As Desastrosas Aventuras da Guilda escrita por Hikaru


Capítulo 11
Sua Santidade está atrasada


Notas iniciais do capítulo

Acho que esse é um dos meus capítulos favoritos até agora. É divertido escrever magos castando magias escrotas



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Francesco Bertinelli entrou no quarto de sua filha sem avisar. Ele havia deixado tudo exatamente do jeito que ela havia deixado: a cama de dossel, os brinquedos antigos, as roupas no armário... E agora ela estava deitada na cama, escrevendo novamente em seu diário. Tudo voltara a ser como deveria.

– Algo em que eu possa ajudar-lhe, Sua Santidade? – disse Helena, mais seca que um deserto.

– Por favor, querida, não seja assim.... Tudo que já fiz nessa vida, foi pensando em você, e no seu bem.

– Devo lembrar-lhe que não é de bom tom um homem entrar não anunciado no quarto de uma dama. Ainda mais se este homem pertencer ao clero.

– Helena, isso não é jeito de tratar o seu pai.

Ela fechou o diário, irada, e atirou-o no móvel mais próximo.

– Se você quisesse que eu te tratasse como um pai, você deveria começar mudando suas próprias ações!

– Pois me diga, querida, o que eu fiz de errado?

– Você matou o frei Ezequiel! – ela levantou-se, com lágrimas nos olhos – Você... Você matou o meu pai.

– Eu sou seu pai!

– Eu não tenho relação com você! – Helena tremia de raiva e dor – Você é um monstro que mata e controla, e agora você quer afundar uma cidade inteira!

– Magia é perigosa! Helena, os magos de Novo Mundo são assassinos insanos!

– Você é provavelmente a pessoa mais hipócrita que eu conheço, Francesco – a frase foi pontuada com um riso sarcástico.

O papa abaixou a cabeça, derrotado.

– Bom, então darei o aviso que vim trazer e vou te deixar em paz por enquanto. Aqueles... mercenários que você contratou. Com o meu dinheiro. Eles foram capturados agora há pouco. Eles estão presos no calabouço.

Helena pulou no pescoço do pai, suas lágrimas substituídas por uma expressão de ódio.

– Se você fizer qualquer coisa com qualquer um deles, eu juro que vou te encontrar no inferno e vou vender minha alma para o Diabo só pra poder te torturar pelo resto da eternidade!

O papa afastou-a com um tapa impressionante para uma pessoa daquela idade. Helena foi parar do outro lado do quarto, onde bateu em uma cômoda e derrubou vários vidros de perfumes e quadros de família.

– É hora de você se pôr no seu lugar, Helena! Por mais que eu te ame, você não é nada neste lugar. Você não é nada sem mim! Aliás, você é menos que nada. Você é uma decepção! Depois de todos os anos de amor irrestrito que eu te proporcionei, anos nos quais nunca lhe faltou absolutamente nada, você foge e contrata assassinos para me matar? Pois se é assim que você quer jogar este jogo, Helena, então assim será. Você ficará presa neste quarto até que decida assumir a posição de arcebispa que eu lhe ofereci.

Ligeiramente mais controlado, o papa deteve-se na porta do quarto.

– Eu sinto muito, Helena, mas a pena por tentativa de assassinato do papa e trazer um demônio ao Sacro-Império é a morte. Sem julgamento, sem perdão.

E assim ele fechou a porta do quarto, deixando sua filha em prantos no chão.

Algumas horas mais tarde, Helena acordou. De algum modo, ela havia adormecido em sua cama. Ela levantou-se, retocou a maquiagem borrada com as lágrimas do encontro com seu pai, e decidiu que não ia ficar parada esperando a morte dos seus amigos. Ela abriu sua mochila e pegou seu grimório. Após buscar seu cajado, ela saiu do quarto. Um homem truculento de terno fazia a guarda.

– Milady, a senhorita não pode sair do...

– Hic amor est malum cum percusserit – ela disse, sem olhar para ele, apenas apontando-lhe o cajado. Um raio de luz branca saiu do cristal do cajado e atingiu o homem em cheio no peito, jogando-o para longe. Ela desceu as escadarias, decidida.

Mal ela havia chegado no salão principal e alguns homens da guarda chegaram também, alertados pelo guarda que havia sido derrotado. Helena parou no meio da escada e abriu seu grimório, pronta para a batalha.

– Milady, por favor, não queremos machuca-la. Você sabe disso – disse um dos guardas. Todos os guardas do Vaticano eram padres magos brancos. Os outros guardas já preparavam suas magias, receosos.

– Vocês irão sair da minha frente. Esse é o meu último aviso. Eu sou a maga branca mais poderosa aqui, e vocês sabem disso, por que eu sou a única aqui que não está no clero pra conseguir dinheiro e molestar crianças. Eu sou a única aqui com o coração puro o suficiente pra praticar magia branca de verdade – As pupilas haviam desaparecido dos seus olhos, que brilhavam uma luz branquíssima. Seu cajado começara a absorver energia do ar em sua volta.

– Você sabe que não podemos fazer isso, milady.

– Muito bem. Sacramentum caeli, iudicabunt eas!

E a sala toda mergulhou em luz divina, julgando as almas corruptas daqueles padres. Helena desceu as escadas, passando pelos corpos desacordados e, antes de sair, abençoou-os com o sinal da cruz.

– Sanctum scudum! – ela gritou, levantando seu cajado, assim que saiu do Vaticano em direção à entrada do calabouço, num canto afastado do prédio principal. Uma tênue redoma de luz branca a envolveu, bloqueando os tiros e magias que a atingiam enquanto ela andava rapidamente. Ela não desviava o olhar de seu objetivo. Cada passo seu demonstrava uma força de vontade completamente inadequada à menina tímida que havia se apresentado em Novo Mundo. Tudo o que Helena precisava para ser uma das magas mais poderosas do mundo era um propósito. E no momento, seu propósito era acabar com as atrocidades de seu pai.

– Valeo! – ela gritou quando chegou na porta do calabouço, e o portão maciço de carvalho e ferro abriu com um estrondo, deformando-o. Ela olhou o pobre guarda que tomava conta da entrada, um olhar da mais pura determinação, e o homem sabia que não podia impedi-la.

– Onde estão os prisioneiros que foram capturados nesta tarde?

– No fim do último corredor a esquerda, milady.

– As chaves.

Relutante, ele entregou as chaves da cela e das algemas para a moça, que em retribuição desceu-lhe o cajado na nuca, nocauteando-o.

– Helena? Helena! – Ryuuko gritou, empolgada, quando a viu.

Ela abriu a porta da cela, e desabou, tendo que apoiar-se no seu cajado para não cair no chão.

– Esse barulho que a gente ouviu... Foi você? – perguntou Annya, enquanto colocava o braço dela por cima do seu ombro.

– Fazia tempo... que eu não usava... tanta magia... – disse Helena, respirando pesadamente. Ela suava frio, e tremia.

– Relaxa, agora é nossa vez de explodir todo mundo – disse Freddie, enquanto tirava as algemas de todos – Espero que você tenha deixado algum padre pra gente. Isso soou errado.

– No ritmo... que as coisas vão indo... daqui a pouco o exército vai estar aqui. Precisamos... de ajuda.

– Bom, nós temos bastante ajuda aqui – Freddie girava o molho de chaves no dedo indicador, olhando para as celas cheias de magos presos por contrariar o regime do Sacro-Império – Annya, distraia eles enquanto eu abro as celas. Lilly, proteja a Helena. Ryuuko, tente acessar a planta do Vaticano pra tentar descobrir onde a Jackie tá.

– Desde quando você faz planos? Isso tá errado – contestou Lilly.

– Espera... - disse Helena - Cadê a Jackie?

– Ela... vai ser exorcizada. Temos que achar ela antes que isso aconteça - respondeu Annya, visivelmente preocupada - Eu não sei o que vai acontecer se eles completarem o exorcismo, mas das duas uma: Ou o processo vai matar a Jackie, ou eles vão liberar o Sal'derth nesse plano.

– Quem é Sal'derth?

– Essa... é uma longa história. Não temos tempo pra isso agora Helena. Depois nós explicamos. Vá logo, Freddie. Eu cuido dos guardas.

O papa chegara a porta do calabouço, com um pequeno exército de magos brancos e soldados atrás dele. Os quatro magos mercenários que haviam raptado Helena estavam entre eles.

– Saiam com as mãos ao alto e sem nenhum encantamento ativo! Vocês estão cercados! Helena, se você preza pela sua própria vida e o bem-estar de seus amigos, por favor, me ouça!

Dos destroços da porta do calabouço, apenas uma moça magrela e pálida saiu. Ouviu-se o ruído quase instantâneo de rifles sendo armados e apontados para ela.

– Sua Santidade, você já ouviu falar dos Sete Estigmas que este planeta vai sofrer? – disse ela, levantando casualmente as mãos para o alto ao ver as dezenas de armas prontas para transforma-la em uma peneira – Dizem os magos mais antigos, e os melhores videntes, que são sete eventos cruciais na história da Terra, que mudam o modo de viver e de pensar de todos os seus habitantes. O Primeiro foi a vinda dos humanos à Terra. Soube que você está tentando recriar o Segundo?

O papa já havia aberto seu próprio grimório, assim como todos os outros padres atrás dele. João Paulo III olhava para aquela garota com curiosidade, mas ela despertava um inexplicável desconforto em todas as outras pessoas que estava lá.

– Soube de fontes extremamente confiáveis de que estamos passando pelo Terceiro Estigma, Sua Santidade. Sinto te dizer, mas você está atrasado. O Destino não volta atrás.

– Sabe, Francesco... Esse lugar... fede a morte.

Assim que acabou a frase, Annya fez um movimento em círculo com os braços, invocando assim sua foice. Junto com a foice, espectros esverdeados de pessoas mutiladas e feridas saíram do chão. Os soldados, desesperados com a visão sombria, atiraram freneticamente em Annya e nos fantasmas. Ela caiu no chão, com seu sangue escorrendo dos inúmeros buracos que as balas haviam feito no seu corpo; os espectros, não. Eles avançavam em suas vítimas, e as possuíam, fazendo-as atirarem umas contra as outras. Os padres gritavam desesperadamente preces e exorcismos, mas nada parecia funcionar. O caos era total.

– Não pode ser.... Necromantes não existem! – disse o papa, enquanto se aproximava, chocado, do cadáver de Annya. Ela estava obviamente morta. Para ter certeza, ele agachou-se do seu lado, e verificou-se pulso. Nada.

– Não é minha hora de morrer ainda... – disse o cadáver, arrastadamente, enquanto lentamente levantava-se, parecendo nem perceber que boa parte do seu corpo havia sido arrancada por rifles – Infelizmente, Sua Santidade, não posso dizer o mesmo de você...


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Notas finais do capítulo

CLIFFHANGER



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