Os Caminhos do Alfaite escrita por YakuzareD


Capítulo 4
2º final ou 2º começo - Antes




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/28811/chapter/4

“O que não implica que quando eu morrer ele não possa ser tomado de meus restos mortais assim como doce de criança. Queria mesmo que daqui pra lá eu achasse alguém a quem eu possa entregar, sem medo, meu único pertence realmente valioso: este diário.”

Estas foram as últimas palavras que ela escreveu em seu diário preto antes de levantar-se. A jovem passara horas ininterruptas sentada num banco, escrevendo em seu inseparável diário. Em vários momentos, os transeuntes se reuniam ao redor da moça, enquanto ela parecia psicografar lentamente mensagens sussurradas por seus próprios lábios. E praticamente toda a tarde passou-se deste modo. Alice, que continuava escrevendo, não reparou que a pessoa com quem tinha marcado de encontrar-se naquele local não havia aparecido. Talvez por isso estivesse escrevendo ou, talvez, simplesmente estivesse escrevendo. Após 5 horas de escrita, Alice percebeu que a escuridão tomou os céus, sinal de que já era noite... e de que ele não apareceu. O fato de ela não gostar muito de pessoas parece ter sido mais um motivo pra ele não ter aparecido naquele dia de brisa fria. Ele, ou David, era um colega de colégio do ano anterior com quem ela mantinha algum contato. Após algumas semanas de insistência intensa por parte dele, ela resolveu aceitar o convite de ir a um festival de bandas que ocorreria naquela noite. O fato é que David não apareceu. Alice não se importou muito. Nunca esperava nada das pessoas, costume que tornou-a quase totalmente alheia a situações que deixariam gente comum totalmente enfurecida – principalmente se fosse uma garota esperando inutilmente por um rapaz durante cinco horas.

Alice pôs-se a caminhar em direção ao lado sul da praça. Era o lado oposto de sua casa. Resolveu que iria ao festival sozinha, mesmo sem saber como chegar ao local. Sempre odiou barulho, ou qualquer coisa que pudesse vir a atrapalhar sua concentração anormal na escrita. Porém, sempre gostou de música bem tocada – “Nada mais empolgante pra escrita do que uma música inspiradora” ela dizia – apesar de normalmente isso não abranger festivais underground. O que ela não sabia é que este não era um festival underground qualquer. Primeiro porque não era um festival underground, as bandas que lá estariam já tinham notoriedade na região. Segundo porque não era um festival qualquer, era o último.

Alice sempre teve uma estranha sensação de que morreria logo. Talvez por isso ela vivesse sem se importar com nada e com ninguém. Era simplesmente sua vida, nada demais. Alice nunca se apaixonou, nem amou e, muito menos, se envolveu com alguém. Alice não tinha amigas, todas as garotas repudiavam-na por ser muito diferente delas ou ainda por chamar mais a atenção dos garotos devido a sua pele extremamente branca contrastada por seus cabelos negros. Mas Alice nunca se importou. Muito. No fundo ela queria um amigo, alguém pra dividir aquela imensidão de sonhos malucos, idéias absurdas e sentimentos incertos. “Morrerei eu sem encontrar meu amigo?” indagava eventualmente a si mesma. Não sabia e nem tinha como saber, afinal tudo é incerto. Então, apenas vivia sem demonstrar expectativas.

Alice nunca escreveu uma estória em seu diário. Não tinha nada contra romances, mas não gostava de escrever algo que necessitasse de organização calculada. Apenas gostava de escrever. E de caminhar...

E naquele dia, Alice caminhou em direção ao local do festival, sem conseguir pensar em nada abstrato, como de costume. Uma proeza, devo ressaltar. Inexplicavelmente, ela conseguiu chegar ao local sem pedir nenhuma indicação, apenas seguindo seu péssimo senso de direção. Outra grande proeza. De qualquer modo, a espera por David fez com que ela perdesse as duas primeiras horas do festival, chegando apenas na hora em que a quarta banda da noite estava começando a tocar. Tal banda chamava-se Lionpride, e por algum motivo, o guitarrista-base daquela banda chamou-lhe a atenção. Não por ser bonito ou por tocar bem. Mas chamou, e muito. Alice duvidou veementemente que aquilo pudesse ser um sinal, uma vez que nunca sentiu aquilo por ser vivo algum.

Provavelmente nunca saberia se era ou não. Não por culpa de destino ou algo assim, mas sim por causa de um tumulto após o show daquela banda que forçou a saída de Alice do recinto, fazendo-a perder-se pela cidade durante a madrugada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Dedico este capítulo a todos aqueles que me cobraram o mesmo durante o último mês =D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Caminhos do Alfaite" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.