Os Caminhos do Alfaite escrita por YakuzareD


Capítulo 3
1ª vez


Notas iniciais do capítulo

"Esta é a geração daqueles que buscam."



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          Comecei a me envolver com música aos 15 anos. Reuníamos um grupo de amigos e ficávamos tocando violão para as beldades de nossa sala durante o intervalo de quinze minutos. À medida que o tempo foi passando, fui pegando gosto pela coisa. Fazia três ou quatro meses que eu tinha começado a tocar violão quando pisei num palco pela primeira vez. Um dos guitarristas da banda do meu melhor amigo tinha sofrido um acidente de carro, e eles não podiam perder a apresentação. Como eu era o único não-membro da banda que sabia os riffs da guitarra-base, fui intimado a participar do show, tendo apenas quatro horas para me aprontar. Subi no palco com os outros integrantes da Lionpride. O palco era pequeno, havia não mais que 60 pessoas na platéia, eu não ingeria nenhum líquido há pelo menos quatro horas, tinha esquecido de passar desodorante e errei duas vezes em uma certa música. Apesar disso, adorei aquele dia. Senti-me vivo de um modo que nunca tinha sentido antes. Esse foi o lado positivo. O negativo foi a bronca que tomei por ter esquecido de avisar aos meus pais que só chegaria em casa na manhã do dia seguinte. Minha mãe ficou meio desesperada e meu pai meio... estressado. Ainda encantado pela magia do palco, contei tudo que tinha acontecido. Mal terminei de falar e minha mãe disse que eu ficaria de castigo por um mês inteiro. Porém, assim que ela saiu, meu pai levou-me ao seu escritório, onde começou a contar uma de suas histórias. Pensei que ouviria um longo discurso filosófico sobre responsabilidade, caráter masculino, juventude ou algo assim. Que nada! Meu pai tirou uma caixa de dentro de um armário que eu nunca tinha visto aberto. Colocou-a sobre o tapete do escritório e abriu, revelando nada menos que uma guitarra. Então ele começou a contar a história do instrumento...

 

            “Quando eu tinha essa mesma idade que tu tens, eu já sabia tocar piano razoavelmente bem. Por influência de um tio meu, comecei a tocar guitarra, e, em alguns anos, eu já era um dos guitarristas mais respeitados na cena underground da cidade. Quando passei pra faculdade, montei uma banda chamada Royal Quartet. Foi realmente difícil encontrar músicos para tocar o Heavy Metal com a influência neoclássica que eu tanto queria. Na época, todos queriam saber de Death ou Black Metal. De qualquer modo, eu consegui. À essa altura, eu já tinha comprado esta guitarra que está na sua frente. Mudei alguns detalhes, de modo a torná-la única. Nascia então a Royal Schneider, a guitarra que acompanhou toda a minha carreira musical universitária. A rotina era cruel. Quando íamos nos apresentar em outros estados, tínhamos que voltar às pressas pra não perdermos aula. Certa vez, fomos tocar na faculdade, festa de encerramento do meu penúltimo semestre. A Royal estava encostada num banco e eu estava conversando com o baterista no banco ao lado. Uma moça levemente ébria esbarrou na guitarra que, de imediato, foi ao chão. Dei um pulo e fui socorrer a guitarra. A moça começou a pedir desculpas desesperadamente, mais um pouco e teria começado a chorar. Acalmei-a, ofereci algo para ela beber e começamos a conversar. Lembro-me bem que na hora em que tocamos, ela estava bem próxima ao palco, o máximo permitido, olhando-me. A música, a bebida e os olhares da moça criaram um efeito extasiante sobre mim. Assim que o show terminou, soltei a guitarra e puxei a garota para o palco, roubando-lhe um demorado beijo. E foi assim que conheci tua mãe. Depois disso, com a proximidade da conclusão do meu curso, abandonei a banda, que ainda durou meio ano. Desde então, nunca mais toquei na Royal Schneider, deixando-a enfurnada no armário das velharias. Como ela não me tem nenhuma utilidade e teu aniversário está se aproximando, vou dar-te a Royal. Duvido que tu já estejas tocando melhor do que eu tocava, mas, certamente, um dia tu me superarás. Então cuide muito bem dela. Aproveite e vá dormir, vou tentar abrandar tua sentença.”

          Esse foi o dia mais maluco da minha vida. Toquei com uma banda de verdade, descobri que meu pai foi um grande guitarrista e, como se não bastasse, ganhei a guitarra que ele usava!

Depois de um mês, descobrimos que o guitarrista acidentado – de nome Carlos – não poderia mais tocar, devido a uma séria fratura na ulna. Por unanimidade, fui eleito novo guitarrista da banda e, desde então, temos ganhado alguma notoriedade. Recentemente, fomos tocar numa casa de shows bem conhecida aqui da cidade. Foi quase tão emocionante quanto minha primeira apresentação. Havia uma garota na platéia, não muito distante do palco. Ela era muito linda. A brancura de sua pele contrastava com o preto de suas roupas e de seu cabelo, assim como uma daquelas antíteses barrocas. Mesmo que quase todos os presentes fossem branquelos trajando preto, a presença dela se destacava. Decidi que assim que acabasse o show eu falaria com ela. Tendo o que falar ou não. Infelizmente, ao final do show uns malucos começaram a subir no palco e os músicos – incluindo eu – tiveram que fugir pro camarim, onde acabei me distraindo e bebendo com os outros membros da banda e alguns amigos.

Queria me lembrar do rosto daquela garota... Mas, no momento, meu cérebro só consegue pensar em tomar um café fresquinho e dormir...


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Notas finais do capítulo

Bem, esse foi o primeiro capítulo a mostrar algo do enredo, só não sei se alguém vai conseguir captar a mensagem...

Ah, este capitulo é dedicado a tenten_kino, que foi a primeira a ler :3



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