As mãos de Letícia puxaram o rosto de Eric para mais perto de si, recepcionando seus lábios corados com um caloroso beijo. Eric ainda não percebera o que estava acontecendo. A moça desprendeu-se da boca do rapaz, abaixando a cabeça e enrolando-se no edredom preto.

            — Mas... heim? – Indagou Eric.

            Após alguns instantes de silêncio, Letícia tomou fôlego e respondeu:

            — Eu... te amo. – Sussurrou.

            Atônito, Eric permaneceu estático, olhando para a jovem que se desenrolava da coberta pouco a pouco.

            — Por que tanta surpresa? Por acaso pareço ser incapaz de gostar de alguém?

            — Não é iss...

            — Alguém que sempre cuidou de mim e esteve ao meu lado quando precisei? Mesmo sob o rótulo de “só amigo”? Mesmo recebendo meus ataques de ignorância? Que, mesmo tendo inúmeras chances, nunca me atacou? Que teve paciência de ouvir todos os meus discursos toscos sobre a vida?

            — Eu... eu...

            — Não precisa dizer nada. Eu só... tinha que te dizer isso. Já tava me sufocando há um tempo.

            — Letícia... eu gosto muito de você. Não como você gosta de mim, mas...

            — Ssshhh... se você continuar falando só vai estragar as coisas. Esquece isso, Eric. É coisa minha, ta? – Disse Letícia enquanto uma pequena lágrima escorria pelo seu rosto.

            — Ei, chorar é sacanagem...

            Letícia abraçou Eric, choramingando próximo a um de seus ouvidos. Ela estava com problemas em casa e, decidida a ir morar com a irmã mais velha, pediu abrigo por uma noite a Eric, no dia em que ele completou dezoito anos. Eric não negou o pedido, impondo apenas a condição de que ela não deixasse de ir à festa dele. Sorrindo, ela aceitou prontamente a condição e logo após a comemoração dirigiu-se a casa de Eric junto dele. Ele cedeu a cama, preferindo dormir no chão para não causar nenhum desconforto a ela. Mesmo tendo dormido apenas duas horas, Eric acordou bem cedo para ir comprar pão, a primeira ação a ser executada diariamente. Todo o período iniciado a partir da sua festa até o presente momento passou por sua mente enquanto estava abraçado à Letícia. Sua lembrança foi bruscamente interrompida por um grito de Dona Marta:

            — Venham logo comer! O pão já está esfriando!

            O casal se soltou, olhando-se nos olhos por um instante. Letícia segurou o rosto de Eric, dedilhando suavemente sua barba malfeita. Aproximou-se da orelha direita do rapaz e falou com volume quase inaudível:

            — Quando eu disse pra você esquecer não era sério, tá? Lembra disso... se um dia você mudar de idéia.... eu não terei mudado.

            Eric sorriu, Letícia acompanhou o gesto. Abraçaram-se mais uma vez e Letícia levantou, procurando sua blusa e seu prendedor de cabelo.

            A porta do quarto se abriu, e o dia finalmente começou.