu não perderia meu sono com os Jogos. – Mags se despede da garota e pede para que ela se acomode no canto do vagão.

Agora é a minha vez.

Caminho até a mentora com passos hesitantes. Ao passar por mim, Dakota sorri vingativamente e não penso em outra reação a não ser ranger os dentes para ela.

–- Você...

–- Eu sou Finnick Odair, tenho... catorze anos e pretendo me doar de corpo e alma para os Jogos. – digo com a voz temerosa.

–- Muito bem – Mags sorri, expondo os dentes amarelados – Finnick, aprenda uma coisa... – ela se dobra para frente e apóia os cotovelos nos joelhos - É impossível não doar seu corpo aos Jogos, – ela dá uma risadinha - mas sua alma é decisão sua, essa é a única coisa que os Jogos Vorazes não conseguem tirar de você, depende se você quer doá-la ou não à eles.

Isso me toca profundamente, e sinto a confiança percorrer minhas veias como morfináceo, despertando algo dentro de mim. As palavras dela têm um poder assustador e, ao mesmo tempo, confortante.

–- Pode começar! – ela voltar a se recostar na poltrona.

Mais seguro, respiro fundo e sorrio. Ao vasculhar o olhar entre os instrumentos espalhados na mesa, encontro uma espada. O metal reluz os refletores e atinge meus olhos. Agarro o objeto ameaçadoramente e a giro entre os dedos.

Há um boneco de pano na outra extremidade do vagão, pendurado na parede. Me preparo para arremessá-la, e quando finalmente estou pronto... a espada cai das minhas mãos.

Dakota ri atrás de mim, mas não presto atenção, estou ocupado demais admirando o tridente reluzente debaixo da mesa.

O instrumento é perfeito. Negro, feito mármore. Os dentes afiados, pontudos, fatais. Dentro de uma imensa caixa de vidro. Me agacho e estendo a mão para pegá-lo, quero muito sentir aquela arma poderosa nas minhas mãos, como deve ser gélida, parece ser feito especialmente para mim, a arma ideal...

–- Não toque NISSO!!! – me assusto, a mão de Mags puxa meu ombro, me arremessando para trás. Não sei como ela apareceu ali tão rápido, fiquei confuso. – Claire! Leve eles daqui. – Claire entra no vagão e me conduz para fora junto com Dakota.

Vislumbro apenas Mags se ajoelhar próxima ao tridente e tocar suavemente a mão na caixa de vidro.

Claire se comporta como um soldado, marchando, com as mãos nas minhas e nas costas da minha colega. Tatuagens esverdeadas cobrem seus braços e metade do seu rosto. Ainda estou com a respiração descompassada, os eventos foram um flash. Há poucos segundos quase toquei numa preciosidade que nunca imaginei que veria na minha vida, um tridente negro, sem nenhum arranhão. A reação de Mags foi muito inesperada e assustadora, estou muito preocupado.

Já manuseei tridentes no Distrito 4. Os pescadores mais experientes mergulham com eles no mar para pescar peixes, e os jovens aprendem a usá-los nos treinamentos escolares. Sempre me dei bem com eles, os tridentes são minha paixão.

–- Um a zero, e eu estou vencendo – Dakota sussurra e acena graciosamente – Até mais anjinho. – Claire abre a porta de correr para que Dakota entre em seu quarto, e logo depois a porta se fecha com um estrondo, ele gira a chave dourada na fechadura, trancando-a.

Claire continua à me conduzir ao longo do corredor.

–- Você errou feio garotinho – Claire diz, olho para ele e observo seu rosto exageradamente maquiado, os lábios cor violeta e os cílios longos azulados.

–- Eu não compreendo... A senhorita Mags... simplesmente achei o tridente incrível, queria tocá-lo...

–- O tridente trás muitas lembranças para a Mags, e você as desenterrou, mesmo sem querer.

–- Ah meu Deus, preciso me desculpar com ela... – levo as mãos à cabeça e paro de andar.

–- Infelizmente não vai dar, você precisa se banhar e vestir uma roupa adequada, faltam meia hora até chegarmos à Capital. Esse trem é de última geração, reduz o tempo de viagem pela metade, 300 quilômetros por hora e nem percebemos.

–- Oh... então...

–- Você terá tempo para dizer o que quiser para a Mags, mas agora entre para o seu quarto e tome um banho, só não vá se atrasar, tem uma roupa especial para a ocasião em cima da cama. Os tributos precisam estar impecáveis.

–- Tudo bem – Claire puxa a porta de metal ao meu lado – Até daqui a pouco. – digo e entro.

–- Tchau Finn... Cuidado com a ducha de água quente, estraga o cabelo. – é a última coisa que diz antes de fechar a porta com um estrondo. Me viro e encaro o quarto, ouço a fechadura ser trancada atrás de mim.



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