A caixa chegou pelo correio naquela manhã, embrulhada com um papel rosado, estava destinada a menor moradora da casa. Dentro havia um delicado conjunto de chá, cada delicada peça de porcelana estava envolta de um  monte de palha provavelmente para que não se quebrassem com o transporte.

- Um jogo de chá! – Hope disse alegremente para Emma que estava ao seu lado.

- Parece que certa mamãe loira ama muito alguém – Emma sorriu – Olha só tem um cartão: “Apenas porque ela é a menina mais doce do mundo. Mamãe B.”

- Tem até uma chaleira! É porcelana tia Emma? – a menina tirava apressadamente a palha que cobria as peças delicadas.

- Isso mesmo querida.

- Hope, por favor leve isso lá para fora você vai sujar a sala toda – Santana voltou para a sala após ter atendido uma ligação em seu escritório.

- Sim mamãe. Me sentarei na mesinha sob a árvore, não sairei de lá para que não fique preocupada.

- E lembre-se que hoje você irá jantar comigo, em minha casa.

- Não me esqueci disso tia Emma! – Hope sorriu de forma meiga – A senhora é muito querida por me convidar para o jantar, mamãe receberá visitas hoje! Tia Quinn também é muito querida, mas é um jantar para adultos. Agora, se der licença vou terminar de abrir meu presente.

Hope juntou a palha que havia caído no chão e jogou-a de volta na caixa e acomodando seu novo tesouro cuidadosamente nos braços saiu pela porta dos fundos em direção ao quintal da casa.

- Ela é tão adorável! – Emma exclamou encantada – Eu queria que fosse minha! Você e Brittany devem ser muito felizes com Hope, ela é o tipo de menina decidida e meiga ao mesmo tempo.

“E uma perfeita manipuladora” Pensou Santana.

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No quintal...

Hope jogará toda a palha no chão, formando um pequeno monte, e arrumava seus novos pratinhos e xícaras de porcelana sobre a mesa. Tudo era tão delicado, tão bonito.

- Lá está ela em sua mesinha– Era a voz de LeRoy com um grande tom de deboche, o jardineiro e encarregado de alguns serviços na casa – Brincando com seus pratinhos... Tão doce e inocente... Parecendo tão inofensiva, mas ela é indiferente mesmo assim – Seu tom tornou-se mais sério – Ela pode até enganar algumas pessoas com esse ar inocente, pode tirar ou guardar o que quiser, mas a mim ela não engana. Nem mesmo de longe ela me engana.

Hope continuava brincando com seu jogo de chá, fingindo que não ouvia as palavras de LeRoy. Mas ela escutava, ah ela escutava e ele iria se arrepender disso qualquer dia desses.  Por sua vez, o jardineiro apenas apertou o cabo da vassoura com mais força, se ignorado o deixava com raiva. Continuou:

- Você não quer conversar com ninguém esperto não é? Gosta de conversar com as pessoas que consegue enganar, como a mamãe loirinha e a Sra. Pillsbury!

Hope estreitou os olhos, pegou o monte de palha do chão e jogou em LeRoy.

- Tome um pouco de palha aí. Você só fala besteiras – começou a imitar perfeitamente o tom de deboche do jardineiro – Eu sei o que você faz com a palha, você juntou um monte de coisas sujas e fez uma cama atrás da fornalha no porão e se esconde lá para dormir quando deveria estar trabalhando.

Foi o bastante. Hope desejava mostrar a LeRoy o seu lugar: abaixo dela. A opinião dele era dispensável, ele – assim como tantos outros idiotas – era inferior a ela, e  por fim, o jardineiro perdeu seu último resquício de paciência.

- Até agora estive meio fora de órbita, mas agora sei quem é você senhorita. Tenho ouvido coisas sobre você e não são boas – ele poderia estar com raiva, mas seu tom era calmo - Ouvi dizer que você espancou aquele menino no bosque e que foi preciso três professoras para tirar você de cima dele. E que você o fez correr até o píer de tanto medo.

- Dizendo mentiras assim, você não vai para o céu quando morrer LeRoy.

- Ouvi muitas coisas, ouvi sim. Diferente de você, eu escuto as pessoas. Não fico falando o tempo todo sem deixar que elas falem também. Por isso, eu sei o que todos estão dizendo e você não.

- As pessoas mentem, e você é o mais mentiroso de todos! – Hope mexia distraidamente em seus brinquedos. Uma distração fingida.

- Eu sei o que você fez no píer com aquele garotinho e é melhor você me escutar se não quiser ficar encrencada.

- Se sabe tanto, porque não diz o que eu fiz aquele dia?

- Você pegou um pedaço de madeira e bateu nele – LeRoy bateu o cabo da vassoura na mão para demonstrar o ato – Bateu nele porque ele não quis te dar a medalha como você pediu. Pensei ter visto meninas bem más durante a minha vida, mas você é a pior delas. Quer saber como eu sei que você é má?

Hope não respondeu, apenas encarou-o.

- Porque eu sou mau. Sou mau e esperto. E você é esperta e má também. E nunca te pegam, assim como eu.

- Sei o que você pensa – seu tom nada lembrava a garota educada e meiga que conversava com sua mãe e tia Emma, falava com escárnio – Sei tudo o que pensa. E ninguém acredita em nada do que você diz.

- Quer saber o que você fez depois de acertá-lo? Você arrancou a medalha dele e jogou ele do píer!

Hope sorriu.

- Você não sabe de nada. Nada disso é verdade.

- É a verdade absoluta e você sabe que eu descobri.

- Isso nunca aconteceu, você está errado. Agora leve essa sua palha para o porão e durma nela enquanto deveria estar trabalhando!

- Você não é uma tola, isso eu posso dizer. Por isso você não largou o pedaço de madeira. Não, você é mais esperta que isso. Você pegou a madeira ensanguentada, lavou-a muito bem e jogou-a no bosque.

Hope apoiou as mãos na mesa e sorriu.

- Sabe, te acho muito idiota.

- Idiota foi você achando que sangue sai tão facilmente, mas não é assim.

Pela primeira vez Hope pareceu genuinamente preocupada.

- Porque não dá pra lavar sangue?

- Porque não, e a polícia sabe disso. Você pode lavar e lavar, mas sempre sobra algo. Todo mundo sabe disso – ele ficou mais animado com a expressão de horror no rosto da garotinha – Vou falar com a sua mãe, ela é da polícia, e dizer para ela procurar pela madeira no bosque. Aposto que eles tem cachorros farejadores para ajuda-los, eles podem achar qualquer coisa com sangue. E quando acharem a madeira com sangue que você tentou lavar, eles vão passar um pozinho especial nela e encontrar amostras de sangue do garoto, em um azul bem bonito.

A expressão de Hope tornou a relaxar, ela sorriu confiante e deu alguns passos em direção a LeRoy.

- Você é que tem medo da polícia, isso não é sobre mim é sobre você.

- Hope – Santana apareceu na janela da sala – Entre e traga suas coisas. LeRoy não quero que fique conversando com minha filha, entendido?

- Sim senhora, estou apenas juntando a palha para que não suje o gramado e elogiei o seu novo joguinho de chá.

- Sim, mesmo assim fique longe dela – Santana não sabia porquê, mas não gostava da ideia de LeRoy perto de Hope, instinto materno pensava ela.

- Foi minha culpa mamãe, eu falei com LeRoy pedindo que ele levasse a palha para o lixo – Hope sorriu para a mãe – Já estou entrando.

Quando a mãe saiu da janela, Hope deu dois passos em direção a LeRoy e o encarou.

- A partir de agora, cuide da sua vida LeRoy.