As Desastrosas Aventuras da Guilda escrita por Hikaru


Capítulo 7
A implacável Lei de Murphy/Troca com o Velho Maluco




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Ryuuko acordou, a cabeça latejando e os olhos embaçados. Ela desistiu de tentar fazer sentido do borrão da sua visão, e fechou seus olhos, checando seus sinais vitais. Tudo normal, exceto alguns traços de clorofórmio no sangue e algumas concussões na cabeça e nos membros. Ela não lembrava de nada do que tinha feito na noite passada. Deve ter sido uma festa muito louca. Fazia tempo que ela não ia numa dessas. Tentou de novo ver onde estava.

O lugar fedia a mofo e excremento. Ela conseguiu ver alguns besouros grotescos rolando bolinhas de fezes pelo chão, o que fez seu rosto se contorcer numa careta de nojo. Seja lá o que ela tinha feito a noite passada, certamente era hora de voltar para casa. Ryuuko tentou levantar, mas não conseguiu. Não conseguia se mexer. Olhando para os lados, ela pode avistar seus amigos amarrados a postes de madeira, desacordados. Ela parou um longo momento para raciocinar.

Alguém havia raptado eles. Fazia um bom tempo que isso não acontecia. Os criminosos de Novo Mundo pararam de tentar depois que eles tinham seus armazéns explodidos e seus membros decepados. Aparentemente a fama deles não havia chegado ao norte da África.

Hora de virar celebridades globais, ela pensou.

Um grupo de homens de turbante, com o rosto coberto por grossos panos, entrou na sala e começou a discutir seus planos na frente de Ryuuko. Por sorte, ela tinha terminado de baixar tudo que precisava para entender marroquino antes de ser sequestrada.

–Isso foi relativamente fácil - disse um deles - Esses caras nem se preocuparam em se proteger ou vigiar os arredores nem nada. Acho que não tinham noção de que estavam sendo alvos de perseguição também.

Pois é, não tinham mesmo, pensou Ryuuko. Por que diabos alguém ia querer as cabeças de um grupo de mercenários baderneiros?

– Não faço ideia do que o Vaticano quer com esse grupo de mercenários tapados, mas foda-se, a grana é boa.

O Vaticano. Ainda não fazia sentido, mas pelo menos ela já sabia do que se tratava agora.

– Vem, me ajuda a levar esses vagabundos pro jipe.

Hora de agir, pensou a maga. Ela tentou sentir algum mecanismo no armazém velho que ela se encontrava. A porta era simples demais, assim como a estrutura do próprio armazém. A magia dela precisava de algo mais complexo. As vezes ela ficava com raiva do jeito que a sua magia se comportava. Era facílimo para ela hackear e manipular o mais potente e avançado dos computadores, mas ela não conseguia manter uma simples porta fechada.

Concentrando-se mais um pouco, ela alcançou alguns pequenos eletrônicos nos bolsos dos sequestradores. Ela podia facilmente controlar os celulares, mas de nada adiantaria um punhado de toques telefônicos inoportunos. Mas havia algo mais preso no cinto de um dos homens: uma pistola. Ryuuko concentrou-se na arma, tentando sentir todas suas engrenagens, travas e molas. Com algum esforço, sussurrando encantamentos curtos, ela fez com que a trava de segurança da pistola liberasse o gatilho com um leve estalo. Levando sua mente mais profundamente nas entranhas metálicas da pistola, e achou uma bala devidamente carregada, pronta para o disparo. Com algumas últimas palavras sibiladas, o gatilho começou a pressionar-se sozinho...

O sequestrador berrou de dor quando o tiro atingiu o peito do seu pé, fazendo ele cair sentado no chão. O barulho do tiro acordou os outros membros da Guilda, que encontravam-se amarrados próximos a Ryuuko. Ela virou-se para Freddie e gritou:

– Freddie, não pensa! Faz a parada do Tocha Humana!

O rapaz lançou um olhar meio grogue para ela e fez uma cara de quem não está nem ai para as consequências dos seus atos.

– Em chamas! - ele berrou, e seu corpo inteiro explodiu em labaredas vermelhas. Ele levantou-se com algum esforço. Todo o seu corpo ardia em fogo, mas ele parecia não se importar com esse mero detalhe.

Enquanto isso, o sequestrador restante sacava sua pistola e a apontava na direção de Freddie com uma expressão determinada nos olhos. Freddie olhou para ele com as orbes rubis que deram lugar aos seus olhos, e falou algumas rápidas frases em russo. A pistola explodiu na mão do inimigo, levando sua mão junto e preenchendo a sala com um desagradável cheiro de carne e pólvora queimada.

– Que merda tá acontecendo?

– Fomos sequestrados.

Ele processou a informação por alguns instantes, o que fez seu cérebro arder.

– Que ideia idiota.

– Pois é, mas deu certo - disse Lilly, amarrada num canto da sala. Estava com uma expressão profundamente mal-humorada - Por alguns instantes. Estamos perdendo a prática. Solte todo mundo e vamos logo sair daqui.

Freddie acertou um chute na cabeça do sequestrador que lamentava que não estavam pagando nem de perto o suficiente para ele aguentar essas coisas, e ele desmaiou. Pronunciou umas poucas palavras na sua língua, fazendo com que as chamas do seu corpo apagassem.

– Puta que pariu Freddie, coloca logo uma calça! - Berrou Jackie, cuja primeira visão do dia foi do pênis do rapaz. Sua calça fora feita em cinzas pela sua magia mal-planejada - Não é só por que a gente vive com você que a gente se acostumou com você balançando seu pau por ai.

Ele desculpou-se aos tropeços enquanto desafivelava o cinto do sequestrador desmaiado. O outro sequestrador a muito estava morto, com uma poça de sangue que corria lentamente do toco de carne que antes fora sua mão. Ao puxar as calças da sua vítima, foi a vez de Freddie se deparar com uma visão de horror.

– O filha da puta ta sem cueca! Meus olhos!

– Adianta logo isso, homem! - gritou Annya, cuja visão começara a desembaçar agora. Ela preferia a ignorância de antes.

O rapaz, agora vestindo calças de camuflagem de deserto, fez uma rápida inspeção nos seus bolsos e achou um pequeno estilete, que usou para libertar seus amigos. Eles levantaram-se e saíram do armazém.

– Mas que diabos...? - Falou Jackie, confusa, ao passar pela porta. Ela estava no meio de um deserto, rodeada por dunas por todos os lados, até onde a vista alcançava. Ela afundou as mãos no rosto quando percebeu o que acontecera. A porta estava encantada para levar qualquer pessoa não autorizada que passasse por ela direto para o deserto do Saara.

– Acho que aquela porta sacaneou a gente - disse Freddie enquanto aparecia em cima da areia, de repente. Era o último do grupo.

– Sabe, aposto que tinha um alarme nessa porta - comentou Lilly ao perceber o que estava acontecendo.

No mesmo instante, uma tempestade intensa de areia atingiu o grupo, cegando a todos.

A Lei de Murphy seguia seu curso, agindo implacável.

– Não temos tempo pra isso! - gritou Jackie por cima do barulho dos ventos chicoteando seus ouvidos - Temos que ir logo encontrar a Helena!

Freddie estava com a cabeça enfiada na areia, mal-humorado e machucado. Odiava aqueles malditos geomantes do deserto. Se escondendo atrás das tempestades de areia e muros de barro. Não seria o maior problema, se desse para queimar terra. Mas terra não pega fogo, e esse é o problema. Ele estava afundado nesse problema, junto com sua cabeça, enquanto a indefesa Annya tentava desenterra-lo. Ela também estava profundamente mal-humorada, pois não havia nada morto num raio de 40 quilômetros, tirando bácterias, aranhas, escorpiões e lagartos minúsculos. Ela tinha passado os últimos 15 minutos sacudindo sua foice no ar, esperando acertar alguém sem sucesso.

– Parem com essa porcaria de vento! - gritou Ryuuko enquanto invocava seu exoesqueleto. Assim que o equipamento terminou de se materializar, tracejando toda a extensão dos seus membros e do seu tronco, um raio de luz branco enorme disparou da palma da sua mão, cortando a tempestade com sua força. O barulho das areias do deserto rugindo nos seus ouvidos diminui aos poucos, até que se tornou uma leve brisa, quase inaudível por cima do zunido da arma descarregada na mão de Ryuuko, que trepidava o ar com energia.

– Esse... foi um puta de um laser gigante. - comentou Lilly, com uma expressão impressionada no rosto - Como diabos você conseguiu enxergar eles naquela tempestade?

–Eu... Mas... - Ryuuko balbuciou, confusa, enquanto checava a palma de sua mão. O pequeno gerador de energia fotocinética estava em frangalhos, exalando um forte cheiro de queimado.

–Seja lá o que aconteceu, foi bom - concluiu Annya - Você pode consertar isso em casa. Vamos indo.

Freddie olhou ao redor. O deserto se estendia até onde os olhos alcançavam, parecendo infinito. Em algum ponto um pouco ao longe do grupo, ele conseguiu avistar alguns pares de pernas caídas no chão, soltando fumaça.

– Hmmm... Beleza. Mas para onde?

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A Catedral de São Pedro estava escura e mal-iluminada naquela noite de chuva. Os quatro mercenários haviam acabado de entrar no local combinado para a troca, com sua presa firmemente amarrada e amordaçada sendo carregada por cima do ombro por Huang, o jovem magrela e tatuado que havia raptado Ryuuko.

– Deixem-me ver como ela está. Espero que não tenham machucado-a muito - soou uma voz da escuridão. Um homem alto, coberto por vestes longas e um chapéu esquisito, agigantava-se por entre as sombras, sua silhueta erguendo-se imponente contra os vitrais da catedral.

Huang atirou Helena no chão, que caiu com um gemido de reclamação.

–Velho maluco, você veio aqui sozinho? - perguntou Jeremiah, o carnomante psicótico. Os esparsos raios de luz e ocasionais flashes de raios revelavam seu olhar homicida e insano, e seu macacão surrado coberto de sangue, cabelos e suor. Quem olhasse a cena certamente ficaria na duvida de qual dos dois homens era o mais aterrorizante. - Nós poderíamos te fazer de refém agora e conseguir todo o ouro sujo do Vaticano!

– Não seja tolo. Tem mais guardas escondidos nas sombras desse castelo do que no exército da Suíça. Ao primeiro sinal de conjuração vindo de vocês, todos terão suas cabeças devidamente alvejadas.

– Bom, não custa tentar.

O quarto membro do grupo fez uma mesura longa, como aquelas que os plebeus faziam para os nobres de antigamente. Tinha um corpo truculento e cheio de cicatrizes, e pele negra como ébano. Correntes e facas pendiam do seu longo sobretudo preto. Jean era seu nome, e era o único ali que não parecia se importar com o grande saco de moedas que jazia jogado na frente do seu contratador.

–Vossa Santidade, nunca em minha vida e em minha morte, teria a audácia de tentar um atentado contra a sua vida, nem contra qualquer outro membro do teu sagrado clero.

O papa se aproximou de Helena e tirou sua mordaça.

–Minha querida... Um dia você ainda irá matar esse velho do coração.

Helena fez uma careta do mais puro escárnio ao ver o rosto que tanto odiava.

–Olá, pai.


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Notas finais do capítulo

Não me senti muito seguro com esse capítulo. Eu realmente tenho um problema com desenvolvimentos. E batalhas. Da próxima vez escrevo um romance. Enfim, qualquer crítica é bem vinda



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